Mirou a gigantesca lente em direção a HAT-P-7b, uma estrela branco-amarela a 1.044 anos-luz de distância da Terra. Sozinho no Centro de Observação Espacial no meio do deserto, já passado da meia-noite, Julius pensava consigo próprio como seria a vida naquela estrela. Inóspita, temperatura em torno de 6167,85 graus Celsius, rochosa, amarelada. Não lhe intrigavam os possíveis planetas cuja semelhança com as condições terrestres pudessem gerar vida tal qual aqui. De vidas iguais às nossas já estava saturado. Queria, sim, conhecer algo novo no espaço, algo que ninguém nutrisse
maiores curiosidades. E HAT-P-7b era este lugar. O que tinha lá? Que silêncio, que imensidão, que solitude guardava? Diz que lá chove rubi... Não revelava aos colegas, pois ririam dele, aquilo que perguntava a si próprio: como pode algo estar tão longe de nós e ainda assim emitir uma luz que leva tantos anos para chegar? Cientificamente falando, era-lhe óbvio, pois, como seus colegas, estudara isso. Os livros explicavam. Mas algo dentro dele dizia que não era assim tão lógico, que carecia de uma melhor explicação, uma explicação realmente cósmica, no mais amplo sentido da palavra.
Decidiu por fim àquela curiosidade. Fez tal como se lembrava dos desenhos animados que assistia na infância: enfiou uma banana de dinamite na cauda do telescópio, montou em cima e disparou em direção à sua estrela-anã preferida. Levou consigo um pacote comprido, o qual manteve abraçado junto a seu peito durante o longo trajeto da projeção em linha reta e ascendente. Quando caiu em terra nova, realmente inóspitas, imensas e solitárias, Julius tornara-se, naquele momento, o homem feliz que nunca fora até então. Fez do côncavo de uma minicratera cama e desembrulhou finalmente o pacote, o qual trazia dentro uma luneta. Passou muito tempo ali, nem sabe quanto, pois lá os dias eram longuíssimos, e perdera a noção das horas. Pela luneta, ficou observando de longe a Terra por um ângulo que nunca tinha visto.
Daniel Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário