Mário Röhnelt:
imagem, material e transformação
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Acrílico e traços em planos ampliados da folha quadriculada,
que ganha outra dimensão, e à direita, a tela em detalhe.
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Na semana passada,
estive na retrospectiva expográfica da obra de Mário Röhnelt e
fiquei de escrever um pouco sobre o que vi reunido pela curadoria de
José Francisco Alves. O próprio curador apresenta em seu texto
informações sobre a produção do pelotense Röhnelt situando o
visitante conhecedor ou não da sua obra produzida nos últimos 30
anos integrando acervos de museus e colecionadores. Mário que tem
formação em arquitetura nos oferece uma produção diferenciada e,
a meu ver, em alguns períodos ligada ao imenso intercâmbio e
diálogo com a obra do santa-mariense, Milton Kurtz com quem dividiu
atelier e compartilhou parte da produção, um interferindo no
trabalho do outro, intercambiando traços, cores e imagens.
Antes mesmo de
comentar alguns dos espaços gostaria de comentar com os amigos
virtuais aonde começa minha admiração e interesse por estes dois
artistas gaúchos. Em 1997, recebi um catálogo com textos críticos
de Ana Albani de Carvalho e Fernando Cocchiarale relativo à uma
exposição em homenagem a Milton Kurtz realizada paralelamente ao
VIII Salão de Pintura Cidade de Porto Alegre intitulada “ Milton
Kurtz, Trabalhos 1970-1996” das mãos do meu sempre Prof. de
Cerâmica, Cláudio Ely. Nesta época eu levava pessoalmente os
convites aos palestrantes de um seminário que envolvia artistas da
cidade de Porto Alegre e convidando também músicos, jornalistas,
filósofos, poetas e etc. a palestrar sobre como é ser um artista da
vida.
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Painéis geométricos em lona e tela |
Assim, depois de
estudar a participação de Mário Röhnelt no grupo KVHR integrado
juntamente por Kurtz, Paulo Haeser e Julio Viegas, descobri que este
grupo era responsável por um folheto impresso em off-set,
feito por eles mesmos, contendo imagens elaboradas também por eles.
O “KVRH de Arte” era distribuído mensalmente, com tiragem de 1
mil exemplares com abrangência ampla, inclusive em outros estados e
países. O projeto durou doze meses, entre 1979 e 1980 paralelo a
atuação do Centro Alternativo de Cultura Espaço N.O (neste caso
formado por Mário Röhnelt e um outro grupo de artistas jovens: Ana
Torrano, Cris Vigiano, Carlos Wladimirsky, Heloisa Scnheiders da
Silva, Karin Lambrecht, Regina Coeli, Rogério Nazari, Simone Basso,
Telmo Lanes e Vera Chaves Barcellos) com objetivo de criar em Porto
Alegre um local destinado à veiculação de manifestações
artísticas contemporâneas, como performances, instalações,
arte-postal, arte-xerox, organizando cursos, encontros e exposições.
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Pretos e brancos em dimensões arquitetônicas |
Olhando este
catálogo e vendo agora a obra reunida de Röhnelt posso perceber os
pontos apontados por Ana Albani em seu texto e reforçados por José
Francisco relativo ao que há de comum entre as produções dos
artistas: em primeiro a arquitetura (ambos cursaram a faculdade de
Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS), depois à dedicação às artes
visuais de forma muito “autodidata”, talvez muito em função do
trânsito entre os alunos das Artes e da Arquitetura nessa década, e
por fim no caráter estético ou meramente pela abordagem humanística
de seus trabalhos.
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Selfs, desenhos a partir de fotografias |
Aliás, a forma
humana está presente em praticamente toda a produção de Röhnelt
(desenho, fotografia ou pintura) que nos anos 2000 transformada em
linha e sobreposta à cores e cenários sobrevoa, mais livre e ora
mais mergulhada no plano acrílico colorido. A retrospectiva está
dividida em cinco salas do 2º andar do MARGS, e impressiona o
visitante a cada ambiente. Como informa José Francisco em seu texto
curatorial, a obra está apresentada em segmentos. No primeiro vemos
sua fase como desenhista, ali estão seus selfs ou imagens de
amigos e pessoas próximas com base em fotografias. Depois vemos as
pinturas muito coloridas que ocupam a década de 80, em acrílica sem
tela e pinturas em papel. Nos anos 90 a fotografia, traz o branco e
preto, em conjuntos de pinturas sobre tela e lona. Em meio a tudo
isso, estão matrizes digitais, maquetes de ambientes, cenários,
livros de artista, que invadem a produção nos anos 2000 e nos
deixam imersos em linhas, agora digitais, a partir de releituras de
obras do renascentista Giotto.
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Fotografia, uma das técnicas usadas por Röhnelt |
No dia seguinte em
que estive no MARGS assisti um episódio da série “Arte
Brasileira” veiculada no canal fechado GNT, apresentando o artista
contemporâneo Vik Muniz (que em breve estará com exposição no
Santander Cultural de Porto Alegre). Em meio a tantas falas e
registros em vídeo dos trabalhos de Muniz, um comentário me
reportou para a exposição de Röhnelt. Vik comenta sobre o que as
pessoas fazem quando elas estão se aproximando e se afastando de
quadros em exposições com sua obra. Vik diz: “Elas estão criando
uma relação entre a imagem e o material. Quando você se afasta,
você vê a imagem, quando você se aproxima, você vê o material
que aquela imagem é feita. O sublime na representação não está
na imagem ou no material e, sim, no momento em que uma coisa se
transforma na outra.” Na exposição de Röhnelt eu senti muito
esses momentos durante todo o tempo de visitação, por isso não
perca de presenciar na sua frente, desenhos transformando-se em
fotografias, fotografias em pinturas, planos bidimensionais em planos
e figuras em traços.
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Reproduções digitais |
exposição Mário Röhnelt : Uma Retrospectiva"
Museu de Arte do RS / MARGS
até 1º de junho de 2014.
horário de visitação: Terças a domingo, das 10 às 19 horas.
Entrada franca.
www.margs.rs.gov.br
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Detalhe de Selfs do artista e da fotógrafa visitante |