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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Joni Mitchell - "Hejira" (1976)



“Havia muito afeto nessas relações.
O fato de que eu não poderia permanecer nelas
por uma razão ou outra foi doloroso para mim.
Os homens envolvidos são pessoas boas.
Eu fui apaixonada por eles neste dia.
Temos um carinho mútuo,
 mesmo que cada um tenha ido 
para novos relacionamentos.
 Certamente bolsões de mágoa se formam.
Você fica um pouco maltratada ao sair de um relacionamento
 que vê não vai durar para sempre.
Eu não vivo em amargura.”
Joni Mitchell,
em 1979, para a Rolling Stone,
respondendo à matéria da revista
que falava sobre seus relacionamentos



Foi muito difícil resolver escrever sobre este disco. Ele é talvez o disco que eu mais goste de todos os que já ouvi na minha vida. Pelo significado das letras, pela música estranha e sombria e, ao mesmo tempo, lírica e sensível, pela sonoridade que não se encontra em qualquer outro trabalho. E também porque partilho este apreciar com um dos meus melhores amigos, o Mauro Magalhães. O que eu escrever aqui terá o julgamento dele. Bom, o disco é “Hejira” da cantora e compositora canandense Joni Mitchell. Este disco foi lançado em 1976 e é fruto de uma viagem de carro que Joni fez do estado do Maine até a Califórnia, onde mora, sozinha e com seu violão. Isto equivaleria vir do Amazonas até o Uruguai. Nesta viagem, Joni, que estava saindo de um relacionamento, compôs o tempo inteiro. O resultado é este disco.

Começamos por "Coyote", talvez a música com mais jeito de hit do disco. Um ritmo folk com aquele violão num groove, a percussão de Bobbye Hall e, especialmente o baixo fretless de Jaco Pastorius, ele próprio um quase coautor do disco, tamanho o destaque e a importância que tem para o som de "Hejira". A letra conta uma carona que Joni deu para um índio e das aventuras que os dois viveram durante este período. O refrão diz tudo: "você pegou um caroneiro/ um prisioneiro das faixas brancas da estrada". A canção seguinte, "Amelia", é uma homenagem à aviadora Amelia Erhart e uma evocação da mulher que se liberta e consegue destaque no mundo dos homens. É bom lembrar que o disco foi gravado na metade dos anos 70, quando as mulheres ainda lutavam por sua independência e lugar na sociedade. Além disso, havia um preconceito contra atuação sexual da mulher. E Joni era namoradeira. Um ano antes, a revista Rolling Stone, num arroubo machista como jamais visto, publicou uma "árvore genealógica" dos amores de Joni. De certa maneira, "Amelia" – e todo o disco – se constitui numa resposta à toda esta intolerância. Depois de descrever todo um trecho da viagem e fazer um relatório lírico, ela diz: "Parei num cactos Tree Motel/ Pra tirar a poeira/ e dormi num travesseiro estranho da minha luxúria/ Sonhei com 747/ sobre fazendas geométricas/ Sonhos, Amelia, sonhos e falsos alarmes". Tudo isso com a guitarra de Larry Carlton como nunca foi ouvida em outro disco. Pontuando o violão de Joni e a guitarra de Carlton, está o vibrafone de Victor Feldman, totalmente integrado ao clima.

Depois, vem "Furry Sings the Blues", que conta sua visita ao blueseiro Furry Lewis, em Memphis. Observadora, Joni mistura o relato da visita a uma acurada descrição da decadência dos bairros pobres da cidade. Ela levou bebida e cigarros para o lendário homem do blues que está numa cama sem uma perna. A visita se torna tensa: "Velho Furry canta o blues/ Ele aponta um dedo grosso pra ti/ e diz: 'Não gosto de você'/ Todo mundo ri como se fosse uma piada/ mas é verdade/só somos bem-vindos porque trouxemos bebida e cigarros". Nesta viagem, Joni traz dois de seus companheiros do L.A. Express, banda que tinha tocado com ela: Max Bennett no baixo e John Guerin na bateria, na época, seu namorado. E também Neil Young, que faz intervenções exatas e precisas na harmônica. Como sempre, Joni e seus violões com afinações diferentes. Mais um relato de um amor da estrada, "A Strange Boy" conta do relacionamento dela com um jovem skatista. Similar em tema e sonoridade a "Coyote", a canção faz Joni admitir que estava numa viagem a procura de si mesma e do amor: "Apenas quando eu penso que ele é bobo e infantil/ e eu quero que ele seja adulto/ eu resgato minha bobice e infantilidade/ precisando de amor e compreensão". É o grito de uma mulher à procura do amor e de alguma coisa a mais.

Este disco dá uma série de pistas ao que se passava na cabeça de Joni Mitchell nesta e em todas as épocas. À medida que o disco avança, mais e mais, ela vai se desnudando, lentamente, mas nunca deixando ver tudo. E aí vem a música mais emblemática, a faixa-título. Novamente aquele violão strummed, o baixo de Pastorius e a percussão de Bobbye Hall. “Héjira” foi a jornada do profeta Maomé e seus seguidores de Meca a Medina. Joni usa o termo para fazer um relato da viagem e da jornada para dentro de si mesma e dos relacionamentos amorosos entre os seres humanos. A letra é toda interessante e citável, mas destaco alguns trechos: "No nosso relacionamento possessivo/ muita coisa não podia ser dita/ agora estou voltando pra mim mesma/ estas coisas que eu e você suprimimos". Mais adiante, ela diz: "Na igreja, eles acendem as velas/ e a cera corre como se fosse lágrimas/ Tem a esperança e o desespero/ que eu presenciei 30 anos". E o refrão – se é que se pode chamar de refrão este trecho – afirma: "Estou viajando em um veículo/ Estou sentada em algum café/ um desertor de guerra sem importância/ Até que o amor me carregue de volta pra aquele caminho". Lírica e intensa, Joni faz metáforas com prédios e sua solidez com a natureza volátil do amor.

Entretanto, uma das chaves para entender "Hejira" e Joni Mitchell está na música seguinte, "Song for Sharon". Escrita como se fosse uma carta a uma amiga que vai casar, Joni deixa transparecer sentimentos confusos e contraditórios a respeito de sua liberdade e da "prisão" em que sua amiga está entrando. Ela começa descrevendo uma viagem que fez a Staten Island, onde comprou um mandolin. Durante toda a música, Joni fala para Sharon das coisas que vê durante esta viagem como se a estivesse provocando. Lá pelas tantas, a descrição se torna sombria: "Uma mulher que eu conhecia se afogou/ O poço estava lamacento e profundo/ Ela estava se livrando da futilidade/ ou punindo alguém/ Meus amigos ligaram ontem o dia inteiro/ todas emoções e abstrações/ Parece que todos nós vivemos muito perto desta linha/ e tão longe da satisfação". Joni fala do casamento como se fosse uma prisão, mas toda aquela cerimônia e os rituais parecem lhe fascinar. As explicações virão seis anos depois, quando ela se casa com o baixista Larry Klein e faz um disco inteiro celebrando este casamento chamado "Wild Things Run Fast".

Já "Black Crow" compara o corvo que ela encontra na estrada a si mesma. "À procura de amor e de música/ toda minha vida foi dedicada/ Iluminação, corrupção/ e mergulho, mergulho, mergulho, mergulho/ Mergulho pra pegar qualquer coisa brilhante/ como aquele corvo voando/ num céu azul". A busca do corvo é a mesma de Joni: algo que a faça feliz, mesmo que efêmero. O que é a mesma busca que empreendemos toda nossa vida. Metaforicamente falando. Com os violões, temos a guitarra de Carlton nunca tão violenta e lancinante. Depois de tanta procura e frustração, vem o momento em que as coisas dão uma trégua. "Blue Motel Room" usa o clima de balada jazzística para contar uma história de amor moderna. "Você ainda vai me amar/ quando eu te ligar, quando eu voltar pra casa". Depois, ela brinca que "sabe que você tem todas estas garotas espalhadas pela cidade... diga pra elas que tu tens sarampo, que tu tens germes". Ou em: "Você e eu somos como América e Rússia/ Estamos sempre tentando ganhar... Precisamos armar uma conferência de paz/ em algum café neutro/ Você vai continuar circulando pela cidade/ e eu vou cair na estrada". O amor continua, mas a liberdade é mais importante para Joni.

E, pra fechar, ela procura "Refuge of the Roads". Como em todo o disco, o clima é confessional. Joni vai contando de figuras que encontrou. Cada uma delas procura o refúgio nas estradas. Andarilhos, homens e mulheres perdidos, personagens desgarrados pelo mundo. São estas pessoas que Joni Mitchell descreve e com as quais se sente em casa. Jaco Pastorius brilha como nunca nesta canção, acompanhado pelos sopros de Chuck Findley e Tom Scott e pelo sempre presente violão de Mitchell e suas afinações malucas. É muito difícil analisar um disco que se ama tanto e que a cada ouvida se descortina. Algumas das coisas que Mitchell diz neste disco iriam se revelar por completo anos depois com o surgimento de uma filha adulta que ela tinha abandonado para adoção em 1965. Bom, isso é outra história. Recomendo a todos que mergulhem neste disco como ela mergulhou na estrada. E eu nem falei da capa, uma das mais lindas ever.
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FAIXAS:
1. Coyote
2. Amelia
3. Furry Sings the Blues
4. A Strange Boy
5. Hejira
6. Song for Sharon
7. Black Crow
8. Blue Motel Room
9. Refuge of the Roads

todas as composições de Joni Mitchell

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OUÇA:
Joni Mitchell Hejira



segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As 10+1 grandes frases finais de filmes




Tem aquelas frases que marcam o final de um filme e agente lembra delas ainda muito tempo depois e cita e menciona em diversas situações e diálogos cotidianos. Quero colocar aqui algumas das minhas preferidas. As 10 mais!
Mas não são diálogos finais. São um encerramento. Aquela última coisa que um personagem diz e aí baixam os créditos, sobe a música, escurece a tela.
Posso estar esquecendo de alguma mas acho que não. Dei uma ‘busca’ legal na minha cachola.
Aí vão:


Christine, indestrutível.
Será?
1. "Chistine: O Carro Assasino", de John Carpenter (1983)
Para mim, a frase campeã está neste filme. A menina ex-namorada do dono de um carro que sempre começava a tocar rock'n roll sozinho quado matava, ao destruir o carro numa compactadora de ferro-velho, declara cheia de ódio:
"Eu odeio rock'n roll!".
Detalhe: a tela escurece e começa a tocar "Bad to the Bone", de George Thorogood". Seria o carro revivendo mais uma vez ou apenas a música final?
Demais!




Clássico de Brian De Palma


2. "Os Intocáveis", de Brian de Palma (1987)
Depois de uma empreitada ardorosa para apanhar o chefão da máfia e do tráfico de bebidas, Al Capone, quando perguntado o que faria se a Lei Seca fosse revogada, o agente Elliot Ness responde com bom humor e bom sendo:
“Vou tomar um drink.”.
E sobe a exepcional trilha de Ennio Morricone, a câmera sobe por uma avenida de Chicago, se afasta e acompanha Elliot Ness se afastando. Grande final!






Dorothy descobriu em Oz
o valor de sua casa.


3. “O Mágico de Oz” de Victor Fleming (1939)
Depois de ter fugido de casa e ter passado por todoas as aventuras no fantástico reino de Oz, a pequena Dorothy chega à mais óbvia conclusão que poderia:
Não existe lugar melhor do que a nossa casa.”.
Eu que adoro estar em casa e voltar para ela, sempre repito essa.







Grande tacada de Scorsese
4. “A Cor do Dinheiro”(1986), de Martin Scorscese
Do grande Paul Newman, jogador de bilhar revitalizado depois de uma temporada de trambiques com um talentoso porém vaidoso aprendiz. Num embate revanche entre os dois, o velhote dipõe as bolas na mesa, encara o adversário e dispara:
“Eu estou de volta!”.
Uma tacada e fim do filme.
Matador.




Você gosta de olhar, não gosta?


5. "Invasão de privacidade” de Phillip Noyce (1993)
Passa longe de ser um grande filme mas gosto do final quando Sharon Stone, tendo descoberto que era vigiada indiscretamente por seu senhorio e amante, destrói o equipamento de bisbilhotagem do voyeur.  A loira atira nas telas dos monitores de TV onde o curioso observa a intimidade dos moradores e larga essa:
“Arranje o que fazer".
Perfeito!





Apenas humanos.
6. "Robocop 2", de Paul Verhoeven (1990)
Irônica e perfeita frase dita por um robô no segundo filme da franquia original "Robocop".
"Somos apenas humanos".
E diz isso ajustando um parafuso na cabeça.
Ótimo.






Quando se ama...
7. "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder (1959)
Fugitivo de mafiosos e travestido de mulher, a fim de dar credibilidade a seu disfarce, um músico, interpretado brilhantemente por Jack Lemmon, infiltrado numa orquestra feminina, depois de ter "conquistado" um velhote ricaço e diante de um inusitadíssimo pedido de casamento, é obrigado a se revelar como homem, ao que surpreendentemente ouve como resposta:
"Ninguém é perfeito”.
Mestre Billy Wilder.




O bom filme "Kuarup"
8. “Kuarup”de Ruy Guerra (1989)
Outro que não é um grande filme mas tem um final marcante. O personagem interpretado por Taumaturgo Ferreira, diante de uma total derrocada final, sem perspectivas é perguntado sobre o que iria fazer então diante daquela situação:
“Eu vou fazer um Kuarup”.
Sempre penso nessa frase final quando não há mais nada o que fazer.









Confusão de corpos, frases,
sentimentos, significados e lugares.
9. “Hiroshima, meu amor” de Alain Resnais” (1959)
Revelação bombástica do jogo sensual e enigmático dos amantes, ele japonês e ela francesa, em meio a lençóis no clássico de Alain Resnais.
“Teu nome é Nevers”.






A boca vermelha de Maria.
O adeus à pureza?


10. "Je Vous Salue, Marie!", Jean-Luc Godard, de 1985
Maria se dá o direito de ser mulher. Fuma, passa um batom escarlate vibrante nos lábios e é saudada pelo "anjo" Gabriel com a frase:
“Je vous salue, Marie!".
Ih, parece que o menino Jesus vai ter um irmãozinho.






e como extra...

10 +1.  "Cidadão Kane", de Orson Welles (1941)
Frase que não é frase e que também não é dita, é mostrada no trenó do magnata Kane, quando jogado ao fogo, sendo que sabemos que fora a última palavra proferida por ele antes de morrer, e é a palavra que encerra a obra-prima de Orson Welles:
"Rosebud".
E sobe a fumaça, sobe a trilha e... FIM.

Cena final de Cidadão Kane, considerado por muitos o melhor filme de todos os tempos.