1.000 dias sem Marielle. 14.600 dias sem Lennon. Seguimos tocando a vida, mas que eles fazem falta, fazem. O que não quer dizer que a gente deixe de tocar o nosso MDC, que, aliás, vai ter eles e muito mais, como: The Cure, Chico Buarque, Joe Satriani, Kid Abelha, Aracy de Almeida e mais. No "Cabeça dos Outros", tem ainda Naná Vasconcelos e, no "Palavra, Lê", Tom Waits. Eu se fosse vocês não ficaria mais um dia sem ouvir o programa. Aproveita já o de hoje: 21h, na na imperdível Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues. Aliás, por ontem e por hoje: "Why?"
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
sábado, 18 de julho de 2020
Roy Orbison - "In Dreams" (1963)
"Roy era um cantor de ópera.
Ele tinha uma voz grandiosa."
Ele tinha uma voz grandiosa."
Bob Dylan
"Vendo Roy Orbison,
eu aprendi como cantar uma
balada romântica."
Mick Jagger
"Quando estava quase adormecendo,
escrevi a introdução de "In Dreams",
fui dormir, levantei-me na manhã seguinte
e já tinha a letra.
Todas as músicas são presentes,
mas essa foi realmente um presente."
Roy Orbison
"Vendo Roy Orbison,
eu aprendi como cantar uma
balada romântica."
Mick Jagger
"Quando estava quase adormecendo,
escrevi a introdução de "In Dreams",
fui dormir, levantei-me na manhã seguinte
e já tinha a letra.
Todas as músicas são presentes,
mas essa foi realmente um presente."
Roy Orbison
O primeiro contato que tive com a canção "In Dreams", curiosamente, não foi sonoro. O persoangem John Constantine ouvia a canção no rádio de um táxi num episódio da graphic novel, de Neil Gaiman, "Prelúdios e Noturnos", do personagem Sandman, o Mestre dos Sonhos. "A candy-colored clown they call the sandman/ Tiptoes to my room every night/ Just to sprinkle stardust and to whisper/ Go to sleep. Everything is all right...". Embora o autor e seus desenhistas lidassem muito bem com a inserção de elementos músicas dentro do formato de quadrinhos, é óbvio que numa HQ não teria ali som para identificar de que música se tratava, contudo, na mesma edição, numa espécia de sumário para os trechos de músicas mencionadas naquela publicação, o autor era creditado: Roy Orbison.
Somente algum tempo depois é que fui ouvir aquela música em "Veludo Azul", de David Lynch, na interpretação célebre da dublagem do personagem Ben usando a luminária como microfone e foi só então que eu liguei os pontos: "quadrinhos-neilgaiman-sandman-mestredossonhos-indreams-royorbison-veludoazul...". Ah,era aquela! Aquela era "In Dreams" que eu havia lido nos quadrinhos. E ela era maravilhosa! Foi o que precisava para fazê-la cair definitivamente nas minhas graças.
"Veludo Azul" - Ben dublando "In Dreams"
Um dos cantores mais influentes em todo o universo da música, Roy Orbison era admirado por Elvis, Johnny Cash e é frequentemente reverenciado por nomes como Bono, Tom Waits, Bruce Springesteen, entre outros. De minha parte, demorei para conhecer mas desde que tive contato me juntei ao coro dos ilustres fãs. Sua voz inconfundível e suas interpretações singulares estão, definitivamente, marcadas na história da música.
**************************
FAIXAS:
- "In Dreams" (Orbison)
- "Lonely Wine" (Roy Wells)
- "Shahdaroba" (Cindy Walker)
- "No One Will Ever Know" (Mel Foree, Fred Rose)
- "Sunset" (Orbison, Joe Melson)
- "House Without Windows" (Fred Tobias, Lee Pockriss)
- "Dream" (Johnny Mercer)
- "Blue Bayou" (Orbison, Joe Melson)
- "(They Call You) Gigolette" (Orbison, Joe Melson)
- "All I Have To Do Is Dream" (Boudleaux Bryant)
- "Beautiful Dreamer" (Stephen Foster)
- My Prayer (Jimmy Kennedy, Georges Boulanger)
**********************
Ouça:
Cly Reis
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
quarta-feira, 26 de junho de 2019
Música da Cabeça - Programa #116
As variadas cores do São João e do LGBT+ estão representadas no ecletismo do programa desta semana. Olha só quantos tons diferentes: Baco Exu do Blues, David Bowie, Carmen Miranda, Tom Waits, Led Zeppelin, Moacir Santos, Leonard Cohen e mais. E o mais legal: cores diferentes mas totalmente harmônicas! Vem pra Festa Junina do Música da Cabeça, que tenho certeza que vão fazer questão de ficar presos na nossa cadeia. A fogueira tem hora pra acender: às 21h, no Arraial da Rádio Elétrica. Produção, apresentação e quadrilha: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
"A Balada de Buster Scruggs", de Joel Coen e Ethan Coen (2018)
No ano em que a Netflix vem com força na disputa pelo Oscar, somando entre suas quatro produções, quinze nomeações, uma delas, "A Balada de Buster Sruggs" conta com ninguém menos que os já oscarizados Irmãos Coen, à frente do projeto. Com três indicações, esta antologia de western traz, em seis episódios, alguns dos mais característicos e tradicionais elementos do gênero como gatilhos rápidos, duelos, assaltos a banco, enforcamento, caravanas, indígenas, corrida do ouro, caçadores de recompensa tudo ao melhor estilo dos irmãos Coen que, por sinal, são especialistas em westerns, sejam eles contemporâneos e mais urbanos como "Fargo", "Arizona Nunca Mais" ou o premiado "Onde os Fracos Não têm Vez", como um faroeste tradicional como "Bravura Indômita", refilmagem deles para o clássico de 1969.
Tom Waits, como o obstinado prospector, faz um dos melhores episódios do filme. |
O simpático Buster Scruggs é bom de gatilho e de gogó. |
Cly Reis
quarta-feira, 25 de julho de 2018
Música da Cabeça - Programa #68
Dia da Mulher Negra? Temos aqui no Música da Cabeça, sim! Hoje, o nosso quadro "Uma Palavra" traz uma entrevista com a "palavreira" (poeta, cantora, escritora, tradutora y outras coisas) Tatiana Nascimento Dos Santos. O dia é também de muita música, entre elas The WiseGuys, Zeca Baleiro, David Bowie e Tom Waits. Ainda, "Palavra, Lê, "Música da Fato" e tudo o que você encontra nas quarta-feiras aqui na Rádio Elétrica, às 21h. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.
Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Claquete Especial de Natal
Papai Noel passou por aqui
por Daniel Rodrigues
Nesta época de final de ano, o cinema, essa representação encenada e
diegética da realidade, reforça sua função, seja ela de ajudar a refletir ou
simplesmente entreter (ou os dois juntos, por que não?). Como n’"O Poderoso Chefão - Parte 2", em que os acontecimentos da máfia e da política estão fervilhando
em plena virada de 1959 para 1960 em Cuba, ou em “Boogie Nights”, quando todos
interrompem a chegada da década de 80 por causa de um suicídio em plena festa
de Réveillon, o dia de Natal também (ou a passagem de 24 para 25) aparece em
alguns filmes não necessariamente como tema central, mas como um pano de fundo
essencial àquilo que se quer contar. Às vezes é um detalhe, mas extremamente
simbólico para determinada obra de cinema. Um nexo narrativo que contribui para
a história de forma a lhe trazer os ícones que a data representa (o nascimento
e o significado simbólico de Cristo, a figura pop do Papai Noel, a valorização
dos sentimentos de fraternidade e compaixão, a representação do consumismo, o
pertencimento à sociedade capitalista ocidental, etc.).
Por isso, o Clyblog registra aqui algo nessa linha: não aquelas
comédias natalinas típicas que, embora divertidas, são óbvias. Aqui, fugimos da
obviedade. Listamos, sim, filmes que se nutrem dos elementos natalinos mais
profundos por assim dizer, ainda que apenas como instrumento para dar um toque
à trama, para gerar contraste entre a aparência e real ou apenas para contar
melhor uma história. Se você está cansado de assistir as franquias “Esqueceram
de Mim” ou “Meu Papai é Noel”, aqui vão alguns títulos que não esquecem da
data, mas vão além da mesmice – e que, justo por isso, merecem ser vistos mesmo
em outras épocas do ano. Mesmo que, porventura, apenas passem pelo tema, o
Natal, com seus significados, está lá.
“Duro de Matar” (“Die Hard”, John
McTiernan, EUA, 1988)
Provavelmente o melhor filme de ação dos anos 80 junto com “Um Tira da
Pesada”, “48 Horas” e alguns outros poucos, tem o Natal como pano de fundo para
uma trama inteligente que mescla policial, comédia e realismo (sim, realismo)
na medida certa. O policial nova-iorquino John McClane (Bruce Willis) vai
visitar a esposa em Los Angeles, que está numa festa de Natal da empresa onde
trabalha, no edifício Nakatomi Plaza. Durante a festa, terroristas alemães,
liderados por Hans Gruber (Alan Rickman) invadem o prédio e sequestram todos os
convidados com a intenção de roubar milhões em ações da companhia. McClane
escapa de ser aprisionado pelo grupo de Gruber e, com grande dificuldade, mas
com perícia e astúcia, passa a combatê-los.
A fórmula é muito parecida com o que Hollywood fazia de muito tempo no
gênero ação/policial – as sequências com o gancho da tensão e as explosivas
cenas de ação, entremeadas por tiradas engraçadas que aliviam a seriedade e a periculosidade
– mas adiciona-lhe algo que passaria a servir de exemplo para trocentas
produções posteriores: a pegada realista. McClane derrota os terroristas neste
dia de Natal atípico, mas o consegue a custas de muito esfolamento. O conceito
de anti-herói, humano e mortal, é uma quebra de paradigma no cinema norte-americano
do gênero. Se há estilhaços de vidro no chão e McClane está descalço, ele vai
cortar o pé, ora essa! É exatamente isso que acontece, numa ressignificação do
tipo James Bond, perfeito e inatingível. Tanto é que, por tudo que passa, McClane
sai um trapo no final do filme, o qual finaliza emblematicamente com o jazz
natalino “Let It Snow! Let It Snow! Let It Snow!” na voz de Vaughn Monroe.
Igualmente, o contraste dos elementos visuais e alegóricos da data com a
violência (o vermelho da roupa do Papai Noel com o sangue dos ferimentos)
funciona muito bem. Daqueles que sempre que estão passando na TV se assiste,
inevitável.
- "Duro de Matar" - "Ho-Ho-Ho!"
“Morte e Vida Severina” (Walter
Avancini, BRA, 1981)
Uma obra-prima da teledramaturgia mundial (vencedora do Emmy daquele
ano), é a encenação do poema de João Cabral de Melo Neto, o qual se chama
também “Auto de Natal Pernambucano”. Com músicas primorosas de Chico Buarque e
aproveitando parte do elenco que Zelito Viana usara na filmagem da história quatro
anos antes para o cinema, esta é, sem dúvida, a mais bela versão do texto
clássico do poeta pernambucano.
De forte cunho social e denunciador, narra a trajetória do retirante
nordestino Severino (José Dumond, impecável) do sertão árido à capital Recife
através de versos musicados ou recitados em busca de respostas à vida miserável
que leva. O que encontra em muitas das etapas dessa cruzada é apenas morte
através do descaso e da desassistência do povo, de “Severinos iguais em tudo na
vida”, o que o faz pensar em “saltar fora da ponte e da vida”. Mas o nascimento
de mais um “Severino”, filho de um carpinteiro pobre mas sábio, vem trazer
cores à desesperança. É a “boa nova” que o Natal ensina, o Cristo incutido
naquela pequena e franzina vida que se rebenta. “E não há melhor resposta/ que o espetáculo da vida?”.
“A Felicidade não se Compra”
(“It's a Wonderful Life”, Frank Capra, EUA, 1946)
Capra é um dos mestres do primeiro cinemão norte-americano. Era capaz
de criar filmes de marcantes conceitos estético e narrativo a um espírito
fortemente nacionalista, seja na valorização dos símbolos de seu país, seja no
recorrente tom moral típico daquele povo, o qual vai da puerilidade à
arrogância. No caso, mais para onírico, “A Felicidade...” conta a história de
um espírito candidato a anjo que, para ganhar suas asas, recebeu a missão de
ajudar um empresário (James Stewart) que, em virtude de grave problema
financeiro, tinha a intenção de se suicidar. O aspirante a anjo aparece-lhe na
véspera do Natal quando este está prestes a saltar de uma ponte. Ele fala de
sua missão e comentou que seria um desperdício matar-se, pois ele era
importante para muita gente. Ante o ceticismo de seu protegido, que se sentia
um fracassado, o amigo espiritual mostrou-lhe várias situações que teriam
acontecido se não fosse sua interferência: a morte do irmão, o desespero da II
Guerra (recém terminada quando o filme foi rodado), a tristeza da esposa, a
situação lastimável de sua cidade, entre outras.
Com fotografia P&B impecável – bastante forjada no cinema soviético
de Eisenstein e Vertov –, Capra amarra uma história cheia de acontecimentos com
um domínio narrativo espantoso sem deixá-la confusa ou chata. Trata-se de um
típico clássico natalino, eu sei, mas com tamanha qualidade não daria para
deixá-lo de fora – até por que, atualmente, está em desuso assistir a filmes
antigos ainda mais nessa ditatoriamente colorida época natalina. No final, a
mensagem é evidente, o que não lhe tira a emoção – até por que muito bem
escrito e realizado.
“Cortina de Fumaça” (“Smoke”,
Wayne Wang e Paul Auster, EUA/Alemanha, 1995)
Uma ode à solidariedade e ao respeito às diferenças, sejam elas
raciais, de gênero ou qualidades pessoais. Tem coisa mais a ver com Natal isso?
Pois esta pequena obra-prima com cara de Jim Jarmusch traz isso e mais um
pouco. O “isso” é a história envolvente e coral: Auggie Wren (Harvey Keitel)
tem uma tabacaria onde circulam tipos bem peculiares (olha aí as diferenças
subtextualizadas). Ele também tem um hábito próprio: o de fotografar, às oito
da manhã, a fachada de sua loja. É assim que ele conhece o escritor em crise
criativa e emocional Paul Benjamin (William Hurt), que, por um momento
fortuito, acaba conhecendo um jovem negro morador de rua a quem ajuda a
encontrar seu pai. A história é, na verdade, um reencontro das raízes pessoais
e dos laços afetivos mal resolvidos no passado.
O “um pouco mais” a que me referi é, além desse instigante subtexto, há
a célebre cena em que Auggie vai parar na casa de uma senhora cega cujo neto
furtara-lhe a loja. Ela, amorosa e sem os pré-conceitos de quem enxerga apenas
com os olhos, o recebe e o convida para cear com ela naquela véspera de Natal.
Tudo ao som da belíssima canção “Innocent When You Dream”, de Tom Waits. Cena emocionante. Uma história tão linda que, renovadas as emoções de todos na
trama, motiva o até então travado escritor Paul em seu novo romance, chamado: “Auggie
When’s a Christmas Story”.
- "Cortina de Fumaça" - História de Natal de Auggie Wren
“O Natal do Charlie Brown” ou “Feliz
Natal, Charlie Brown” (“A Charlie Brown Christmas”, Bill Melendez, EUA, 1965)
Já havia me referido ao filme indiretamente aqui no blog no Natal de
2013 quando escrevi sobre a magnífica trilha sonora de Vince Guaraldi nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS. Pois além da preciosidade que musica o episódio, a própria
animação merece destaque. Com os elementos característicos da série de Charles
Schulz, o curta “O Natal do Charlie Brown” é o primeiro desenho animado da
turma dos Peanuts. Quando o questionador Charlie Brown reclama sobre o sentido
materialista que as pessoas dão à data, Lucy sugere que ele se torne o diretor
de uma peça teatral no colégio. Charlie Brown aceita, mas, claro, sua
insegurança e os ingovernáveis fatores externos fazem com que ele perca o
controle, frustrando-se. “Que puxa!” O
amigo de todas as horas Linus, entretanto, lhe consola relembrando o verdadeiro
sentido natalino.
Tem um Charlie Brown e Snoopy novo por estrear no Brasil que aproveita
o Natal (comercialmente, inclusive) como pano de fundo, mas este aqui é
insuperável, não só pela trilha original de Guaraldi mas pela precisão de
Melendez na direção, que sempre imprimiu à série de TV a dose certa de doçura,
comédia, entretenimento e ludicidade. Atração – e ensinamento – para crianças e
adultos.
- "O Natal do Charlie Brown"
Sou um tanto suspeito em falar desse filme, pois trata-se de meu
preferido da longa, profícua e expressiva filmografia do gênio Bergman.
Entretanto, como deixar de fora essa obra-prima que, além de alinhar-se
bastante com o recorte que proponho, é o amadurecimento total de um artista que
já nascera maduro para o cinema. Superprodução que encerra a carreira do
cineasta na grande tela, transcorre-se em dois anos da primeira década do
século XX na família Ekdahl. Após um alegre Natal, o pai de um casal de
crianças morre. Deste momento em diante Alexander (Bertil Guve), o menino, passa
a ver o fantasma do pai frequentemente. Tempos depois, sua mãe casa-se com um
extremamente rígido religioso e as crianças são obrigadas a deixar a casa da
avó paterna para viverem com a família do padrasto de hábitos severos, onde são
tratados como prisioneiros. Na casa do padrasto o sensível e inventivo
Alexander passa a ver o fantasma da primeira esposa dele e suas filhas, que
haviam morrido tentando escapar dele. Decorrido algum tempo, a mãe se
conscientiza da real personalidade do marido e de quanto seus filhos sofrem
naquela casa e planeja um modo de tirá-los daquele lugar e levá-los de volta para
casa.
O proposital clima espiritualista de toda a história faz cama para a
impactante sequência da fuga, em que as forças divinas operam um milagre de
Natal e os três conseguem escapar da prisão domiciliar. Haveria muito a se
falar sobre “Fanny e Alexander” (a relação entre pais e filhos, a
espiritualidade imanente, a percepção afinada da criança, a metáfora da vida
como palco – e vice-versa –, os limites entre vida e morte, etc.) mas destaco
aqui um fator primordial: o fato de o Natal estar presente no início e no final
do filme. A data do nascimento de Jesus demarca dois momentos psicológicos e
emocionais dos personagens, numa significação das possibilidades de mudança e
desenvolvimento da vida e das pessoas. Cada um com suas qualidades e
dificuldades, com suas personalidades e jeitos, mas passíveis de enxergarem o
mundo para além de si mesmos. Afinal, é Natal.
- "Fanny e Alexander" - Ceia de Natal
O ClyBlog deseja um
Feliz Natal a todos!
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Rickie Lee Jones – “Rickie Lee Jones” (1979)
"Ela é muito mais velha do
que eu
em termos de sabedoria da vida.
Às vezes, ela parece tão antiga
como a
sujeira das ruas,
e ainda outras vezes
ela é tão nova como uma garotinha."
Tom Waits,
sobre Rickie Lee Jones
Era 1979 e uma voz diferente surgiu no rádio. O clima era mezzo jazzístico, mezzo pop, beirando as coisas que Joni Mitchell havia feito cinco
anos antes. Mas tinha uma pegada irresistível, uma produção impecável, era uma
daquelas canções que a gente ouve no rádio, fica esperando o locutor dizer quem
é e sai correndo para uma loja de discos (é, se fazia isso, naquela época) pra
comprar a bolacha (isso é 1979 “A.CD”. Ou seja: antes do CD). O mistério foi
desvendado pelo locutor da Gaúcha FM (não lembro quem era): Rickie Lee Jones com “Chuck E’s in
Love”.
Aos poucos, o mistério daquela voz quase infantil, cantando jazz, foi
sendo desvendado. A cantora tinha sido namorada de Tom Waits, companheira de
estrada e de loucuras do cantor e compositor e, nestas andanças, foi
apresentada aos produtores Russ Titelman e Lenny Waronker da Warner Bros. Como
uma história de Cinderela, Rickie Lee Jones, a fugitiva, a garota beat dos anos 70, acabou sendo
contratada por uma das maiores gravadoras do mundo e, num passe de mágica,
estava no topo das paradas dos Estados Unidos. Em breve, de quase todo mundo.
Mas o que tinha esta cantora e este disco de tão importante, diferente? E o que
levou este escriba a traçar algumas linhas, chamando este disco de estreia de
um dos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS? Vamos (procurar) desvendar na sequência.
“Rickie Lee Jones” inicia
exatamente com esta música do rádio, “Chuck E’s in Love”. Uma canção com um
toque jazzístico, levado pela bateria do mestre Steve Gadd e pelos violões de
Rickie, Buzz Feiten e Fred Tackett. Na letra, ela simplesmente conta a história
do seu amigo Chuck E. Weiss se apaixonando. O que brilha mesmo nesta canção é a
produção de Titelman & Waronker, que conseguiram dar um tom beirando ao pop
para uma música composta no violão e de melodia simples. O resultado é que
“Chuck E’s in Love” chegou ao quarto lugar da parada como single, levando o LP ao terceiro lugar da Billboard.
Em “On Saturdays Afternoons in 1963”, ela relembra seus tempos de
criança em Chicago e diz: “O máximo que
você jamais irá/ é voltar ao lugar que você já conheci/ Se os adultos conseguem
rir tão devagar/ Enquanto você vê a neve cair lentamente/ Os anos devem
passar”. O arranjo de orquestra é de Nick DeCaro, muito eficiente.
“Night Train” é uma das minhas preferidas do disco. Nela, a mãe está
fugindo do marido agressivo, levando seu bebê e conta para a criança como
aconteceu esta fuga, usando inclusive metáforas do jogo de bilhar. “Aqui estou indo/ caminhando com meu bebê
nos braços/ porque estou no lado errado da bola oito preta/ E o diabo, veja,
ele está bem atrás de nós/ E esta trabalhadora disse que vai levar meu
bebezinho/ meu pequeno anjo de volta/ Mas eles não vão conseguir/ porque estou
aqui com você no trem noturno”. Na criação deste clima de fuga, temos a
percussão exata de Victor Feldman, o baixo de Willie Weeks, os teclados de Neil
Larsen, os violões de Jones e Feiten e o arranjo orquestral de Mandel. Rickie
se supera no vocal desta canção, susurrando no início e fazendo uma verdadeira
prece no meio da canção. Emocionante.
“Youngblood” é outra canção em que Rickie relembra seus tempos de
juventude. “Dê uma caminhada à meia-noite
na cidade/ Young Blood vai te encontrar em algum lugar/ Se você está procurando
por alguma coisa pra fazer/ Sempre tem algo acontecendo/ Como eu e Bragger
pedimos emprestado um coupê hoje/ Lá vem Pepe e ela tem um amigo com o Chevrolet/
mas ela não está correndo/ Está caminhando devagar/ e ela não está chorando... apenas
está cantando baixinho”. Tudo isso embalado pelos timbales e pela bateria
de Mark Stevens e os backing vocals
inconfundíveis de Michael McDonald. Esta canção foi o segundo single tirado do disco, chegando ao 40º
lugar da parada da Billboard.
“Easy Money” tem participações de peso. A música começa com o baixo
acústico do mestre Red Callender, o solo de piano é de Dr. John e o vibrafone
que percorre a canção é de Victor Feldman. O clima deste blues é de dois
escroques que querem fazer um “dinheiro fácil”. A mulher quer usar seus poderes
de sedução para arrancar uma grana dos trouxas. Daquelas de estalar os dedos
junto com o disco.
Quando Rickie Lee tinha 21 anos, ela morou no Arizona. Sua vida naquele
estado cheio de paisagens desoladoras e céu aberto rendeu algumas canções no
repertório da cantora. Uma delas é “The Last Chance Texaco”, onde ela usa os
nomes de empresas petrolíferas (cujos postos de gasolina ela devia ver nas
estradas desertas do Arizona) como metáforas para amores desfeitos. A
composição tem como base o violão de Rickie Lee, mas os sintetizadores de
Micahel Boddicker e Randy Newman, que recriam o ruído dos carros que passam
pela estrada. Na letra, ela recomenda que se faça uma checagem dos componentes
do carro, antes que ele pare na estrada. Como se checar o estado do
relacionamento vá impedir que ele termine. “É
sua última chance/ de checar embaixo da capota/ última chance/ Ela não está
soando muito bem/ Sua última chance/ de confiar no homem com a estrela/ Você
encontrou sua última chance Texaco/ Bem ele tentou ser comum (Standard)/ Tentou
ser móvel (Móbile)/ Tentou viver num mundo (World)/ e numa concha (Shell)”.
Todo o tempo a metáfora percorrendo a canção.
“Danny’s All-Star Joint” volta o clima memorialista de RLJ, lembrando
de uma lanchonete de sua adolescência onde tinha uma máquina de música que
fazia “doyt-doyt”. O Rhythm and Blues da canção é propelido
pela bateria de Steve Gadd, pelo baixo de Chuck Rainey e pelos sopros de Tom
Scott, Chuck Findley e Ernie Watts. Lá pelas tantas, a jovem RLJ fala para seu
acompanhante masculino: “Você não pode
quebrar as regras até que saiba como jogar o jogo/ Mas se você quiser se
divertir/ pode mencionar o meu nome/ Mantenha seus pés nas rua/ seus
calcanhares na grama/ Mas mantenha seu negócio no bolso/ é aí que ele
pertence”. Irresistível com os sopros fazendo aqueles riffs estilo James Brown.
Uma canção diferente no disco é “Coolsville”, mais uma faixa em que ela
relembra os tempos de teenager
rebelde que vivia nas ruas de Venice. Com a guitarra de Buzz Feiten dando um
clima fantasmagórico e a bateria de Jeff Porcaro rebombando como tímpanos de
orquestra, Rickie Lee conta sua história e de dois amigos, Bragger e Junior
Lee, que viviam em Coolsville, a cidade dos descolados. Depois de algumas
aventuras, os três se reencontram: “Então
agora é J e B e eu/ soa parecido/ mas não é a mesma coisa/ mas tá tudo bem/ A cidade
não nos machuca tanto/ quando tudo parece o mesmo”. Viver em Coolsville já
não significa tanto para estes três desajustados.
“Weasel and the White Boys Cool” é uma parceria com Alfred Johnson, com
quem RLJ começou a cantar em Los Angeles, quando tinha 21 anos. Foi uma das
músicas compostas na época que sobreviveu e foi parar no disco. Aqui, Rickie
Lee é a observadora das aventuras e desventuras de Sal (Bernardi), seu amigo e
ex-namorado e que viria a ter papel importante no segundo disco da cantora e
compostora, chamado “Pirates”, lançado dois anos depois. “Sal estava trabalhando no esconderijo de Nyro no centro da cidade/
Vendendo artigos do congresso para estas pessoas do Centro/ Ele era bem sórdido
que o conheci/ uma fuinha num casaco de lá de menino pobre/ Sal vivia num
curral de vinil preto em Nova Jersey/ comprava sua carne da puta na porta ao
lado/ Ele queria malpassado mas ganhava bem passado”. Durante a canção, Sal
se muda de bairro, dando adeus aos seus pais e amigos, passa dificuldades mas
acaba na fila da previdência social. Rickie Lee o salva, logo depois.
Mais uma parceria com Alfred Johnson, “Company” é uma balada jazzística
daquelas lancinantes com arranjo maravilhoso de cordas de Johnny Mandel.
Brilham também o piano de Neil Larsen e os teclados de Randy Kerber. Uma canção
de amor desfeito. A letra diz tudo: “Eu
lembro de você muito bem/ Mas sobreviverei outro dia/ Conversas para partilhar/
Quanto não tem ninguém/ Eu imagino o que você diria/ Te verei em outra vida,
baby/ Te libertarei em meus sonhos/ Mas quando eu chegar do outro lado da
galáxia/ Vou sentir falta de sua companhia”. A narradora está consciente de
que o amor acabou, mas continua sentindo a falta: “E agora que você se mandou pra viver sua vida/ Você diz que nos
encontraremos de vez em quando/ Mas nunca seremos os mesmos/ E eu sei que nunca
terei esta chance de novo/ Não como você/ Companhia/ Estou procurando por companhia/
Veja e ouça através dos anos/ Algum dia você poderá me ouvir/ Ainda chorando
por companhia”. Nervos dilacerados por esta paixão que se terminou mas não
acabou.
A última faixa do disco também é melancólica. “After Hours (Twelve Bars
Past Midnight)”, com o piano de Rickie Lee e as cordas de Nick DeCaro. A
juventude de RLJ é novamente evocada na letra: “Toda a gangue já foi pra casa/ Parada na esquina/ bem sozinha/ Eu e
você, poste de luz/ Pintamos a cidade de cinza/ Oh, somos tantas lâmpadas/ que
perderam nosso caminho/ Diga boa noite, América/ O mundo ainda ama um sonhador/
E toda a gangue já foi pra casa/ e eu estou parada na esquina/ bem sozinha”.
Depois deste inesperado sucesso do disco de estreia, muitas fichas
foram colocadas no futuro comercial do trabalho de Rickie Lee Jones. Rebelde
como sempre foi, ela levou dois anos divulgando este primeiro disco,
excursionando pelos Estados Unidos e Europa e, quando chegou a hora de fazer um
novo disco, subverteu todas as possíveis expectativas lançando “Pirates”, um
disco incrível, porém de difícil audição para ouvidos acostumados ao Top 40.
Mas essa é outra história.
FAIXAS:
1. "Chuck E.'s In
Love" – 3:28
2. "On Saturday
Afternoons in 1963" – 2:31
3. "Night
Train" – 3:14
4. "Young
Blood" – 4:04
5. "Easy
Money" – 3:16
6. "The Last
Chance Texaco" – 4:05
7. "Danny's
All-Star Joint" – 4:01
8. "Coolsville"
– 3:49
9. "Weasel and
the White Boys Cool" (Rickie Lee Jones/Alfred Johnson) – 6:00
10.
"Company" (Lee Jones/Johnson) – 4:40
11. "After Hours
(Twelve Bars Past Goodnight)" – 2:13
todas composições de autoria de
Rickie Lee Jones, exceto indicadas.
*******************
OUÇA O DISCO:
por Paulo Moreira
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Tom Waits - "Rain Dogs" (1985)
"Pessoas que vivem na rua. Você sabe, como depois da chuva você vê todos esses cães que parecem perdidos, andando por aí. A chuva remove todo o odor, toda orientação deles. Então, todas as pessoas no álbum estão entrelaçadas por alguma maneira física de compartilhar essa dor e desconforto."
Tom Waits,
definindo a expressão
que dá nome ao álbum,
“Rain Dogs”
definindo a expressão
que dá nome ao álbum,
“Rain Dogs”
Sempre lembro da minha mãe se referindo ao Tom Waits como “roncoio” quando eu ou o meu irmão ouvíamos o “Rain Dogs” lá em casa. Chamava assim por causa da voz rouca, rasgada, doente, parecendo ébria e que por vezes ele ainda força um pouco mais para reforçar estas características. E efetivamente o vocal do Sr. Waits é um pouco disso tudo, mas no que não desdoura em nada – muito pelo contrário – toda sua qualidade, capacidade vocal e versatilidade. Em “Rain Dogs” de 1985, Tom Waits passeia pelos mais variados gêneros colocando sua rouquidão a serviço de interpretações admiráveis e singulares. Vai da polca pouco tradicional “Cemetery Polka” ao rock’n roll rasgado de “Union Square”, do country bem caipira, na romântica e chorosa, “Blind Love” ou na ótima “Hang Down Your Head” ao jazz charmosíssimo de “Walking Spanish”; ou indo de uma trilha de filme de espionagem (“Midtown”) a um poema musicado (“9th. and Hennepin”).
A diversidade eclética não para por aí: tem a espetacular salsa “Jockey Full of Bourbon”; “Big Black Mariah” outro rock’n roll clássico, este com participação de Sir. Keith Richards; o jazz de cabaré “Tango Till They’re Sore”; o bluesão “Gun Street Girl”; e um tema funeral típico de Nova Orleans, “Anywhere I Lay My Head” que fecha espetacularmente o disco em uma interpretação emocionante de Waits.
Vale destacar também a faixa que abre o disco, “Singapore”; a excelente faixa título, “Rain Dogs”, com sua introdução de acordeão; “Clap Hands” com a voz sussurrada de Waits e uma percussão muito interessante; a lamentosa e tristonha balada “Time”, outra das grandes faixas do disco e a boa “Downtown Train”, por certo a mais popzinha do disco.
Enfim, todas mereceriam destaque. É daqueles discos indefectíveis.
Rouco, louco, bêbado, doente... que seja. Defina como quiser. O certo é que trata-se de uma das vozes mais peculiares e competentes do universo atual da música e um músico completo capaz de um trabalho indefectível como este “Rain Dogs”, um dos grandes álbuns dos anos 80.
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FAIXAS:
1. "Singapore" 2:46
2. "Clap Hands" 3:47
3. "Cemetery Polka" 1:51
4. "Jockey Full of Bourbon" 2:45
5. "Tango Till They're Sore" 2:49
6. "Big Black Mariah" 2:44
7. "Diamonds & Gold" 2:31
8. "Hang Down Your Head" 2:32
9. "Time" 3:55
10. "Rain Dogs" 2:56
11. "Midtown" Instrumental 1:00
12. "9th & Hennepin" 1:58
13. "Gun Street Girl" 4:37
14. "Union Square" 2:24
15. "Blind Love" 4:18
16. "Walking Spanish" 3:05
17. "Downtown Train" 3:53
18. "Bride of Rain Dogs" Instrumental 1:07
19. "Anywhere I Lay My Head" 2:48
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Ouça:
Tom Waits Rain Dogs
Cly Reis
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