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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #295

 

Teve gente que viu no gol de Richarlison fórmula matemática, o "X" do Hexa e até o "L" do Lula. No MDC a gente enxerga uma oportunidade de abordar aquilo que a gente gosta, seja música ou futebol. No programa de hoje vamos ter golaços de Grant Green, Morcheeba, Marina, Imperatriz Leopoldinense e mais. Tem ainda um Sete-List com tabelinhas do saudoso Tremendão Erasmo Carlos. Sem impedimento, o programa hoje vai ao ar na futebolística Rádio Elétrica. Produção, apresentação e bola no pé: Daniel Rodrigues 


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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Música da Cabeça - Programa #294

 

Gigante gentil, amigo de fé, Tremendão, Billie Dinamite, irmão camarada. Todos os adjetivos para a gente celebrar no MDC Erasmo Carlos, que o Brasil perdeu esta semana. Mas o programa também terá David Bowie, Sugarcubes, Rita Lee, Mundo Livre S/A e mais, além de um Cabeça dos Outros invocando a Pink Floyd. È hoje aqui na papo-firme Rádio Elétrica. Produção, apresentação e iê-iè-iê: Daniel Rodrigues


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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Paulinho da Viola - “Prisma Luminoso” (1983)



 

“Paulinho na verdade é uma ponte, não uma ruptura. É um craque (vascaíno) de ligação entre a tradição e o novo, o lado de lá e o de cá, o samba de morro e o do asfalto, as raízes e as antenas. Paulinho criou suas influências e seus precursores. Sua obra modificou nossa concepção do que se fez antes em matéria de samba.” 
Zuenir Ventura


Paulinho da Viola tem uma relação com o tempo distinta de todo o resto da humanidade. Primeiro, porque é evidente que ele não pertence a uma mera sucessão de instantes que se passam um depois do outro. Seria muito reducionista em se tratando de Paulo César Batista de Faria que, dizem, está completando 80 anos de vida. Mas duvide-se um pouco disso. Ele mesmo admite que é um ser do século 19 nascido quase que por engano no século 20. Engano, no entanto, não é. Se sua existência não responde à cronologia dos mortais, sua vinda ao mundo significa algo muito representativo. Este “dândi do morro” é, sob nenhuma suspeita, o grande modernizador do ritmo mais brasileiro de todos os tempos (e um dos mais latinos também): o samba. Irokô, orixá do tempo, sabe das coisas: não teria seu filho emprestado vindo com sua classe, originalidade e elegância se não fosse para decretar que o novo samba lhe pertence. Nele, a estética e a sofisticação da classe média da zona sul do Rio de Janeiro dos anos 50 e 60 se encontraram com a vibração dos subúrbios cariocas, resultando numa nova forma que atravessa o tempo sem alterar sua essência e abraçando a modernidade.

A carreira de Paulinho, marcada pela observância acurada da música de Cartola, Zé Ketti, Dª Ivone Lara e Nelson Cavaquinho, iniciou ao lado dos bambas do passado e do presente no conjunto Rosa de Ouro, e 1965. Mas a música está desde sempre na sua vida. Vem de casa, das rodas de choro em Botafogo promovidas pelo pai, o violonista César Faria, onde recebia de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis sob os olhos do pequeno Paulo. Depois, nos pagodes e feijoadas na quadra da Portela, sua Escola, onde aprendeu com os gênios anônimos Manacéa, Ventura, Paulo da Portela, Santana, Monarco, Carlos Cachaça, Candeia. Fora isso, na juventude, o convívio de perto com os mestres no Zicartola, de Nelson Sargento a Clementina de Jesus, passando por Elton Medeiros, Hermínio Bello de Carvalho, Ciro Monteiro e outros, que deram combustível ao coração sensível e à mente altamente inteligente de Paulinho. Eis, então, um autor original e intimista, que consegue juntar a tradição do samba, a voz do morro e a modernidade aludida pela bossa nova.

Dono de uma obra de apenas 21 álbuns solo em quase 60 anos de carreira, sendo alguns ao vivo ou de regravações, Paulinho tem um cancioneiro diminuto. Sabiamente descompassado do restante do mercado fonográfico, desde 1996 não lança um trabalho de estúdio novo. Isso tudo obriga o ouvinte a, diante de sua obra, ser tão contemplativo quanto suas letras sugerem, fazendo com que cada disco seu seja um verdadeiro tesouro artesanal onde guardam-se preciosidades como choros, toadas, sambas-enredo, partidos-altos e mais e mais brasilidades. Tudo encapsulado por um estilo marcadamente sofisticado e por uma poética que remete ao parnasianismo, ao simbolismo, ao romantismo e às vezes à poesia moderna (a se ver pela ousada “Sinal Fechado”, de 1971). Por isso, escolher “Prisma Luminoso” para representar sua discografia é tarefa fácil. Nele se encontra toda esta conjunção de qualidades amalgamadas a um estilo tomado de originalidade e fineza.

Quase como um lema, “O Tempo não Apagou” começa um dos discos preferidos do próprio Paulinho em ritmo de batucada, a qual encerra com uma batida única que não se encontra mais em lugar nenhum, nem mesmo nas escolas de samba há bastante desviadas do som dos blocos carnavalescos de antigamente. Logo depois, de arranjo impecável de Cristóvão Bastos, o samba romântico “Retiro” apontaria o caminho em timbrística e clima para a retomada da carreira de Emílio Santiago alguns anos dali nas “Aquarelas Brasileiras”. Já “Cadê a Razão”, João Bosco, Djavan e Gilberto Gil na veia (não à toa dedicada aos três, aliás) traz uma saborosa mistura de samba-de-breque com funk. Na medida certa, sem pesar a mão, bem ao estilo do seu autor. 

Outra joia do disco é “Mas Quem Disse que Eu te Esqueço”, de autoria de Dª Ivone em parceria com Hermínio. Certamente uma das mais belas melodias e letras do samba de todos os tempos: “Tristeza rolou dos meus olhos/ De um jeito que eu não queria/ E manchou meu coração/ Que tamanha covardia”. Ainda mais quando cantada pela voz principesca de Paulinho! O samba triste “Mais que a Lei da Gravidade” tem no piano de Cristóvão a cama perfeita para a parceria com Capinan, com quem Paulinho também divide a autoria da faixa-título, um clássico samba de breque com astral pra cima, amoroso e sensível. Nela, se vê claramente a poética de Paulinho, que faz alusão às metáforas com os elementos naturais e suas simbologias, como o mar, o vento, o olhar, o sal e o cristal. Elementos da passagem do tempo.

A ótima “Documento”, de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro, abre a segunda parte do disco, que tem na sequência outra coautoria de Paulinho, esta com o antigo parceiro Elton: “Quem Sabe”. Com um distinto riff puxado no cavaquinho, faz jus ao legado de Cartola a que tanto os dois dignificam. “Quem sabe/ Retomando a velha estrada/ Eu encontro em outros braços/ Aquela ternura que um dia perdi/ Dentro dos olhos teus”. A modernidade de Cartola, aliás, a qual Paulinho tanto exalta, é novamente reverenciada na versão de “Não Posso Viver sem Ela”, música de 1942 gravada originalmente por Ataulfo Alves e pelo seu autor em 1976. Para encerrar, o impecável “Prisma...” traz ainda a bela “Cisma”, a onírica “Só Ilusão” e a sertaneja “Toada”, mostrando a maturidade de um artista que se experimenta em vários gêneros.

Acontecimentos únicos como Paulinho da Viola revestem-se, no entanto, de certa normalidade. Veja-se só agora, com os 80 anos deste artista, celebrados país e mundo afora. Mas é só parar um pouco e observar o que está tácito: 80 anos, que nada! Paulinho tem 80 e mais, 80 e todos. 80 e tudo. Muita sabedoria, poesia, elegância, beleza para caber em meros anos somados uns anos outros. Ele pensa que engana quando canta os versos de Wilson Batista: “meu tempo é hoje”. Pura humildade: o tempo de Paulinho não é só hoje: é sempre. Paulinho é o tempo do infinito, o tempo dos mares que tanto lhe cabem na poesia. O tempo do vento, que lhe faz articular essa voz límpida e cheia de coração. O tempo do amor, sentimento sem tempo. Não é ele quem se navega: quem lhe navega é o mar.

Irokô definitivamente sabe das coisas.

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FAIXAS:
1. "O Tempo Não Apagou" - 3:18
2. "Retiro" - 2:50
3. "Cadê A Razão" - 3:08
4. "Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço" (Dona Ivone Lara, Hermínio Bello De Carvalho) - 3:20
5. "Mais Que A Lei Da Gravidade" Capinan, Paulinho Da Viola) - 3:25
6. "Prisma Luminoso" (Capinan, Paulinho Da Viola) - 3:09
7. "Documento (Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiro) - 3:05
8. "Quem Sabe" (Elton Medeiros, Paulinho Da Viola) - 3:05
9. "Cisma" - 3:05
10. "Não Posso Viver Sem Ela" (Bide, Cartola) - 2:48
11. "Só Ilusão" - 4:15
12. "Toada" - 1:50
Todas as composições de autoria de Paulinho da Viola, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Música da Cabeça - Programa #289

 

Mania essa de dizer que esse tipo de coisa é obra de alienígena! Isso é porque ainda não conhecem o poder revelador do MDC. Deixam seus sinais marcados no programa de hoje Seals & Crofts, Os Paralamas do Sucesso, Cartola, Big Star, Camisa de Vênus e outros, além de um Cabeção em comemoração aos 100 anos de nascimento do pioneiro da música de vanguarda no Brasil Gilberto Mendes. Desenhos musicais surgem nas plantações misteriosas da Rádio Elétrica hoje, às 21h. Produção, apresentação e agroglifos: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Música da Cabeça - Programa #281

 

Vocês acham que sabem o que tem dentro deste pote. Não tem nada coração de Dom Pedro I, não! São as relíquias que o MDC 281 vai trazer nesta quarta. Lotado de boa música, ali tem The Doors, Fundo de Quintal, Public Enemy, Duran Duran, Body Count, Lory F Band e mais. Ainda tem um espacinho pra um Cabeça dos Outros, esse sim, vindo de Portugal. Conservado em formol, o programa de hoje vai ao ar na imperial Rádio Elétrica. Produção, apresentação e coração batendo: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 6 de julho de 2022

Música da Cabeça - Programa #274

 

Sabe a CPI do MEC? Vai ficar pra depois das eleições. O que não fica para depois das eleições é o MDC, que hoje tem The Sugarcubes, Emílio Santiago, Sepultura, The Beach Boys, Eumir Deodato e mais. Ainda tem um Cabeção sobre o pianista e compositor de jazz Ahmad Jamal. Sem procrastinação, o programa vai ao ar às 21h na investigativa Rádio Elétrica. Produção, apresentação e comissão instalada: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 29 de junho de 2022

Música da Cabeça - Programa #273

 

Sentimos orgulho. E que orgulho de ver essas cores emoldurando o nosso homenageado do MDC de hoje! Na Semana do Orgulho LGBTQIA+, além de celebrar os 80 anos de Gilberto Gil em letras, quadros e músicas, teremos também Towa Tei, Lee Morgan, Tom Zé, Gil Scott-Heron e mais. Aproveitando a vazante da infomaré, o programa parte direto de Bonsucesso às 21h na baiana e imortal Rádio Elétrica. Produção, apresentação e alma cheirando a talco: Daniel Rodrigues

#orgulholgbtqia
#SomosDiversos
#lgbtqiamais
#respeitoasdiferenças

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Música da Cabeça - Programa #271

 

Prontos para o feriado? Segura aí, porque tem MDC pra ouvir ainda! Começando o seu fim de semana prolongado, o programa desta quarta traz David Byrne, Elis Regina, Stephen Stills, Titãs, Banda Black Rio, Marina e mais. No quadro móvel, Cabeça dos Outros com música de Jonathan Silva. A gente pega a estrada às 21h na folgante Rádio Elétrica. Produção, apresentação e malas prontas: Daniel Rodrigues.

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quarta-feira, 4 de maio de 2022

Música da Cabeça - Programa #265

 

Semana passada souberam quem ganhou o BBB, mas aqui isso não interessa nem um pouquinho, mas sim, quem ganhou a nossa promoção dos 5 anos do MDC! No programa de hoje vamos revelar quem foram os sortudos que irão levar uma camiseta personalizada feita pela loja Regentag com a estampa de sua escolha! Mas tem aquilo de sempre também: músicas, com Guilherme Arantes, Young Marble Giants, Lucas Arruda, Ataulfo Alves e mais. Sem eliminação e nem paredão, o MDC 265 é às 21h, na sortuda Rádio Elétrica. Produção, apresentação e roleta da sorte: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Música da Cabeça - Programa #264

O MDC 264 é o último de abril, mês do aniversário de 5 anos do programa. O que não está terminando, porém, é a nossa promoção. Sim! Vamos prorrogar até o dia 2/5 para quem quiser concorrer às 3 camisetas personalizadas da Regentag na #promo5anosmdc. Confere nas nossas redes do Instagram e Facebook e participa. Além disso, o programa hoje vai ter música, notícia uma entrevista rodada em julho de 2020 na nossa retrospectiva. Então, não desgruda da Rádio Elétrica hoje, às 21h, que vai estar legal como sempre. A produção e a apresentação são de Daniel Rodrigues (quem sabe, não rola até um pedaço desse bolinho aí...)



 

quarta-feira, 9 de março de 2022

Música da Cabeça - Programa 257

 

Não é por acaso que a palavra "música" é feminina. Na semana que se comemora com beleza e consciência o Dia Internacional da Mulher, o MDC traz algumas delas para formar o programa 257. Vai ter Juçara Marçal (Metá Metá), Ana Terra (com Danilo Caymmi) e uma homenagem aos 80 anos de uma das lendas vivas do jazz mundial, a carioca Flora Purim. Além disso, os quadros fixos e móvel. Não perde: 21h, na feminíssima Rádio Elétrica. Produção e apresentação dela: Daniel Rodrigues

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quarta-feira, 2 de março de 2022

Música da Cabeça - Programa #256

 

Sem Carnaval pra pular, né, minha filha? Pois o MDC também aproveita esta Quarta-feira de Cinzas pra dar uma desacelerada, só que aqui a gente descansa de fantasia e tudo. Hoje vamos recuperar momentos de nossos programas anteriores já começando os festejos pelos 5 anos do MDC, que se completam em abril. Não vai faltar música boa e nem divertimento. É 21h, na foliã Rádio Elétrica. Produção, apresentação e pausa (porque ninguém é de ferro): Daniel Rodrigues.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Música da Cabeça - Programa #255

 

22.02.2022? Mais raro ainda será o MDC de hoje! Afinal, só coisa legal, independentemente da ordem. Tom Zé, PJ Harvey, Yvonne Elliman, Stevie Wonder e Yoko Ono nos garantem isso. Ainda mais quando a gente tem "Cabeça dos Outros" e os quadros fixos "Palavra, Lê" e "Música de Fato". De frente pra trás, de trás pra frente, não importa: o programa vai ao ar mesmo é às 21h, na palíndroma Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Rodrigues Daniel (ou Daniel Rodrigues, tanto faz)


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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Música da Cabeça - Programa #253

 

Apologia ao nazismo? Não aqui! Aqui é respeito e, claro, música boa, como as de Bob Dylan, Paulinho da Viola, Mutantes, Ministry, Sade e outros ilustres. Ilustre também é o nosso homenageado John Williams, que nos motiva a mais um quadro Cabeção. Quer flow de verdade? Escuta o MDC hoje, 21h, na humanista Rádio Elétrica. Produção, apresentação e direito de tentar não ser idiota: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Música da Cabeça - Programa #251

 

Ela cumpriu a promessa de cantar até o fim. Prosseguindo com seu canto, o MDC de hoje faz homenagem à deusamulher rodando não somente ela, como também The Beatles, Simple Minds, Criolo, Luiz Melodia e +. Ainda temos Legião Urbana no "Cabeça dos Outros" e aniversariante no "Palavra, Lê". Duro na queda, o programa das 21h desta quarta vai estar igual Elza Soares: pra fuder! Isso na Rádio Elétrica, nosso lugar de fala. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.


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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Música da Cabeça - Programa #248

 

Tá todo mundo falando do filme do meteoro? Depois de hoje, o assunto do momento vai ser o MDC, o primeiro do ano. Também, olha só quanta coisa legal: BaianaSystem, Talking Heads, REM, Argemiro da Portela, U2 e mais. No quadro especial, ainda, um Cabeça dos Outros com a Outros Nós. Faz o seguinte: antes de olhar para cima, confere o programa de hoje, às 21h, na comentada Rádio Elétrica. Produção, apresentação e pano pra manga: Daniel Rodrigues

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Monarco - "Terreiro" - Participação da Velha Guarda da Portela (1980)

 

“Compadre Monarco, se não confeitarem tua voz com clarinadas, violinadas e gastas dissonâncias violonísticas, o pessoal vai sentir o que é samba.” 
Juarez Barroso, escritor, poeta e produtor musical

“Monarco foi mais do que um grande sambista: trata-se de um grande brasileiro.” 
Sérgio Cabral, crítico e escritor

Posso dizer que estive muito próximo de Monarco desde bastante tempo. Certamente não tanto quanto os amigos, parceiros, moradores da comunidade de Madureira ou Oswaldo Cruz, dos portelenses que tinham o privilégio de conviver com ele. Mas meu contato com o mestre, que nos deixou no último dezembro, certamente foi muito maior do que para com muitos artistas que admiro mas que, como acontece na maioria dos casos, uma admiração somente à distância. Por isso, arrisco em afirmar que estive, pelo menos três vezes, quando não a metros, por um fio de distância de Monarco. Tão próximo que seria possível ouvir-lhe, como um bumbo de samba, a batida do coração.

Primeira vez que o vi presencialmente foi em 2014 quando este, juntamente com a Velha Guarda da Portela, presenteou Porto Alegre em uma apresentação ao vivo – e de graça – em pleno parque da Redenção para a celebração dos 80 da UFRGS. Já havia ficado um tanto frustrado em 2010 quando, com minha mãe, fui á quadra do bloco Cordão da Bola Preta, no Rio de Janeiro, para uma feijoada em que tocaria a Velha Guarda da Portela, mas ele foi um dos ausentes. Na Redenção, no entanto, a alegria foi completa. Que momento histórico aquele! Lembro que foi uma sexta-feira, em que Leocádia e eu saímos de nossos compromissos e rumamos direto para o local do show, próximo ao espelho d’água. Com seu barítono em dia, mesmo com os mesmos 80 anos da universidade que o convidara, o baluarte, acompanhado das pastoras e de uma competente banda, fez sua escola do coração tomar conta do parque com sambas clássicos de sua autoria e de outros bambas como ele tanto da Portela quanto de outras agremiações.

Aliás, abrindo um parêntese aqui: igual a ele, talvez não tenha existido. Hildemar Diniz cruzou praticamente todos os momentos importantes nos últimos 70 anos do samba carioca e da Portela, agremiação da qual tinha apenas 10 anos menos. Monarco conviveu e cambiou com os principais nomes da sua comunidade e do samba carioca: Paulo da Portela, Silas de Oliveira, Candeia, Natal, Cartola, Manacéia, Nelson Sargento, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Tia Vicentina, Dona Ivone Lara, Casquinha, Áurea Maria, Surica entre tantos outros. Uma simbiose que muitos não tiveram talento, nem perseverança e nem tempo de vida para tanto. Presidente de Hora da escola, Monarco tinha mais do que somente um título honorário mas sem propósito prático. Era quase como um cacique, um pai de santo, um líder religioso, uma majestade cujo respeito foi conquistado durante a vida e a quem todos recorriam para pedir-lhe a benção. A autoridade de um monarca do samba. 

Mas voltando às minhas vezes com Monarco, a segunda em que o vi bem de perto foi dois anos depois do show em Porto Alegre numa apresentação no CCBB do Rio de Janeiro celebrando os 100 anos do samba, quando, além de Leocádia, ainda tive o prazer da companhia de minha mãe, que, sempre antenada na programação cultural carioca, nos levou àquele deleitoso momento que contava também com a participação de Nei Lopes. O velho mas lúcido Monarco, então com apenas 18 anos menos que o próprio samba, não só cantou como contou histórias, o que fazia com maestria tanto quanto seus sambas, verdadeiras crônicas cotidianas.

Da discografia de Monarco, no entanto, “Terreiro”, seu segundo dos sete solo, de 1980, é talvez o mais especial. Com os companheiros de Velha Guarda, mas também outros craques como Mestre Marçal, Valdir 7 Cordas e o filho e parceiro Mauro Diniz, o disco desfila em azul e branco sambas de todas as épocas invariavelmente com a maestria de sua interpretação. Nas composições, as elegantes melodias de nuanças eruditas se juntam às letras que namoram com a melhor poesia parnasiana de um “sambista-historiador”, como definiu Sérgio Cabral. Dos temas do próprio Monarco tem “Homenagem À Velha Guarda” (“Vi os sambistas de fato/ Manacéia e Lonato e outros mais/ Juro que fiquei boquiaberto/ Nunca me senti tão perto/ Da Portela dos tempos atrás”), “Você Pensa Que Eu Me Apaixonei” (com Alcides), “Proposta Amorosa” e a clássica “Passado de Glória” (“A Mangueira de Cartola, velhos tempos do apogeu/ O Estácio de Ismael, dizendo que o samba era seu/ Em Oswaldo Cruz, bem perto de Madureira/ Todos só falavam Paulo Benjamin de Oliveira”), daquelas que não podem faltar em qualquer apresentação da Velha Guarda.

No disco tem também espaço para outras escolas que não só a Portela: “Silenciar a Mangueira”, numa interpretação inédita do amigo Cartola que morreria naquele mesmo ano, e “Estácio de Sá Glória do Samba”, em que Monarco, como era de sua natureza, deixa o clubismo de lado e homenageia uma das comunidades fundadoras do carnaval carioca. Prevalecem, no entanto, as composições de portelenses como ele. A linda “Chuva” (Hortêncio Rocha), a lírica “Conselho de Vadio” (Alvarenga) e a ufanista “Feliz Eu Vivo no Morro” (Josias/Pernambuco/Chatim). Tão bom quanto, o pot-pourri “Temporal” (Tia Doca), “Mulher Vai Procurar Teu Dono” (Rufino), “Caco Velho” (Caetano), e “Serei Teu Ioiô” (Paulo da Portela/Monarco) é uma mostra mais do que perfeita da grandiosidade poética e melódica da turma de Madureira.

Fora isso, as audições, tantas e tantas. “Tudo Azul”, da Velha Guarda da Portela, de 1999, furei de tanto ouvir. E quantos sambas, quantas joias da nossa cultura! “Lenço”, “O Quitandeiro”, “Coração em Desalinho”, "Obrigado pelas Flores", “Portela Desde Que Eu Nasci”, “Ingratidão”, “Agora é Tarde”, “De Paulo a Paulinho”, “Pobre Passarinho”... Ah, tanta beleza, que se for falar mais de Monarco, hoje eu não vou terminar.

Ah, mas faltou falar da terceira ocasião em que me vi junto a Monarco. Pois bem: embora mais longe fisicamente, foi a vez em que, curiosamente, tive-lhe mais perto. No início de 2019, minha irmã Kaká Reis, produtora cultural, trabalhava com o velho bamba e, por ideia de meu outro irmão e coeditor do blog, Cly Reis, arranjou-me para meu programa Música da Cabeça, na Rádio Elétrica, uma entrevista com Monarco, com quem ela estaria em São Paulo para um show. Kaká não apenas viabilizou a conversa e a gravação como mediou a entrevista a partir das questões que cuidadosamente elaborei. No camarim, horas antes de subir ao palco, Monarco, com toda sua simpatia e sabedoria, prestou-lhe(me) uma entrevista deliciosa, que marcou a centésima edição do meu programa. A se considerar que irmãos são nós mesmos em outro corpo, posso dizer que estive, sim, com Monarco. Bem próximo, a seu lado, falando com ele. A centímetros do coração. E ele – como sempre fez através de sua obra grandiosa – falando comigo.

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Monarco
(1933-2021)



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FAIXAS:
1. "Homenagem À Velha Guarda" (Monarco)
2.a. "Temporal" (Tia Doca)
2.b. "Mulher, Vai Procurar Teu Dono" (Rufino)
2.c. "Caco Velho" (Antonio Caitano)
2.d. "Serei Teu Ioiô" (Paulo da Portela/Monarco)
3. "Sofres Por Querer Liberdade" (Mijinha/Monarco)
4. "Estácio De Sá, Glória Do Samba (Monarco)
5. "Conselho De Vadio" (Alvarenga)
6. "Feliz Eu Vivo No Morro" (Chatim/Josias/Pernambuco)
7. "Silenciar A Mangueira" (Cartola) - Participação: Argemiro
8. "Você Pensa Que Eu Me Apaixonei" (Alcides Lopes/Monarco)
9. "Chuva" (Hortênsio Rocha)
10. "Proposta Amorosa" (Monarco)
11; "Falsa Recompensa" (Mijinha/Monarco)
12. "Passado De Glória" (Monarco)

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OUÇA O DISCO:
Monarco - "Terreiro"

Daniel Rodrigues

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Música da Cabeça - Programa #245

 

Foi ele mesmo quem disse: "pega esse lenço e não chora, enxugue o pranto, diga adeus e vá embora". Se Monarco nos deixou esta semana, só nos cabe, então, secar as lágrimas e dar um adeus caloroso ao mestre portelense. Vamos reprisar a entrevista que fizemos com Monarco, rodada no MDC nº 100, em março de 2019, e se deliciar novamente com a conversa que tivemos com este eterno baluarte do samba. Vai ter também os sons que nos acompanharam na semana e os quadros de sempre. De azul e branco, o programa vai ao ar hoje, às 21h, na bamba Rádio Elétrica. Produção, apresentação e coração em desalinho: Daniel Rodrigues



RÁDIO ELÉTRICA
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