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domingo, 28 de julho de 2024

20 filmes... daonde mesmo? - Filmes de países com pouca (ou nenhuma) tradição no cinema mundial

 





E começaram as Olimpíadas!!!
Sabe quando começam a passar aquelas delegações na cerimônia de abertura e a gente estranha cada país que nem fazia ideia que existisse, ou, em alguma competição qualquer a gente pensa, "nem sabia que se praticava esse esporte num lugar desses..."? Pois é. Em cinema às vezes acontece algo parecido. Acostumados com o cinema norte-americano e mais uns três ou quatro núcleos cinematográficos tradicionais como França, Itália, Alemanha talvez... uma Suécia vá lá, um Japão por causa do Kurosawa e dos filmes de terror refilmados em Hollywood, Espanha pelo Almodóvar, mexicanos e sul-coreanos que estamos acostumando agora, argentinos cada vez mais consolidados e tal, mas, de um modo geral, até pelo bombardeio midiático, pelo apelo comercial ainda é estranho ver produções de lugares como África, América Central ou Leste Europeu.
Eis que, hoje, depois da entrada das delegações na Olimpíada do ClyBlog, o Claquete destacará filmes de alguns desses lugares que nem sempre têm potencial para ganhar uma medalha de ouro, mas que, podem crer, não fazem feio diante das potências cinematográficas, sendo inclusive, muitas vezes inspiração para muitos remakes na terra do Tio Sam.
Seguem abaixo 20 filmes daqueles lugares que a gente só lembra no dia da abertura das Olimpíadas. Alguns são bem desconhecidos, outros nem tanto, outros já gozam de um status de cult, alguns até premiados são, mas o que todos tem em comum é que são daqueles lugares que muita gente perguntaria, "mas se faz filme nesse lugar?". Se faz, sim. E coisa boa.

🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬


1. "A Felicidade das Pequenas Coisas", de Pawo Choyning Dorji (
🇧🇹Butão /2019): E lá se faz cinema no Butão??? Não só se faz cinema, como se faz um baita filme. Um jovem professor, cujo sonho verdadeiro é ser cantor e morar na Austrália, é designado pelo governo butanês a lecionar numa escola... no fim do mundo. No ponto mais alto do país, acesso dificílimo, depois do transporte rodoviário dias de caminhada montanha acima, sem telefone, sem internet, com poucos recursos, sem nada que o jovem Ugyen estava acostumado na capital. Contrariado, do início, Ugyen vai se apegando ao local, à pequeníssima população, aos costumes, às crianças e até a um yak, animal típico da região que, por vezes tem que ficar dentro da sala de aula e 'morar' na escola. Belíssimo filme indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2022.






2. "O Assobio do Mal", Gisberg Bermudez Molero (
🇻🇪Venezuela /2017): O longa, inspirado em tradições e lendas venezuelanas, traz a figura do Assobiador, um espírito que assobia antes de atacar, uma figura fantasmagórica que segundo se fala, aparece à noite e devora pessoas. Embora um pouco picotado na narrativa, parecendo uma colcha de retalhos, o filme não é mau. Tem até uma boa produção, boa direção de arte, fotografia adequada para a proposta e boas opções estéticas. E o melhor, para quem gosta de terror: consegue ser bem brutal em determinados momentos.







3. "A Green Fever", de Taiwo Egunjobi (
🇳🇬Nigéria /2023): Em um país sob estado de sítio, um arquiteto pede socorro em uma mansão isolada, de propriedade de militares, a fim de socorrer sua filha que ele alega sofrer de uma rara doença chamada Febre Verde. Lá, num clima de constante desconfiança e ameaça, o arquiteto depara-se com situações de corrupção e crueldade por parte dos militares. Mas existe a tal febre ou aquilo seria somente um pretexto para que um civil rebelde se infiltrasse dentro de um núcleo ditador? Filme com alguns problemas, algumas travas, elementos que poderiam ter uma condução melhor, mas não há como negar que mantém o espectador tenso do início ao fim.







4. "Cemitério Geral", de Dorián Fernadez-Moris (
🇵🇪Peru /2013): Invocação por tábua Ouija e tal, só que aqui, dentro de um cemitério e registrada em estilo documental por um dos integrantes da expedição sinistra. Meio tosco é verdade, mal iluminado em determinados momentos, amadorísticos às vezes... mas talvez, exatamente essa limitação torne "Cemitário Geral" mais assustador. A correria entre as vielas do cemitério é inquietante, as imagens em visão noturna, mesmo já tão batidas pelo uso excessivo em filmes do gênero, são aterrorizantes. Não se engane pensando, "ah, terror peruano...". Não caia nessa. É dos bons found-footage que existem por aí.








5. "Cafarnaum", de Nadine Labaki (
🇱🇧Líbano /2018): Filme pesado sobre a dura realidade de crianças no Líbano, seja nas relações familiares, no trabalho infantil, na exploração sexual, seja no que for... Aos doze anos, Zain, sobrecarregado com obrigações do lar de pais ausentes, se revolta definitivamente quando sua irmã de onze é forçada a se casar com um homem mais velho. Ele então foge de casa e passa a viver nas ruas junto aos refugiados e outras crianças que, diferentemente dele, não chegaram lá por conta própria. Entre tantas qualidade do longa está a opção por usar a câmera na mão, muitas vezes à altura dos olhos do menino, reforçando a sensação de realidade e aumentando o impacto de tudo aquilo que estamos vendo. Destaque para atuação do menino Zaim, que transmite uma verdade, uma intensidade incrível em cada uma de suas cenas.
"Cafarnaum" foi vencedor do Prêmio do Júri em Cannes em 2018






6. "Espíritos - A Morte Está a Seu Lado", de Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom (
🇹🇭Tailândia /2004): Nem todo mundo sabe mas a Tailândia é uma grande produtora de filmes de terror e um dos mais célebres representantes desse segmento no cinema tailandês é "Espíritos - A Morte Está A Seu Lado", filme que já ocupa seu lugar entre os clássicos do horror.
Desde que atropelou uma pessoa e fugiu da cena do acidente, um fotógrafo, Thun, passa a ser atormentado por visões e começa a identificar sinais sobrenaturais em suas fotos. Intrigado, ele e a namorada passam a investigar as fotos e curiosamente as pistas sobre as aparições vão convergindo para o próprio Thun e para alguns de seus amigos que, "coincidentemente" começam a morrer de forma trágica, um a um.
As figuras nas fotos já são de arrepiar, mas a cena final do filme é de ter pesadelos.







7. "Baskin", de Can Evrenol (
🇹🇷Turquia /2015): Terror bizarro!
Um grupo de policiais, de folga num bar, recebe uma chamada de um lugar que supunham nem existir mais. Mas, ok, se estão chamando de lá, então, vamos atender a chamada... No caminho sofrem um acidente, buscando socorro encontram pessoas estranhas e ameaçadoras e refugiam num casarão, que por acaso, revela-se o próprio local da missão. O problema é que o lugar é o verdadeiro inferno! Um antro de tortura e dor onde delírios, pesadelos, demônios interiores e demônios reais revelam-se para punir a cada um deles, tudo liderado por um anão careca deformado, uma espécie de mestre de cerimônias do inferno, que conduz as ações mais sádicas e brutais.
Um dos filmes mais repulsivos e perturbadores que já assisti.
Pra completar, o final é um verdadeiro nó na mente.
Ponto pro cinema turco.






8. "Rafiki", de Wanuri Kahiu (
🇰🇪Quênia /2018): Aquela conhecida luta contra o conservadorismo muito bem retratada, desta vez mostrando a realidade num país africano. Duas amigas, Kena e Ziki, acabam se apaixonando e, além de lutar contra as diferenças das famílias, rivais na política local, têm que encarar o preconceito da sociedade. Num ambiente altamente homofóbico e violento, elas precisam fazer a escolha entre viver suas vidas como querem ou encarar as ameaças que aquela situação acaba lhes gerando.
O filme foi festejado em Cannes, teve reconhecimento mundial para o novo cinema africano, mas, por outro lado, acabou banido de seu próprio país por conta da temática homossexual, proibida no país.
Mexeu em algo que incomodou...
Não é pra isso que serve a arte?
 


 


9. "JeruZalém", de Doron Paz e Yoav Paz (
🇮🇱Israel /2015): Terror foud-footage, em primeira pessoa mas não gravado com uma câmera na mão e sim com um Google Glass.
Uma jovem norte-americana de origem israelense, viaja para a Terra Santa, acompanhada da melhor amiga, a fim de espairecer um pouco depois da prematura morte do irmão. Ela usa o óculos tecnológico a pedido do pai, de modo a manter a comunicação e também estar sempre conectada com informações, pontos turísticos, eventos, etc. Só que lá, entre festas, namoros, bebedeiras, está se dando o início de um anunciado apocalipse previsto por todas as religiões. Algo como zumbis-demônios-vampiros alados tomam conta de tudo atacando as pessoas e transformando-os também em mortos-vivos. Daí é que a correria começa e não para! Vielas, túneis, lugares sagrados, cavernas, tudo na visão do óculos tecnológico da turista.
A última meia hora é frenética e o final é bem interessante, de certa forma dialogando com tudo isso que está acontecendo hoje, na Faixa de Gaza. Se ninguém se entende, se continuarem brigando a vida inteira por convicções, religião, território, ou seja lá o que for, Israel, a Palestina, tudo vai se transformar num inferno.






10. "Fantasmas do Passado", de Óskar Thór Axelsson (🇮🇸Islândia /2013): Duas situações aparentemente sem relação alguma: uma senhora suicida cujo caso é analisado por um psiquiatra que, por acaso, também enfrenta um drama pessoal do desaparecimento do filho; e um casal que se compra uma casa e se muda para uma região isolada do país, para, além de reformar o local visando um um futuro empreendimento turístico, reafirmar a relação. Só que coisas esquisitas começam a ocorrer nas duas pontas da história. O psiquiatra encontra cruzes misteriosas nas costas do cadáver da idosa, fotos de crianças desaparecidas em outras épocas e, além disso começa a ter visões de uma criança que pode ser seu filho. Na casa velha, Katrin, a esposa, começa a ver coisas e perceber alguma presença sinistra no lugar.
Como essas coisas se juntam? Não vou revelar porque você pode topar com o filme por aí e não vai querer que eu quebre a surpresa, mas pode acreditar que desfecho é absolutamente inesperado e faz valer todo o enredo e a condução lenta e paciente do diretor Óskar Thór Axelsson. O que posso adiantar é que a resposta estava por perto o tempo todo






11. "Antes da Chuva", Milcho Manchevski
  (🇲🇰Macedônia /1994): Um lamento pela guerra e pelos conflitos da antiga Iugoslávia, "Antes da Chuva" traz três narrativas sobre os desencontros que as diferenças entre os homens podem causar. Na primeira, um monge se apaixona por uma jovem refugiada albanesa acusada de assassinato e abandona as obrigações monásticas para fugir com ela pelos vales da Macedônia; na segunda, uma fotógrafa, editora de imagem, em Londres, vive o dilema de continuar com o marido ou ceder à paixão pelo amante, um fotógrafo de guerra macedônio que reaparecera em sua vida; e na última, que incorpora as duas anteriores, o mesmo fotógrafo, o amante da história anterior, volta à sua terra natal a fim de permanecer por lá, mesmo com todas as dificuldades, diferenças e desavenças que vive o país.
Pequeno recorte dos conflitos que dividiram um país, separaram pessoas e destruíram vidas.
Ganhou o Leão de Ouro em Veneza, em 1995.






12. "Cão Come Cão", de Carlos Moreno (
🇨🇴Colômbia /2008): A realidade dura da pobreza, da violência e do domínio do tráfico em algumas regiões da Colômbia é tema recorrente no cinema do país, e um dos filmes que retratam situações envolvendo o submundo do crime é o bom "Cão Come Cão", um thriller policial astuto, envolvente repleto de regionalismos e características típicas da cultura da América do Sul, como música, dança e misticismo.
Após a morte de seu afiliado, El Orejo, um violento chefe do tráfico em Cali, ligado ao vudu, contrata dois matadores para um serviço e os põe hospedados num mesmo quarto de hotel, esperando instruções de um terceiro homem sobre a missão que ainda desconhecem. Na verdade, sabedor que um deles fora o responsável pela morte de seu sobrinho e que o outro ficara com uma quantia sua em uma transação, o chefão pretende mesmo é que um devore o outro. Que um cão coma o outro.
Filme policial bem tramado, repleto de contornos e envolvimentos. Uma espécie de Tarantino sul-americano.





13. "Macabre", de Kimo Stamboel, Timo Tjahjanto (
🇮🇩Indonésia /2009): Aquela mania de ser gentil, solidário... Um grupo de amigos, a caminho do aeroporto, socorre uma mulher na beira da estrada e, ainda com muito tempo antes do voo, resolve levá-la para casa. Chegando lá, em agradecimento, a garota socorrida convida os bons samaritanos a entrarem, comerem alguma coisa, e diante de tanta gentileza e insistência da mãe da jovem, resolvem aceitar. Péssima ideia!
Ao ficarem presos ali, à mercê daqueles psicopatas, é dado início ao pior pesadelo que poderiam imaginar. Canibalismo, mutilações, crueldades, sadismo, um banho de sangue como poucas vezes se vê no cinema.
A família, liderada pela belíssima matriarca Dara, lembra a do "Massacre da Serra Elétrica" só que sem aquela sutileza da sugestão do clássico de 1974. Aqui não tem sutileza. É hardcore, mesmo.







14. "A Onda", de Roar Uthaug (
🇳🇴Noruega /2015): Os noruegueses, de uns tempos pra cá, enveredaram para fazer filmes catástrofe e, olha, não se saíram mal. "Terremoto", "O Túnel", "Presos no Gelo", todos atendem bem as exigências do gênero.
"A Onda" é um bom filme na categoria. Tem uma boa premissa, coerência, mantém o espectador tenso e não decepciona nos recursos técnicos, qualidade atestada pela indicação ao Oscar de melhor filme internacional no seu ano de lançamento.
Uma avalanche provoca um descolamento de um fiorde causando uma onda gigantesca que atingirá em cheio o povoado de Geirander. Como de costume, alguém avisou e não quiseram ouvir: o geólogo Kristian, mesmo diante da oportunidade de sair da cidadezinha e trabalhar na capital num bom emprego, alertado por anomalias nas leituras dos índices, resolve ficar e salvar quem conseguir, inclusive sua família. Quem devia tomar providências de alerta, evacuação e tudo mais, não deu a devida atenção, aí, o que resta? É correria e cada um tentando salvar suas vidas.
Como a gente já sabe, uma tragédia sempre começa quando um cientista avisa e as autoridades demoram para agir...




15. ""Conflitos Internos"", de Andrew Lau e Alan Mak (
🇭🇰Hong Kong /2002): Já citado aqui no Clyblog, "Conflitos Internos", originou o remake "Os Infiltrados", de Martin Scorsese.
A refilmagem realmente é melhor e mais completa, mas a trama principal do filme honconguês, muito engenhosa e envolvente, não à toa inspirou os norte-americanos a aproveitarem seu enredo.
Um agente de polícia trabalha infiltrado na máfia, e um "afilhado" de um mafioso, formado na academia policial, trabalha na polícia, a serviço do criminoso. Percebendo que informações vazam, tanto para a lei quanto para os criminosos, a polícia e a máfia, iniciam suas caças particulares ao respectivo informante, gerando situações de perseguição, suspense e constante expectativa.
"Conflitos Internos" não é o único caso de thrillers policiais interessantes produzidos por lá e, para os mais desavisados, pode-se até afirmar que Hong Kong é especialista nesse tipo de produção.




16. "A Casa", de Gustavo Hernández (
🇺🇾Uruguai /2010): Que a Argentina tem uma excelente produção cinematográfica a gente já sabe, mas... o Uruguai??? Sim, os outros vizinhos aqui do Prata também sabem fazer bons filmes e um que merece destaque especial é o terror psicológico "A Casa", longa já mencionado aqui no ClyBlog, o primeiro filme de terror a ser feito em uma tomada, sem cortes, em plano sequência.
Na história, uma jovem (Laura) vai com seu pai a uma casa de campo de um amigo da família para dar ao local alguma manutenção e limpeza enquanto o dono se ausenta. Lá ela começa a sentir, ver, perceber coisas estranhas que parecem querer lhe revelar algo. Ruídos e movimentos misteriosos assombram a garota e, de certa forma, a chamam para o andar de cima onde verdades inesperadas (até para o espectador) acabarão se revelando. Impactante!
Sim, o Uruguai está no mapa do cinema. Tanto está que os norte-americanos copiaram e já meteram um remake desse novo clássico do terror, o também bastante bom "A Casa Silenciosa". Esses EUA não perdem tempo...






17. "Dente Canino", de Yorgos Lanthimos (
🇬🇷Grécia /2009): Antes de entrar no grande circuito e  conquistar Hollywood com "A Favorita" e "Belas Criaturas", o diretor Yorgos Lanthimos já produzia coisas bem interessantes em seu país de origem, a Grécia. É o caso de "Dente Canino", filme que parte de um argumento bizarro mas nada absurdo. A ideia de proteger os filhos do mundo exterior e as questões originárias e resultantes dessa escolha. Por eles? Por mim? Pela família? Pela sociedade?
Na trama, um pai e uma mãe se utilizam de falsos argumentos, conceitos fictícios e regras próprias para manter os três filhos longe de qualquer contato com o mundo exterior, mentiras, traumas, castigos são utilizados de modo que os filhos sequer pensem em sair dos limites da propriedade da família. Não precisa nem dizer que no desenvolvimento dessa ideia, Lanthimos sabe ser chocante e impactante como poucos.
Um ensaio provocativo sobre família, poder, limites, sociedade  e individualidade, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010 e o impulso definitivo para a entrada de Yorgos Lanthimos na cena dos grandes diretores da atualidade.






18. "À Sombra do Medo", de Babak Anvari (
🇯🇴Jordânia/🇶🇦Qatar /2016): Mais um terror? Eu sei, eu sei... Mas esse não é exatamente um filme de terror. Aparentemente um filme de assombração, fantasmas e tal, mas no fundo, na verdade, um drama humano repleto de simbologias. Um drama sobre o terror da guerra e o impacto que essa praga tem, especialmente sobre as partes frágeis dessa irracionalidade: as mulheres e crianças. Uma mãe, em meio à guerra Irã-Iraque, nos anos 80, fica cuidando sozinha da filha quando o marido é recrutado para trabalhar nas trincheiras. No entanto, não ficam seguras onde estão, uma vez que sua cidade também sofre frequentes bombardeios. A rotina de explosões, ameaças, incertezas e medo afeta brutalmente a saúde mental das duas, mãe e filha e elas passam a ser atormentadas por 'assombrações' que rondam o apartamento onde vivem. O sumiço da boneca da menina como símbolo da perda infância, o hijab ameaçador (véu que cobre o rosto das mulheres muçulmanas) que as ataca, simbolizando a inferiorização da mulher, a sombra da bomba, presa na estrutura do telhado, como uma ameaça constante, simbolizando a constante ameaça das guerras, a projeção da sombra em forma de cruz, fazendo referência às crenças e aos conflitos por religião, fazem de "Sob a Sombra" mais que meramente um filme de terror.
Mesmo tendo um diretor iraniano, o longa, co-produção de Jordània e Qatari, com apoio britânico, caracteriza mais um daqueles casos nos quais um diretor não consegue trabalhar com liberdade criativa dentro do Irã, por conta das restrições e perseguições políticas e culturais, e acaba tendo que exprimir sua arte fora de seu país.







19. "O Cheiro da Papaia Verde", de Tran Anh Hung (
🇻🇳Vietnã /1993): Mui, uma mulher bem colocada socialmente, relembra os dias de dificuldade até chegar ali. Lembra que trabalhara para uma família rica no Vietnã, de como era bem tratada pela patroa que a tomava quase por filha, lembra de quando fora designada para uma família chinesa, de como as coisas pioram financeiramente e ela teve que ser encaminhada para um novo patrão, um pianista, por quem se apaixonaria e tornaria-se, depois, seu marido. Mas de todas as lembranças, o que faz seu fio da memória para os acontecimentos de uma vida é o cheiro do mamão papaia verde.
Um filme cujo maior mérito talvez seja essa capacidade de conjugar os sentidos, combinar imagem, com cheiro, fazer supor o sabor, o frescor da fruta, o calor de uma pele, os sons ocultos em cada uma dessas coisas.
Pra quem acha que Vietnã é só filme de guerra, Rambo, ameaça comunista americana, etc., "O Cheiro da Papaia Verde" é a resposta definitiva que não. O Vietnã é capaz de produzir um filme verdadeiramente saboroso.






20. "Infância Roubada", de Gavin Hood (
🇿🇦África do Sul /2010): Único filme africano a ganhar um Oscar, "Infância Roubada" acompanha a trajetória de Totsi, um jovem delinquente de vida sofrida, que após um acidente com um carro que roubara, descobre no banco traseiro um bebê. Desnorteado com a situação, ele leva a criança para seu bairro, na periferia de Johanesburgo e tenta convencer uma amiga, Miriam, a cuidar do bebê. O novo personagem em sua vida, a relação com uma jovem a quem pede ajuda pela experiência de maternidade, a criminalidade em seu bairro, a situação precária de vida, e a impotência diante de uma solução para o problema, desencadeiam uma série de novos sentimentos e sensações no rapaz que, até então, nunca tiver muito tempo nem atenção para emoções dessa natureza.
Tem filme bom na África também!




C.R.


domingo, 26 de maio de 2024

77º Festival de Cannes - Os Premiados

 


O diretor independente Sean Baker
exibindo seu triunfo em Cannes
Numa edição em que nomes como Cronenberg, Lanthimos, George Miller e o brasileiro Karim Aïnouz botaram seus filmes pra jogo, e o lendário Francis Ford Copolla exibiu seu sonhado projeto "Megalópolis", a Palma de Ouro, cobiçado prêmio principal do Festival de Cannes, acabou parando nas mãos do norte-americano Sean Baker, por sua comédia dramática "Anora", filme sobre uma dançarina de night-club que parece ter encontrado a sorte grande num casamento com um magnata, mas que percebendo que as coisas não se encaminham bem como imaginava, passa a fazer de tudo para dar um jeito de se livrar do compromisso.

O júri, presidido pela diretora Greta Gerwig, do badalado "Barbie", ainda premiou "All we Imagine as light", da indiana Payal Kapadia, com o Grand Prix, e o longa "Emília Perez", de Jacques Audiard, com o Prêmio Especial do Júri. Jesse Plemons, por "Tipos de Gentileza", filme de Yorgos Lanthimos, levou o prêmio de melhor ator, e, entre as mulheres, o prêmio foi, ineditamente dividido entre o elenco feminino do musical "Emilia Pérez".

Quer saber quais foram os outros vencedores das demais categorias?

Dá uma olhada aí abaixo, então:


🎬🎬🎬🎬🎬🎬



O sonho de princesa desfeito de "Anora"
foi o grande vencedor do Festival
Palma de Ouro: "Anora", de Sean Baker

Grand Prix: "All We Imagine as Light", de Payal Kapadia

Prêmio do Juri: "Emilia Pérez", de Jacques Audiard

Melhor Direção: Miguel Gomes, por "Grand Tour"

Melhor Ator: Jesse Plemons, por "Tipos de Gentileza"

Melhor Atriz: Adriana Paz, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez e Zoe Saldaña, por "Emilia Pérez"

Melhor Roteiro: Coralie Fargeat, por "The Substance"

Caméra d'Or: "Armand", de Halfdan Ullmann Tondel

Prêmio Especial: Mohammad Rasoulof, por "The Seed of the Sacred Fig"

Caméra d'Or – Menção Especial: “Mongrel”,de Wei Liang Chiang e You Qiao Yin

Palma de Ouro de Curta-Metragem: “The Man Who Could Not Remain Silent”, de Nebojša Slijepcevic

Menção Especial de Curta-Metragem: “Bad For a Moment”,de Daniel Soares



C.R.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Oscar 2024 - Os Vencedores

 


"Oppenheimer", filme do diretor Christopher Nolan, faturou sete Oscar na cerimônia deste domingo à noite. com seu
Christopher Nolan, finalmente, ganhando seu
tão aguardado Oscar.
A noite deste domingo, dia 10 de março, marcou a cerimônia da 96ª edição do Oscar, na qual "Oppenheimer", filme do diretor Christopher Nolan, foi o grande vencedor, com sete estatuetas, mas com grande destaque para "Pobres Criaturas", de Yorgos Lanthimos, que levou quatro.

Apresentada pelo comediante Jimmy Kimmel, a festa não teve grandes novidades nem surpresas. A presença de cinco apresentadores, todos já vencedores, para apresentar os prêmios de atuação foi algo interessante, John cena apresentando "pelado" o prêmio de figurino foi engraçado, Slash, do Guns'n' Roses, dando uma canja na performance de "I'm Just Ken" foi muito show, e o momento mais emocionante, sem dúvida, ficou com o diretor do documentário "20 dias em Mariupol", sobre a guerra da Ucrânia, Mstyslav Chernov, emocionado, declarando que gostaria de nunca precisar ter feito um filme sobre algo assim.

A meu ver, nenhuma grande injustiça. "Anatomia de Uma Queda", de enredo brilhante, justamente agraciado com o prêmio de roteiro original, "Zona de Interesse", o mais complexo e artístico dos estrangeiros ganhando o prêmio de filme internacional, "Godzila Minjus One" desbancando os gigantes e vencendo a categoria de efeitos visuais... Até dá pra discutir um Downey Jr. ao invés de um DeNiro, uma Emma Stone e não Lily Gladstone, mas, de um modo geral, nenhum absurdo gritante, a meu ver.

Bom, quer saber como foram todos os prêmios? Dá uma olhada aí abaixo e conheça, então, todos os vencedores da noite:

📹📹📹📹📹📹📹📹

MELHOR FILME

• Oppenheimer


MELHOR DIREÇÃO


• Christopher Nolan, por Oppenheimer


MELHOR ATOR

• Cillian Murphy, por Oppenheimer


MELHOR ATRIZ


• Emma Stone, por Pobres Criaturas


MELHOR ATOR COADJUVANTE

• Robert Downey Jr., por Oppenheimer


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

• Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

• Justine Triet & Arthur Harari, por Anatomia de uma Queda


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

• Cord Jefferson, por American Fiction


MELHOR ANIMAÇÃO

• O Menino e a Garça


MELHOR FILME INTERNACIONAL


• A Zona de Interesse (Reino Unido)


MELHOR DOCUMENTÁRIO


• 20 Days in Mariupol


MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM


• The ABCs of Book Banning


MELHOR CURTA-METRAGEM

• The Wonderful Story of Henry Sugar


MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

• War is Over (inspired by the music of John & Yoko)


MELHOR TRILHA SONORA


• Ludwig Göransson, por Oppenheimer


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

• "What Was I Made For?" (Barbie)


MELHOR SOM


• A Zona de Interesse



MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

• Shona Heath, por Pobres Criaturas


MELHOR FOTOGRAFIA

• Hoyte van Hoytema, por Oppenheimer


MELHOR CABELO E MAQUIAGEM


• Pobres Criaturas


MELHOR FIGURINO

• Holly Waddington, por Pobres Criaturas


MELHOR MONTAGEM


• Jennifer Lame, por Oppenheimer


• MELHORES EFEITOS VISUAIS

• Godzilla Minus One





C.R.

domingo, 3 de março de 2019

"A Favorita", de Yorgos Lanthimos (2018)




Divertido, muito artístico, uma ótima obra cheia de disputas por amor...ops... quero dizer,  poder.
Na Inglaterra do século XVIII, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz), exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana (Olivia Colman). Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail (Emma Stone), nova criada que logo se torna a queridinha de Sua Majestade e agarra com unhas e dentes a oportunidade única.
Apesar de achar esse filme maravilhoso, sei que ele não é perfeito. Os ângulos inventivos de Lanthimos e seu ritmo muito lento (às vezes quase parando) podem fazer muita gente torcer o nariz para o filme, assim como a corte faz à plebe.
Mas sei que assim como eu, muitos vão amar esse jogo de câmera. Como abusa das lentes Eyefish (Olho de peixe estilo GOpro) para mostrar o cenário ao mesmo tempo que foca em uma figura centralizada, e dos contra plongée (ângulo mostrando os personagens de baixo para cima) para salientar o poder das personagens. Toda a construção de cenas é perfeita. Tudo funciona lindamente bem: a fotografia, figurinos, as atuações, entradas e saídas dos atores em cena como num teatro. ESPETACULAR!
Ainda na linha do espetacular, vamos falar do trio principal do filme, cada uma melhor que a outra. A Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz), é a mais sensata, que usa a razão e não a emoção, porém é a que mais entende do amor; Rainha Ana (Olivia Colman), é frágil e forte, desequilibrada e sensata, e a maneira como a personagem vive essas dualidades é algo fabuloso; Abigail (Emma Stone) a falsa, por sua vez, é o lobo na pele de cordeiro. Que atuações!
É muito interessante a forma como o longa mostra as mulheres com força no comando das ações e dos seus relacionamentos e é bom ver isso.
Se quer ver mulheres poderosas, uma história cheia de intrigas e disputas, um roteiro espetacular, atuação de outro mundo, um trabalho de câmera muito interessante, fotografia e figurinos que são as coisas mais lindas desse mundo?  POR FAVOR ASSISTA “A FAVORITA”.
Toda a beleza e inventividade do longa de Lanthimos.




por Vagner Rodrigues