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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mundo Livre S/A - "Samba Esquema Noise" (1994)


"Se a Terra é um rádio
Qual é a música?
Manguebit"



Cavaquinhos envenenados, frevos rasgados, guitarras distorcidas, batucadas explosivas, sambas ácidos... Com estes elementos, letras bem sacadas, composições complexas, crítica social e irreverência, o Mundo Livre S/A no seu mix de cultura brasileira e elementos pop e eletrônicos nos apresentava um dos discos mais legais e interessantes que a música brasileira já viu.
Em "Samba Esquema Noise" (1994) tem lugar para tudo: um frevo invade naturalmente um ska ("Manguebit"); uma levada de cavaquinho de repente dá lugar a uma explosão de guitarra distorcida ("Livre Iniciativa"); um berimbau se confunde com a guitarra num reggae sinuoso e serpenteante como em "Rios (Smart Drugs), Pontes e Overdrives"; ou ainda simplesmente predominam experimentações eletrônicas, samples e efeitos como no caso de "Sob o Calçamento (Se Espumar é Gente)".
O disco é cheio de tiradas inteligentes e antenadas com referências tecnológicas, filosóficas e literárias que vão de Kafka a Homero, sem contudo, ficar chato ou pedante, sem falar das inúmeras referências a Jorge Ben, uma espécie de mentor espiritual da banda. A começar pelo nome do álbum inspirado no "Samba Esquema Novo" primeiro trabalho de Jorge Ben, as referências passam, por exemplo, pelo samba alucinado "O Rapaz do B... Preto", aludindo à canção "O Homem da Gravata Florida" do disco "A Tábua de Esmeraldas"; ou mesmo meramente pela sonoridade dominante em toda a obra que vai completamente ao encontro do conceito que o inspirador já desenvolvia lá em 1963.
Uma das minhas prediletas, "Musa da Ilha Grande", é uma samba-rock de primeira, também bem ao estilo Babulina, com uma participação vocal mínima de Malu Mader, mas que é suficiente para conferir todo um toque de sensualidade. Gosto muito também de "Terra Escura", um samba chapado cantado quase sem forças acompanhado por um surdo alto e vibrado; "Cidade Estuário", muito soul e cheia de metais, também é das mais bacanas; "Rios (Smart Drugs), Pontes e Overdrives" traz a percussão preciosa de Naná Vasconcelos; "Sob o Calçamento" vem com a participação do vocal poderoso de Sérgio Boneka; e o álbum encerra com a faixa que lhe dá nome, ainda que a expressão "Samba Esquema Noise" não seja cantada nela e sim na faixa "Livre Iniciativa" , e que esta curiosamente não tenha barulho algum, tratando-se de um lamento acústico lento e pessimista sobre as oportunidades na vida.
Disco notável da banda que divide com a Nação Zumbi de Chico Science, a honra de terem promovido, como já falei no post sobre o "Da Lama ao Caos", o último grande movimento musical relevante no Brasil.

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FAIXAS:
1.Manguebit
2.A Bola do Jogo
3.Livre Iniciativa
4.Terra Escura
5.Saldo de Aratú
6.Uma Mulher com W... Maiúsculo
7.Homero, o Junkie
8.Rios (Smart Dugs), Pontes & Overdrives
9.Musa da Ilha Grande
10.Cidade Estuário
11.O Rapaz do B... Preto
12.Sob o Calçamento (se Espumar é Gente)
13.Samba Esquema Noise

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Ouça:
Mundo Livre SA Samba Esquema Noise





Cly Reis

quinta-feira, 1 de maio de 2014

cotidianas nº 290 Especial Dia do Trabalhador - A Bola do Jogo



Olha, olha, olha
Olha, meu olhar mais fundo
Entra, entra, entra
Senta, bem vinda ao novo mundo
Minhas pernas são bastantes fortes
Como de todo trabalhador
Os meu braços são de aço
Como os de todo operário
Mas como já dizia um velho casca
A merda dos trabalhadores é sua alma inútil
Eu tenho uma alma que é feita de sonhos
Mas como já dizia um velho casca
A alma de um trabalhador
É como um carro velho só dá trabalho
Tira, tira, tira
Deixa, não apaga o meu fogo
Suba, suba, suba
Gira, gira linda
É a bola do jogo
A bola do jogo
Sou um trabalhador sou sim,
Eu tenho uma alma que dseja e sonha
Deseja e sonha
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"A Bola do Jogo"
mundo livre S/A

(letra: Fred Zero Quatro)


Ouça:
Mundo Livre S.A. - "A Bola do Jogo"

domingo, 17 de dezembro de 2023

Exposição "Mangue e Beats - Bioma, Sociedade e Cultura" - CRAB Sebrae - Praça Tiradentes - Centro _Rio de Janeiro / RJ



Estive, há duas semanas atrás, de semana passado na feira de Natal do núcleo de artesanato do Sebrae, na Praça Tiradentes, no Centro do Rio, e, enquanto a feira e os shows ocorriam ao ar livre, no interior do prédio da CRAB Sebrae, o Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro, algumas exposições muito legais rolavam. Uma delas focando no Mangue Beat, movimento cultural acontecido em Pernambuco, no início dos anos 90, que explorava diversas formas de manifestações culturais de uma galera antenada do Recife, mas que destacou-se, especialmente, pela música, tendo como mais notáveis representantes Mundo Livre S.A. e Chico Science & Nação Zumbi. A exposição em questão, "Mangue e Beats - Bioma, Sociedade e Cultura", apresenta, além de peças,  fotos, elementos que remetem diretamente à cena musical, itens criados em função do movimento, artes inspiradas no conceito e na música que ditava o ritmo daquela turma inquieta e criativa. Tudo em salas ambientadas ao som de Chico Science e Nação Zumbi.
Acessórios pessoais como brincos, , esculturas, pinturas, figurinos, decorações, tudo traduzindo um pensamento coletivo sobre onde se vive, como se vive, as pessoas que habitam aquele contexto, suas dificuldades, seus costumes e raízes.
Exposição curtinha, bem enxuta. Mais focada, mesmo, no artesanato, nos acessórios cotidianos dos fãs, nos apetrechos, etc., mas superbacana, sobretudo, muito instigante para os admiradores das bandas de Recife, especialmente a Nação Zumbi, liderada pelo saudoso Chico Science, e para os que, como eu, entendem que o Mangue Beat fora, depois da Tropicália, o mais importante movimento musical é cultural ocorrido no Brasil.

Seguem abaixo algumas imagens da exposição: 

Painel gigante, logo na entrada, com foto da 
mais importante banda do cenário Mangue Beat,
Chico Science & Nação Zumbi

Uma visão geral da sala de exposição
com alguns acessórios e itens de vestuário.

Tradição e modernidade se misturavam no conceito do movimento.

Designers criaram itens que representavam e traduziam a ideia 
do que se estava fazendo naquele momento.


Mais um exemplo da produção de itens que
marcavam a identidade do Mangue Beat

Acessório que é a cara do Mangue Beat.
Bolsa em forma de caranguejo


O artesanato nordestino compondo a escultura "La Ursa Colorida",
escultura do arista Gildo da Silva Oliveira. 

Traje de dança inspirado no figurino 
utilizado no videoclipe da música "Manguetown"

Belíssima peça "Caranguejo de Metal",
do artista José Carlos Soares da Silva

Mais um caranguejo, este em madeira
utilizando troncos e galhos.

"Recife / cidade do mangue/ onde a lama é a insurreição(...)" *

Caranguejo no Mangue,
escultura em madeira, na saída da exposição.

"Onde estão os homens-caranguejos?" *
Ó um deles aqui.
 


* versos da canção "Antene-se"
de Chico Science & Nação Zumbi

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exposição "Mangue Beat, Bioma, Sociedade e Cultura"
local: CRAB Sebrae (Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro)
Praça Tiradentes, 69 - Centro - Rio de Janeiro - RJ
período: 28 de fevereiro de 2024
visitação: de terça a sábado, das 10h às 17h
ingresso: gratuito


por Cly Reis


sábado, 13 de novembro de 2010

Jorge Ben - "A Tábua de Esmeralda" (1974)



"É VERDADE
SEM MENTIRA
CERTO MUITO
VERDADEIRO"


Por diversas vezes já li por aí que seria este o maior disco da música brasileira.
É provavelmente o disco mais declaradamente influente na discografia nacional: canso de ver, ler, ouvir artistas dos mais variados dizerem que este, "A Tábua de Esmeralda"  fora o disco que mais influenciara seus trabalhos: Samuel Rosa do Skank, Fred 04 do Mundo Livre S.A., Falcão dO Rappa, Mano Brown dos Racionais, e por aí vai.
Talvez o disco brasileiro que mais tenha causado aquela vontade de tocar, de ter uma banda, de fazer um som, provavelmente por conter toda aquela brasilidade, aquele swing, aquele balanço, mas com uma linguagem (incrivelmente) tão universal, com todo aquele rock, com doses de reggae, de funk, de soul e tudo mais de todos os ritmos negros possíveis.
Depois de uma estréia incrível com o ótimo "Samba Esquema Novo", Jorge Ben meio que se repetiu na sequência com “Ben é Samba Bom” e “Sacudin Ben Samba”, e mesmo mantendo um nível de qualidade bastante interessante, não apresentou nada de muito impressionante nos discos seguintes, exceção feita, na minha opinião a “Ben” de 1972, que também merece destaque especial. No entanto, sua evolução era notória, era gradual, e agregando um elemento daqui, outro dali, experimentações, influências, experiência musical, em 1974, com “A Tábua de Esmeralda”, Jorge atingia então um patamar superior na sua obra e na música brasileira como um todo.
Sob a luz de suas novas descobertas e estudos acerca de misticismos, escritos antigos, alquimistas, santos, magos e outros assuntos metafísicos, o ‘sambista-roqueiro’ concebia então um álbum verdadeiramente mágico. Uma obra criativa, coesa, refinada e de uma sofisticação que talvez nem ele mesmo tivesse noção naquele momento. 
A produção é mais trabalhada e detalhada que nos discos anteriores, em parte, até para transmitir uma sensação etérea, algo cósmica, com ecos e efeitos; mas não se limitava a isso: há cordas em várias canções, os côros tem uma orientação direcionada ao que se pretende de cada sonoridade, o violão de Jorge Bem soa diferente a cada faixa. É primoroso.
O disco abre com “Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas” e seu côro condutor marcante, num samba bem no seu estilo característico com aquela levada forte do violão mas já com uma letra que dá a tônica do disco: o lado místico do universo. O assunto ronda praticamente todo o disco, desde a capa com gravuras que o alquimista Nicolas Flamel encontrou no livro de Abraão, passando por uma citação ao título do livro de Erich Von Däniken, “Eram os Deuses Astronautas?” na faixa “Errare Humanun Est”, ou por uma letra adaptada de um escrito antigo que o faraó Hermes Trismegisto teria feito em uma lâmina de esmeralda, gerando uma inusitada 'parceria' do músico com o tradutor da tábua, o alquimista Fulcanelli como letrista, por assim dizer; ou ainda mesmo em faixas que aparentemente não tem nada a ver com a coisa toda, como a excelente “O Homem da Gravata Florida”, que reverencia o alquimista Paracelso.
Mas fora a coisa toda de misticismo, esoterismo e coisa e tal, é mesmo musicalmente que o álbum manda ver: “Menina Mulher da Pele Preta”, uma das grandes do disco é um daqueles sambas sensuais que o cara sabia fazer como poucos; a já citada "Errare Humanum Est" vai num crescendo mágico até finalizar num ápice de cordas acompanhado de uma contagem regressiva pra subir pro espaço; “O Namorado da Viúva” é um sambinha irreverente e gostoso também bem típico dele assim como a delicada “Magnólia” que traz um saboroso refrão. “Zumbi”, uma de suas melhores letras, é um samba cheio de swing também contando com arranjo de cordas e com uma retaguarda vocal bem bacana que dá peso e força à música; a genial “Brother” é um funk cadenciado com toques de gospel e uma letra num inglês tão tosco que faz de uma música que tinha tudo pra ser apenas uma cópia de estilos americanos, torne-se algo extremamente original; e o disco fecha em grande estilo com a melancólica “Cinco Minutos (5 Minutos)” com uma interpretação fantástica, inspirada e emocionante de Jorge, com um violoncelo choroso criando toda uma atmosfera de despedida. Grand finale!
Um dos discos mais IMPORTANTES da música brasileira e um dos melhores dela. Um dos poucos que é praticamente unanimidade entre público, críticos e músicos. Infelizmente nem todos que o ouviram, se inspiraram nele, conseguiram fazer algo de bom: o tal samba-rock se popularizou e vulgarizou e no fim das contas virou um balaio de gatos só. Mas se existe tal termo e se tem alguém que possa merecer ser considerado mestre na matéria é Jorge Ben, e um disco que simbolize toda sua qualidade e criatividade, é "A Tábua de Esmeralda".
Alquimia pura!
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FAIXAS:
  1. Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas
  2. O Homem da Gravata Florida (A gravata florida de Paracelso)
  3. Errare Humanum Est
  4. Menina Mulher da Pele Preta
  5. Eu Vou Torcer
  6. Magnólia
  7. Minha Teimosia, Uma Arma para te Conquistar
  8. Zumbi
  9. Brother
  10. O Namorado da Viúva
  11. Hermes Trismegisto e sua Celeste Tábua de Esmeralda (Tratado Hermético Escrito Pelo Faraó Egpicio Hermes Trimegisto e Traduzido Por Fulcanelli)
  12. Cinco Minutos (5 minutos)
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Ouça:
Jorge Ben A Tábua de Esmeralda


Cly Reis