Faz uma semana que retornei da cidade de São Salvador. Uma viagem em
maravilhosa companhia de my love Daniel Rodrigues que ambos
desejávamos fazer em período de férias faz muitos anos. Apesar dos
sete dias terem se passado, parte de mim permanece lá. E a outra que
se deslocou para o RS em estado de banzo.
Muitos diriam, mas por quê? Qual motivo disso?
Antes da viagem tive os mais variados relatos. Amor e ódio permeiam
a relação dos visitantes com a cidade. Alguns não toleram ver in
loco a miséria, o devaneio e o abandono de alguns cidadãos que
vagueiam pela cidade. Outros se defrontam com o medo e o ódio por
assaltos ou a permanente insistência dos vendedores ambulantes
oferecendo colares, fitinhas, bebidas e drogas. Ainda há os que não
conseguem estar senão nas praias que conquistam pela limpeza das
águas, a temperatura agradável e a natureza naturalmente bela.
Minha intenção era somente estar lá. Conhecer é claro tudo o que
fosse possível no curto espaço de tempo de cinco dias, permeando
500 anos de história, porque Salvador foi a primeira capital
brasileira, tendo seu nascimento com a chegada das primeiras naus.
Queria ser surpreendida, conquistada e envolvida pelo que até hoje
repercute lá. E não falo dos tambores afro-brasileiros, não. Falo
de história, de gente e de cultura do viver.
Voltei de lá com algumas vivências muito transformadoras na bagagem
e com a certeza de que lá é um pouco a minha casa. Destaco alguns
comentários deste que poderá ser meu lar, algum dia, como dizia Vinícius de Moraes, que viveu lá por seis anos, no bairro de Itapuã:
“Meu tempo é quando.”
Largo do Cruzeiro com a Igreja e Convento de São Francisco de Assis (ao fundo) |
Fachada do solar Ferrão que abriga coleções primorosas, datado do século XVIII foi abrigo de Jesuítas e Centro Operário da Bahia |
Vista das fitinhas da grade da Igreja Nossa Senhora do rosário dos Pretos e acima o Museu da Bahia e a Fundação Casa de Jorge Amado, no Largo do Pelourinho |
Altar de uma das lojas comerciais do Pelô e o sincretismo histórico da Bahia |
Pelourinho: os relatos sobre a marginalidade no Pelô são
muitos, e, sim, há certa violência/abandono pairando no ar e na
visita dos desavisados, principalmente à noite, mas nada que não
haja em outras cidades ou bairros do país. Ficamos hospedados no
Hostel Laranjeiras, bem situado no Pelô: vizinho do Olodum, do Museu
da Música Brasileira, da antiga fábrica de camisas, da Igreja e
Convento São Francisco de Assis, do Largo do Cruzeiro, do Ilê Ayê
e do Museu do Ferrão, entremeados por Largos outros, Teresa Batista,
Quincas Berro D´Água e Pedro Arcanjo. Perto dali, muitas opções
gastronômicas e culturais. Mas estar no Pelô excede essa questão
prática do que se ver e degustar. Ali, cenário antigo de atos
criminosos contra escravos, maltratados e exibidos publicamente em
açoites, hoje se apresenta com uma população residente
peculiarmente negra que ocupa com altivez e classe todos os espaços
do bairro, senhores da sua história. O Pelô é um local de
resistência, cultivo e difusão da cultura e história negra. É
principalmente um espaço onde povos de outras nações (franceses,
alemães, coreanos e americanos) podem conhecer essa história,
deparar-se com pessoas que nos recebem com tamanha amorosidade e que
não precisam se autoafirmar como vítimas nem mártires, porque
dentro dessa biografia tem-se um estado de ser e estar no mundo.
Os cidadãos do bairro surgem como que emoldurados por uma cortina do
tempo de ontem e de hoje. Para percebê-los em meio ao ambiente vivo
e intenso, tem que ter calma. Daí surgem artistas, transeuntes,
habitantes das ruas, senhores dos santos, verdadeiras entidades que
emocionam. Cada qual ao seu jeito, ao seu tempo, ao seu estilo e no
seu turno de viver contemporâneo. Nem todos se deixam fotografar,
mas parte deles esta aqui nas fotos. Outros ficarão na memória como
seres saídos de uma história a que desejo retornar sempre.
Baiana moradora do Pelourinho |
Comerciante do Pelourinho |
Mestre Ivan do Atelier Percussivo Lua Rasta no Pelourinho |
Gatos: a população de felinos impressiona. Lentos mais do
que o habitual, porque o calor é intenso em todas as horas do dia,
eles observam o ritmo de visitantes do Pelô. Deitados, em busca de
comida, em meio a brincadeiras, lá estão misturados entre os
turistas, moradores e transeuntes. Não se deixam pegar, mas desfilam
e posam para as fotos quando acordados é claro, rsrs. Gregório o
mais jovem, encontramos no meio da rua, onde vez em quando passam
carros. Ele atrás de um copo de plástico brincava sem medo. Ficamos
apreensivos pelo seu porte (menos de um mês de idade) e por estar
sozinho, sem a companhia de outros gatos. Mas logo vimos que era
“gato safo” ao nos ver correu para a porta de um ateliê em que
estava não somente sua residência como sua cuidadora. Ela nos
contou sobre a chegada dele e daí ficamos sabendo seu nome. Uma
figura – que não andava, mas pulava entre os paralelepípedos do
Pelô.
Habitantes das ruas: vivem vendendo sua arte, oferendo seus
colares/fitinhas ou apenas aguardando um dinheiro para consumo de
drogas/afins. Conhecemos um deles, que vive acompanhado da sua
cachorra Doidinha. Ele e Doidinha perambulam pelo Pelô oferecendo
sua arte em azulejo. Ele as cria na hora, pinta as mãos e rosto por
causa da técnica que mistura éter a tinta forte que gruda no
azulejo. E quase sempre as comercializa junto aos estrangeiros,
devido à insistência com que as oferece. Ficou nosso amigo depois
que lhe oferecemos um prato de comida. Na realidade, ele (que não
soubemos o nome) nem lembrava qual era a sua relação conosco, mas
nunca nos perdeu de vista durante o tempo em que lá estivemos,
sempre fazendo referência alegre ao cabelo afro do Daniel e nos
chamando de “casal feliz”.
Crianças e Idosos: os menores e mais jovens sempre voando
pelo bairro, circulam indo para as escolas públicas ali existentes,
os projetos sociais de música ou então brincando ao cair da noite –
de bola, de pega-pega, de olhar o celular nas calçadas. Elas
disputam o espaço democraticamente com as famílias que sentam na
frente das casas e senhores de maior idade que jogam dominó até
antes do anoitecer.
Menino subindo o Pelô rodopiando |
Senhor nas escadarias do Pelourinho |
Ciclista descansando nos bancos da Praça Senhor do Bonfim.
Perambular: caminhar nas ruas de Salvador é uma alegria. Tudo
é sentido na pele: o calor, a proximidade das pessoas, o cheiro, as
cores, tudo estimula os sentidos. A cidade ferve, faz muito calor,
mas é seco. Por vezes a pressão cai e quase vivenciamos um estado
de desmaio, mas logo passa. Um astral eleva o prana e aos poucos
deixa você com um ar mais descontraído. As pessoas sorriem,
conversam, dançam e cantam sem nenhum motivo aparente. Todos são
autênticos. Isso é maravilhoso.
Ruazinha do Pelô (ao fundo a Biblioteca da Faculdade de Medicina) |
Baianas do comércio do Largo do Cruzeiro e imediações/ Pelourinho |
Ruazinha do Pelô |
Turbantes e Tambores: as baianas e os músicos encantam.
Alguns parecem de mentira de tão belos. Por toda a cidade escutam-se
sons. Às vezes, misturados como na saída do Elevador Lacerda,
formando uma massa nem sempre agradável aos ouvidos, mas com um que
de composição livre e coletiva. No Pelô, os tambores tocam
cadenciados ao anoitecer, como rezas de santos, levando sua alma além
dos telhados, durante o jantar. Noutras vezes, surgem com meninos em
grupos aprendizes de timbau. Surpreendem num cortejo de pessoas
acompanhando os tamboreiros, que invadem nossos ossos e repercutem cá
dentro, chegando a nos fazer chorar de emoção. Descobri dois
músicos na loja de Ademar em pleno Terreiro de Jesus, o talentoso
Tiganá e o lendário Mateus Aleluia. A música de ambos arrepia e
comove. Gosto muito de trazer das viagens sonoridades da região.
Eles cantaram para mim, e eu os trouxe juntos. Falam com algo muito
profundo da nossa essência negra. Falam com nossos mentores.
Iluminam. Pretendo escrever sobre eles, aguardem. Olodum, Filhos de
Gandhi, Ilê Ayê e Ballet Folclórico da Bahia vivem no Pelô. No
Memorial das Baianas, nos arredores do Pelô, sabe-se da relação do
turbante afro com o turbante islâmico. Algumas baianas que circulam
pelo bairro, lembram grandes bonecas de santo de tão belas. Outras
que circulam pela cidade ostentam seus lenços coloridos amarrados de
forma muito particular, comunicando aos entendidos sua origem, sua
nação, até seu orixá. Nas ruas do Pelô escuta-se um pouco de
cada toque ritmado que ora pode ser uma reza, ora um ritual mas
sempre um som que transforma seu estado emocional. Ninguém passa
imune às baianas e aos tambores. E a pergunta: Qual seu orixá?
Antes mesmo de saber o seu nome.
Loja de instrumentos de percussão no Largo do Pelô |
Turbante feito por Dona Nilzete do Camafeu de Oxóssi |
Grupo Tambores e Cores do Pelourinho |
Baiana e a abençoada água de côco da Praça Senhor do Bonfim |
A Cubana e Ribeira: no calor de Salvador uma das opções
irresistíveis de sobremesa é degustar sorvetes. Entre as opções
pela cidade duas são imperdíveis: A Cubana (com fábrica no Pelô,
mas diversos pontos de venda pela capital) e a Sorveteria da Ribeira,
que fica longe do Centro mas te arrebata independente do sabor
escolhido. Todo final de tarde, a visita A Cubana do Pelô era
pontual. O ambiente lembra as sorveterias antigas em azulejos, mas o
que vale mesmo são os sorvetes. Meus prediletos: Menina Bonita
(castanha com leite), Mangaba e Tiramissu. Outros igualmente
maravilhosos: Cajá, Umbu e Cupuaçu. Ah, sempre duas bolas bem
servidas!
Sorvetes A Cubana (Pelourinho) - cada dia um novo sabor! |
Cardápio de opções da sorveteria Ribeira: difícil é escolher um! |
Exu, Amado, Abelardo, Verger e Nosso Senhor do Bonfim: Bem,
aqui, o devaneio é total. Admira-se ainda mais o literato e homem de
religião, Jorge Amado e sua fiel companheira Zélia Gattai.
Extrapola-se a admiração pelo educador e colecionador Abelardo
Rodrigues, que expõe no Museu do Ferrão parte de sua Coleção de
Arte Sacra que deixa alguns acervos de Minas Gerais para trás dada a
seleção primorosa das peças e a abrangência de períodos e
artistas. E compreende-se porque o francês mais brasileiro e
soteropolitano do mundo, Pierre Verger, fotografou, morou e tornou-se
um dos maiores estudiosos e práticos da religião afro. Estando em
Salvador, não deixe de ir à Fundação Casa de Jorge Amado, na
residência A Casa do Rio Vermelho de Jorge Amado e Zélia Gattai e
na Fundação/Galeria Pierre Verger. A Igreja do Nosso Senhor do
Bonfim, que é uma atração distante do Centro, vale por toda a sua
história, simbologia sincretista e axé. Lá no alto do morro no
bairro do Bonfim ela está soberana. Rodeada de pais de santo que te
dão um aconchegante axé, você pode perceber a fusão do candomblé
e do catolicismo. Ah, e claro, nas ruas, sempre encontramos com os
Exus ou “Esu” (Guardião das
aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do
comportamento humano) está onde há movimento. Vê-se em estatuetas
em lojas, na entrada de centros culturais e em obras públicas antes
da roda de Orixás no Dique do Tororó.
(Exu em ferro que guarda a Fundação Casa de Jorge Amado a pedido do escritor) |
(Fachada de uma casa que hoje é um bistrô mas que foi cenário de personagens de Jorge Amado) |
Espaço reservado ao Candomblé e sua relação com o escritor Jorge Amado na Casa do Rio Vermelho |
Detalhe do altar da igreja Nossa Senhora do Bonfim... |
... e imagem integrante do acervo do Memorial das Baianas que reproduz o dia da lavagem da escadaria da Igreja. |
Zélia, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e Yemanjá: Zélia
foi casada com Jorge Amado e além de escritora também foi
fotógrafa. É dela o acervo de quase 30 mil fotografias existente da
vida a dois desse casal que mesclou amor, arte e religiosidade. Em
breve escreverei um pouco mais sobre ela, porque descobri uma Zélia
que não conhecia; aguardem. As Igrejas em Salvador são um capítulo
à parte. Visitar a todas tem sua emoção pela antiguidade, pela
história e santos sincréticos. A que mais gostei foi a Igreja na
base do Largo do Pelourinho: Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Ali acontecem todas as terças-feiras uma missa ecumênica. Ganhei um
dos mais gostosos abraços no meio da missa! Uma das senhoras da
comunidade desta Igreja e suas amigas/familiares fez questão de me
abraçar e desejar as boas-vindas. O abraço dela era quem sabe como
o da Mestre Indiana Amma, que é conhecida por esse acolhimento
fraterno e gostoso, de abraçar com o coração. Além disso, todo o
missal teve atabaques, cantos e até MPB da melhor qualidade: “Maria,
Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Um final de dia
inesquecível, que reverenciou também Santo Antônio de Categeró
através da distribuição dos pãezinhos como aqui em Porto Alegre,
acontece na Igreja Pão dos Pobres. Yemanjá, a mãe de todos os
orixás, como diz a Mãe de Santo Stela de Oxóssi, é a senhora de
Salvador. Ela está onipresente em todos os recantos. No bairro dela,
Rio Vermelho, local historicamente indígena onde desembarcou o então
Caramuru, ela está presente no Largo das Mariquitas, nas embarcações
beira-mar, no mar, nas imagens ou nas peças decorativas das lojas do
bairro. Rio Vermelho é também o bairro mais boêmio, aquele bairro
de galera, da noite cool. Yemanjá é saudada em todos os
lugares de Salvador, às vezes de maneira criativa, como neste ponto
comercial em pleno Pelô: Ye-Manjar, pode?
Entrada da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos |
Jardim da Casa do Rio Vermelho onde estão as cinzas dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai |
Praia das Mariquitas |
Missa ecumênica na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos |
Oferendas (pãezinhos) oferecidos após a Missa |
Mercado Modelo e Gastronomia: Os mercados públicos das
capitais brasileiras são sempre um espaço único. Estar ali é meio
que reunir o que de popular existe naquele local. Então guias,
santos, axés, produtos baianos dos mais variados estão à
disposição do visitante. O que se pode levar em quantidade são as
pulseirinhas do Bonfim, as cocadas, as pimentas e os enfeites
(colares, balagandãs, tecidos entre outros). Ali está um ponto
gastronômico importante da cidade: os restaurantes conjugados: Maria
de São Pedro (de 1925, com mais de 80 anos de existência e mantido
pelos filhos de Dona Maria 100% baiano) e o angolano Camafeu de
Oxóssi. Optamos por almoçar duas vezes no Camafeu de Oxóssi, por
sua variedade de pratos e por Dona Nilzete, que nos atendeu com sua
simpatia, amorosidade e alegria. Ali degustamos o melhor pastel de
camarão da cidade, os melhores bolinhos de bacalhau, uma carne seca
de primeira acompanhada de farofa de dendê, macaxeira e feijão
fradinho. Foi lá que ganhei meu primeiro turbante feito
carinhosamente por Dona Nilzete, que me deu várias dicas de como
amarrá-lo. No Mercado Modelo fizemos amizade com Deco, administrador
da loja Encontro com as Águas, que comercializa objetos lindos, e
nos deu dicas dos passeios as ilhas mais próximas de Salvador. Com
ele adquiri a guia dos Filhos de Gandhi para quem sabe num carnaval
futuro, desfilar, na ala Filhas de Gandhi!
Loja Encontro das Águas - Mercado Modelo |
Balagandâ (utilizado na cintura para os dias de festa pelas escravas e, segundo os comerciantes do Mercado Modelo, ao completar todos os pingentes recebia alforria |
Comerciante do restaurante Maria de São Pedro/ Mercado Modelo com vestimenta típica |
Sob as lojas do Mercado os guardiões e os axés |
Ilhas, Praias e o Mar: Ir a Salvador e não estar navegando, a
beira-mar ou dentro d´água, é o mesmo que não ter ido até lá. O
mar e suas belezas mais próximas do litoral soteropolitano encantam.
O canto das águas nos chama a passear. Fomos então a Ilha dos
Frades, Ilha de Itaparica e praias da capital, um pouco mais afastada
o Farol de Itapuã. O que dizer se lá somente se pode ver, sentir e
navegar? O mais apropriado é vá e conheça. O acesso é fácil, mas
precisa de pelo menos um dia e meio para aproveitar um pouco.
Leme da embarcaçõa para as ilhas |
Vista da Ilha dos Frades |
Pesca no Farol de Itapuã |
Final de tarde na orla entre as praias da Paciência e Ondina |
Guardo
comigo todas as imagens, todos os sabores, todas as cores, todos os
cheiros, todos sons, toda atmosfera que Salvador gentilmente nos
deu. Guardo o olhar direto e afetivo de seu povo. Guardo ainda aquela
descontração de quem está ali essencialmente vivendo. De quem sabe
o que é valoroso na vida. O que não podemos esquecer diariamente de
cuidar: da integração entre corpo e mente. Da ampliação de
estarmos aqui vivendo em comunhão com tudo o que nos faz sentirmos
vivos. Da simplicidade de termos nossa historia, nossa fé e nossas
cores, dentro e fora. De acreditar que tudo está em sintonia. De que
nem tudo está dito, mas sentido. De que há muitas coisas que estão
vivas entre a nossa percepção humana que não dependem do racional,
mas somente do coração. Assim levo Salvador comigo. A partir de
hoje, sempre, cá dentro ritmado com meu tambor cardíaco, colorido
como minhas cores e vivo na historia que guarda a minha e muito de
nós todos, brasileiros.
Turbante feito por Dona Luzia do Memorial das Baianas |
Nas
aldeias africanas situadas no Brasil quando se falava em “banzo”,
a maior referência era ao
sentimento de melancolia em
relação à terra natal e de aversão à privação da liberdade
praticada contra a população escravizada. A prática do banzo era
uma forma de protesto caracterizado como uma greve de fome, um
protesto muito sentido. Também eram comuns, como forma de
resistência na época, o suicídio, o aborto, o infanticídio, as
fugas individuais e coletivas e a formação de quilombos.
Atualmente, nos estados da região Norte do Brasil, “banzo” também
é usado de forma irônica para designar uma melancolia
injustificada, sinônimo de choramingo. Deixo aqui meu choramingo
verdadeiro e pontual de banzo por não mais estar lá, mas com muita
vontade de voltar e, quem sabe, permanecer lá por mais tempo. Tempo
suficiente de conhecer o que não foi possível, de aprofundar esses
laços que mantenho bem fortemente atados em meu ser. Como diz o
encantado Gil e a quem uso os versos emprestados: “Eu vim da Bahia,
mas eu volto pra lá! Eu vim da Bahia mas algum dia eu volto pra lá.”
Que os orixás me deixem retornar, estendendo sua licença ao entrar
em terras tão fortemente iluminadas: Mojubá agô! Que assim seja.
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