É difícil
achar um bom filme nacional (fora as comédias) nos grandes cinemas,
mas em uma terça a noite eu marquei um encontro com o pensativo,
intrigante, um pouco confuso e premiado (melhor fotografia e melhor
montagem no Festival de Brasília) "Riocorrente", do diretor Paulo
Sacramento ("O Prisioneiro da Grade de Ferro", 2003), mas não rolou
nada sério, foi uma noite agradável, não vou mentir, mas vamos ser
apenas bons amigos.
Neste filme
acompanhamos um triângulo amoroso formado por Renata (Simone
Iliescu), Marcelo (Roberto Audio) e Carlos (Lee Taylor), todos
tentando levar a vida no meio de uma frenética metrópole, no filme,
São Paulo, mas se encacharia tranquilamente em qualquer outra. O
foco do filme é como esses três se relacionam entre eles (nenhum
dos dois rapazes sabe da existência do outro), ao mesmo tempo como
se relacionam com a cidade.
Renata é
uma mulher moderna, que vai atrás do que quer, não tem medo de
arriscar, ela visivelmente está atrás de algo, mas acho que nem ela
sabe exatamente o que ela quer, enquanto ela não encontra, curte a
vida. Renata consegue manter, dentro do possível, um bom
relacionamento com os seus dois amantes, ela não está ficando com
os dois para no final escolher um, ela quer ficar com os dois, quer
ter o prazer que cada um pode lhe proporcionar, a vida comum, um dia
de trabalho depois chegar em casa jantar com o namorado, contar como
foi o dia, é uma boa noite de sexo, e isso ela tem com Marcelo, ou a
vida loca de sair beber em um boteco qualquer, ser jogada na parede
ser chamada de lagartixa, e isso ela tem com Carlos.
Renata em sua turbulenta relação com o encrenqueiro Carlos. |
Marcelo é
um critico de arte, que escreve criticas para um jornal, ele é o
cara certinho do filme, gosta de planejar as coisas, temos uma cena
que mostra que mostra isso. Certa noite, Renata o convida para pegar
o carro e viajar, ele se mostra totalmente contrario: “como assim
viajar, sem planejar?” Só pegar o carro e sair, nem que seja só
por um final de semana, sem planejar tudo, não esta nos planos de
Renato. Mas ele é o personagem mais fácil de se identificar, por
que a maioria de nós (generalizando é claro) somos “Marcelos”,
apenas aceitamos as coisas, não queremos mudá-las, entramos no
ritmo das grandes cidades, e ficamos na zona conforto.
Carlos é
um motoqueiro, ex-ladrão de carros, (que ainda se vê tendo que
roubar em alguns momentos) e atualmente trabalha em uma oficina. Ele
está à margem da sociedade, também está preso em suas dúvidas,
em qual rumo dar a sua vida, ele tenta mudar, mas também não quer
perder sua identidade, está amarado ao seu passado. Carlos tem a
companhia de Exu, um menino de rua que Carlos cuida como se fosse seu
filho, embora fique claro que Carlos não é pai de Exu, o filme não
explica qual o ligação real dos dois, apenas sabemos que os pais do
menino foram embora e Carlos pegou o menino para criar. Carlos não
funciona bem como figura paterna, Exu é mostrado em diversas cenas
andando pela rua sozinho cometendo pequenos delitos, não que Carlos
também o abandone, pelo contrário, ele se demonstra preocupado com
o menino, porem é uma figura ausente.
Exu, o menino de rua que tem forte ligação com o ex-ladrão Carlos. |
Exu
(Vinícius dos Anjos), esse menino, não tem nenhuma fala no filme,
ele vive perambulando pela cidade de São Paulo, ele é um personagem
inocente (embora em algumas cenas ela não aparece fazendo coisas
“feias”), seu olhar revela isso, o jeito maravilhado que ele olha
para a grande cidade, temos uma cena onde ele brinca com seu dente
mole, porque ele ainda é uma criança e se encanta com coisas
simples, mas também já é prisioneiro do estilo de vida de uma
grande cidade, tento que dar seu jeito para se virar
"Riocorrente" me parece um poema visual, esse poemas modernos urbanos com uma
linguagem “difícil”, com palavras bonitas, esse filme é isso,
cheio de camadas, com metalinguagem, simbolismo, que acrescentamos
uma fotografia bela e uma montagem que sai do comum, mas esse
somatório de coisas fazem o filme ser um pouco “difícil”, e
afastar o grande publico do filme, claro é uma opção do diretor,
que felizmente consegue fazer um filme do seu jeito, a linguagem que
o filme usa não e fácil de ser compreendida tem que estar muito
atento ao filme. Achei o ritmo do longa confuso (mais uma vez deixo
claro que foi uma opção do diretor), atrapalha um pouco a
experiência, tem coisas que poderiam ser mais simples, porém o
trabalho da equipe de som, dos atores que estavam ótimos e o rigor
artístico que o filme tem, me fazem indicar esse filme.
Assista ao
filme, caminhe pela cidade e escute uma música do maluco Arnaldo Batista.
por Vágner Rodrigues
Vágner Rodrigues é estudante de Pedagogia e Artes visuais e trabalha como professor em uma creche. É um cinéfilo e adora assistir a filmes de todos os gêneros, lugares e épocas, de preferencia comendo pipoca . É fã de quadrinhos, animes e consumidor de cultura pop em geral.
Nasceu e reside em Porto Alegre.