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quinta-feira, 23 de junho de 2022

"Hades, O Senhor dos Mortos", de George O'Connor - Coleção Deuses do Olimpo - ed. Paz e Terra (2012)




Leitura interessantíssima e vinda de uma fonte um tanto inusitada foi a HQ "Hades, O Senhor dos Mortos", que acabou chegando a mim, por intermédio da minha filha Luna, que pegou o livro na biblioteca da escola. Eu, já um fascinado por mitologia grega, quando vi aquele visual muito Sandman que o artista George O'Connor deu à divindade grega da morte, me interessei imediatamente.

A semelhança com o personagem sombrio de Neil Gaiman, o Mestre dos Sonhos, não é mera impressão incial do leitor, tampouco se limita ao visual do protagonista. Todo o ambiente de profundezas, submundo, escuridão, expiação, lembra bastante as aventuras de Sandman.
Aqui, o mestre dos mundos inferiores sequestra, de forma intempestiva e, num primeiro instante, injustificadamente, Core, a filha da deusa Deméter. Desesperada, ela recorre a vários outros deuses a fim de descobrir onde está e quem teria levado a jovem. Juntando pistas e informações Deméter, a deusa das plantações, da agricultura, descobre que Zeus, seu irmão e Deus máximo do Olimpo, prometera a jovem a seu também irmão Hades, e que aquele, simplesmente, fora buscar o que lhe seria de direito pelo acordo. Como de costume, entre as entidades gregas, intrigas, traições, disputas de poder e vaidades se estabelecem, e a solução para o impasse precisará de muito bom senso, negociações e concessões nessa titânica queda de braço.
A condução de George O'Connor, num primeiro momento, na história, parece um tanto didática demais, apresentando cada área, cada elemento, cada personagem dos mundos inferiores quase que como numa aula de mitologia grega, mas logo o andamento se desprende, flui melhor, e toda a trama se desenvolve capturando o interesse do leitor com um roteiro dinâmico e bem construído, que, curiosamente, mesmo tendo Hades como elemento central, confere todo um destaque especial à deusa Perséfone que, segundo o próprio autor, costuma ser citada de forma secundária, desproporcional a todo seu poder e importância.
Excelente achado!
Com a filha que tenho, pai babão que sou, estou certo de que sempre valerá a pena dar uma olhada no que ela trouxer da biblioteca da escola.



Cly Reis

sábado, 18 de julho de 2020

Roy Orbison - "In Dreams" (1963)



"Roy era um cantor de ópera.
Ele tinha uma voz grandiosa."
Bob Dylan

"Vendo Roy Orbison,
eu aprendi como cantar uma
balada romântica."
Mick Jagger

"Quando estava quase adormecendo,
escrevi a introdução de "In Dreams",
 fui dormir, levantei-me na manhã seguinte
 e já tinha a letra. 
Todas as músicas são presentes,
 mas essa foi realmente um presente."
Roy Orbison



O primeiro contato que tive com a canção "In Dreams", curiosamente, não foi sonoro. O persoangem John Constantine ouvia a canção no rádio de um táxi num episódio da graphic novel, de Neil Gaiman, "Prelúdios e Noturnos", do personagem Sandman, o Mestre dos Sonhos. "A candy-colored clown they call the sandman/ Tiptoes to my room every night/ Just to sprinkle stardust and to whisper/ Go to sleep. Everything is all right...".  Embora o autor e seus desenhistas lidassem muito bem com a inserção de elementos músicas dentro do formato de quadrinhos, é óbvio que numa HQ não teria ali som para identificar de que música se tratava, contudo, na mesma edição, numa espécia de sumário para os trechos de músicas mencionadas naquela publicação, o autor era creditado: Roy Orbison.



Somente algum tempo depois é que fui ouvir aquela música em "Veludo Azul", de David Lynch, na interpretação célebre da dublagem do personagem Ben usando a luminária como microfone e foi só então que eu liguei os pontos: "quadrinhos-neilgaiman-sandman-mestredossonhos-indreams-royorbison-veludoazul...". Ah,era aquela! Aquela era "In Dreams" que eu havia lido nos quadrinhos. E ela era maravilhosa! Foi o que precisava para fazê-la cair definitivamente nas minhas graças.

"Veludo Azul" - Ben dublando "In Dreams"

"In Dreams", a belísima canção de interpretação emotiva e extasiante, e de arranjo de cordas grandioso, aparece pela primeira vez na discografia de Orbison no disco que leva o mesmo nome, de 1963, mas o álbum não se resume a esta canção que já se eternizou na galeria das grandes baladas da história da música. Roy Orbison é mestre em baladas românticas e "Lonely Wine" e "Dream", não deixam dúvidas sobre isso; "Shahdaroba" também romântica mas um pouco mais embalada é outra ótima canção; mais agitadinha ainda, o rock "Sunset", também merece destaque, bem como "Blue Bayou", outro dos grandes sucessos do cantor que conta com mais uma de suas inspiradas interpretações.
Um dos cantores mais influentes em todo o universo da música, Roy Orbison era admirado por Elvis, Johnny Cash e é frequentemente reverenciado por nomes como Bono, Tom Waits, Bruce Springesteen, entre outros. De minha parte, demorei para conhecer mas desde que tive contato me juntei ao coro dos ilustres fãs.  Sua voz inconfundível e suas interpretações singulares estão, definitivamente, marcadas na história da música.

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FAIXAS:
  1. "In Dreams" (Orbison)
  2. "Lonely Wine" (Roy Wells)
  3. "Shahdaroba" (Cindy Walker)
  4. "No One Will Ever Know" (Mel Foree, Fred Rose)
  5. "Sunset" (Orbison, Joe Melson)
  6. "House Without Windows" (Fred Tobias, Lee Pockriss)
  7. "Dream" (Johnny Mercer)
  8. "Blue Bayou" (Orbison, Joe Melson)
  9. "(They Call You) Gigolette" (Orbison, Joe Melson)
  10. "All I Have To Do Is Dream" (Boudleaux Bryant)
  11. "Beautiful Dreamer" (Stephen Foster)
  12. My Prayer (Jimmy Kennedy, Georges Boulanger)
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Ouça:


Cly Reis

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

"O Poço e o Pêndulo" e "Assassinatos na Rua Morgue", de Edgar Allan Poe adaptados para HQ - Ed. Farol Literário (2014)



Férias, viagem, avião, aeroporto, praia, sossego! Nada melhor do que um livro para essas situações, não? Sim, isso quando não se tem uma criança, o que acaba exigindo atenção praticamente o tempo inteiro. Nesse caso, em se querendo manter o hábito e o prazer de uma leitura, pode estar certo que um "Guerra e Paz" não é  a melhor opção, pois além de não conseguir dedicar a devida atenção ao livro você provavelmente não conseguirá terminá-lo no seu período de férias. Pensando nisso, em minhas breves férias deste ano optei por levar algumas publicações de quadrinhos que havia comprado fazia alguns meses mas que, tendo dado prioridade a outros livros, não havia lido ainda.
Levei para leitura dois contos de Edgar Allan Poe adaptados para HQ's, "O Poço e o Pêndulo", que na época que li em "Histórias Extraordinárias" manteve-me tenso durante toda a ação; e o clássico "Assassinatos na Rua Morgue", um dos precursores do romance policial de detetives na história da literatura. Curiosamente, o primeiro, adaptado por Sean Tulien, não me impressionou tanto na versão quadrinhos, carecendo talvez de alguma ousadia maior do ilustrador, o filipino J.C. Fabul, utilizando, quem sabe, mais sombras, trevas e ocultando mais elementos do leitor. Desapontou-me um pouco, devo admitir. Por outro lado, o mistério da Rua Morgue, adaptado por Carl Bowden e ilustrado por Emerson Dymaia, foi uma surpresa positiva, sustentando o mistério de forma muito competente, ao contrário de outra HQ do gênero que li há algum tempo atrás, "Morte na Mesopotâmia", adaptação de Agatha Christie, onde o formato claramente mostrou-se inadequado à trama. Neste, com um Auguste Dupin lembrando um pouco o Sandman de Neil Gaiman, a cena das morte é muito bem conduzida, o arrastar das investigações é ágil e objetivo como o formato exige mas não deixa escapar as pontas e a conclusão é muito bem apresentada com capacidade para surpreender o leitor da HQ que não conheça o conto original.
A coleção, do núcleo de HQ da editora Farol Literário, ainda conta com as adaptações de "A Queda da Casa de Usher" e "Coração de Delator" de Poe, que não li ainda, mas que independentemente do resultado menos satisfatório ou interessante que alguma possa apresentar como adaptação, só pela iniciativa de trazer ao grande público a obra deste autor tão importante e cuja obra, impressionante, incrível, fantástica, se presta tão bem para a linguagem quadrinhos, e de outras obras relevantes da literatura mundial, já merece todos os elogios.



Cly Reis