Bombardeio 1 |
Bombardeio 2 |
Uma destas, contudo, posso dizer que foi a melhor que
presenciei no Rio desta feita: “FUNK: Um grito de ousadia e liberdade”. Um
espetáculo. Com curadoria da Equipe MAR junto a Taísa Machado e ninguém menos
que o lendário Dom Filó – um dos principais ativistas da causa negra e
agitadores culturais do funk dos anos 70, responsável pela descoberta de que
ninguém menos que gente como a Banda Black Rio e Carlos Dafé –, a principal
mostra do ano do MAR perpassa os contextos do funk carioca através da história.
A temática da exposição apresenta e articula a história do funk, para além da
sua sonoridade, também evidenciando a matriz cultural urbana, periférica, a sua
dimensão coreográfica, as suas comunidades.
Para chegar aos morros e favelas onde o funk carioca se
tornou obra e sinônimo e estilo, a mostra traz com muita propriedade toda a construção
desdobramentos estéticos, políticos e econômicos ao imaginário que em torno
dele foi constituído, recuperando as audições públicas do início do século XX, os clubes para negros dos anos 40/50, os bailes hi-fi dos anos 60, até chegar, aí sim, no fenômeno das
festas black dos anos 70. Influenciados pelo movimento Black Power, Panteras Negras,
a Blackexplotation e, claro, a música soul norte-americana e outros, a galera tomou conta de ginásios e galpões da Zona Norte e
mandou ver no movimento mais libertário e dançante que o Brasil moderno já viu.
E tudo isso estava representado na exposição através de fotos, posters, pinturas,
capas de disco, e também em som, seja dos hinos funk até o poderoso off do
próprio Dom Filó. Ninguém melhor que ele para a tarefa de contar a história
daquele momento crucial para a cultura pop no Brasil, o que viria a dar no funk
carioca tal qual conhecemos.
Toda a parte que mostra a evolução do funk em terras
cariocas é bem interessante, evidenciando as etapas vividas nos anos 90, a
entrada no século XXI e o advento/chegada das novas tecnologias no morro. O
contraste – inevitável, proposital, ressignificado – entre pobreza e riqueza,
periferia e centralidade, comunidade e cosmopolitismo, é de uma riqueza
incalculável, muito a se assimilar. Porém, mesmo com bastante material, esta
segunda metade da exposição, mesmo sendo o crucial do projeto, não é tão
interessante quanto a sua primeira, a que traz a pré-história do funk do Rio.
Talvez pelo fascínio que a mim tem a era Black Rio, suas inspirações políticas,
comportamentais e culturais que bebem nos Estados Unidos, isso tenha me
prendido mais a atenção – embora tenha a sensação de que, documentalmente
falando, seja pelos áudios, obras, objetos, músicas, etc., esta parte
introdutória pareça mais completa.
Contudo, a principal sensação que se sai é a de que, enfim, chegamos aos espaços de arte. Embora eu não tenha relação e nem pertença ao universo do funk carioca (embora o seja contemporâneo, mesmo que de longe), a exposição fez-me aludir aos versos de Cartola em sua música "Tempos Idos", quando ele via seu samba assumindo a nobreza que lhe é merecida: "O nosso samba, humilde samba/ Foi de conquistas em conquistas/ Conseguiu penetrar no Municipal". Aqui, é a cultura pop na melhor acepção da palavra que adentrou os salões nobres das Belas Artes, o que suscita um sentimento de pertencimento. Ver meus ídolos da música pop negra brasileira - Black Rio, Dafé, Gerson King Combo, Tim Maia, Cassiano, Toni Tornado, Sandra Sá, Dom Salvador - e internacional - James Brown, Isaac Hayes, Parliament/Funladelic, Chic, Curtis Mayfield, Marvin Gaye - estampados, um mais bonito que outro, redimensionando suas belezas estéticas e simbólicas, é algo que realmente preenche o coração.
Todos os desdobramentos artísticos explícitos e implícitos são, no mínimo, admiráveis, se não objeto de muita apreciação e análise, como a hipnotizante dança do passinho, as pichações, a estética das armas, a sensualidade, a pele preta à mostra, a luz tropical, os cortes de cabelo. Na música, a constatação de que o funk carioca, original, é muito mais advindo dos ritmos africanos (inclusive do Nordeste da África, na Península Arábica) do que somente do funk importado dos states. Tem mais macumba do que enlatado.
Independentemente, vale a pena demais a visita ao MAR, nem que seja para ver apenas esta exposição. Mas se for, aviso: vá com tempo.
*******Já na entrada, o maravilhoso corredor com as pichações iluminadas |
King Combo: mandamentos black, brother |
Edu "tatuado" pela projeção de uma das obras de Gê Viana da série "Atualizações Traumáticas de Debret" |
A pré-história do funk: Pixinguinha puxa Ângela Maria (esq.) pra dança e Jackson do Pandeiro punha be-bop no samba, tropicalizando a globalização - e não o contrário |
As desbotadas cores dos antigos bailes hi-fi revistas por Gê Viana |
O artista Blecaute também reconta os apagados eventos sociais negros do passado em novas cores |
Mais de Gê Viana em sua série em que recria Debret: genial quebra do tempo simbólico e cronológico Outra arte imponente, esta de Maria de Lurdes Santiago |
Anos 60/70: as referências de fora chegaram. Nunca mais o mundo foi o mesmo |
Reprodução de cartazes dos Black Panthers: a coisa ficou séria agora |
Dom Filó e sua turma da Soul Grand Prix, promotores das festas black da Zona Norte |
Os pisantes, indispensáveis nos clubes soul em arte de André Vargas |
James Brown, uma das referências máximas da galera, em fotos no Brasil |
Encerrando a primeira parte da exposição, obras da genial gaúcha (e preta) Maria Lídia Magliani |
Mais Magliani |
Já nos anos 90, a beleza dos passinhos se mistura à fúria violenta dos excluídos |
Esta cocota que vos escreve rebolando até o chão |
E esta incrível pintura, que mais parece serigrafia? |
Pode-se dizer que foi uma viagem dentro de uma viagem. Afinal, pra quem mora em Porto Alegre é mais distante ir até o Rio de Janeiro do que do Rio até Niterói. Mas valeu, sim, mais do que como um passeio. Ciceroneados pela nossa querida amiga Luciana Danielli, moradora de Niterói e a quem conhecemos anos atrás noutra viagem, à mineira Ouro Preto, pudemos Leocádia e eu passar uma agradabilíssima tarde na cidade e conhecer um pouco mais do que apenas Boa Viagem, por conta do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, ou o Caminho Niemeyer, no Centro, os quais obviamente nos motivamos a procurar anteriormente por conta da obra de Oscar Niemeyer a quem tanto admiramos. Luciana, no entanto, nos levou à simpática praia de Jurujuba, uma vila de pescadores com um clima bucólico e pacato, que até parece estar muito longe da muvuca do Rio e até mesmo da Niterói urbana.
Um dos maiores cartões postais da cidade, a histórica Jurujuba guarda delícias desde suas paisagens e gentes até sua comida, típica de recantos de pescadores – com aqueles frutos do mar fresquinhos. Com cerca de 300m de extensão e situada a aproximadamente 12 Km de distância do centro de Niterói, sua orla inclui uma estreita calçada, bastante arborizada, principalmente com amendoeiras e ipês. São Pedro dos Pescadores, padroeiro, se faz presente amenizando o mar. Abençoou-nos e nos amenizou também, com certeza.
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Madonna em vários momentos do show que celebrou seus 40 anos de carreira. |
Um espetáculo em que toda a carreira da artista é repassado, passado a limpo, dentro de uma concepção artística, estética, visual, musical, absolutamente mágica, hipnotizante, embasbacante.
Embora esteja entre aqueles que entendem que um show dessa natureza, de um artista pop, com a dinâmica de teatralidade, troca de figurinos, cenários, etc., permita playbacks, devo admitir que fiquei um pouco incomodado e desconfiado quando soube que a apresentação não contaria com uma banda ao vivo. No entanto, ali, assistindo ao show, mostrou-se totalmente justificável a opção. "The Celebration Tour in Rio", antes de ser um concerto musical é um espetáculo artístico que envolve uma série de elementos que, para funcionarem bem, com um resultado impactante para o espectador (seja no local ou na TV), exigia tal 'sacrifício'. As performances, a ocupação de palco, a mecânica, os números musicais, a iluminação, a concepção visual, tudo me convenceu que, nós, público, só ganhamos com essa ideia de show.
Abertura do show com trecho de "Nothing Really Matters"
Dito isso, vamos ao que interessa: QUE SHOW DA PORRA!!!
Repertório bem planejado, blocos de músicas e atos divididos em uma estrutura muito precisa, mixagens e transições sempre interessantes, ótimas coreografias, iluminação incrível, e, é claro, uma estrela ousada, destemido, provocativa e de um talento que transcende a música.
O que foi aquela "Like a Prayer"??? Em uma das melhores músicas da cantora, uma atmosfera eclesiástica ritual, repleta de cruzes, sacerdotes, corpos pendurados, punições, culpa, inquisição... A hipocrisia e a opressão do catolicismo, numa dramática performance de arrepiar. Se teve gente que perguntou por que não projetaram o nome de Madonna no Cristo Redentor, como aconteceu com Taylor Swift, isso bastaria para responder perfeitamente.
Festa à brasileira em "Music". ("Music makes the people come together...") |
"Erotica", com uma performance de luta de boxe, foi outra que passou seu recado: um direto no queixo dos moralistas. "Bad Girl" com a filha da cantora, Mercy James, ao piano foi lindíssima, "Burning Up" punkzona foi simplesmente afudê, as homenagens a Prince e Michael Jackson foram especiais, "Hung Up" latinizada ficou bem interessante, "Music", surpreendentemente para mim que a adoro na versão original, ficou incrível naquela releitura batucada brasileira, com uma participação 'apimentada' de Pabblo Vittar, e a espetacular "Vogue" com um desfile de moda ímpar, inigualável, julgado com a participação de Anitta foi uma festa incrível, uma espécie de nova versão do antigo Gala Gay do Copacabana Palace, em versão século XXI.
Madonna fez história de novo!
O Brasil nunca esquecerá esse show.
O mundo sempre lembrará.
Tenho medo de passar hoje por Copacabana e não encontrar o bairro lá ou encontrá-lo em ruínas, porque, cara... Madonna colocou tudo abaixo. Tudo mesmo! Dúvidas, conceitos, preceitos, preconceitos, resistências, padrões, limites, barreiras... Enfim. ., Ave, Madonna! Estamos todos a teus pés, ó Rainha!
Uma multidão em Copacabana para ver de perto a Rainha do Pop. (No meu caso, nem tão de perto) |
Cly Reis
Miniatura do desfile da Mangueira na Sapucaí |
Logo na escada de acesso, dois belíssimos tótens, com carrancas, que já decoraram carros alegóricos da Escola. |
Manequins com fantasias |
Lindíssima fantasia de destaque |
Fantasia de ala das baianas |
O boi-bumbá relembra o desfile de 2014 mas antecipa o enredo da Maranhense Alcione, pra 2024 |
Fantasias de outros carnavais na Mangueira |
Peças para confecção das alegorias |
Aqui, alguns chapéus, túnicas e peças de cabeça |
É aqui onde a mágica acontece: na máquina de costura e no trabalho manual do pessoal do barracão |
Desenhos de figurinos para as fantasias |
Belíssima maquete do Morro da Mangueira |
Reconstituição das tradicionais biroscas do Morro da Mangjueira cujas mesas viram surgir muitos sambas clássicos |
E o blogueiro tomando uma gelada no buteco da Mangueira |