Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Tadeu Jungle. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tadeu Jungle. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Exposição "Tudo pode (perder-se)", de Tadeu Jungle - Centro Cultural Fiesp - São Paulo/SP

 

Era um dos momentos especiais do Perdidos na Noite, o histórico e transgressor programa da Band que lançou Faustão na TV nos anos 80. O quadro se chamava Sofá Ambulante. Tratavam-se de entrevistas feitas sobre a caçamba de uma caminhonete, que circulava carregando os participantes e filmando-os só do peito para cima, como se estivessem soltos no ar pelas ruas de São Paulo. Aquilo, que parecia uma performance filmada, chamava atenção para os entrevistados, mas, tanto quanto, para o intrépido entrevistador: um cara chamado Tadeu Jungle. Ali conheci este artista multimídia ativo e considerado no meio paulistano, uma referência da arte pop dos anos 80.

Eis que, nessa frutífera passagem por Sampa, deparamo-nos com uma exposição individual de Jungle no Centro Cultural Fiesp, na Paulista: "Tudo pode (perder-se)". Mais que isso: era a primeira exposição individual de retrospectiva da obra deste jornalista, videomaker, poeta, músico, fotógrafo e criador visual, reunindo cerca de cem poemas, 30 vídeos e duas músicas de sua autoria do final dos anos 70 para cá. A produção de Jungle, em vários suportes, vai desde vídeos, serigrafia, foto, instalação, pintura, tapeçaria ou escultura, sendo possível dimensionar a riqueza de sua poética, visto que forjada na poesia concreta, quanto, principalmente, simbólica, dado que atravessa mais de quatro décadas ajudando a refletir (sempre com muita ironia) os processos e mudanças da comunicação de massa neste período. Aliás, tema recorrente em sua obra. Seja a televisão, a publicidade, o cinema, a moda ou o deslumbramento com a mídia: tudo é munição para o olhar atento e arguto de Jungle.

Poesia visual de Jungle:
identificação com ele
Minha identificação com ele, ao conhecer mais a fundo seus trabalhos na mostra, só se confirmou. O trato com a poesia concreta é um exemplo. Obras como “O Confronto da Ordem” e “Hiato” lembram (sem qualquer nível comparativo) coisas que eu produzo nessa linha poético-visual. Mas, claro, Jungle vai muito além disso, a se ver pela engenhosa escultura cinética "Respiro (o primeiro e último)", pelo quadro "Tiganho Gatinha" (acrílica sobre papel), o mural “Verdade/Mentira" ou o poema-objeto vestível "#Eumesma #Eumesmo" – que, claro, Leocádia e eu vestimos.

Sarcástico, Jungle (que também está presente noutra exposição que visitamos em São Paulo, a "Fullgás", no CCBB, só sobre a arte brasileira dos anos 80 e a qual ele mesmo é uma das referências) segue valendo-se da sua própria imagem como figura de expressão, artifício comum aos artistas modernos. Em “Autorretrato com cara de cu - Bola, Omo e Osso”, ele mesmo aparece em fotos tão publicitárias quanto ridículas em um triedro cinético. Sarcasmo que domina a série “Faz de Conta”, em que o artista permite-se ser qualquer coisa: Messi, estrela de TV, Barbie ou simplesmente alguém amado.

Da variedade conceitual de Jungle, também merecem atenção, claro, os vídeos, plataforma pela qual é bastante conhecido. “Isto Teve Roteiro”, de 2007, homenageia o pai da videoarte, o coreano Nam June Paik, com sucessivas superposições de imagens e trilha de Luiz Macedo. Já a instalação urbana que leva o nome da exposição, realizada em 2003, quando ele distribuiu por ruas de São Paulo e sem autorização 15 faixas de 9m de largura com os dizeres “TUDO PODE” e “PERDER-SE” é nada menos que genial.

A genial instalação não-autorizada que 
leva o nome da exposição

Igualmente interessante é a série “Legenda” (foto digital em impressão fine art sobre PS), na qual extrai legendas de frames de filmes diversos e os dispõem sem aparente conexão entre um e outro, criando, assim, um universo instigante de nexos improváveis, engraçados e aleatoriamente plausíveis.

Seja na poesia visual, no vídeo, na pintura tradicional ou em qualquer formato, a exposição tem esse poder de mostrar um Tadeu Jungle completo e complexo, bem como dimensionar seu papel na arte moderna paulistana e brasileira nesses últimos 40 anos. Aquele inquieto repórter do Sofá Ambulante, como se vê, continua circulando por aí com suas ideias e irreverência nos mais diferentes níveis.

Confira um pouco de como foi a exposição:

De cara, somos recebidos por esta escultura cinética 
chamada "Respiro (o primeiro e último)"

Impressão fine arte sobre PS de 2002-2025

"Hiato", da concepção a mão à obra em si

Vinda, ida, palavra, outra e... mais uma

Poesia visual: nem tão óbvio assim

Enial G

"Tiganho Gatinha", das primeiras obras, de 1980

Algumas das primeiras pinturas com forte influência da arte do começo dos anos 80

"Ideograma para Yoko" (spray sobre papel, de 1980)
e "Quero um filho" (acrílica sobre papel, 1984)

Cadernos que trazem a beleza do traço de Jungle e percorrem dos anos 70 aos 2010

Instalação que já foi motivo de obra única de uma exposição de Jungle, no início dos anos 2000

Verdade ou mentira? Truth or Lie?

Autorretrato com cara de cu - Bola, Omo e Osso”
Jungle vira obra

Frame de uma das videoartes, a praia de Jungle ("Medo", 2006)

"Culpa". Quem nunca?

Outro baita vídeo de Jungle, este em 
homenagem a Nam June Paik, de 2017

Da recente série "Faz de Conta": crítica à mídia sempre presente

É possível ser qualquer coisa no mundo atual - e ser nada ao mesmo tempo
Sendo, agora, escritor: Ray Bradbury ("Farenheit 451")
e Guimarães Rosa ("Grande Sertão, Veredas")

Tapeçaria de Jungle para se dizer Messi


Mais uma instigante instalação da exposição de Jungle

Fotografias digitais que se refletem a partir de legendas de filmes

Muitos sentidos - quando não, engraçados

Nem nós

Estes dois visitantes, claro, vestindo-se de si mesmos através da arte de Jungle


📹📹📹📹📹📹📹📹📹📹📹


texto: Daniel Rodrigues
vídeos e fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa