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terça-feira, 18 de junho de 2019

"Rocketman", de Dexter Fletcher (2019)



Que filme bacana! Que filme legal! Que filme gostoso de ver! "Rocketman", cinebiografia do astro pop Elton John, é um filme apaixonante e envolvente. Consegue ser empolgante o tempo todo, não somente nos momentos de redentores, entusiásticos, mas também nos momentos duros e dramáticos. Com uma estrutura muito dinâmica e inteligente, o filme do diretor Dexter Fletcher narra a trajetória de Reginald Dwight desde a promissora infância de prodígio do piano em uma família cheia de problemas, passando pela transformação em Elton John, pelo estrelato, pela autodescoberta de sua sexualidade, chegando a todas as crises inerentes à condição de superstar. O roteiro, muito bem escrito e inteligente, utiliza números musicais como transições de tempo ou de estado, garantindo um desenvolvimento muito eficiente e estimulante para o espectador, fazendo dos avanços de tempo algo sempre interessante, intercalando-os com canções cujas letras cumprem papel importante no andamento do longa, mostrando-se ora reveladoras, ora sugestivas às situações da história às quais estejam vinculdas. Taron Egerton se não é brilhante, é competente e, sobretudo dramaticamente, dá conta do recado. A fotografia, o figurino, a direção de arte são impecáveis e a parte musical é muito bem desenvolvida, funcionando como parte fundamental no argumento. Como não podia deixar de ser, uma proposta tão audaciosa unida a um personagem tão visual, proporciona cenas marcantes e, desde já, inesquecíveis. Uma delas é, bem no início (mas que se estende pelo filme todo), quando Elton entra na sala de alcoólicos anônimos, ainda todo caracterizado no figurino de palco e senta-se entre os demais do grupo e começa a narrar sua história. Ele, escarlate, alado, com imponentes chifres retorcidos, parece, ali, naquele momento (ainda), um deus entre mortais, sensação que, no entanto, vai se desfazendo ao longo do filme, à medida que a fantasia vai sendo retirada e o cantor vai demonstrando cada vez mais suas fragilidades. Outro momento incrível é o da gloriosa apresentação no clube Troubador, a primeira nos Estados Unidos, em que o diretor consegue nos transmitir, dentro de suas possibilidades, toda a mágica que deve ter acontecido naquele instante, nos tirando do chão tanto quanto Elton saiu e deve ter feito flutuar o público do local. E por falar em cena mágica... O que dizer da que o astro sobe aos céus como um... homem-foguete? Meu Deus!
As comparações com a outra biografia recente e consagrada "Bohemian Rhapsody" são inevitáveis e nela é imperativo admitir-se que "Rocketman" é um filme muito melhor. "Rocketman" é mais filme, é mais cinema, é mais arte, enquanto a saga do Queen é mais pipoca, mais padrão, mais forjada para o grande público. Rami Malek é um diferencial, um show à parte, é mais impressionante, é verdade, mas Taron Egerton não decepciona e, de certa forma, se expõe mais ao emprestar a própria voz, cantando, verdadeiramente, as canções no filme. Mas, méritos à parte, independente de qual seja melhor, mais ousado, mais artístico, o fato é que é muito bom que tenhamos biografias cinematográficas de figuras importantes do rock com a qualidade que estas duas recentes em questão. São personagens riquíssimos que, cada um à sua maneira, fizeram nossas cabeças, deram sua parcela de contribuição artística para o mundo e ajudaram a mudar o comportamento em nosso tempo. Que venham sempre mais e mais filmes como estes. Quem é o próximo rockstar na fila?
Cena fantástica em que Elton chega no grupo de ajuda totalmente "montado".
Um deus entre os mortais.




Cly Reis

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Oscar 2019 - Os Vencedores


Peter Farrely, diretor de "Green Book", comemorando a vitória
na categoria de melhor filme.
A cerimônia do Oscar, esse ano, veio sem um mestre de cerimônias fixo, o que deu uma certa agilidade à festa. Atores, atrizes, diretores e personalidades se revezavam na condição de apresentadores dosando bem descontração, humor, reverência e emoção. E a coisa toda já começou em grande estilo com o Queen abrindo os trabalhos, acompanhado pelo vocalista Adam Lambert, mandando ver com dois clássicos da banda inglesa. A partir daí foi dada a largada para a entrega das estatuetas e embora "Green Book" tenha abocanhado o prêmio principal, as premiações ficaram bem distribuídas. "Bohemian Rhapsody" teve o maior número e ficou com quatro estatuetas, incluindo melhor ator, consagrando a atuação marcante de Rami Malek"; Pantera Negra" fazendo história entre filmes de super-heróis, ficou com três; "A favorita" levou o seu; "Infiltrado na Klan" também; "Roma", um dos favoritos, mesmo não tenha garantido o de melhor filme no geral, teve reconhecida toda sua inegável qualidade com os prêmios de melhor filme estrangeiro, direção e fotografia; além do próprio "Green Book", que somados ao grande prêmio da noite, levou mais dois, os de roteiro original e de ator coadjuvante.
O esfuziante Spike Lee
comemorando com o amigo
Samule L. Jackson.
Alguns dos pontos altos foram, além da já mencionada performance do Queen, foram a entrega do prêmio de canção original para Lady Gaga, por "Nasce uma estrela"; a surpresa e o bom humor de Olivia Colman ao receber o prêmio de melhor atriz; e a entrega do prêmio de roteiro adaptado para um emocionado e elétrico Spike Lee que aproveitou para lembrar a todos da dura trajetória de um negro até alcançar o lugar onde ele conseguia chegar naquele momento.
Uma cerimônia mais direta, mais enxuta e divertida, sim, mesmo sem tantas gracinhas dos cicerones habitualmente convidados. No que diz respeito aos prêmios, a Academia tratou de fazer todo mundo voltar feliz pra casa: cada um dos favoritos levou o seu e, nas categorias principais tratou de ser bem política, dando o melhor filme para "Green Book" e o de direção para Alfonso Cuarón uma vez que seu "Roma" já tinha o reconhecimento de melhor filme pelo prêmio entre os estrangeiros. A propósito, volta chamar atenção esta, praticamente, hegemonia mexicana no Oscar que faz com que nos últimos anos, sempre que indicados na categoria de direção, os profissionais daquele país tenham vencido. 
Além de mais uma festa mexicana, a cerimônia da noite passada foi uma celebração do cinema e do talento negro com diversos prêmios e reconhecimento, mas também uma oportunidade para reflexões e discussão sobre o racismo e a condição dos afro-descendentes, não somente na sociedade americana, como em todo o mundo. A vitória de "Green Book" e sua temática, os três de "Pantera Negra", com seu empoderamento e com sua equipe técnica predominantemente negra recebendo orgulhosa cada troféu; a segunda estatueta de Mahershala Ali, o tardio prêmio de Spike Lee, o Oscar de coadjuvante para a emocionada Regina King que, como ela mesma disse, se estende a mulheres guerreiras e inspiradoras como sua mãe, não foram triunfos apenas da comunidade negra e, sim, mais uma vitória da sociedade. É um pequeno passo, sei, mas de pouquinho em pouquinho talvez um dia cheguemos lá. Lá? A um mundo melhor, quem sabe.
 Fique, abaixo, com todos os vencedores da noite do cinema de Hollywood:

  • Melhor atriz coadjuvante: Regina King ("Se a Rua Beale falasse")
  • Melhor documentário: "Free Solo"
  • Melhor maquiagem e pentados: "Vice"
  • Melhor figurino: "Pantera Negra"
  • Melhor direção de arte: "Pantera Negra"
  • Melhor fotografia: "Roma"
  • Melhor edição de som: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor mixagem de som: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor filme estrangeiro: "Roma"
  • Melhor edição: "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor ator coadjuvante: Mahershala Ali
  • Melhor animação: "Homem-Aranha no Aranhaverso"
  • Melhor curta-metragem de animação: "Bao"
  • Melhor documentário curta-metragem: "Absorvendo o tabu"
  • Melhores efeitos visuais: "O primeiro homem"
  • Melhor curta-metragem: "Skin"
  • Melhor roteiro original: "Green Book - O guia"
  • Melhor roteiro adaptado: "Infiltrado na Klan"
  • Melhor trilha sonora original: "Pantera Negra"
  • Melhor canção original: "Shallow", "Nasce uma estrela"
  • Melhor ator: Rami Malek, "Bohemian Rhapsody"
  • Melhor atriz: Olivia Colman, "A favorita"
  • Melhor diretor: Alfonso Cuarón, "Roma"
  • Melhor filme: "Green Book - O guia"

C.R.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Oscar 2019 - Os Indicados



E saiu a lista dos indicados ao Oscar 2019! "A Favorita", filme de época  do diretor Yorgos Lanthimos, e "Roma", do já oscarizado de Alfonso Cuarón, que concorre não somente a melhor filme como a melhor película estrangeira, são os líderes em indicações, mas "Nasce Uma Estrela" com a estrelíssima Lady Gaga, vem logo em seguida com oito e com boas chances. "Pantera Negra", de certa forma, surpreende com sete nominações, tornando-se o filme de super-heróis com maior reconhecimento neste sentido pela Academia, e o badalado “Bohemian Rhapsody”, biografia de Freddie Mercury, garantiu cinco indicações, incluindo, é claro, a de melhor ator com a ótima atuação de Rami Malek que, por sinal não terá vida fácil, especialmente contra Christian Bale, por seu papel em "Vice", e Willem Defoe, por "No Portal da Eternidade". Me surpreende um pouco a escassês de indicações para "O Retorno de Mary Poppins", que achei que fosse passar o rodo nos itens técnicos e, não tão surpreendente assim, uma vez que as qualidades de "Infiltrado na Klan" vem sendo exaltadas constantemente, mas louvável é a ascensão de Spike Lee ao time dos grandes com sua primeira indicação a melhor diretor.
Depois dessa breve passada, vamos ao que interessa. Conheça os indicados ao Oscar em 2019:


  • Melhor Filme
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Roma
Nasce Uma Estrela
Vice

  • Melhor Atriz
Yalitza Aparicio (Roma)
Glenn Close (A Esposa)
Olivia Colman (A Favorita)
Lady Gaga (Nasce Uma Estrela)
Melissa McCarthy (Poderia Me Perdoar?)

  • Melhor Ator
Christian Bale (Vice)
Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)
Willem Dafoe (No Portal da Eternidade)
Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
Viggo Mortensen (Green Book: O Guia)

  • Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (Vice)
Marina De Tavira (Roma)
Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
Emma Stone (A Favorita)
Rachel Weisz (A Favorita)

  • Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali (Green Book)
Adam Driver (Infiltrado na Klan)
Sam Elliott (Nasce uma Estrela)
Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?)
Sam Rockwell (Vice)

  • Melhor Direção
Spike Lee
Pawel Pawlikowski
Yorgos Lanthimos
Alfonso Cuarón
Adam McKay

  • Melhor Roteiro Original
The Favourite
First Reformed
Green Book: O Guia
Roma
Vice

  • Melhor Roteiro Adaptado
The Ballad of Buster Scruggs
BlacKkKlansman
Can You Ever Forgive Me?
If Beale Street Could Talk
A Star is Born

  • Melhor Figurino
The Ballad of Buster Scruggs
Pantera Negra
A Favorita
O Retorno de Mary Poppins
Duas Rainhas

  • Melhor Cabelo
Border
Mary Queen of Scots
Vice

  • Melhor Direção de Arte/Design de Produção
Black Panther
The Favourite
First Man
Mary Poppins Returns
Roma

  • Melhor Trilha Sonora
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Se a Rua Beale Falasse
Ilha de Cachorros
O Retorno de Mary Poppins

  • Melhor Canção Original
All the Stars – Black Panther
I’ll Fight – RBG
The Place Where Lost Things Go – Mary Poppins Returns
Shallow – A Star is Born
When A Cowboy Trades His Spurs For Wings – Ballad of Buster Scruggs

  • Melhor Fotografia
Cold War
The Favourite
Never Look Away
Roma
A Star is Born

  • Melhor Edição
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Vice

  • Melhor Edição de Som
Pantera Negra
Bohemian Rhapsody
O Primeiro Homem
Um Lugar Silencioso
Roma

  • Melhor Mixagem de Som
Pantera Negra
Bohemian Rhapsody
O Primeiro Homem
Roma
Nasce Uma Estrela

  • Melhores Efeitos Visuais
Avengers: Infinity War
Christopher Robin
First Man
Ready Player One
Solo: A Star Wars Story

  • Melhor Documentário
Free Solo
Hale County This Morning, This Evening
Minding the Gap
Of Fathers and Sons
RBG

  • Melhor Animação
Os Incríveis 2
Ilha de Cachorros
Mirai
Wifi Ralph
Homem-Aranha no Aranhaverso

  • Melhor Filme Estrangeiro
Capernaum
Cold War
Never Look Away
Roma
Shoplifters

  • Melhor Curta Metragem – Animação
Animal Behavior
Bao
Late Afternoon
One Small Step
Weekends

  • Melhor Curta Metragem – Documentário
Black Sheep
End Game
Lifeboat
A Night at the Garden
Period. End of Sentence.

  • Melhor Curta Metragem – Live-Action
Detainment
Fauve
Marguerite
Mother
Skin

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

“Bohemian Rhapsody”, de Bryan Singer (2018)


Quem me conhece um pouco sabe que nunca gostei muito de Queen. O som da banda sempre me soou um tanto espetaculoso, exagerado, o que viria, inclusive, a influenciar aquela leva insuportável de bandas heavy poser dos anos 80. Embora não discuta as qualidades de Freddie Mercury e de toda a banda, Queen às vezes parece usar uma usina para acender uma lâmpada. A música “Bohemian Rhapsody” – “pomposa”, conforme parte da crítica na época a classificou – me é o melhor exemplo disso. Ora, para fundir música clássica com rock não precisa emular Caruso! Fora que não é nenhuma novidade essa fusão: Beatles, Velvet Underground, Pink Floyd, Frank Zappa e, pasmem, a própria Queen estão aí para provar que tal combinação de estilos ocorre naturalmente no processo de composição, sem forçar a barra.
Dito isso, prometo não dizer mais nada negativo sobre o Queen até o final desta resenha. Até porque a proposta é falar do filme-biografia “Bohemian Rhapsody”, de Bryan Singer (2018), sucesso de bilheteria em todo o mundo que assisti em sessão especial para convidados no GNC Cinemas do Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre. E não à toa. Equilibrando um roteiro cuidadoso, direção criativa e atuações brilhantes, o longa é certamente uma das melhores biografias de astros de rock já feitas no cinema. À altura do que o mito de Freddie Mercury & Cia. merecem. Além, claro, da trilha sonora, que pontua a trajetória do grupo britânico no decorrer de sua discografia e sabe tirar o melhor proveito de emblemáticas canções da banda, como “Love of My Life”, “Radio Gaga”, ”Hammer To Fall” e, principalmente, da que dá título ao filme. Esta, em especial, é explorada em diferentes lances narrativos, seja em apresentação ao vivo, seja na cena da rescisão da banda com a gravadora EMI pelo impasse que a mesma motivou ou, principalmente, no seu revelador processo de composição e gravação para o clássico disco “A Night at the Opera”, de 1975.
Uso o termo “equilíbrio” para o roteiro pois, afora as críticas a algumas imprecisões factuais, além de fazer o registro biográfico do grupo – focalizando, principalmente, Freddie –, a narrativa escrita por Anthony McCarten busca trazer todos os principais momentos da Queen. Ao mesmo tempo, não se exime de tocar em temas delicados, como o homossexualidade do front band, suas atitudes arrogantes e a conturbada relação com o pai. Porém, faz com um tom de respeito que lineariza os acontecimentos. A tal festa barra-pesada que promovera em sua mansão regada a drogas e sexo ganha uma sequência no filme, porém sem apelar para a polêmica desnecessária, uma vez que a polêmica em si, a quebra de paradigmas que a figura de Freddie representou (afronta ao sistema, comportamento rebelde, causa LGBT, preconceito com imigrantes), já está contemplada.

A banda no estúdio gravando a clássica "Bohemian Rhapsody"
Para um fã de rock como eu, achei muito interessantes as cenas que mostram o grupo em estúdio e em processo de criação. É quando dá pra ver que, de fato, Freddie era um líder, não só em termos de representatividade, mas na concepção de arranjos e produção, mesmo com a batuta do guitarrista Brian May ao lado. Isso fica claro quando, por iniciativa dele, fazem uma vaquinha e vendem e van que tinham para financiar o primeiro disco, de 1970, o qual gravam durante uma madrugada no contraturno do funcionamento do estúdio para que saísse menos oneroso. Ou quando ele toma a frente das ações na fazenda em que se recolhem para conceber “A Night...”. Singer mostra-se um fã ponderado e que sabe admirar seus ídolos, desvendando tais meandros pouco conhecidos da maioria do público e que só dão a dimensão do encontro mágico que foi o dos integrantes da Queen nas quase três décadas que trilharam juntos.
A incrível sequência do Live Aid: show real dentro do filme
Afora isso, o diretor, provável candidato a Oscar nessa categoria, é muito feliz ao usar a favor da narrativa os vários momentos históricos que a Queen promoveu ao longo da carreira, como a primeira turnê nos Estados Unidos, o show no Rock ‘n’ Rio (o maior de todos os tempos em público) ou a gravação do censurado videoclipe de “I Want Brek Free”, culminando na catártica apresentação no Live Aid, em 1985, quando Freddie, já sabendo que contraíra HIV, motivou-se pela causa humanitária para voltar aos palcos e fazer um show emblemático.
Sequência esta, aliás, que merece um comentário à parte. Nunca tinha visto uma apresentação de palco tão bem reproduzida em cinema, tanto na atuação dos atores/músicos quanto da reação da plateia/figurantes. A vibração que a cena causa é comovente. Parece que se está dentro do show, talvez até mais do que na época do festival, quando as condições de transmissão não eram tão boas quanto o que a tecnologia hoje oferece para a recriação das cenas – com direito a, inclusive, efeitos especiais e lente teleobjetiva supermoderna. O próprio estádio de Wembley, refeito em 2003, aparece em seu formato original graças à competente direção de arte. E mais legal ainda: praticamente se reproduzem os 20 minutos originais da apresentação, dando ainda mais veracidade à trama. Um dos detalhes de grande responsabilidade nisso é o desenho de som – que merece um daqueles Oscar técnicos que ninguém entende a nomenclatura –, cuja captação se “adapta” a onde a câmera/espectador está, ou seja, soa mais destacado quando mais perto do público, de um instrumento ou do gogó de Freddie, por exemplo.
Rami Malek: interpretação digna de Oscar
Por último, destaco o outro trunfo de “Bohemian...”, que são as atuações. A começar por Gwilym Lee e Ben Hardy fazendo muito bem May e o baterista Roger Taylor, respectivamente. Mas, principalmente, Rami Malek na pele de Freddie Mercury. Daqueles papéis “espíritas”, que parece ser fruto de uma transformação. E é. Dificilmente esse Oscar não vá para ele tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela sabida disposição da Academia de premiar este tipo de interpretação.
“Você é um mito, Freddie”, dizem os companheiros de banda ao vocalista em certo momento. Ele, sem falsa humildade, concorda. O mesmo que eu faço agora humildemente. Queen é uma banda mitológica para a música pop inegavelmente. Goste-se do que eles produziram ou não. E isso o filme encerra com muita propriedade, humanizando os ídolos mas dando-lhes a devida dimensão. Ver a emoção dos espectadores fãs do grupo é tão comovente, que chegou a me dar certa inveja de não estar sabendo aproveitar o filme tanto quanto eles. Talvez esteja, sim, passando a admirar mais o Queen, e devo isso ao empolgante “Bohemian Rhapsody”.

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tralier de "Bohemina Rhapsody"


Daniel Rodrigues