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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Exposição "Cinco Ensaios sobre o Masp - Renoir", de Pierre-Auguste Renoir - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) - São Paulo/SP

 

Já passou um bom tempo, visto que foi lá em junho, mas não poderia deixar de fazer minimamente um registro desta pequena, mas enorme em beleza, exposição que Leocádia e eu presenciamos (mais uma) no Masp, em São Paulo: a do pintor francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). Pai de um dos cineastas que mais admiro, Jean Renoir (responsável por obras indissociáveis à história do cinema, como “A Regra do Jogo” e “Boudu Salvo das Águas”), este referencial pintor deu os passos iniciais da geração impressionista de Monet, Cézanne e Manet. Porém, dono de uma técnica de impressão de luz adorável, com pinceladas soltas, tonalidades vibrantes e um olhar sensível para cenas do cotidiano, retratos e paisagens, Renoir é desses colossos da história da arte.

O que vimos no Masp foi, no entanto, uma mostra de sua maestria em 12 pinturas, que ficaram expostas no novo prédio do museu, o edifício Pietro Maria Bardi, ao lado do famoso edifício do mesmo museu, na Av. Paulista, até final de agosto dentro do ciclo Cinco Ensaios sobre o Masp. A seleção, embora diminuta, oferece um panorama abrangente da trajetória do artista. Dentre elas, estão as pinturas de alguns dos seus filhos, Claude e Jean, usando técnica de tinta a óleo opaca. 

Conhecido por seus retratos femininos, os da condessa de Pourtalès, óleo sobre tela de 1877, bem como o de Marthe Bérard, de dois anos adiante, são exemplares em técnica. Lindo também o retrato "Menina com as espigas", em que a vivacidade dos olhos contrasta com a pincelada difusa do entorno do rosto.

 "Retrato da condessa de Pourtalès", uma das 12
belas obras de Renoir expostas no MASP 

Porém, é impossível não vidrar naquele que é talvez o seu quadro mais conhecido: "Rosa e azul – As meninas Cahen d’Anvers" (1881), que retrata as pequenas Elisabeth e Alice, tão maravilhosamente pintado, que dá a impressão de que elas estão vivas. Ele não se opunha ao movimento dos seus modelos durante o ato da pintura, o que dava um caráter naturalista e bastante moderno à sua arte. 

Há também os belos nus “Lise à beira do Sena” (1870) e “Banhista enxugando o braço direito” (1912). Contudo, não era só com o pincel trabalhava Renoir: também tem a imponente escultura em bronze “Vênus Vitoriosa”, de sua última fase, e que muito lembra suas rechonchudas banhistas.

Para finalizar esse breve, mas empolgante passeio pela obra de Renoir, um realista retrato, “O pintor Le Coeur caçando na floresta de Fontainebleau” (1866), em que o destaque maior fica não para o retratado, mas para a cena na natureza e a forma como o artista mistura as cores. Privilégio ver Renoir, assim, presencialmente, mesmo que numa pequena amostragem de sua grande obra. 

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O filho Claude retratado pela palheta do pai

Outro filho pequeno, o posteriormente ilustre Jean,
em "Quatro Cabeças" (1903-04)

Esmero dos retratos femininos (Marthe Bérard)

O impressionante realismo de "Menina com as espigas"

Por falar em impressionante, o que dizer de "Rosa e Azul",
um dos quadros mais famosos do mundo?

Os nus, que remete à Mitologia Grega

A banhista de Renoir

Já no fim da vida, o artista aventurou-se com excelência na escultura

Retrato sob uma perspectiva diferente e inovadora para a época



Daniel Rodrigues

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Exposição "A Ecologia de Monet", de Claude Monet - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) - São Paulo/SP


Depois de uma manhã e uma tarde lotadas de passeios por São Paulo, o horário da visitação gratuita ao Masp, fim de tarde, se aproximava. Já sabíamos que as entradas online estavam esgotadas dada a alta procura, ainda mais porque naquela semana havia estreado justamente a exposição que mais atraía as pessoas (e a nós): "A Ecologia de Monet". Mas estávamos Leocadia e eu próximos, andando pela Av. Paulista e, mesmo cansados, pensamos: "por que não tentar?" Talvez esse espírito flaneur tenha nos presenteado com dois ingressos, que nos foi alcançado logo que chegamos em frente ao lindíssimo prédio projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi.

Com muita fila e sala lotada, pudemos mesmo assim, apreciar as poucas (32) mas bem reunidas obras de Claude Monet, um dos maiores gênios das artes de todos os tempos. Já havia tido a oportunidade de ver Monet numa exposição interativa em Porto Alegre anos atrás, onde não havia nenhuma obra original dele, apenas reproduções, e lembro de, apesar da beleza inconteste, ficar um tanto frustrado de não ver um “Monet Monet”. Dessa vez, realizei o sonho.

A seleção da exposição evidencia a relação de Monet com a natureza, as transformações ambientais, a modernização da paisagem e as tensões entre ser humano e natureza, mostrando como ele estava adiantado no tempo no que se refere ao pensamento ecológico, algo mais evidente somente no final do século 20.

O interessante recorte dado pela curadoria pinça obras dos diferentes ambientes naturais que o artista impressionista pintou em sua vida, desde Havre, na Normandia, Belle-Ille, na Bretanha, Vétheuil, no interior da França, a seu famoso jardim em Giverny, próximo a Paris, onde realizou algumas de suas mais marcantes obras, como a série das “Ninfeias” e a famosa ponte chinesa de seu quintal, as quais mereceram uma sessão especial na mostra.

Porém, não apenas estas, mas as paisagens da Normandia começando a ser turística e moderna ao mesmo tempo, como registrou em “Vista do antigo porto de Havre”, de 1874. Ou a beleza impactante das rochas milenares de Port-Gouphar (1886), em que a brutalidade de suas formas contrasta, primeiro, com a delicadeza do céu nublado em tons leves, mas, principalmente, com a organicidade da água à sua frente, cujas pinceladas curtas e marcadas fazem o quadro parecer vivo.

Por falar em vivacidade da água, a ecologia fluvial de Monet é um dos aspectos mais investigados e valorizados da exposição, visto que justifica duas sessões: "O Sena como Ecossistema", onde podem ser vistos quadros como “O Passeio de Argenteuil” (1872), e "Os Barcos de Monet", que mostram a relação deste com o curso d'água do afluente do rio Sena em uma imersão. As barcas são mostradas de pontos de vista elevados, eliminando, assim, a noção de uma linha do horizonte. Para um apaixonado por cinema, é impossível não enxergar na forma de enquadrar de Monet referências daquilo que se tornaria gramatical no cinema, a qual ele viu nascer enquanto arte. Não são à toa os planos incomuns de Dreyer em "A Paixão de Joana D'Arc" ou o constante distorção imagética do Expressionismo Alemão.

Note-se a correnteza do rio é destacada por pinceladas onduladas em tons de vermelho e amarelo que se somam ao verde intenso. O traço impressionista, embora caracterizado pela dissolução, se modificado conforme a necessidade: ora mais intenso, mais sutil, mais ou menos carregado, o que vai provocando diferentes texturas e sensações. Novamente recorrendo ao cinema, há quadros das plantas ninfeias que, afora o "enquadramento" fora dos padrões, jogando a linha do horizonte para a parte superior da tela, as plantas aquáticas ganham como vizinhas o reflexo das árvores no lago, provocando aquilo que em cinema se chamaria facilmente de sobreposição como as que David Lynch e Alain Resnais usavam largamente em seus filmes.

Há ainda o núcleo “Neblina e Fumaça”, que discute como Monet representou as transformações urbanas e industriais de seu tempo com a chegada da energia a vapor, da expansão das fábricas e a produção de carvão, que mudaram radicalmente as cidades europeias do fim do século XIX. A sequência de trabalhos em que o artista retrata as pontes de Waterloo e de Charing Cross, de Londres, são emblemáticos, pois dão a ver a forma como Monet explorou a perspectiva atmosférica com cores e pinceladas singulares, conferindo espessura à neblina e evidenciando o ar carregado pela fumaça liberada pelas indústrias instaladas às margens do rio Tâmisa. A poluição, sim: a poluição!

Por fim, outro núcleo é “O Pintor como Caçador”, que explora as trilhas por onde caminhava em busca de pontos de vista originais. Traz visões muito poéticas de Monet em pinturas realizadas em suas viagens pela costa francesa - Normandia, Bretanha e Mediterrâneo -, além de passagens por outros países, como a Holanda.

Saímos ainda mais cansados do que já estávamos, mas completamente arrebatados e preenchidos por termos a sorte de conseguir entrar e presenciar a arte maior de Monet. Era um objetivo nesta ida a São Paulo, que pareceu por algum momento que não seria possível realizar. Foi.


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A impressionante “Vista do antigo porto de Havre”: começo do turismo de praia no Mediterrâneo 


Composição magistral dos barcos atracados


Genialidade: as rochas de Port-Gouphar e o espelho d'água


Público embasbacado com tamanha maestria na pintura


Dos mais impressionantes, “O Passeio de Argenteuil” 


Muito público para ver a exposição 
no final de tarde/início de noite no Masp


A série das "Ninfeias". Basta admirar


Sessão das Ninfeias disputada


Aula de enquadramento e de fusão de imagens: totalmente cinema


Mais das Ninfeias, aqui na famosa ponte chinesa de Giverny


A ponte de Waterloo e a... poluição, já em fins do século 19. Ah, o homem...


Outra cena linda de barcos sob o céu nublado


Detalhe de uma das cenas de "caça" de Monet. Sempre em busca de novos olhares


Duo de quadros que junta o trato com a água e o enquadramento diferenciado de Monet...


...Que fecham/abrem a exposição magistralmente



E estes dois flaneurs em estado de graça após verem a exposição



Daniel Rodrigues