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terça-feira, 3 de agosto de 2021

"Cowabunga! - The Surf Box" - Vários Artistas (1996)









"Cowabunga!"
Expressão de alegria, espanto, exaltação, 
que costumava ser usada entre surfistas




É culpa do Tarantino! Ele que foi o responsável por apresentar a grande parte do público, que não conhecia - e aí me incluo - algumas pérolas da surf music. A trilha sonora de seu clássico "Pulp Fiction", traz algumas dessas maravilhas, a começar pela eletrizante "Misirlou" que ficou, de certa forma, imortalizada pela inesquecível cena de abertura de seu cultuado filme. Quem viu aquela cena, quis saber imediatamente, o que era aquele som.
Despertado o interesse, pedi a um colega de faculdade, que me dissera ter uma coletânea bem vasta e ampla da surf music, que me emprestasse o material para que eu, ainda na época do K7, gravasse a minha fitinha. O que ele me levou foi uma caixa com 4 CD's e, logicamente, não deu pra gravar tudo em uma fita só, mesmo numa de 90 minutos. "Cowabunga! - The Surf Box" é a coletânea definitiva do som surf, passando a limpo a história, as características e os grandes nomes do estilo especialmente da época áurea, nos anos '60, mas também destacando releituras, revivals e novos nomes, das décadas seguintes, até a metade dos anos '90.
As que eu conhecera no filme de Tarantino estão lá, mas "Cowabunga!" passa longe de ser apenas o disco que tem as músicas do "Pulp Fiction". A coletânea reúne o que há de melhor e mais significativo produzido pela turma das ondas, numa época em que o esporte era associado ao rock'n roll e guitarras e não ao reggae, pela leseira do clima de praia, e a babas pop insossas de artistas como Jack Johnson.
Composta predominantemente por temas instrumentais, "Cowabunga!" traz em grande parte de suas faixas aquelas características guitarras nervosas, com aquele som tremulado cheio de reverberação, além de saxofones vibrantes e envenenados, nçao raro envolvidos por atmosferas latinas, árabes, indianas ou de qualquer outra sonoridade exótica. 
Tem muita coisa boa em mais de oitenta faixas, mas vão aí algumas das minhas preferidas: "Pintor", do The Pharos, num clima bem à espanhola; "Church Key", do The Revels, com aquelas graciosas risadinhas femininas; a alucinante "Bombora", dos Surfaris, de guitarra ecoante e bateria selvagem;  "Fiberglass Jungle", intensa com sua bateria tribal e sax hipnótico; "Disintegration", do The Ready Men, que brinca de se desintegrar e voltar o tempo todo, num crescente e decrescente de ritmo absolutamente envolvente; e ainda uma versão ao vivo de "Misirlou", de Dick Dale, com a Bob Fuller Four, com quase seis minutos de variações de guitarras enlouquecidas. Entre as que tem vocal, destaque para a versão original de "Surfin' Bird", do Trashmen, conhecida depois pela cover dos Ramones; a divertida "Beach Party", com a voz adorável de Anette Funiccelo; e, é claro, o clássico "Surfin' U.S.A.", dos Beach Boys, praticamente um hino da surf music.
O CD 4 é dedicado ao surf contemporâneo, por assim dizer, com o que melhor foi feito no gênero depois da década de ouro, nos anos '60. Pra falar a verdade, dessa seleção tem muita coisa dispensável, mas merecem uma conferida a pedrada "Storm Dancer", uma verdadeira tempestade sonora, quebrando tudo na bateria; a ótima "Save The Waves"; e a a alucinante, já com características bem do pós-punk, "Pier Pressure", do habilidoso guitarrista Teisco Del Rey.
Devo essa ao Tarantino que, além de nos presentear sempre com grandes filmes, volta e meia nos revela algumas preciosidades musicais e nos faz ir atrás, conhecer mais e querer ter na coleção. Valeu por mais essa, Tarantino.
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FAIXAS:

  • Disco 1 - "Ground Swells" (1960-1963)
1. Bulldogg - The Fireballs (02:11)
2. Moon Dawg! - The Gamblers (02:14)
3. Church Key - Barbara Adkins / The Revels (02:03)
4. Underwater - The Frogmen (02:07)
5. Mr. Moto - The Bel-Airs (02:09)
6. Let's Go Trippin' - Dick Dale & His Del-Tones (02:09)
7. Surfer's Stomp - Mar-Kets (01:56)
8. Surfin' - The Beach Boys (02:17)
9. Paradise Cove - Surfmen (03:03)
10. Latin'ia - The Sentinals (02:28)
11. Bustin' Surfboards - The Tornadoes (02:29)
12. Misirlou - Dick Dale & His Del-Tones (02:13)
13. Surf Beat - Dick Dale & His Del-Tones (02:59)
14. Cheater Stomp - Fabulous Playboys (02:10)
15. Pipeline - The Chantays (02:18)
16. Surfer Joe - The Surfaris (03:38)
17. Wipe Out - The Surfaris (02:38)
18. The Rising Surf- Richard Allen (02:42)
19. Surf Rider - The Lively Ones (03:18)
20. Shoot That Curl - Chris & Kathy (04:21)

  •  Disco 2 - "Big Waves" (1963)
1. KFWB Jungle - The Beach Boys (00:28)

2. Surfin' U.S.A. - The Beach Boys (02:28)
3. Jezabel - The Illusions (02:20)
4. Body Surf - Aki Aleong & The Nobles (02:01)
5. Surf Bunny - Gene Gray & The Stingerays (02:30)
6. Soul Surfer - John Fortune (02:36)
7. Shoot the Curl - The Honeys (02:19) 
8. Baja - The Astronauts (02:29)
9. Pintor - Pharos (02:17)
10. Cat on a Hot Foam Board - New Dimensions (01:41)
11. Surf City - Jan & Dean (02:27)
12. Breakfast at Tressels - Rhythm Rockers (02:46)
13. King of the Surf Guitar - Dick Dale & His Del-Tones (02:06)
14. Surfin' at Mazatland - The Centurions (03:14)
15. Surfin' Hootenanny - Al Casey / K-C-Ettes (02:08)
16. The Lonely Surfer - Jack Nitzsche (02:34)
17. Surfer Girl - The Beach Boys (02:26)
18. Beaver Patrol - The Blazers (02:47)
19. Fiberglass Jungle - Crossfires (02:13)
20. Mr. Rebel - Eddie & the Showmen (04:57) 

  • Disco 3 - "The Ebb Tide" (1963-1967)
1. Penetration - Pyramids (02:00)

2. Bombora - The Surfaris (02:05)
3. Heavies - The Rotations (01:45)
4. Moment of Truth - Dave Myers & the Surftones (02:45) 
5. My Little Surfin' Woodie - The Sunsets (02:00)
6. Let There Be Surf - The Chevell's (02:10)
7. Surfin' Bird - The Trashmen (02:22)
8. Ski Storm - The Snowmen (02:01)
9. Disintegration - The Ready Men (02:26)
10. Beach Party - Annette (01:49)
11. Theme from Endless Summer - The Sandals (03:24)
12. New York's a Lonely Town - The Tradewinds (02:16)
13. K-3 - The Challengers (02:10)
14. Tell 'Em I'm Surfin' - The Fantastic Baggys (02:03)
15. On the Run - The Rondels (02:15)
16. Walk-Don't Run '64 - The Ventures (02:23)
17. I Live for the Sun - The Sunrays (02:27)
18. Malibu Run - Fender IV (02:26)
19. Miserlou - The Bobby Fuller Four (05:47)
20. Hit the Surf - Sea Shells (03:34) 

  • Disco 4 - "New Waves" (1977- 1995)
1. Storm Dancer - Jon & the Nightriders (02:50)

2. Goin' to Malibu - Malibooz (03:13)
3. Wave Walk'n - Surf Raiders (02:17)
4. Night of the Living Wedge - Wedge (02:35)
5. My Beach - Surf Punks (01:49)
6. The Tan Punks on Boards - Corky Carroll & The Cool Water Casuals (02:54)
7. The Rebel - The Cruncher (01:54)
8. Polairs - Insect Surfers (03:57)
9. Chumming - The Halibuts (01:59)
10. Save the Waves - The Surfdusters (03:05)
11. Desert Bound - Looney Tunes (02:12)
12. Pier Pressure - Teisco del Rey (02:24)
13. A Night in Tunisia - Laika & the Cosmonauts (02:12)
14. Reverb 1000 - Man or Astro-man? (02:04)
15. Banzai Run - The Phantom Surfers (02:29)
16. Spanish Blue - Aqua Velvets (03:29)
17. Xke! - Boss Martians (02:23)
18. Killer Dana - The Chantays (02:14)
19. Honeybomb - Mermen (06:09)
20. Punta Baja - The Eliminators (03:35)
21. Wingnut's Theme - The Sandals (04:35)
22. Esperanza - Dick Dale (05:50)

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Ouça:
Cowabunga! - The Surf Box:




Cly Reis

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

The Beach Boys - "Pet Sounds" (1966)

Os Sons de Estimação

 “ 'God Only Knows' é a música
que eu queria ter escrito.”
líder dos Beatles


A psichodelic era dos anos 60, sensacionalmente rica, produziu alguns dos maiores talentos da música mundial. John LennonPaul McCartneyJimmi HendrixSid BarretRay DaviesBrian JonesArthur LeeArnaldo BaptistaLou ReedRocky EriksonFrank Zappa e mais uma dezena de cabeças geniais. Todos produziram, quando não vários, pelo menos um trabalho fundamental para a história da música pop. Porém, um destes expoentes, também surgido à época, criou algo sem precedente dentro da discografia do rock. Ele é Brian Wilson, líder e principal compositor do The Beach Boys. A obra: “Pet Sounds”, de 1966, uma joia rara da música do século XX, comparável aos mitológicos "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" ou "The Dark Side of the Moon". Requintado e perfeito do início ao fim, é repleto de detalhismos que somente a mente obsessiva de Brian Wilson poderia conceber, o que, somado a seu empenho, conhecimento técnico e alta sensibilidade, resultou num disco inovador em técnicas de gravação, conceito temático, estrutura composicional, instrumentalização, arranjos, entre outros aspectos.

“Pet Sounds”, diz a lenda, surgiu de um sentimento de competitividade alimentado por Brian, um perturbado jovem com então 24 anos cujo quadro esquizofrênico era danosamente potencializado pelo vício em LSD. Para piorar: a relação com o pai era péssima, a ponto de, numa ocasião de briga entre os dois, levar uma pancada tão forte que o deixou surdo de um dos ouvidos – motivo pelo qual, reza outra lenda, teria concebido e gravado “Pet Sounds” em mono, uma vez que não conseguia perceber fisicamente os sons em estéreo. Todo este quadro e o temperamento vulcânico fizeram com que Brian, maravilhado mas enciumado com o resultado que os Beatles haviam atingido com seu “Rubber Soul”, lançado cinco meses antes, se pusesse na missão de superar a obra dos rapazes de Liverpool.

E conseguiu.

“Pet Sounds” é uma pequena sinfonia barroco-pop jamais superada, nem pelo próprio Beach Boys. Brian deixa para trás a pecha de mera banda de surf music creditada a eles (o que já se vinha notando desde “The Beach Boys' Christmas Album”, trabalho anterior da banda) e se lança na composição, produção, arranjo e condução de todo o trabalho, resultado de longas e exaustivas pesquisas à teoria musical e às musicas erudita, folclórica, jazz e pop. O desbunde já começa na faixa de abertura, a clássica “Wouldn't It Be Nice”. O som fino e lúdico do harpschord executa uma ciranda, que faz a abertura de “Pet...” lembrar a de outro LP histórico da época, "The Velvet Underground and Nico", de um ano depois, cujo sonzinho inicial vem de outras cordas, as de uma delicada caixinha de música. Mas a semelhança para por aí, pois, se “Sunday Morning” do Velvet varia para um sereno pop-jazz francês, a dos Beach Boys ganha amplitude e cor. O som do cravo repete o tempo três vezes até que é interrompido bruscamente por um forte estrondo seco em staccato da percussão. Aquele contraste entre o agudo cristalino das cordas e o timbre grave da batida faz da abertura do disco uma das mais belas, conceituais e inteligentes da discografia rock. Além disso, a música que se desenvolve a partir dali é absolutamente linda. Elevando o tom, joga o ouvinte num jardim da infância de sons vibrantes e coloridos num ritmo de banda marcial, onde já se nota que Brian vinha com tudo em seu desafio pessoal: som cheio, polifonia, coros em contracanto, abundância de instrumentos e ornados, consonância e equilíbrio total entre graves e agudos.

Um dos principais recursos utilizados por Brian no disco para obter esse resultado é a concepção múltipla da obra como um todo, seja na unidade entre as faixas, na harmonia ou no arranjo das peças. Bem ao estilo da música barroca dos séculos XVII e XVIII, ele vale-se da variedade instrumental e, numa decorrência mais impressionista, de timbres, uma vez que extrai sonoridades de toda a escala diatônica através de cordas, sopros, percussão, vozes, teclados e até eletrônicos. Há vários instrumentos exóticos, como mandolin, harpa francesa, ukulele, english corn, banjo, tack piano e temple block. A obsessão de Brian de superar o Fab Four, sabendo da prática dos "rivais" de valerem-se de variados instrumentos em estúdio, pode ser constatada, inclusive, na quantidade de instrumentos usados em todo o disco: cerca de 40, tocados por quase 70 músicos diferentes, incluindo a banda em si: os irmãos Carl (vocais, guitarra) e Dennis Wilson (vocais, bateria) mais Al Jardine (vocais, tamborim), Bruce Johnston e Mike Love (ambos, vocais), além do próprio Brian (vocais, órgão, piano). A belíssima balada “You Still Believe in Me”, das minhas preferidas, vale-se deste conceito polifônico. Além de baixar o tom da faixa inicial, explora mais ainda a riqueza dos ornamentos barrocos, como na complexidade melódica dos corais, que funcionam como um instrumento de teclado que acompanha o toque do cravo. A percussão, detalhada, vai do sutil som de sininho a tambores de orquestra, os quais dão um final épico à faixa em curtos rufares.

Outro trunfo do disco, na tentativa de Brian de superar até a produção de George Martin para com os Beatles, é a adoção do modelo de gravação multitrack. Usando vários takes de vozes e instrumentos tocando ao mesmo tempo e uns sobre os outros, consegue atingir, assim, timbres únicos. Isso foi possível pelo ouvido apurado de Brian que, grande fã do produtor Phil Spector, “inventor” das teenage symphonies nos anos 50, chupou-lhe a ideia do “wall of sound”, refinando-a. A “muralha de som” de Spector aproveitava o estúdio como instrumento, explorando novas combinações de sons que surgem a partir do uso de diversos instrumentos elétricos e vozes em conjunto, combinando-os com ecos e reverberações. Isso se nota em todo o disco, como em “That’s Not Me”, outra espetacular. Lindíssima a voz de Love, que, limpa e sem overdub, desenha toda a canção, enquanto a base se sustenta num órgão, nos acordes de ukulele (guitarrinha havaiana) e na combinação grave/agudo da percussão, em que o tambor e o chocalho ditam o ritmo. “Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder)” é outra balada que faz, novamente, cair o andamento para um ar melancólico. Mas que balada! Tristonha, romântica e, como num ornamento rococó, toda cheia de enlevos. Nesta, Brian capricha na orquestração.

Por falar em orquestração, duas merecem destaque neste aspecto. A primeira, a não menos lírica “I’m Waiting for the Day”, que oscila entre um ritmo de balada, levada por um suave órgão, e momentos de empolgação, quando, lindamente, vozes em contracanto se juntam a flautas e uma percussão densa em que o tímpano se destaca na marcação. A orquestra, no entanto, entra por apenas rápidos segundos, suficientes para pintar a música com alguns traços, quando, lá para o fim da faixa, logo após Brian cantar com doçura os versos: I’m waiting for the day when you can love again”, violinos e cellos, sem dar pausa entre o fim da vibração da voz e o ataque de suas cordas, aparecem juntos em um fraseado lírico como uma suave nuvem sonora, integrando voz e instrumentos. Depois desse breve sonho, estes e todos os outros instrumentos voltam para encerrar a canção em tom maior, com a voz solo cantando: “You didn't think that/ I could sit around and let him work...”, enquanto um dos coros faz: “Ah aaah ah/ ah, aaah, ah...”, em três tempos, e o outro vocalisa: “doo- doo/ doo-roo/ doo- doo/ doo-roo...”, em dois. Estupendo.

A segunda especial em termos de arregimentação é "Let's Go Away for Awhile”. Como a faixa-título – uma rumba estilizada em que o compositor se vale da diversidade de instrumentos que vão desde sopros, como sax alto e trombone, e percussão, reco-reco e (pasmem!) latas de Coca-Cola, até um método de filtragem de entrada de som do alto-falante, que dá uma sonoridade específica à guitarra –, é instrumental, prestando mais um tributo à tradição medieval, uma vez que o conceito de dissociar música da dança ou do teatro iniciou-se, justamente, com mestres como Scarlatti e Vivaldi nesta época. Perfeita em harmonia, é quase um pequeno concerto para vibrafone, que conta também com um breve solo de bloco de madeira, finalizando com um arrepiante diálogo entre bateria e tímpano de orquestra, sustentados por um arranjo de cordas de caráter grandioso.

Depois do tom médio de “Let’s...”, o ânimo volta às alturas com a graciosa “Sloop John B”. Na introdução, outra clássica no disco, um toque de sininho e uma nota de flauta que se estende, ambos marcados pelo tic-tac de um metrônomo, dando início à alegre canção, com Brian, Love e Carl alternando a voz solo e na qual não falta beleza no arranjo das vozes em contraponto. Brian consegue dar colorações lúdicas a uma canção folclórica tradicional do Caribe, criando uma música em que dá a impressão de que toda a caixa de brinquedos ganhou vida e saiu a tocar pelo chão do quarto, cada um com um instrumento: o soldadinho do Forte Apache com a tuba, o marinheiro com o tamborim, o indiozinho Pele-Vermelha com os sinos, o playmobil com o clarinete e assim por diante.

Para os apaixonados por “Pet Sounds” como eu, que o conhecem de trás pra diante, o final da extrovertida “Sloop...” traz uma emoção especial, pois é sinal de que vem, na sequência, “God Only Knows”. Magistral, numa palavra. A música que fez o gênio Paul McCartney sentir inveja alinha-se em magnitude a ícones da música moderna como "Like a Rolling Stone""Bolero""A Day in the Life""Águas de Março" ou "Summertime". Com uma aura ao mesmo tempo celestial, emocionada e suplicante, “God...” não poupa o coração dos diletantes, pois o órgão e o toque do oboé já largam entoando em alto e bom som. Na suave percussão, chocalhos e temple block. As cordas e sopros, igualmente perfeitos. A voz de Carl transmite uma emoção intensa e não menos lírica. Após uma segunda parte em que sobe uma gradação, adensando a emotividade, a faixa se encerra sob belíssimas frases dos sopros e uma orquestração a rigor, quando as vozes de Carl, Brian e Johnston se misturam, criando um efeito onírico tal como um Cantus Firmus, tipo de melodia extraída dos cantochões polifônicos medievos em louvor ao Senhor. Impossível não lembrar, ouvindo-a, da famosa sequência do filme "Boogie Nights" em que a câmera sobrevoa os cenários mostrando os rumos tomados na vida de cada personagem, como se Deus estivesse vendo o destino de todos e dissesse: “só Eu sei”.

“I Know There's an Answer” (que, nas extras, vem na versão “Hang on to Your Ego“, com mesma melodia e letra diferente) mantém a beleza polifônica e reforça uma outra base conceitual do disco: a “teoria dos afetos”. Princípio básico da música barroca, estabelece correspondência entre os sentimentos e os estados de espírito humanos. A alegria, consonante, por exemplo, é expressa através dos tons maiores, acontecendo o inverso para o sentimento de tristeza, em matizes menores e dissonantes em forma. Por isso, as idas e vindas durante todo o disco de temas calmos e/ou românticos alternados com outros alegres e mais pulsantes. Isso que acontece novamente com a “agitada” “Here Today”, que antecede outra obra-prima de Brian e Cia.: o baladão “I Just Wasn't Made for These Times”. Com base de cravo, num clima dos oratórios de Bach e Häendel, percussão que equilibra temple blocks, bateria e tímpanos, além de impressionantes contracantos, traz ainda uma inovação em termos de música pop: o electro-theremin, sintetizador muito usado pela vanguarda erudita da eletroacústica que pouco (ou nunca) havia sido usado em rock até então. E Brian não só usa como, inteligentemente, aplica-o de uma forma genial, pois, integrando uma ferramenta sonora moderna a outras marcantes da Idade Média (como o cravo e o tímpano), a faz homogeneizar-se ao coro, como se instrumento e voz, natureza e espírito, Deus e homem fossem a mesma matéria.

Se os Beatles de “Rubber...” louvavam o amor à sua Michelle, Brian, em mais uma estocada, vinha com a lenta e definitiva “Caroline No” com suas combinações de bongô/chocalho e hammond mantendo a base, além do engenhoso solo de cello com trombone, desfechando vitoriosamente o LP original.

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Se parasse por aí, já estava de bom tamanho, mas até os extras são dignos de nota. Haja visto a curta e brilhante “Unreleased Backgrounds”, toda a capella e na qual Brian evoca os mais ricos motetos barrocos – claro, numa roupagem pop e com a cara dele. Afinadíssimo, ele puxa um “lá”, prolongando seu corpo e baixando gradualmente a escala por cerca de 15 segundos até cair totalmente. O “good Idea”, ouvido ao fundo dito por algum dos integrantes da banda no estúdio mostra que a coisa agradou, motivando todos a se juntarem num coro. Eles exercitam melismas com acidentes, formando um verdadeiro canto gregoriano moderno. Lindíssimo. Depois disso, ainda há a ótima instrumental “Trombone Dixie”, em que, de uma feita, homenageiam o célebre bluesman Willie Dixie e evidenciam a sutil fronteira entre o folk e o erudito.

Brian Wilson vencera o desafio a que ele mesmo se propôs: apenas cinco meses depois, os Beach Boys superavam com “Pet Sounds” os Beatles de “Rubber Soul”. A história da música pop nunca mais seria a mesma, tendo em vista a alta influência deste trabalho para uma infinidade de outros artistas, que vão desde ZombiesPink Floyd e R.E.M., passando por Van Morisson, Genesis, Blur e, claro, os próprios Beatles. Mas a instabilidade emocional e o vício em drogas de Brian não o deixariam prosseguir combatendo no front da música pop – pelo menos, não à altura de Lennon, McCartney, Harrison e Ringo. Três meses adiante, o Quarteto de Liverpool se reinventa novamente e lança o espetacular “Revolver”; no ano seguinte, o histórico “Sgt. Peppers...”; logo em seguida, emendam o fecundo “Álbum Branco”. Brian perde o passo e não consegue mais conceber uma obra com início, meio e fim, quanto menos uma grandiosa como a que criou. Mas, para sorte da humanidade, havia dado tempo do mundo conhecer “Pet Sounds”, o álbum que é mais do que um “disco de cabeceira”, mas os verdadeiros “sons de estimação”.



por Daniel Rodrigues
(Consultas técnicas e agradecimentos: Maria Beatriz Noll e Leocádia Costa)

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FAIXAS:
1. Wouldn't It Be Nice - 2:26 (Wilson, Asher, Mike Love)
2. You Still Believe in Me - 2:31
3. That’s Not Me - 2:30
4. Don't Talk (Put Your Head on My Shoulder) - 2:53
5. I’m Waiting for the Day – 3:06
6. Let's Go Away for a While - 2:21
7. Sloop John B - 2:54
8. God Only Knows - 2:46
9. I Know There's an Answer - 3:10 (Wilson, Terry Sachen, Love)
10.  Here Today - 2:55
11. I Just Wasn't Made for These Times - 3:10
12. Pet Sounds - 2:23
13. Caroline, No - 2:54
14. Unreleased Backgrounds - :50
15. Hang on to Your Ego – 3:17
16. Trombone Dixie – 2:53

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OUÇA O DISCO


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

The Beach Boys - "Surfin' USA" (1963)



"Éramos apenas garotos,
mas éramos sérios no nosso trabalho.
O ponto é que quando lhe é dada a chance,
você faz o seu melhor (...)
Eu não gostava de vocais de segunda categoria.
Era o melhor ou nada, na minha opinião.
Os garotos pegaram a ideia."
Brian Wilson



A  maioria das pessoas prefere os Beach Boys mais elaborados e eruditos que chegaram a rivalizar com os Beatles em refinamento compositivo, mas particularmente, embora reconheça todo o valor de obras como "Smiley Smile" e da obra-prima "Pet Sounds", mesmo sob o risco de ser rotulado de ignorante, ainda sou mais a pureza quase juvenil da fase surf. E poucos discos podem representar tão bem esta fase quanto "Surfin' USA", álbum que traz um dos hinos da turma das ondas e um dos maiores clássicos do rock de todos os tempos, a música que lhe dá o nome. É verdade que a canção é uma bela duma cópia de "Sweet Little Sixteen", o que, por sinal, rendeu um belo processo contra a banda e a obrigação de creditar posteriormente o velho Chuck Berry na composição, mas podemos interpretar que, na verdade, "Surfin' USA" talvez tenha sido a oportunidade divina que fora concedida para que pudesse ocorrrer a combinação entre o pai do rock e uma das mentes mais geniais e criativas do mundo da música.
"Surfin' USA" é mais primário, mais cru, é verdade mas traz consigo uma espécie de tradução de um espírito de juventude e aventura que o surf carrega naturalmente e uma sonoridade e postura mais efetivamente roqueira do que adotada por eles mais adiante. Mas não se engane achando que essa crueza reflete em pouca qualidade. Brian Wilson desde sempre já demonstrava sua qualidade de arranjador e instrumentista e o disco já revela grandes virtudes compositivas e técnicas.
Cinco das faixas de "Surfin' USA" são instrumentais, algo muito característico nas bandas de surf music da época, todas elas naquele estilo bem característico, com aquela tradicional guitarra vibrante dobrada e trêmula. Destaque para a notável "Misirlou" de Dick Dale que viria a ser definitivamente imortalizada mais tarde por sua inclusão na tilha do filme "Pulp Fiction", mas dentre estas também merecem destaque a excelente "Stoked" um pouco mais cadenciada, e "Surf Jam", simplesmente selvagem. Das demais gosto muito da balada "The Lonely Sea", de vocal incrível de Brian Wilson; da ótima "Shut Down" que narra um tíico racha automobilístico entre jovens; e de "Finders Keepers" de arranjos vocais interessantíssimos que já prenunciavam que aqueles garotos da praia não estavam destinados a ficar apenas por alí pegando onda.
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FAIXAS:

  1. Surfin' U.S.A. (2:20)
  2. Farmer's Daughter (1:49)
  3. Misirlou (2:02)
  4. Stoked (2:00)
  5. Lonely Sea (2:20)
  6. Shut Down (1:50)
  7. Noble Surfer (1:50)
  8. Honky Tonk (2:00)
  9. Lana (1:40)
  10. Surf Jam (2:00)
  11. Let's Go Trippin' (1:52)
  12. Finders Keepers (1:43)


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Ouça:
The Beach Boys Surfin' USA


Cly Reis

terça-feira, 24 de novembro de 2009

200 Melhores Músicas de Todos os Tempos

Saiu uma dessas listas da Rolling Stone com as 200 melhores músicas de todos os tempos.
Concordo com muitas, é lógico, discordo de alguma ordem que outra mas fundamentalmente me parece uma lista excessivamente conservadora. Só foi no certo. Não arrisca quase nada acima dos anos 80. Pode ser que o crítico, os críticos, os votantes, sei lá quem, realmente achem que não existe nada que valha a pena nos últimos tempos, mas assim parece uma lista de melhores até 1975, com raras exceções.
Exceção louvável é ver o Nirvana com justiça já figurar nas 10 primeiras posições.
Vale pela curiosidade:

1. Bob Dylan "Like a Rolling Stone" 1965
2. Rolling Stones "(I Can't Get No) Satisfaction" 1965
3. John Lennon "Imagine" 1971
4. Marvin Gaye "What's Going On" 1971
5. Aretha Franklin "Respect" 1967
6. Beach Boys "Good Vibrations" 1966
7. Chuck Berry "Johnny B. Goode" 1958
8. Beatles "Hey Jude" 1968
9. Nirvana "Smells Like Teen Spirit" 1991
10. Ray Charles "What'd I Say" 1959
11. The Who "My Generation" 1966
12. Sam Cooke "A Change Is Gonna Come" 1965
13. Beatles "Yesterday" 1965
14. Bob Dylan "Blowin' in the Wind" 1963
15. The Clash "London Calling" 1980
16. Beatles "I Want to Hold Your Hand" 1964
17. Jimi Hendrix "Purple Haze" 1967
18. Chuck Berry "Maybellene" 1955
19. Elvis Presley "Hound Dog" 1956
20. Beatles "Let it Be" 1970
21. Bruce Springsteen "Born To Run" 1975
22. The Ronettes "Be My Baby" 1963
23. Beatles "In My Life" 1966
24. Impressions "People Get Ready" 1965
25. Beach Boys "God Only Knows" 1966
26. Beatles "A Day in the Life" 1967
27. Derek and the Dominos "Layla" 1971
28. Otis Redding "Sitting on the Dock of the Bay" 1968
29. Beatles "Help!" 1965
30. Johnny Cash "I Walk the Line" 1956
31. Led Zeppelin "Stairway To Heaven" 1971
32. Rolling Stones "Sympathy For The Devil" 1968
33. Ike and Tina Turner "River Deep, Mountain High" 1966
34. Righteous Brothers "You've Lost That Lovin' Feelin'" 1964
35. The Doors "Light My Fire" 1967
36. U2 "One" 1991
37. Bob Marley and the Wailers "No Woman No Cry" 1974
38. Rolling Stones "Gimme Shelter" 1969
39. Buddy Holly and the Crickets "That'll Be the Day" 1957
40. Martha and The Vandellas "Dancing In The Street" 1964
41. The Band "The Weight" 1968
42. The Kinks "Waterloo Sunset" 1967
43. Little Richard "Tutti Frutti" 1956
44. Ray Charles "Georgia On My Mind" 1960
45. Elvis Presley "Heartbreak Hotel" 1956
46. David Bowie "Heroes" 1977
47. Simon and Garfunkel "Bridge Over Troubled Water" 1969
48. Jimi Hendrix "All Along The Watchtower" 1968
49. The Eagles "Hotel California" 1977
50. Smokey Robinson and the Miracles "The Tracks Of My Tears" 1965
51. Grandmaster Flash and The Furious Five "The Message" 1982
52. Prince "When Doves Cry" 1984
53. Sex Pistols "Anarchy In The UK" 1977
54. Percy Sledge "When A Man Loves A Woman" 1966
55. The Kingsmen "Louie Louie" 1963
56. Little Richard "Long Tall Sally" 1956
57. Procol Harum "Whiter Shade Of Pale" 1967
58. Michael Jackson "Billie Jean" 1983
59. Bob Dylan "The Times They Are A-Changin'" 1963
60. Al Green "Let's Stay Together" 1971
61. Jerry Lee Lewis "Whole Lotta Shakin' Goin' On" 1957
62. Bo Diddley "Bo Diddley" 1957
63. Buffalo Springfield "For What It's Worth" 1968
64. Beatles "The She Loves You" 1964
65. Cream "Sunshine of Your Love" 1968
66. Bob Marley and the Wailers "Redemption Song" 1968
67. Elvis Presley "Jailhouse Rock" 1957
68. Bob Dylan "Tangled Up In Blue" 1975
69. Roy Orbison "Cryin'" 1961
70. Dionne Warwick "Walk On By" 1964
71. Beach Boys "California Girls" 1965
72. James Brown "Papa's Got A Brand New Bag" 1965
73. Eddie Cochran "Summertime Blues" 1958
74. Stevie Wonder "Superstition" 1972
75. Led Zeppelin "Whole Lotta Love" 1969
76. Beatles "Strawberry Fields Forever" 1967
77. Elvis Presley "Mystery Train" 1956
78. James Brown "I Got You (I Feel Good)" 1965
79. The Byrds "Mr. Tambourine Man" 1968
80. Marvin Gaye "I Heard It Through The Grapevine" 1965
81. Fats Domino "Blueberry Hill" 1956
82. The Kinks "You Really Got Me" 1964
83 Beatles "Norwegian Wood" 1965
84. Police "Every Breath You Take" 1983
85. Patsy Cline "Crazy" 1961
86. Bruce Springsteen "Thunder Road" 1975
87. Johnny Cash "Ring of Fire" 1963
88. The Temptations "My Girl" 1965
89. Mamas And The Papas "California Dreamin'" 1966
90. Five Satins "In The Still Of The Nite" 1956
91. Elvis Presley "Suspicious Minds" 1969
92. Ramones "Blitzkrieg Bop" 1976
93. U2 "I Still Haven't Found What I'm Looking For" 1987
94. Little Richard "Good Golly, Miss Molly" 1958
95. Carl Perkins "Blue Suede Shoes" 1956
96 Jerry Lee Lewis "Great Balls of Fire" 1957
97. Chuck Berry "Roll Over Beethoven" 1956
98. Al Green "Love and Happiness" 1972
99. Creedence Clearwater Revival "Fortunate Son" 1969
100. Rolling Stones "You Can't Always Get What You Want" 1969
101. Jimi Hendrix "Voodoo Child (Slight Return)" 1968
102. Gene Vincent "Be-Bop-A-Lula" 1956
103. Donna Summer "Hot Stuff" 1979
104. Stevie Wonder "Living for the City" 1973
105. Simon and Garfunkel "The Boxer" 1969
106. Bob Dylan "Mr. Tambourine Man" 1965
107. Buddy Holly and the Crickets "Not Fade Away" 1957
108. Prince "Little Red Corvette" 1983
109. Van Morrison "Brown Eyed Girl" 1967
110. Otis Redding "I've Been Loving You Too Long" 1965
111. Hank Williams "I'm So Lonesome I Could Cry" 1949
112. Elvis Presley "That's Alright (Mama)" 1954
113. The Drifters "Up On The Roof" 1962
114. Crystals "Da Doo Ron Ron (When He Walked Me Home)" 1963
115. Sam Cooke "You Send Me" 1957
116. Rolling Stones "Honky Tonk Women" 1969
117. Al Green "Take Me to the River" 1974
118. Isley Brothers "Shout - Pts 1 and 2" 1959
119. Fleetwood Mac "Go Your Own Way" 1977
120. Jackson 5, "I Want You Back" 1969
121. Ben E. King "Stand By Me" 1961
122. Animals "House of the Rising Sun" 1964
123. James Brown "It's A Man's, Man's, Man's, Man's World" 1966
124. Rolling Stones "Jumpin' Jack Flash" 1968
125. Shirelles "Will You Love Me Tomorrow" 1960
126. Big Joe Turner "Shake, Rattle And Roll" 1954
127. David Bowie "Changes" 1972
128. Chuck Berry "Rock & Roll Music" 1957
129. Steppenwolf "Born to Be Wild" 1968
130. Rod Stewart "Maggie May" 1971
131. U2 "With or Without You" 1987
132. Bo Diddley "Who Do You Love" 1957
133. The Who "Won't Get Fooled Again" 1971
134. Wilson Pickett "In The Midnight Hour" 1965
135. Beatles "While My Guitar Gently Weeps" 1968
136. Elton John "Your Song" 1970
137. Beatles "Eleanor Rigby" 1966
138. Sly and the Family Stone "Family Affair" 1971
139. Beatles "I Saw Her Standing There" 1964
140. Led Zeppelin "Kashmir" 1975
141. Everly Brothers "All I Have to Do is Dream" 1958
142. James Brown "Please Please Please" 1956
143. Prince "Purple Rain" 1984
144. Ramones "I Wanna Be Sedated" 1978
145. Sly and the Family Stone "Every Day People" 1968
146. B-52's "Rock Lobster" 1979
147. Iggy Pop "Lust for Life" 1977
148. Janis Joplin "Me and Bobby McGee" 1971
149. Everly Brothers "Cathy's Clown" 1960
150. Byrds "Eight Miles High" 1966
151. Penguins "Earth Angel (Will You Be Mine)" 1954
152. Jimi Hendrix "Foxy Lady" 1967
153. Beatles "A Hard Day's Night" 1965
154. Buddy Holly and the Crickets "Rave On" 1958
155. Creedence Clearwater Revival "Proud Mary" 1964
156. Simon and Garfunkel "The Sounds Of Silence" 1968
157. Flamingos "I Only Have Eyes For You" 1959
158. Bill Haley and His Comets "(We're Gonna) Rock Around The Clock" 1954
159. Velvet Underground "I'm Waiting For My Man" 1967
160. Public Enemy "Bring the Noise" 1988
161. Ray Charles "I Can't Stop Loving You" 1962
162. Sinead O'Connor "Nothing Compares 2 U" 1990
163. Queen "Bohemian Rhapsody" 1975
164. Johnny Cash "Folsom Prison Blues" 1956
165. Tracy Chapman "Fast Car" 1988
166. Eminem "Lose Yourself" 2002
167. Marvin Gaye "Let's Get it On" 1973
168. Temptations "Papa Was A Rollin' Stone" 1972
169. R.E.M. "Losing My Religion" 1991
170. Joni Mitchell "Both Sides Now" 1969
171. Abba "Dancing Queen" 1977
172. Aerosmith "Dream On" 1975
173. Sex Pistols "God Save the Queen" 1977
174. Rolling Stones "Paint it Black" 1966
175. Bobby Fuller Four "I Fought The Law" 1966
176. Beach Boys "Don't Worry Baby" 1964
177. Tom Petty "Free Fallin'" 1989
178. Big Star "September Gurls" 1974
179. Joy Division "Love Will Tear Us Apart" 1980
180. Outkast "Hey Ya!" 2003
181. Booker T and the MG's "Green Onions" 1969
182. The Drifters "Save the Last Dance for Me" 1960
183. BB King "The Thrill Is Gone" 1969
184. Beatles "Please Please Me" 1964
185. Bob Dylan "Desolation Row" 1965
186. Aretha Franklin "I Never Loved A Man (the Way I Love You)" 1965
187. AC/DC "Back In Black" 1980
188. Creedence Clearwater Revival "Who'll Stop the Rain" 1970
189. Bee Gees "Stayin' Alive" 1977
190. Bob Dylan "Knocking on Heaven's Door" 1973
191. Lynyrd Skynyrd "Free Bird" 1974
192. Glen Campbell "Wichita Lineman" 1968
193. The Drifters "There Goes My Baby" 1959
194. Buddy Holly and the Crickets "Peggy Sue" 1957
195. Chantels "Maybe" 1958
196. Guns N Roses "Sweet Child O Mine" 1987
197. Elvis Presley "Don't Be Cruel" 1956
198. Jimi Hendrix "Hey Joe" 1967
199. Parliament "Flash Light" 1978
200. Beck "Loser" 1994

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fleetwood Mac - "Tusk" (1979)



"Para mim, sou uma espécie de culpado por trás desse álbum singular, que foi feito de forma a minar uma espécie de fórmula de fazer apenas uma continuidade de ‘Rumors’.
Nós realmente estávamos prontos para fazer isso, o que poderia ter sido o início de uma autoimagem em termos de viver de acordo com os rótulos que nos estavam sendo colocados como banda.
Você sabe, tem havido vários momentos durante a trajetória da Fleetwood Mac ao longo dos anos em que tivemos que minar quaisquer que fossem as máximas que nos imputassem de maneira a nos mantermos com o espírito de artistas iniciantes,
e o álbum Tusk foi um desses momentos."
Lindsey Buckingham



Essa história começa em 1974. O grupo inglês Fleetwood Mac tava numa pior. O baterista Mick Fleetwood – e a metade do nome da banda, pois a outra é de John McVie, o baixista – foi visitar um estúdio e descobriu um casal de cantores e compositores e os convidou pra integrar o grupo. Eles eram Stevie Nicks e Lindsey Buckingham. Sem querer, tropeçou numa mina de ouro. O primeiro disco com os caras, “Fleetwood Mac”, de 1975, vendeu muito: cinco milhões de cópias. Mas ninguém esperava que o trabalho seguinte, “Rumours” se transformasse num fenômeno: 40 milhões de cópias vendidas e o terceiro disco mais comprado da história da música.
 Superar esta marca era uma tarefa inglória. Depois de excursionar pelo mundo inteiro, chegou a hora de fazer um novo disco. A pressão era muito grande. E, como quem é pressionado acaba fazendo exatamente o contrário, o guitarrista e cabeça musical da banda Lindsey Buckingham resolveu adotar um approach diferente. Trancou-se em casa e gravou metade das músicas do disco sozinho, tocando todos os instrumentos, fazendo vocais no banheiro – porque tinha a melhor reverberação – e detonando com as expectativas de todo mundo. Pra completar, usou as músicas que suas companheiras de banda e compositoras, a cantora Stevie Nicks e a tecladista Christine McVie, tinham na manga e fez um álbum duplo daqueles que parece ser, na verdade, três discos distintos. Mas que, numa ouvida do começo ao fim, apresenta uma coerência maluca. Se eu fosse louco, o compararia ao “Álbum Branco” dos Beatles, pela variedade estilística. Mas eu não sou. E este é “Tusk”, o 15º disco favorito aqui da casa.
Pra começar na manha e não assustar ninguém, Buckingham colocou uma balada romântica de McVie como primeira canção, “Over and Over”, daquelas que a gente ouvia na rádio nos anos 80. Mesmo num clima meloso desses, se ouve o toque LB: os vocais inspirados nos Beach Boys, grandes ídolos do guitarrista, especialmente o líder Brian Wilson. O vocal de Christine é bem característico das canções que ela interpretou no grupo até sua saída, em 1998.
 Em “The Ledge”, começa a viagem sonora do guitarrista. E a mensagem é dirigida diretamente à sua namorada da época, Carol Ann Harris (que, anos depois, escreveu um livro sobre suas aventuras e desventuras ao lado de Buckingham): “Você pode me amar/ mas não pode ir embora/ Alguém tem de te dizer/ o que tudo isso significa”. Os vocais são fantasmagóricos e ele toca todos os instrumentos. Não que tenham muitos nesta faixa: o trio básico de guitarra, baixo e bateria.
 Após o primeiro susto, Lindsey Buckingham amacia de novo com outra composição de McVie, “Think About Me”, essa mais no clima “Rumours” do Fleetwood Mac. Christine faz esta canção pra Dennis Wilson, o baterista dos Beach Boys (sempre eles) que namorava na ocasião. “Tudo que precisou foi um olhar especial/ e eu senti que te conhecia/ não pretendia te amar/ não achava que fosse dar certo... não vou te segurar/ deve ser por isso que você está aqui/ mas se eu for aquela que você ama/ pense em mim”.
 “Save me a Place” é um pedido de ajuda de Lindsey. Os violões e mandolins dão a medida da canção, na qual o guitarrista diz: “Guarde um lugar pra mim/ Eu virei correndo/ se você me amar hoje”. A confusão é uma tônica da música. “Não sei porque devo ir embora/ não sei porque devo ficar/ talvez eu queira ficar sozinho/ eu acho que preciso ser conquistado”.
 “Sara” foi o grande sucesso do disco e a primeira composição de Stevie Nicks no álbum. Dá pra se dizer que é uma clássica canção estilo FM dos anos 70: limpa, clara, pop e direta ao ponto, apesar da letra estranha de Nicks, numa carta à sua amiga - quem mais? - Sara: “Se afogando no mar do amor/ Onde todo mundo gostaria de se afogar/ mas agora se foi/ não interessa mais/ quando você construir sua casa/ me chame... Sara, você é uma poeta no meu coração/ nunca mude, nunca pare”. Estas palavras estranhas são embaladas por uma batida irresistível do baterista Mick Fleetwood, com o baixo seguro de John McVie, os teclados discretos de Christine McVie e pelos violões de Buckingham.
 Por falar no guitarrista, ele volta a se vingar da namorada em “What Makes You Think You're the One”, num título autoexplicativo que abre o Lado 2. Nesta canção, se pode dizer que ele, como baterista, é um ótimo guitar hero e produtor. “O que faz você pensar que é a única?/ Quem pode rir sem chorar... cada pedaço/ está aí/ para ser visto/ cada pedaço/ meu/ e seu”. E a retaliação continua: “O que faz você pensar que eu sou o cara?/ que vai te amar pra sempre?/ tudo o que você fez está feito/ e não vai durar pra sempre”. Tava furioso o moço... No livro, ela conta que as brigas eram diárias. E as reconciliações também.
 “Storms” vem de piano elétrico e guitarra se entrelaçando para criar a cama na qual Stevie Nicks vai cantar uma história de amor não muito bem sucedida. Certamente a que viveu ao lado de Lindsey Buckingham. “E eu não tenho lidado contigo, eu sei/ Apesar do amor ter sempre estado aqui/ Então tento encontrar uma resposta lá/ para que eu possa realmente ganhar”. Ao lavar a própria roupa suja, Nicks consegue ser sincera: “Então eu tento te dizer adeus, meu amigo/ Gostaria de te deixar com algo carinhoso/ mas eu nunca fui um mar calmo e azul/ eu tenho sido sempre uma tempestade”. Admitindo sua personalidade, ela consegue ir em frente.
 “That's All for Everyone” é uma canção de Lindsey Buckingham que tem um quê de folk song com uma wall of sound de vocais, muitos provavelmente feitos no banheiro. Como na maioria das canções do guitarrista, a perplexidade é que domina: “É tudo pra todo mundo/ É tudo pra mim/ última chamada para todo mundo/ deve ser exatamente o que eu preciso”. Durante a gravação de “Tusk”, o guitarrista se envolveu pesado com a cocaína e não se tornou um recluso porque Carol Ann Harris vivia na mesma casa que ele. Ela conta no livro “Storms: my life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac” que ele se trancava no estúdio caseiro o dia inteiro com uma montanha de pó e ficava gravando infinitas faixas, muitas delas não usadas no disco.
 A barra pesada de Buckingham continua em “Not That Funny”. “Não é tão engraçado/ quando você não sabe o que é/ Mas não consegue o suficiente disso... não me culpe/ por favor/ você está aqui porque eu quis assim”. A impressão é que o músico entrava em seu bunker particular e dizia em música tudo o que não conseguia falar abertamente e ao vivo com sua namorada. Uma briga musical. E quem levou a melhor fomos nós.
 O tão falado misticismo de Nicks aparece em “Sisters of the Moon”. “Silêncio intenso/ quando ela entra no quarto/ suas roupas pretas esvoaçando/ Irmã da Lua”. Outra faixa com bateria marcada de Mick e as guitarras de Lindsey aqui a serviço da canção. Poderia se dizer que esta canção é uma sub-”Rhiannon”, o grande sucesso das canções solo de Stevie. Possui, inclusive, a mesma pegada de guitarra e os backing vocals uivantes, como lobos em lua cheia.
 O Lado 3 do LP inicia com mais uma canção de Nicks. A faixa mais pop de todo o álbum. “Angel”, que é mais uma direcionada ao guitarrista. “Às vezes/ as coisas mais bonitas/ as coisas mais inocentes/ e muitos destes sonhos/ passam pela gente/ e continuam passando/ Você se sente bem/ Eu digo que é engraçado que tu entendas/ Eu sabia que sim/ Quando você era bom/ Você era muito, muito bom”. Lá pelas tantas, Nicks vai direto na couve: “Houve um fim/ mas não houve um encerramento”. O piano elétrico de McVie é que dá o tom.
“That's Enough for Me” é mais um trabalho solo do disco que Buckingham gravou com o Fleetwood Mac. “Toda vez que você me faz sorrir/ é do mesmo jeito que sempre foi/ E isso é o suficiente pra mim/ Toda a vez que eu não consigo dormir/ é a mesma dor que sempre foi/ E isso é o suficiente pra mim”. Para Lindsey Buckingham, amor rima com dor.
 Na sequência, vem a minha preferida de todo o disco, “Brown Eyes”, composição de Christine McVIe e cantada por ela. O baterista Mick Fleetwood faz miséria com uma batida que tem bumbo num tempo, baqueta na ferragem da caixa, prato de condução e chimbau, cada um fazendo uma coisa. E o Fender Rhodes de McVie fazendo as harmonias, juntamente com a guitarra. O baixo de John McVie está totalmente solto. Mas o que chama a atenção são os vocais que parecem vindos de outra galáxia. Lindsey, McVie e Nicks fazem o que uma amiga chamou, um tempo atrás, de “sha-la-lá etéreo”. E é exatamente isso. Esta faixa é a mostra do talento de Lindsey Buckingham como produtor. Com quase nada, ele criou um belo momento do disco. 
“Never Make Me Cry” traz Christine num clima “mulherzinha da antiga”. “Vá e faça o que quiser/ Sei que tu tens tuas vontades/ Você sabe que eu vou esperar, quanto tempo for necessário/ então vá e faça o que quiser/ você nunca vai me fazer chorar... Eu não posso aceitar tudo/ mas fico feliz de ter o seu amor/ Então não se preocupe, eu estarei bem/ e eu nunca vou te fazer chorar”. Misoginia feminina. As feministas devem ter ficado furiosas com Christine.
 Pra fechar este lado do LP, "I Know I'm Not Wrong", mais um rock de Buckingham dizendo que "os sonhos de uma vida inteira/ me mostram que eu estava errado/ Tudo está certo/ E agora se foi/ Não me culpe, por favor seja forte, eu que não estou errado". Um astro pop se queixando da vida que leva. Pobre menino rico.
 O lado 4 começa com "Honey Hi", outra composição de Chrsitine McVie que parece que vai se desmanchar, tamanha a suavidade e a dolência. Novamente o piano elétrico Fender Rhodes comanda as ações, com Fleetwood nas percussões e o violão de Lindsey transformam a canção em uma daquelas músicas que a gente canta num luau ou numa ida à praia no inverno. Esta é a verdadeira “música para acampamento”.
 "Beautiful Child" é outra balada de Nicks, onde ela consegue sua melhor performance vocal em todo o disco. A dificuldade no relacionamento contado na música fica evidente quando Nicks canta: "Eu não sou mais uma criança/ Eu sou alta o suficiente/ para atingir as estrelas/ sou velha o suficiente pra te amar/á distância/ Para confiar?.. sim/ Mas normalmente as mulheres são confiáveis". As pressões de ser uma pop star e viver na estrada detonam qualquer relacionamento. É isso que Nicks quer dizer na canção.
 "Walk a Thin LIne" é uma das "canções de banheiro" de Buckingham que mais funcionam como um artefato pop, se é que vocês me entendem. Uma introdução nos moldes da cartilha, um refrão pegajoso e, desta vez, ele resolve fazer uma música que poderia ser gravada por qualquer um. E foi, pelo baterista Mick Fleetwood em seu disco africano "The Visitor" com direito a guitarra slide de George Harrison. Aqui, o compositor empilha vocais a la Brian Wilson, conseguindo um efeito muito interessante.
 A faixa-título é das mais pretensiosas do disco inteiro, mas, ao mesmo tempo, é das mais bem-sucedidas. Uma batida tribal de Fleetwood começa os trabalhos, com os vocais novamente fantasmagóricos dos três cantores. Aos poucos, vão entrando os outros instrumentos. A letra não poderia ser mais enigmática. tanto que existe no site The Penguin uma página inteira de divagações e possíveis explicações para: "Por que você não pergunta se ele vai ficar?/ Por que você não pergunta se ele vai embora?/ Por que você não me diz o que está acontecendo?/ Por que você não me diz quem está no telefone?/ Porque você não pergunta pra ele o que está acontecendo?/ Por que você não pergunta pra ele quem é o próximo em seu trono?/ Não me diga que me ama/ Apenas diga que me quer". No meio de tudo isso, entra a US Trojan Marching Band, uma banda marcial que começa a tocar um tema sugerido pela guitarra. Uma faixa esquisita, porém muito boa. Um verdadeiro clássico pop.
Pra fechar, mais uma balada de Christine McVie, "Never Forget", que dá o tom final desta grande viagem sonora proposta pelo grupo. “Tusk” começa e termina com canções de Christine McVie para aliviar a pressão imposta por Buckingham. Ao invés de lançar três discos individuais, os compositores da banda, Lindsey Buckingham, Stevie Nicks e Christine McVie resolveram juntar esforços (mais ou menos, né?) para conseguir alguma tipo de coerência musical nesta tentativa de dar prosseguimento à carreira depois do sucesso estrondoso de "Rumours". E receberam a ajuda de John McVIe e de Mick Flçeetwood, uma das cozinhas mais criativas do rock. Musicalmente, estes esforços deram certo. Em termos de vendagens para um álbum duplo até que “Tusk” foi bem: 4 milhões de cópias. Mas o disco custou 1 milhão de dólares e foi considerado, na época, um fracasso de vendas. A recuperação aconteceria só em 1982, com o disco "Mirage", e depois de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham lançarem seus primeiros discos solo. Mas isso é outra história.
***********************

FAIXAS:
1. Over & Over (Christine McVie) - 4:34               
2. The Ledge (Lindsey Buckingham) - 2:07          
3. Think About Me (McVie) - 2:44           
4. Save Me a Place (Buckingham)- 2:42
5. Sara (Stevie Nicks) - 6:30        
6. What Makes You Think You're the One (Buckingham) - 3:30 
7. Storms (Nicks) - 5:31
8. That's All for Everyone (Buckingham) - 3:02  
9. Not That Funny (Buckingham) - 3:14
10. Sisters of the Moon (Nicks) - 4:44   
11. Angel (Nicks) - 4:54
12. That's Enough for Me (Buckingham) - 1:50  
13. Brown Eyes (McVie) - 4:27  
14. Never Make Me Cry (McVie) - 2:18
15. I Know I'm Not Wrong (Buckingham) - 3:01
16. Honey Hi (McVie) - 2:45       
17. Beautiful Child (Nicks) - 5:21              
18. Walk a Thin Line (Buckingham) - 3:46             
19. Tusk (Buckingham) - 3:37    
20. Never Forget (McVie) - 3:38

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OUÇA O DISCO




quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2023

 



Rita e Sakamoto nos deixaram esse ano
mas seus ÁLBUNS permanecem e serão sempre
FUNDAMENTAIS
Chegou a hora da nossa recapitulação anual dos discos que integram nossa ilustríssima lista de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS e dos que chegaram, este ano, para se juntar a eles.

Foi o ano em que nosso blog soprou 15 velinhas e por isso, tivemos uma série de participações especiais que abrilhantaram ainda mais nossa seção e trouxeram algumas novidades para nossa lista de honra, como o ingresso do primeiro argentino na nossa seleção, Charly Garcia, lembrado na resenha do convidado Roberto Sulzbach. Já o convidado João Marcelo Heinz, não quis nem saber e, por conta dos 15 anos, tascou logo 15 álbuns de uma vez só, no Super-ÁLBUNS FUNDAMENTAIS de aniversário. Mas como cereja do bolo dos nossos 15 anos, tivemos a participação especialíssima do incrível André Abujamra, músico, ator, produtor, multi-instrumentista, que nos deu a honra de uma resenha sua sobre um álbum não menos especial, "Simple Pleasures", de Bobby McFerrin.

Esse aniversário foi demais, hein!

Na nossa contagem, entre os países, os Estados Unidos continuam folgados à frente, enquanto na segunda posição, os brasileiros mantém boa distância dos ingleses; entre os artistas, a ordem das coisas se reestabelece e os dois nomes mais influentes da música mundial voltam a ocupar as primeiras posições: Beatles e Kraftwerk, lá na frente, respectivamente. Enquanto isso, no Brasil, os baianos Caetano e Gil, seguem firmes na primeira e segunda colocação, mesmo com Chico tendo marcado mais um numa tabelinha mística com o grande Edu Lobo. Entre os anos que mais nos proporcionaram grandes obras, o ano de 1986 continua à frente, embora os anos 70 permaneçam inabaláveis em sua liderança entre as décadas.

No ano em que perdemos o Ryuichi Sakamoto e Rita Lee, não podiam faltar mais discos deles na nossa lista e a rainha do rock brasuca, não deixou por menos e mandou logo dois. Se temos perdas, por outro lado, celebramos a vida e a genialidade de grandes nomes como Jards Macalé que completou 80 anos e, por sinal, colocou mais um disco entre os nossos grandes. E falando em datas, se "Let's Get It On", de Marvin Gaye entra na nossa listagem ostentando seus marcantes 50 anos de lançamento, o estreante Xande de Pilares, coloca um disco entre os fundamentais logo no seu ano de lançamento. Pode isso? Claro que pode! Discos não tem data, música não tem idade, artistas não morrem... É por isso que nos entregam álbuns que são verdadeiramente fundamentais.
Vamos ver, então, como foram as coisas, em números, em 2023, o ano dos 15 anos do clyblog:


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PLACAR POR ARTISTA (INTERNACIONAL)

  • The Beatles: 7 álbuns
  • Kraftwerk: 6 álbuns
  • David Bowie, Rolling Sones, Pink Floyd, Miles Davis, John Coltrane, John Cale*  **, e Wayne Shorter***: 5 álbuns cada
  • Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Bob Dylan e Lee Morgan: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, Van Morrison, R.E.M., Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden , U2, Philip Glass, Lou Reed**, e Herbie Hancock***: 3 álbuns cada
  • Björk, Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Dexter Gordon, Philip Glass, PJ Harvey, Rage Against Machine, Body Count, Suzanne Vega, Beastie Boys, Ride, Faith No More, McCoy Tyner, Vince Guaraldi, Grant Green, Santana, Ryuichi Sakamoto, Marvin Gaye e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"

**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"

*** contando o álbum "Five Star', do V.S.O.P.



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 7 álbuns*
  • Gilberto Gil: * **: 6 álbuns
  • Jorge Ben e Chico Buarque ++: 5 álbuns **
  • Tim Maia, Rita Lee, Legião Urbana, Chico Buarque,  e João Gilberto*  ****, e Milton Nascimento*****: 4 álbuns
  • Gal Costa, Titãs, Paulinho da Viola, Engenheiros do Hawaii e Tom Jobim +: 3 álbuns cada
  • João Bosco, Lobão, João Donato, Emílio Santiago, Jards Macalé, Elis Regina, Edu Lobo+, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Ratos de Porão, Roberto Carlos, Sepultura e Baden Powell*** : todos com 2 álbuns 


*contando com o álbum "Brasil", com João Gilberto, Maria Bethânia e Gilberto Gil

**contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"

*** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"

**** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto"

***** contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"

+ contando com o álbum "Edu & Tom/ Tom & Edu"

++ contando com o álbum "O Grande Circo Místico"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 121
  • anos 60: 100
  • anos 70: 160
  • anos 80: 139
  • anos 90: 102
  • anos 2000: 18
  • anos 2010: 16
  • anos 2020: 3


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 24 álbuns
  • 1977 e 1972: 20 álbuns
  • 1969 e 1976: 19 álbuns
  • 1970: 18 álbuns
  • 1968, 1971, 1973, 1979, 1985 e 1992: 17 álbuns
  • 1967, 1971 e 1975: 16 álbuns cada
  • 1980, 1983 e 1991: 15 álbuns cada
  • 1965 e 1988: 14 álbuns
  • 1987, 1989 e 1994: 13 álbuns
  • 1990: 12 álbuns
  • 1964, 1966, 1978: 11 álbuns cada



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 211 obras de artistas*
  • Brasil: 159 obras
  • Inglaterra: 126 obras
  • Alemanha: 11 obras
  • Irlanda: 7 obras
  • Canadá: 5 obras
  • Escócia: 4 obras
  • Islândia, País de Gales, Jamaica, México: 3 obras
  • Austrália e Japão: 2 cada
  • Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola, Nigéria, Argentina e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de países diferentes, conta um para cada)