Os Quechuas chamavam
de "mati" a infusão feita de folhas para beber proveniente
de uma planta. Os Guaranis atribuíam esta erva à lenda da jovem "la
Caá Yarí", mas nos primeiros séculos às autoridades
religiosas espanholas catequizadoras diziam que o mate era coisa do
diabo que "fomentava o ócio e contaminava a todos, não sendo
bom para saúde da alma e do corpo". Mesmo assim, Julio Cortázar
ao escrever não dispensava um bom mate, e pra onde quer que fosse
levava sua cuia de "louça" e uma "yerbita buena",
até o dia que ficou "puto" quando viu a mesma faltar em
Paris. Este é um dos contos preferidos do amigo escritor José
Francisco Botelho, amante do mate.
Julio Cortázar |
Sabato e Perón,
entre rodadas de mate e uma "amizade" abalada, se
entreolhavam pra ver quem daria primeiro os pêsames pela morte de
seus entes queridos. Perón tinha perdido Evita e Sabato três
familiares. Artigas gostava de matear com a gauchada e seus "perros"
Cimarrones na beira do fogo. Brizola mateou com Che Guevarra, que
mateou com o Presidente Haedo. Entre as alfinetadas políticas de
Haedo, uma cuia de mate pra acalmar os ânimos. Na selva boliviana,
entre os pertences capturados com "El Che", uma pequena
cuia com mate "virado" várias vezes.
Na fronteira do Rio
Grande do Sul, o ator Richard Gere provou o mate, mas não gostou.
Preferiu um tal pão "cacetinho". No set de "O Senhor
dos Anéis", o ator americano Viggo Mortersen (Aragorn) levava
sempre sua cuia e uma térmica (termo), e fez grande parte do elenco
provar a bebida, recebeu um "thanks" da maioria, mas no fim
conseguiu um parceiro, Sir "Gandalf" Ian McKellen, que
sorveu e aprovou. Viggo morou na Argentina e pegou lá o costume e,
por último, mateou até com o Papa Francisco no Vaticano.
O Uruguai é hoje
maior consumidor de erva mate do mundo, seguido da Argentina. No Rio
Grande do Sul, é chamado de "chimarrão" no norte e centro
do Estado, e "mate" na fronteira com Uruguai e Argentina
pela influência do espanhol. Entre conflitos seculares o mate também
está presente nos costumes do Líbano e da Síria. Levado por
imigrantes libaneses da Argentina, lá a infusão recebe o nome de
"yer-bah mah-tay" e tem seu consumo ligado às tradições
das famílias. Não lembro a primeira vez que tomei o mate, mas
lembro de muitos amigos e pessoas que conheci por causa dele. Nenhuma
outra bebida no mundo é capaz de agregar, unificar e “hermanar”
tanto como "El Matecito", que é universal. A propósito,
vou tomar o meu agora.
por Francisco Bino
Francisco Bino é
Especialista em Vinhos e Viticultura, mas possui uma Confraria de
Cerveja Artesanal. Cinéfilo, fã de cinema anos 70 e folclore
sul-americano, ama cultura pop, é colecionador de discos dos Beatles
e filmes clássicos. É apresentador do evento Underrock and Beer, na
Serra Gaúcha, a única harmonização de cervejas artesanais com
cenas clássicas do cinema. Também escreve e possui grupos de cinema
no facebook.
Que barato, Francisco! Adorei teu texto.
ResponderExcluirDeu até vontade de tomar um chimas.
Abraço e obrigado pela colaboração.
Parabéns querido! Muito bom o teu texto! Bjs
ResponderExcluir