“O Edgard senta na mesa e diz assim: ‘Olha, não é nada disso, não tem
nada dessa história de rebeldia juvenil. Realmente é um preconceito contra a
invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época e foi isso o que
eu quis dizer mesmo, eu não agüentava essa coisa de música baiana, de Caetano,
de Gil'. Na hora, esse foi mais um dos insights que eu tive. Puta que o pariu, defendi
durante anos essa letra, carreguei essa cruz. Agora, naquele dia, eu saí de lá
falando assim ‘eu nunca mais canto essa música.’ ”
Nasi, à Revista Trip em 2008
sobre a música “Pobre Paulista”
Um dos melhores discos do rock nacional.
Mais um daquela safra brilhante da metade da década de 80
que inclui o "Dois"
do Legião, o "Cabeça
Dinossauro" dos Titãs, o "Selvagem?"
dos Paralamas, o Capital Inicial com seu disco de mesmo nome, entre outros bons
que apareceram por ali.
“Vivendo e não
Aprendendo” do Ira! era a afirmação de uma banda que havia aparecido bem no
seu primeiro trabalho, “Mudança de Comportamento” de 1985, mas que então
ganhava o respeito definitivo de público e crítica. Mais do que isso, era a
afirmação Edgar Scandurra como o melhor guitarrista brasileiro dos últimos
tempos e com certeza o melhor daquela geração. Músico capaz de riffs agressivos como o da espetacular
“Dias de Luta”, melodias ternas como a da melancólica “Quinze Anos”, ou referenciais
como em “Envelheço na Cidade”.
Nas composições de Scandurra pela voz de Marcos Valadão,
conhecido como Nasi, o Ira! proporcionava com “Vivendo e não Aprendendo”, retratos
urbanos recheados de imagens, sentimento coletivo e realidade cotidiana. A
confusão da cidade, a violência, as multidões, as paixões e os desencontros na
ótima "Vitrine
Viva" com sua linha de baixo forte e matadora; a alienação, o dinheiro,
a indignação na punkzinha “Nas Ruas”; o preconceito pueril de Edgar Scandurra
em “Pobre Paulista (“não quero ver mais
essa gente feia / não quero ver mais os ignorantes / só quero ver gente da
minha terra / eu quero ver gente do meu sangue”); e o grito coletivo de desemprego,
fome poluição de “Gritos na Multidão” são exemplos perfeitos desse desenho
musical social proposto pelo Ira!.
No entanto, o grande sucesso do disco, muito devido ao fato
de fazer parte da trilha de uma novela, foi “Flores em Você”, canção de letra
curta, que nas mãos do produtor Liminha ganhou um belíssimo arranjo de cordas
que lhe conferiram toda uma grandiosidade e graça.
O Ira! nunca mais conseguiu produzir um álbum como este. Fez
uma coisa boa aqui, outra ali, os integrantes principais, Nasi e Edgar
envolveram-se em projetos paralelos interessantes mas o grupo nunca mais foi o
mesmo. A obra excessivamente diversificada, atirando em todas as direções, fez
com que nunca tivessem conseguido manter uma unidade de estilo ou de intenção e não
conquistassem um grande público de fãs como foram os casos de Legião, Titãs,
Capital. Talvez se tivessem se fixado um pouco mais em determinada linha, ou
principalmente, se tivessem feito coisas próximas a este “Vivendo e Não
Aprendendo”, tivessem se consolidado posteriormente e tivessem mantido o interesse do público por seu trabalho. Mas isso não é tudo e o Ira!, por mais que tenha sumido da grande mídia, sempre teve seu público fiel. O que importa é que certamente tratou-se de uma das grandes bandas do cenário nacional e que foi fundamental no alavancamento do rock brasileiro naquela metade de anos 80. Se teve seus erros, teve, mas teve seus acertos também, e que foram muitos.
Enfim... a vida é assim, é vivendo e aprendendo.
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FAIXAS:
01. Envelheço Na Cidade 3:17
02. Casa De Papel 3:36
03. Dias De Luta 4:26
04. Tanto Quanto Eu 2:50
05. Vitrine Viva 2:20
06. Flores Em Você 1:54
07. Quinze Anos (Vivendo E Não Aprendendo) 2:40
08. Nas Ruas 4:17
09. Gritos Na Multidão 3:08
10. Pobre Paulista 4:57
02. Casa De Papel 3:36
03. Dias De Luta 4:26
04. Tanto Quanto Eu 2:50
05. Vitrine Viva 2:20
06. Flores Em Você 1:54
07. Quinze Anos (Vivendo E Não Aprendendo) 2:40
08. Nas Ruas 4:17
09. Gritos Na Multidão 3:08
10. Pobre Paulista 4:57
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