Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Lígia Clark. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lígia Clark. Mostrar todas as postagens

domingo, 2 de setembro de 2018

Exposição "Construções Sensíveis: A experiência geométrica latino-americana na coleção Ella Fontanals-Cisneros" - Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) - Rio de Janeiro/ RJ











Não apostei muito na exposição "Construções Sensíveis" logo que soube da sua abertura no CCBB, aqui do Rio de Janeiro, mas minha visita, por mera curiosidade e uma circunstância favorável de agenda, me provou o quento eu estava equivocado em subestimá-la. A mostra que faz um apanhado da obra geométrica produzida na América Latina a partir dos anos '30 contempla trabalhos desde os mais conhecidos e consagrados como Lygia Clark e Alfredo Volpi como contemporâneos cheios de talento e ideias, apontando para novas tendências.
Dá só uma olhada, abaixo, no que eu estava perdendo:


"Número Uno", de Hector Ragni,
de 1936

Geometria em três dimensões no
"Red, Blue and Black", de Cesar Paternosto,
de clara influência da De Sti

A escultura articulada da uruguaia Maria Freire 

"El Gran Ritmo" de Martín Blaszko
lembra as guitarras de Pablo Picasso

Esculturas em metal e acrílico

A geometria salta da tela

"Otra versión de la noche",
da venezuelana Mercedes Pardo

Composição em preto e branco do brasileiro Alfredo Volpi (1950)

O jogo de preto e branco, cheios e vazios da cubana Dolores Soldevilla

As lentes de acrílico do argentino
Rogelio Polesello
Colagem do cubano Sandu Duarte, de 1950




Conjunto da brasileira Lygia Clark


Pendente em metal

A ilusão óptica na obra de Luís Sacilotto

A fotografia também tem seu espaço na exposição

A geometria na arquitetura

"Symphonie Chromatique", de Gregório Vardanega (1970)

Painéis estreitos com cores e luz
na obra do venezualano Alejandro Otero

"Vibration", de Jesús Rafael Soto (VEN - 1961)


"Graphisme Kaleidoscopique", de Martha Boto


"Multiplication Eletronique", de Gregório Vardanega


"Element Mouvement Surprise", de Julio Le Parc


A teia da brasileira Lygia Pape


E o blogueiro em meio à toda essa trama artística


Cly Reis

***

Exposição "Construções Sensíveis:
A experiência geométrica latino-americana na coleção Ella Fontanals-Cisneros"
local:Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro

endereço:Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
visitação: de quarta a segunda, das 9h às 21 horas.
período: até 17/09
entrada: gratuita

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

10ª Bienal do Mercosul – Santander Cultural










Detalhe de "O Helicóptero"
Meu receio de não conseguir ver no pouco tempo que tinha as sete exposições da Bienal do Mercosul foi relativamente afastado. Afinal, dos seis espaços expositivos, apenas dois deles não visitei. Certo: tratavam-se de dois importantes: o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS), principal museu de artes de Porto Alegre, e o Instituto Ling, o qual ainda não visitei desde que abrira, em 2014, mas que, tanto pelo tema-recorte, “Síntese”, quanto por sua modernidade arquitetônica e sabida pujança, certamente abrigara uma fatia qualitativamente interessante da Bienal. Esta, do Santander, a qual visitei acompanhado de Leocádia, foi a mais bem montada e fiel à proposta, a “Antropofagia Neobarroca”.

A engenhoca Wesley Duke Lee “O Helicóptero” (1968), composta por diversas técnicas (pintura, colagem, fotografia, fundição) sobre um caracol metálico e (embora estático na exposição) giratório abre o salão do Santander com uma das mais belas e criativas (e instigantes!) peças da Bienal. Mas haveria mais coisas interessantes ali, sim. Caso de outra instalação “Anaconda”, do venezuelano Carlos Zerpa, montada com centenas de discos de vinil presos a si por arames e cadeados formando uma impactante cobra negra, limite entre a modernidade tecnológica e a ancestralidade de raiz, traduzidos no tema central daquela exposição. Evocando a antropofagia de Oswald de Andrade e o neobarroco, ideia forjada por artistas latino-americanos a partir dos anos 70 como instrumento de resistência e de autodefinição pós-colonial, “Antropofagia Neobarroca” buscou da luz à tentativa de emancipação cultural principalmente nos elementos indígenas, capazes de confrontar simbolicamente os sistemas europeus de colonização cultural.

Óleo sobre tela impressionante
em dimensões e impacto.
De forma bastante direta e denunciadora, o tema aparece em peças como os quadros dos mexicanos Daniel Lezama (2004) e José Maria Jara (1889), dois impactantes óleo sobre tela, o não menos assombroso “A Rébis Mestiça Coroa a Escadaria dos Mártires Indigentes” (2013), do maranhense Thiago Martins de Melo, visto que gigantesco (3,60 metros por quase 4 de altura), onde podem se ver diversas referências à desumanidade e violência das colonizações. Sangue, muito sangue. Ligia Clark, a quem tudo exposto na Bienal surpreende, haja vista sua capacidade criativa imensa e sempre pungente, apresenta ali o tropicalista “Cabeça Coletiva”, de 1975, de materiais mistos. A figura indígena e meio andrógena do bronze polido “Inca”, do espanhol-brasileiro Fernando Corona, é outra das belezas vistas. A carioca Beatriz Milhazes, de quem havíamos visto uma extensa exposição individual no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 2014, traz uma interessante acrílica sobre tela. Caso de outra carioca badalada das artes visuais da atualidade, Adriana Varejão, com o duo “Espiral em Flor” e “Voluta e Cercadura”.

Acrílica de Röhnelt.
Do admirável paulista Luiz Zerbini, sempre com uma visão diferenciada entre o pop e o surreal, havia a “Medusa”, que dá a uma acrílica sobre tela um ar de técnica mais moderna visto o brilho vivo das cores e a textura das formas obtida. Valem, igualmente, outra das “obras postais” do pernambucano Paulo Bruscky (da mesma série encontrada no Memorial do Rio Grande do Sul e Gasômetro), “Xerophagia Atropophago Affectar – Cartas para Oswald de Andrade”, de 1981; a instigante fotografia do porto-alegrenese Dirnei Prates da série “Júpiter, Netuno e Plutão” (jato de tinta em papel algodão, 2014), o paulistano Dudi Maia Rosa (“Sem título”, resina poliéster pigmentada e fibra de vidro, 2014); e as “Arquiteturas XI e XV”, do pelotense Mário Röhnelt, artista referencial nas artes gaúchas, de quem também havia duas já vistas por nós na exposição individual dele, em 2014, no MARGS, ambas em acrílica sobre tela (e com muita cara de negativo de foto) de 1995.

Havia imagens sacras tanto de artesões/artistas conhecidos quanto anônimos que também chamaram atenção, mas para quem já visitou os museus de Ouro Preto e Salvador ou presenciou a exposição de arte sacra (“Crux, Crucis, Crucifixus”, CCBB, 2013), melhor destacar outras coisas. Com esta exposição do Santander, juntamente às que presenciei acompanhado ou não nos outros espaços destinados à Bienal do Mercosul, com certeza deu para se ter uma ideia da mostra em suas virtudes e falhas, tais como as que já me referi anteriormente. Entretanto, de modo a ressaltar as qualidades e não tornar a apontar os erros, esta aqui, a última que vi e no derradeiro dia de Bienal, foi provavelmente a mais bem montada em termos de variedade de obras e síntese (quem sabe, a do Ling tivesse isso ainda mais, ou essa lhe fosse de certa forma mais uma repetição da curadoria?).
Até arte de colagem, tal qual eu e meu irmão fazíamos por prazer, nos deparamos. Veja só: nossas colagens que iam para nossas paredes e cadernos escolares nos salões de arte...


 
"O Helicóptero" de Wesley Duke Lee abrindo o salão.
A impressionante cobra de discos de vinil.

O inferno existe e colonizou a América Latina.

Lígia Clark, sempre criativa.

"Inca" de Fernando Corona.

A carioca Beatriz Milhazes.

Um dos quadros de Adriana Varejão.

A "Medusa" de Zerbini.

Arte postal de Brusky em homenagem a Oswald de Andrade.

A bonita fotografia com textura de óleo de Prates


Dudi Maia Rosa

Riqueza de detalhes em quadro do século XIX.

Outro duo do pelotense Röhnelt




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

10ª Bienal do Mercosul – Memorial do Rio Grande do Sul








A genial instalação "Ocio", 
que te joga no fundo do poço.
Minha primeira parada da 10° Bienal do Mercosul foi o Memorial do Rio Grande do Sul. E já começamos bem! Com cuidado curatorial refinado, o espaço abriga as obras relativas ao subtema “Biografia da Vida Urbana”. Certeiro na abrangência do tema e na investigação que propõe, seja no que se refere ao espaço físico, psicológico e ideológico do ser urbano da América Latina. Criminalidade, direitos humanos, mídia, arquitetura, política, civilização. Aspectos que se depreendem naturalmente ao se apreciar e traduzir as obras expostas.
A crítica e a provocação, formas de expressão intrínsecas da arte, evidenciam-se de forma contundente quanto aos contrassensos do Estado de Direito numa trinca especial: díptico de quadros da goiana Shirley Paes Leme, compostos por fuligem de poluição sobre filtro de ar condicionado de carro; fotografia do colombiano Andres Ojuela de um homem sendo agredido pela polícia por ter tentado resgatar algo que lhe havia sido roubado; e a simbólica bandeira “parodiando” o “verde-louro” da flâmula brasileira, que ostenta não os ditos “Ordem e Progresso”, mas “Complexo do Alemão”, numa clara referência à controversa ocupação das favelas do Rio de Janeiro.
O sarcasmo de Cildo Meireles
com a icônica marca.
Na mesma linha, porém consideravelmente mais sarcástica, outro trio de obras critica um dos símbolos do capitalismo e da midiatização: a Coca-Cola. O craque Cildo Meireles é um deles, compondo em três garrafas contour de vidro elementos de sua percepção – numa delas, explica didaticamente como fazer um coquetel Molotóv. Junto, uma impactante impressão sobre lâmina do colombiano Antonio Caro, igualmente parafraseando, ao reescrever-lhe sobre a logotipia icônica da marca o nome de seu país. Completando, um pequeno mas altamente expressivo quadro de outra mente privilegiada da arte moderna brasileira, Paulo Bruscky: “Fax Performance”, autorretrato de 1985 em que se coloca na pele de um super-herói urbano meio homem-bomba (atualíssimo, infelizmente).
A ótima “Multidão”, do paulista Cláudio Tozzi (acrílica sobre compensado, de 1968), traz o frescor da arte pop com o uso discursivo da publicidade e do cinema. Igualmente impressionante, principalmente em termos de concepção/concisão, é a instalação-quadro de Waldemar Cordeiro “Subdesenvolvido”, de 1964, em que uma constituição em madeira aglutina em si todos os móveis de um imaginário cômodo, como uma versão 3D mas subdesenvolvida e reprimida (não esqueçamos que, naquele ano, se marcava a entrada da Ditadura Militar no Brasil) de “Quarto em Arles”, de Van Gogh – sem prescindir, claro, da expressiva distorção das formas.
Arte-pop e denúncia
na obra de Cláudio Tozzi.
Também incisiva e denunciadora é a instalação “Stelar”, do peruano Giancarlo Scaglia, a qual cumpre aquele que é um dos fundamentos da arte: a ressignificação. Isso porque resgata um dos momentos mais tristes e sangrentos da história peruana recente ao perscrutar as ruínas da de uma antiga cadeia de presos políticos, palco de sangrentos massacres de presos do grupo separatista Sendero Luminoso pela força militar do governo, hoje desativada. O artista apronta enormes telas feitas a partir dos furos das balas dos fuzilamentos nas paredes de concreto do presídio (somando a isso os próprios resquícios de pedras do complexo) e, como um simbólico negativo, pinta de preto ao redor, formando uma imagem que remete a uma constelação, mas também apontando para o vazio da memória e dos desaparecidos políticos. Em texto, os curadores anotam: ”Frente ao trauma, o artista articula um potente registro visual das ruínas da tragédia que une representação, presença e ausência”. Pungente pra caramba.
"Declaration" do norte-americano
naturalizado hondurenho, Jonas.
Há uma sequência relativa ao espaço urbano, apontando para várias ideias e leituras no que se refere à sociabilidade, controle e emancipação. Primeiro, uma série de fotos P&B exaltando a arquitetura modernista de várias cidades como a São Paulo e Montevidéu dos anos 70, as quais dialogam com e estética da cidade-sede da Bienal, gerando uma identidade urbana através de um do legado artístico-funcional da Arquitetura. Noutra, a que abre o nicho, o deboche de “Declaration”, do norte-americano residente de Honduras Paul Ramirez Jonas, feito com trompete e bandeira de algodão escrito “Open”. Também, o interessante paralelo entre o que se conquista enquanto território, no óleo do catarinense Victor Meirelles “Visão de Desterro – atual Florianópolis”, de 1851 (e mais antiga obra dali) e aquilo que configura – ou se perde – como espaço concreto na tela de Eduardo Haesbert (pastel seco sobre tela e papel): fria, tecnicamente arquitetônica e quase apenas um esboço.
Traz também uma das obras em metal de Lygia Clark, das artistas plásticas celebradas dessa Bienal. Mas impressionante mesmo (não só a mim: a maioria dos que veem saem com tal impressão) pela criatividade, originalidade e expressividade, a instalação “Ocio”, do chileno Ivan Navarro. Composta de tijolos, espelho, energia elétrica e a palavra-título escrita em neon, a qual se reproduz ao infinito para baixo, como num poço sem fim. Genial.
Faltou apenas um pedacinho do Memorial para visitar, o que rapidamente complemento depois. Enfim, um começo de visitas à Bienal bem positivo. Expectativas pelas próximas exposições.

Díptico de Shirley Paes Leme usa poluição da cidade
como instrumento de discurso.

Composição que evidencia os contrassensos da sociedade.

Coca-Cola no âmago da crítica ao capitalismo.

A arte via aérea de Paulo Brusky.

O Van Gogh subdesenvolvido de Cordeiro.

A arquitetura como meio de identidade.

A cidade conquistada e acidade possível.

"Bicho", uma das peças de Lygia Clark na Bienal


À esquerda, a impressionante instalação de Scaglia que remonta a guerra civil no Peru
e à direita o detalhe da obra mostrando os furos de bala.