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domingo, 9 de maio de 2021

"Minha Mãe é Uma Peça 3", de Susana Garcia (2019)

 


É irônico que a mãe mais querida do país não seja, exatamente... uma mulher. Pegando traços do comportamento da própria mãe, o talentoso Paulo Gustavo criou uma personagem tão carismática que acaba carregando em si um pouquinho de cada mãe. Criada, inicialmente, para o teatro, a agitada, desbocada e intempestiva personagem Dona Hermínia ganhou as telas de cinema e transformou-se num sucesso imediato graças ao talento, versatilidade, criatividade e espontaneidade do ator e se o primeiro filme e sua sequência já haviam alcançado enorme êxito e arrebatado o público, o terceiro vai além e atinge a maior bilheteria do cinema nacional. "Minha Mãe é Uma Peça 3", em que Dona Hermínia percebe que os filhos cresceram e estão tomando seus rumos na vida e com isso sofre e passa a questionar seu valor, seu lugar naqueles novos universos criados por eles, e até mesmo o amor dos filhos, é o final perfeito da trilogia da mãe. Não que Paulo Gustavo não tivesse capacidade criativa para fazer uma parte quatro, cinco, nos contar como seria sua personagem com 80 ou 90 anos, mas é que o encerramento da saga, dessa mãe que se parece tanto com as nossas, infelizmente foi antecipado compulsoriamente por esse pesadelo que aflige a todos nós chamado Covid-19, que já levou milhões de pessoas pelo mundo e mais de 400.000 no Brasil, incluindo ele, Paulo Gustavo. 

A morte desse ator, produtor, roteirista, sem diminuir qualquer outra vida perdida nessa pandemia, talvez seja a mais simbólica dentre a dos milhares de brasileiros acometidos pela doença. Paulo Gustavo, dentre tantas figuras de áreas, campos, atividades diferentes, talvez seja a figura pública de maior projeção e essa popularidade faz com que sua fatalidade seja de conhecimento geral; seu carisma, sua simpatia, sua alegria, seu personagem que nos aproximavam dele, dá quase a sensação de termos perdido um ente querido; sua juventude e energia derrubam a tese de que só velhos e doentes sucumbem a essa doença; sua internação com melhoras e pioras, aos e vindas, esperança e desengano, mostram que não é "só uma gripezinha"; sua condição financeira favorecida com a possibilidade dos melhores cuidados, hospitais, tratamentos, só vem a comprovar que não  tem rico ou pobre, hospital público ou particular. Ou seja, a morte de Paulo Gustavo, por sua projeção, repercussão, dimensão, escancara  O que só  não vê quem não quer: que o vírus mata! Mata e não escolhe a quem matar. Não que devesse virar um mártir mas seria bom, pelo menos, que a morte de Paulo Gustavo não  fosse em vão e que, a partir dela, uma conscientização coletiva despertasse em cabeças tão atrasadas e pequenas como as que contribuem para a propagação da doença no Brasil. Mas, além da inestimável perda, por aqui, onde Paulo Gustavo e outros 420.000 não estarão mais, teremos que continuar convivendo com a ignorância e a irresponsabilidade.

"Minha Mãe é Uma Peça 3" - trailer


"Minha Mãe é Uma Peça 3" é provavelmente o mais completo dos três filmes de Paulo Gustavo. Homenageia a mãe que o inspirou e lhe deu os valores, faz questão de mostrar o marido, os filhos e sua felicidade, e traz em si, mesmo em toda a explosividade e inconsequência da personagem, uma série de mensagens. Um engajamento e um posicionamento inteligentes em relação ao homossexualismo, um recado de respeito pelo próximo, um entendimento da volubilidade do ser, da passagem do tempo, e, acima de tudo, quase como um presságio, uma mensagem de amor pela vida. Um final digno para a franquia de filmes e para uma vida vivida com intensidade e amor.
Ironia do destino que, exatamente, na semana das mães, a mãe mais famosa do Brasil tenha deixado tantos brasileiros órfãos de sua alegria. E o interessante disso é que era uma mãe que nem era mulher... Uma mãe que era pai. Um pai que era pai e mãe numa família linda, fora dos padrões conservadores. Uma família de dois pais, sim, por que não, sem mãe, da maneira tradicional que conhecemos, mas sobretudo com muito amor. 

Triste falar de doença nesse momento de celebrar as mães mas era inevitável nessa semana em que a morte nos pregou essa peça.

Parabéns a todas as donas Hermínias espalhadas pelo Brasil afora. 


por Cly Reis


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PAULO GUSTAVO
1978 - 2021
foto: reprodução redes sociais


domingo, 13 de maio de 2018

cotidianas #567 - Rio Equidistante




Porto que deságua no rio
Alegria que alegra o janeiro
Mesma distância
Nenhuma distância

Doce água corrente que interliga
Líquido do parto
Do porto

Porto que desafoga no cais
Cais do Porto
Vinhos daqui
Portugais daí

Doce

Sangue do vinho
Que alimenta minhas veias
Água que se colore
Se avermelha de esperança

Pois não foi milagre o feito de Cristo
Foi, sim, o impossível
Esse impossível que se sucede todos os dias
Em que o sangue, pintado de vinho
Vermelho
Regurgita e punciona

Milagre é isto
Não aquilo
Daquilo, nada nos pertence
Só o teu e o meu
O porto que nos ancora sobre o rio
Navio atracado
Âncora permanente
Desafiando com o equilíbrio
A sapiência oculta dos mares

Porto doce – de Janeiro
Rio doce – e Alegre
Mãe.

para minha mãe, Iara


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"Rio Equidistante"

Daniel Rodrigues