As cores de Liniers |
Estive em agosto alguns dias na cidade maravilhosa e acreditem que pude ser espectadora de inúmeras mostras e exibições culturais que nos levam a universos distintos e distantes.
O universo de Liniers (1973-) não é assim tão belo. Ele pinça do cotidiano através do seu traço imagens que retratam um pouco do que vivemos como seres humanos, e digo, humanos no sentido crítico de que construimos maravilhas e horrores todos os dias.
Liniers consegue realizar o que o artista mais genuíno tem como missão: ele amplia esse universo e coloca um zoom onde interessa convergir o olhar com mais calma, com mais cuidado.
Maitena (1962-) escritora, cartunista, taurina nascida em Buenos Aires, comenta: "Liniers desenha um mundo duro com absoluta delicadeza. Uma alegria melancólica que contrasta com a felicidade boba. Seu trabalho é belo e divertido. Ele é um rapaz macanudo". Para quem não entende o significa do macanudo explico, quer dizer em espanhol extraordinário, excelente, estupendo, magnífico, bacana ou supimpa. Enfim, sua expressão é tudo isso, e um pouco disso pode-se ver na mostra Macanudismo, realizada na Caixa Cultural do Rio de 10 de julho a 09 de setembro deste ano. Personagens como os pinguins, a menina Enriquetta, seu urso Madariaga, os duendes, o gato Fellini entre outros misturam-se as influências musicais de Liniers seja no palco, tocando com o músico Kevin Johansen y The Nada ou nas capas dos LPs para André Calamaro e Cheba Massolo. Calamaro diz que: "Liniers é um flautista de Hamelin e atrás dele marcham seus personagens, seus leitores (nós) e ele mesmo! " A música aparece também nas tirinhas referindo-se aos dois músicos prediletos Tom Waits e Bob Dylan. De tudo o que vi gostei muito de dois pontos da mostra. Primeiro das crônicas em quadrinhos que ele publica semanalmente "Cosas que si pasan se estás vivo" e que também dá nome ao blog do cartunista, concentrando preciosidades do cotidiano, dessas que somente um Mestre observador pode capturar e disponibilizar a todos nós. E da relação que ele, Liniers tem com os cadernos e que me deixa sensibilizada, porque sempre tive essa mesma percepção do objeto, tão comum a todos nós, humanos iniciados nas letras: "Desde criança gosto de cadernos em branco, gosto de imaginar no que eles podem se transformar. Os cadernos servem pra tudo. Servem pra brincar, pra desenhar sem pensar, só pelo prazer de fazê-lo - para me desestruturar. Nos cadernos vale tudo". ;)
Dialética Liniersiana |
Luz de Liniers |
Compilação de "Cosas que te Pasan si Estás Vivo" ao fundo |
Música no HQ |
Tiras originais publicadas no jornal argentino La Nación e nas compilações Macanudo de 2011 e 2012 |
texto e fotos: Leocádia Costa