"Eu roubei o namorado da minha irmã.
Foi turbulento, quente e fulminante.
Em uma semana
nós matamos meus pais
e pegamos a estrada."
texto da capa de "Goo"
Depois do excelente "Daydream Nation" ter encantado e conquistado público e crítica, passou a haver uma grande expectativa em torno do seu sucessor. O Sonic Youth já vinha trilhando um caminho muito interessante com seu rock cheio de distorção e texturas mantendo um bom nível de qualidade, de evolução, mas ficava a dúvida se conseguiriam fazer algo à altura do genial trabalho anterior. Sem entrar no mérito de melhor ou pior, o que pode-se dizer, no mínimo de "Goo" (1990), disco ao qual coube a difícil tarefa sucessória, é que ele não decepcionava nem um pouco. Muito pelo contrário! Confirmava as virtudes, ratificava os acertos, mantinha as principais características, não abria mão do experimentalismo, da ousadia e da originalidade e assim consolidava de vez uma identidade.
"Dirty Boots", uma canção tipicamente sonicyouthinana, abre o disco com força já apresentando um ótimo cartão de visita; "Tunic" com vocal sensual e sussurrado de Kim Gordon, trata de frustrações, expectativas e depressão; "Mary-Christ" traz um formato verso-resposta muito utilizado pelos Pixies também; e "My Friend Goo", apesar de inspirar o nome ao disco não é mais que uma boa coadjuvante.
Em "Kool-Thing", um dos grandes momentos do ábum, Kim divide os vocais com Chuck D, do Public Enemy, antecipando uma tendência que seria muito comum nos anos 90 de bandas alternativas fazerem parcerias com artistas de rap ou hip-hop fundindo seus ritmos e características. Na fantástica "Mote", depois de um trecho inicial bem ritmado com uma levada punk empolgante, não tem o mínimo pudor nem preocupação de usar praticamente metade de sua duração apenas numa nuvem de ruídos e dissonâncias cada vez mais densa, prática que cada vez mais se consolidaria como uma marca da banda e que é repetida no disco ainda na curta vinheta "Scooter + Jinx".
Com baixo marcante, a estrutura crescente e progressiva de "Midred Pierce culmina numa explosão sônica, violenta, enlouquecida e ensurdecedora consistindo num dos momentos mais espetaculares e surpreendentes do disco nesta que é uma das minha preferidas; e o álbum encerra com "Titanium Exposé" de estrutura complexa e movediça com Thruston Moore fazendo os vocais principais e Kim dando sua contribuição nos refrões.
Grande disco e grande capa. A ilustração de Raymond Pettibon de um casal de criminosos que universo rock. Eu mesmo, fã do disco e da ilustração, SEMPRE tenho uma camiseta do "Goo". E quando eu digo sempre, quero dizer que quando uma mancha, rasga, fica velha demais, eu compro outra. É, sem dúvida, uma das minhas capas preferidas e, musicalmente falando, um dos xodós da minha discoteca.
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FAIXAS:
- "Dirty Boots" (letra/vocal Moore, voz de fundo Gordon) – 5:28
- "Tunic (Song for Karen)" (letra/vocal Gordon) – 6:22
- "Mary-Christ" (letra Moore, vocal Moore e Gordon) – 3:11
- "Kool Thing" (letra/vocal Gordon e Chuck D como convidado) – 4:12
- "Mote" (letra/vocal Ranaldo) – 7:37
- "My Friend Goo" (letra/vocal Gordon, voz de fundo Moore) – 2:19
- "Disappearer" (letra/vocal Moore) – 5:08
- "Mildred Pierce" (letra/vocal Moore) – 2:13
- "Cinderella's Big Score" (letra/vocal Gordon) – 5:54
- "Scooter + Jinx" – 1:06
- "Titanium Exposé" (letra/vocal Moore e Gordon) – 6:24
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Ouça:
Sonic Youth - Goo
Cly Reis










Transição do punk original da banda pr'aquela fase mias sombria, dark que acabou meio que caracterizando e ficando como marca principalmente deles e do Cure. É o disco que tem os hits "Christine "e "Happy House", mas as minhas preferidas são "Trophy"e "Red Light", além da eletrizante "Paradise Place" com a guitarra magnética de John McGoech que não era um grande guitarrista mas tinha umas de vez em quando de se tirar o chapéu.
Ainda, aumentando o meu "prejuízo", saquei mais alguns trocados e levei o "Dusk" do The The, que, por sua vez nunca foi uma banda brilhante mas este disco em especial, talvez por uma participação mais substancial de Johnny Marr, tenha ganho uma sonoridade mais bem acabada com toques de country, blues, folk e uma melodiosidade que até então Matt Johnson não tinha encontrado. Coincidência ou não este crescimento de qualidade com a participação do ex-Smith? Acho que não, mas o fato é que nos créditos, efetivamente, o nome de Marr só consta em uma ou duas composições. Cá entre nós, provavelmente por questões de direitos de distribuição ou algo assim. Mas que tem a 'mão' do Marr, tem.
Acabando minha extravagância adquiri o "Surfer Rosa" com o EP "Come on Pilgrin" (juntos em um só CD) dos Pixies. Um certo impacto para os ouvidos para quem ouviu "Doolitle" antes, o que foi o meu caso. "Surfer Rosa"/"Come on Pilgrin" mantém aquela tônica de Pixies mas são mais sujos, mais gritados, não chegam a ser agressivos mas são discos mais fortes. É até estranho se falar no plural de dois discos que juntos ganham uma unidade tão grande que parecem ser o mesmo desde a origem e se entrosam tão bem. Destaque para a porrada cantada em espanhol "Isla de Encanta", a divertida "Broken Face" e a já clássica "Where is my mind" que foi imortalizada ou imortalizou a cena final do "Clube da Luta".