Gol de Vavá - Brasil 3 x Tchecoslováquia 1 - Final da Copa do Mundo do Chile 1962 REIS, Cly (ilustração digital - GIMP) |
Agora vai começar pra valer!
Saíram as classificadas da pré-fase da Copa Do Mundo Kraftwerk. Nesse primeiro instante, apenas as canções da fase anterior ao álbum "Autobahn" estavam na briga por oito vagas para disputar com as grandonas, com as consagradas da discografia dos alemães. E eis que as temos definidas...
Para essas oito temos uma boa e uma má notícia: a boa é que passaram de fase e estão classificadas. Parabéns!. A má é que agora tem pela frente Hall of Mirrors, Numbers, Telephone Call e outras camisetas pesadas.
Se preparem, agora só tem confronto gigante.
Confiram aí, abaixo, os vencedores dos confrontos dessa fase preliminar e em breve divulgaremos a tabela da primeira fase, efetivamente, do nosso torneio futemusical.
E está dado o pontapé inicial. Começa a Copa do Mundo Kraftwerk.
Nesta fase, ainda, apenas com as músicas da era pré-Autobahn, dos discos Kraftwerk, Kraftwerk 2 e Ralph & Florian.
"Ah, mas não tem Trans-Europe Express...", "Ah, mas ainda não tem The Model...", "...mas sem as clássicas não tem graça!". Não tem? Vai vendo.
Só tem jogão nessa fase preliminar: Elektrishes Roulette contra Ruckzuck, Kristallo contra Klingklang, Megaherz contra Harmonika... E pra quem conhece esse período do grupo, sabe que todas essas são concorrentes em condições de encarar qualquer Computerlove, Radioactivity ou quem vier pela frente.
Aliás, os 'times grandes', tipo Hall of Mirrors, Music Non Stop, The Man Machine, que se preparem porque vão pegar os classificados daqui já na próxima fase.
Nessa prévia, apenas as cabeças do Clyblog, Cly Reis e Daniel Rodrigues, definirão quem passa. Uma espécie de filtro. Mas na próxima etapa, outros julgadores se juntarão a nós para a difícil tarefa das eliminações.
Confira, aí, abaixo todos os jogos da fase preliminar da Copa do Mundo Kraftwerk:
David Coimbra, escritor e jornalista falecido recentemente, vítima de um câncer, foi um dos responsáveis por me fazer gostar de escrever contos sobre futebol. Sempre lia suas crônicas na seção de esportes do jornal Zero Hora, em Porto Alegre, e adorava aquelas histórias que misturavam futebol a situações cotidianas de toda ordem como casos amorosos, dificuldades financeiras, questões sociais, antropológicas, filosóficas, etc. Seu livro "A Cantada Infalível", de 2009, que na verdade, ainda inclui contos de outro, "A Mulher do Centroavante", traz exatamente esse universo que me seduziu e inspirou: memórias descontraídas do futebol de bairro da adolescência; garotas inspiradoras para meias habilidosos; seca de gols de atacantes motivadas por corações partidos; goleiros em defesas impossíveis por conta de uma presença na arquibancada; atacantes velozes; zagueiros truculentos; perebas indesejáveis, bastidores dos grandes clubes, enfim... aquele mundo que frequentei, que fez parte de mim, que vivi e que David descrevia com habilidade ímpar, e um vocabulário que, além de muito rico, era preciso para cada situação que narrava.
Até discordava de opiniões e posições de David no campo político e em seus extremismos inconsequentes no tocante a futebol. Escalações estapafúrdias, esquemas táticos bizarros, providências administrativas inexequíveis, e coisas do tipo, fora o fato de ter confirmado ser ele gremista, depois de seu falecimento. Mas não posso negar que era apaixonado por sua visão romântica do futebol e pela maneira como criava essa conexão dele com as questões emocionais de um homem. Havia, é verdade, acusações de machismo sobre esses textos, por conta dessas referências às mulheres nessas crônicas futebolísticas, que as estariam tratando de forma sexista, inferiorizante ou negativa. Mas vejo a presença feminina nos contos muito mais como uma auto-exposição do que como um exibicionismo. Do homem imaturo tendo que se provar ao bater um pênalti para impressionar a garota; do cara inseguro que acha que a namorada pode gostar mais do craque do time rival porque o outro joga mais do que ele; do que fica meses sem fazer um gol porque está com a cabeça no relacionamento desmoronando; ou, até mesmo, do que tem que bolar uma fórmula tão eficaz para conquistar aquilo que considera tão caro, difícil e inalcançável: uma cantada que fosse infalível.
Embora seja o ponto de vista do homem, não acho que machismo seja uma acusação justa. Mas, enfim... Não posso condicionar o modo dos outros pensarem, nem pretendo isso e, talvez existam razões e particularidades às quais, na condição de homem, desconheça.
Fato é que, para mim, as crônicas de David Coimbra eram esperadas, todos os dias na edição tradicional, mas especialmente no domingo, no Caderno de Esportes, quando normalmente vinham os contos, causos e crônicas ficcionadas que, modestamente, muito me inspiraram e as quais, muitas fazem parte dessa antologia "A Cantada Infalível", que recomendo a todo fã de futebol, especialmente aquele que viveu a infância/adolescência de campinhos de terra, rivalidades de bairro, episódios inusitados, e que já tentou impressionar, de alguma forma, a gatinha da rua.
Cly Reis
Se era jogo grande que vocês queriam, é jogo grande que vocês ganharam. O maior diretor japonês de todos os tempos, Akira Kurosawa, contra o melhor diretor polonês (nascido na França) Roman Polanski, adaptando uma das mais famosas peças do maior escritor inglês e um dos maiores da literatura mundial, William Shakespeare.
Japão e Polônia pode não ser grande clássico dentro dos gramados, mas no set de filmagem é duelo de gigantes. Aliás, nesse caso, é Japão versus Inglaterra, uma vez que a adaptação de Roman Polanski para "Macbeth", é uma produção britânica.
Na tragédia "Macbeth", o nobre que dá nome à peça, acompanhado por seu amigo Banquo, ao retornar com improvável êxito de uma batalha dificílima, tem previsto por três bruxas, ocultas na floresta a caminho do castelo, que, primeiramente, será promovido em suas funções militares e posteriormente, virá a tornar-se rei. No entanto, as mesmas feiticeiras preveem que o parceiro, Banquo, embora não venha a reinar, terá um soberano na sua linhagem. A predição desencadeia, além de uma enorme confusão mental em Macbeth, uma série de acontecimentos perversos como o assassinato do rei Duncan a fim de cumprir a profecia o quanto antes, e a morte do próprio amigo e de seu filho, de modo a evitar que a segunda parte da previsão se concretizasse, atos incitados por sua ambiciosa esposa, Lady Macbeth. Parte do plano dá errado uma vez que o filho de Banquo sobrevive ao ataque, fazendo com que Macbeth fique um tanto acuado e temeroso quanto à longevidade de seu reinado. Enquanto isso, no exílio, Malcolm, o filho do rei assassinado e que pretende retornar para retomar a coroa, sua por direito, planeja um ataque ao castelo e ganha cada vez mais força conquistando até mesmo os próprios súditos de Macbeth que começam a vê-lo enfraquecido e desequilibrado.
No entanto, Macbeth não teme ser derrotado pois, em nova consulta às feiticeiras, estas lhe revelam que ele só perderia seu trono caso a floresta andasse em direção ao castelo e que só seria subjugado por um homem que não tivesse vindo ao mundo por uma mulher. Nenhuma chance, não? Bom... não exatamente...
"Trono Manchado de Sangue" (1957) - trailer
O franco-polonês Roman Polanski, faz um filme pesado, duro, sujo, violento. Os personagens são frios, brutos, podres, a fotografia, se por um lado têm as belas paisagens escocesas em ângulos abertos, traz cenários realistas, enlameados, com porcos transitando, higienes duvidosas e vestes reais imundas. Mais fiel ao livro que Kurosawa, Polanski se utiliza de alguns pontos, de alguns detalhes, de certos elementos e cria praticamente um filme de terror: o covil das bruxas, a beberagem que oferecem para Macbeth e sua consequente alucinação, a aparição de Banquo no jantar, a brutalidade das mortes, o vermelho intenso do sangue, a aparência dos cadáveres, e a decapitação do tirano no final, tudo é próximo ao aterrorizante. Espetacular! Uma adaptação à altura da obra do grande dramaturgo inglês.
Bom, alguém diria, "Não tem como ganhar de um filme desse!".
Tem?
Tem!
O grande problema é que o Macbeth de Polanski pegou pela frente a adaptação de outro gênio.
O filme de Akira Kurosawa é uma obra de arte.
Eu disse OBRA DE ARTE!
"Trono Manchado de Sangue" é como um drible do Garrincha, o gol antológico do Maradona em 86, a magia da Laranja Mecânica, como a Seleção de 70...
O japonês dá o meio termo exato entre a agressividade que o tema exige e a leveza, com sua poesia estética.
Mesmo sem o privilégio do uso da cor, a fotografia de Kurosawa é fascinante e misteriosa; a transposição da história para o Império Japonês é conduzida com brilhantismo sem perda nenhuma à trama; os trajes militares, os castelos, as batalhas, as cerimônias, tudo funciona perfeitamente dentro da cultura e das tradições orientais. O fato de não vermos a morte do rei a torna, talvez, mais chocante tal o estado que Washizu, o Macbeth de Kurosawa, sai do quarto onde o soberano dormia; a interpretação do lendário Toshiro Mifune, no papel do protagonista é impecável; sua Lady Macbeth, Asaji, é impressionante com sua expressão impassível mesmo prestes à pior crueldade; a bruxa na floresta é um encanto visual ímpar; e a morte de Washizo é, à sua maneira, tão impressionante quanto à de Macbeth no filme inglês.
A versão japonesa tem algumas diferenças em relação aos originais de Shakespeare. Kurosawa, por exemplo, só se vale de uma feiticeira e não três como no livro, à qual ele prefere chamar de 'espírito' e não bruxa; faz também com que o filho de Banquo, no caso Miki, já seja um adolescente e não uma criança e, exilado, se junte ao filho do rei assassinado, em uma localidade vizinha, para tramar a reconquista do Castelo. Além disso, prefere omitir a questão do homem não nascido de mulher para a vulnerabilidade de Washizo (Macbeth) e, ao contrário de Polanski, não antecipa a intenção dos soldados marcharem camuflados com galhos, causando uma sensação de surpresa e fantasia no espectador ao ver se realizar a profecia da floresta andando em direção ao castelo.
A cena inicial da floresta, em Kurosawa é mágica com Washizu e Miki correndo labirinticamente em círculos pela Floresta da Teia de Aranha (1x0); o 'espírito', a entidade de Kurosawa é bela, poética; as bruxas de Polanski são assustadoras e repugnantes... Ninguém leva vantagem. A Lady Macbeth japonesa, Asaji, é assustadora com seu rosto de porcelana, impassível mesmo enquanto incita, ao manipulável marido, as mais frívolas ações. A da versão inglesa é boa, 'intriguenta', como não poderia deixar de ser, mas nem se compara à japonesa. 2x0, Kurosawa.
O Macbeth de Kurosawa também leva alguma vantagem. John Finch, no filme inglês está ótimo também, mas o perfil do personagem nipônico é mais interessante. Washizu é mais inseguro, hesitante, muito mais dependente dos conselhos e estímulos de sua esposa do que o da segunda versão, mais tiranicamente determinado. Sem falar que é interpretado, por ninguém menos que Toshiro Mifune. Só isso... Gol de "Trono Manchado de Sangue": 3x1!
A direção de arte do filme de 1957 funciona muito bem num Japão feudal mesmo pra uma história idealizada, originalmente para o ocidente, no entanto, o realismo imposto por Polanski, nos cenários enlameados, nos palácios toscos e nada glamurosos, ou nos figurinos finos, mas comprometidos pela lama, por lutas ou por sangue, dá um gol para o filme de 1971. "Macbeth" '71, diminui: 3x1, no placar.
Talvez seja spoiler para alguns mas nosso personagem principal que dá nome ao drama, morre no final (Ohhhh!!!) Só que de maneiras "levemente" diferentes de uma versão cinematográfica para a outra (e aí vai spoiler, mesmo): Se na versão japonesa, o tirano usurpador morre alvejado por flechas, com uma delas atravessando, por fim, fatalmente, seu pescoço; na inglesa, depois de descobrir a existência de alguém com a improvável qualificação de não ter nascido de mulher, fica totalmente à mercê do vingativo McDuff que o atravessa com a espada, decepa sua cabeça e a expõe no alto de uma lança no ponto mais alto do castelo recém retomado. A cena das flechas é linda, espetacular, mas a cabeça sendo levada ao alto da torre, por entre os soldados, como se estivesse ainda vendo toda a fanfarra à sua volta, e a exibição dela como troféu de guerra, é algo difícil de bater. Macbeth volta a se aproximar no placar: 3x2!
Ainda nesse ínterim, como já havia mencionado acima, Kurosawa prefere ignorar para sua adaptação, a particularidade que derrotaria o rei traidor, ao passo que Polanski faz disso ponto crucial em sua derrocada. Seria o empate do franco-polonês se Kurosawa não tivesse feito dessa supressão um contra-ataque, pois a sequência da floresta caminhando em direção ao castelo, compensa a ausência desse item, sendo o momento decisivo do filme do japonês. Lindo, hipnótico, surreal, o avanço ameaçador da floresta, em "Trono Manchado de Sangue" é uma das cenas mais incríveis do cinema. Os galhos semiocultos entre a névoa dão, inicialmente, uma sensação mágica quase convencendo o espectador que, por algum motivo, sobrenatural, uma alucinação do nobre ameaçado, uma reinterpretação do diretor, ela pudesse realmente estar avançando em direção ao cruel tirano. Golaaaaçoooo!!!
"Trono Manchado de Sangue" ganha no detalhe, na qualidade técnica, mas a sensação que fica é que o placar poderia ser um pouco mais tranquilo se Kurosawa tivesse o "reforço" do uso da cor. Veja-se o que ele fez em "Ran", adaptação de "King Lear", outra de Shakespeare, por exemplo... Dá pra dizer que ganhou desfalcado.
HAITI
x
PALCO
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No topo, uma das cenas dentro de campo, no centro, o investigador no meio da torcida rival, e abaixo, o psicopata frente a frente com o policial. |