Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Sônia Braga. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sônia Braga. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

"A Primeira Profecia", de Arkasha Stevenson (2024)

 


"A Primeira Profecia" é um "Imaculada" só que com a mácula. Muito semelhante ao recente bom filme também protagonizado por uma freira, só que neste, da diretora Arkasha Stevenson, o mal realmente está lá.

Na ânsia da referência, da homenagem ou da identidade, muitas cenas são praticamente 'copiadas' do "A Profecia"  de 1976, como a barra caindo na cabeça do padre (empalamento), a garota se jogando do telhado (só que desta vez em chamas), o cara sendo partido ao meio (só que aqui sem o vidro), tudo de modo a estabelecer o laço e refrescar a memória do espectador que tem o filme original como referência. 

"A Primeira Profecia", na verdade, é uma prequela do clássico "A Profecia", do de Richard Donner, e como tal, dá sentido, motivos e explicações para fatos que aparecerão no futuro, no caso, coisas que já conhecemos do clássico de 1976. Nele, uma jovem norte-americana que é enviada a Itália para prestar seus serviços religiosos num convento em Roma. Lá se depara com fatos estranhos, acontecimentos obscuros e atitudes misteriosas das pessoas da ordem religiosa e de outros à sua volta. Coisas que a fazem questionar sua fé e suspeitar que talvez faça parte de uma macabra trama que espera pretende trazer ao mundo a personificação do mal, o verdadeiro anticristo.

Apuro estético, ótimo trabalho fotográfico, referências cinematográficas diversas e uma coerente e bem montada amarração que encaminha para a adoção do menino demônio que virá a ser o protagonista d'A Profecia". O resto nós já sabemos como acontece.

Destaque para Sônia Braga como a sinistra Madre Superiora

"A Primeira Profecia"
Título Original: "The First Omen"
Direção: Arkasha Stevenson
Gênero: Terror
Duração: 117 min.
Ano: 2024
País: EUA
Onde encontrar: Disney+

🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬


Cly Reis

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

"Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (2019)



Sei que praticamente tudo já foi dito sobre "Bacurau", mas queria registrar aqui, como amante do cinema, uma enorme satisfação em ver, de novo, um filme brasileiro figurando com destaque, sendo reconhecido e premiado em festivais internacionais, especialmente em Cannes onde o Brasil já brilhara em outras oportunidades com obras de arte como "O Cangaceiro", que em 1953 levava o  prêmio de melhor filme de aventura, com "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", que rendeu o prêmio de direção a Glauber Rocha, em 1969, e "O Pagador de Promessas" que desbancou, entre outros, "O Anjo Exterminador", de Buñuel, para ficar com a Palma de Ouro em 1962, voltando à evidência agora com um filme tão oportuno e relevante, e que resgata com dignidade diversos elementos da tradição cinematográfica brasileira.
"Bacurau" é uma resposta em forma de arte aos ataques, restrições, limitações, cortes que a cultura brasileira  vem sofrendo desde a vigência do atual governo e, como se não  bastasse o "desaforo", a afronta, para não cair no vazio ou na desimportância, ainda ganha os holofotes do mundo e não passa despercebida. Meio faroeste, meio drama, meio suspense, meio policial, e até meio terror, o filme dos pernambucanos Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho é construído pacientemente inserindo aos poucos elementos que vão nos elucidando a verdadeira trama, contando para isso com uma excelente  fotografia, uma trilha sonora precisa e atuações impecáveis, com destaque para o atemorizante Lunga, vivido por Silvero Pereira e para a brilhante Sônia Braga, como a médica alcoólatra Domingas.
"Bacurau" é um posicionamento diante da postura entreguista e lambe cu do atual governo brasileiro perante os norte-americanos, um grito de resistência, um brado retumbante. Uma declaração: nós não vamos nos entregar facilmente.
Em "Bacurau", a população do minúsculo povoado que dá nome ao filme e que, assim, do nada, some do mapa, se vê ameaçada diante da atuação de estrangeiros que vão à região com a intenção de caçar os cidadãos do lugar, por mero esporte, entretenimento, com a anuência do prefeito local, simplesmente porque quem vive ali, para eles não faz a menor diferença no mundo e sequer é gente. Mas no fundo a coisa não é tão simples assim, pois, como podemos observar no filme, a região que já fora um rico pólo aquífero, inclusive sediando uma barragem,  naqueles dias vive uma deplorável crise de abastecimento de água. Triste "semelhança" com um país que se submete a capacho, entregando suas riquezas de mão  beijada para os gringos por sua eterna síndrome de vira-lata e também, na verdade, por outros tantos interesses escusos.
"Bacurau" é Glauber, é Lima Barreto, é Nelson Pereira, Anselmo Duarte, Guimarães Rosa, é Portinari, é Lampião, é Canudos... "Bacurau" resgata o que o brasileiro realmente tem de melhor em arte e o que tem de mais forte em atitude. Se seu final sombrio, diante da revelação de que aquilo tudo é só o começo, nos faz vislumbrar tempos penosos, por outro lado nos estimula a buscar lá no fundo o espírito de luta e coragem que sempre guiou essa gente e, de certa forma, nos encorajam a afirmar, diante da ameaça do inimigo: "Podem vir. Estaremos prontos".
A comunidade reage. "Aqui, não!"
(muito Glauber essa cena)





por Cly Reis