Curta no Facebook

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

cotidianas #592 - Pílula Surrealista #30



– Oi, amo-ooor!, gritou ela da porta. – Cheguei, finalmente!
– OI, amor! Que saudades!, disse ele, vindo da cozinha secando as mãos no pano de prato. – Como foi de viagem? Vem, que tô terminando o almoç... amor, o... que é isso com as malas?
– Isso aqui? Pois, então: ia te dizer.
– Dizer o que, Lúcia?
– Bom, Ricardo, é que, falou ela, apontando para um porco rechonchudo e rosado preso a uma coleira, esta, por sua vez, presa ao cabo da mala. – Esse é o meu... eu estou casada com ele agora.
– Cumé que é?! Casada?! Com um...
– Sim, Ric, com ele sim.
– Não me chama de Ric, sua vagabunda! Como foi isso? Casada?! Como você faz isso comigo?! Minha mulher volta de viagem e, quando chega, não é mais a minha mulher! Como pode isso?!
– Ah, meu amor: é da vida. Tô cuidando da minha, só isso.
– Eu não acredito! Eu não aceito. Não aceito!, bradou o ex-marido, saindo da sala e batendo a porta do quarto, trancando-se.lá – “Tô cuidando da minha vida”! Agora eu tenho que ouvir essa!, reclamou, dando para ouvir sua voz abafada vinda da outra peça.
– Ué, intrigou-se Lúcia, – E não foi sempre assim: cada um cuida da própria vida?


Daniel Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário