Ele vinha se sentindo enjoado fazia umas duas semanas. Era
sempre isso: à medida que tentava controlar os outros, engolindo-os, o corpo
reagia. Na maioria das vezes, resolvia pondo pra fora. Foi assim com ela.
Vomitou-a. Não que isso significasse desapego nem respeito a ela. Era porque o
corpo dele, doente, mandara expelir. Única e simplesmente por isso.
Já ela teve de se acostumar a uma vida nova fora do casulo,
desde o inédito contato com a atmosfera até simples atos de uma pessoa cujo
organismo é independente do de outro. Afligia-se só de pensar, por exemplo:
"se eu precisar espirrar, como se faz?!" "E fome, como é sentir
fome?" "Que responsabilidade monstra é isso de caminhar com os próprios
pés...", refletia. Assustada.
Não foi preciso se passar muitos dias para que ela, embora um tanto frustrada mas conformada com a própria
inabilidade, pedisse para que ele a engolisse de novo. A ele, mesmo doente, foi
fácil a recondição, visto que, na verdade, não sabia viver sem algo sob suas
entranhas.
Não mais fome, nem caminhar, nem espirro. Com nada mais ela
precisava se preocupar. Viver dentro dos outros tem lá suas vantagens.
Daniel Rodrigues
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