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Bechara e suas formas básicas reelaboradas |
Aproveitando uma ensolarada tarde de férias,
Leocádia e eu
fomos visitar, após assombrosos 4 anos de ausência nossa, a
Fundação Iberê Camargo. Motivos houve. Além da indisponibilidade de ambos por vários motivos,
o Iberê, um dos carões-postais de Porto Alegre, teve, neste meio tempo sem que
o víssemos, altos e baixos, a ponto de quase fechar as portas. Mas agora, retomada
sua evidente importância para a cena cultural da cidade de uns 2 anos para cá,
vem trazendo, como sempre se propôs, boas programações e, principalmente,
exposições interessantes. Uma delas é a do artista visual carioca
José Bechara,
cujas obras tomam o 1º piso e o térreo do espaço, intitulada
“Território
Oscilante”.
Bechara, a quem havíamos tido a boa surpresa de ver de perto
seu trabalho em uma exposição menor mas semelhantes no
MON, em Curitiba, em
2014, tem uma obra bastante moderna em proposta, que lida diretamente com o
espaço, o equilíbrio e a forma. Desta feita, com curadoria de Luiz Camillo
Osório, são cerca de 30 obras, que retratam o universo estético e ideológico do
artista. As formas geométricas usadas com agudez – ora o quadrado, ora o
círculo – são base para toda uma construção pictórica, que visa ir ao princípio
das coisas. Mesmo quando deformadas, as formas básicas estão lá. Assim são
desde suas instalações (“Ok, Ok, Let’s Talk”, madeira, 2008) como os quadros
“Díptico Macio” (da série Criaturas do Dia e da Noite, acrílica, oxidação de
emulsões cúprica e ferrosa sobre lona usada de caminhão, 2018).
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Opressão e incomunicabilidade na instalação “Ok, Ok, Let’s Talk”: ironia que traduz tempos de autoritarismo |
Como artista visual sintonizado com a modernidade, a
superfície a qual materializa suas ideias é, a se ver pelos exemplos mencionados
acima, bastante variável. Ele recorre desde a fotografia, a instalação com
materiais diversos à pintura e até o uso de matérias-primas vulgares, como vidro,
plástico e lâmpadas fluorescentes (“Nuvem para Meia Altura”, 2015-2019).
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Diversidade de técnicas na obra de Bechara |
Conforme o curador, a “atenção aos elementos materiais do
mundo, a experiência do tempo e suas formas de inscrição na superfície das
coisas, constituíram um modo de operação poética que teve a apropriação como
método e a precisão como régua”.
A mostra ainda guarda um rápido mas interessante paralelo entre a obra do artista convidado, Bechara, com a do que nomeia o espaço, Iberê Camargo. Admirador da obra do artista gaúcho, Bechara - que o compara a Byron e Augusto dos Anjos pela originalidade ("gênios que possuem substâncias mentais semelhantes àquelas que deram origem ao mundo") - busca na brutalidade poética e sombria dos territórios estranhos em que este se embrenhou artisticamente para, modestamente, fazer um paralelo de suas obsessivas formas geométrica com os obsessiva composição do autor dos carretéis.
Vejam, então, algumas das obras da exposição:
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Detalhe de quadro: técnica que usa oxidação e lona de caminhão |
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O interessante “Nuvem para Meia Altura” |
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Instalação "Sobre Amarelos", composta por acrílica, madeira e vidros (2019) |
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A tela gigante da série "Criaturas do Dia e da Noite" |
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Outra lindeza da mostra, "Preta com Verde": Acrílica e oxidação de ferro sobre madeira, de 2012 |
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Uma das esculturas que dialoga com dois quadros de Iberê |
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A outra escultura de Bechara que conversa conceitualmente com o artista anfitrião |
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Dois clássicos de Iberê escolhidos para estabelecer paralelo, ambos da série "Desdobramentos", dos anos 70 |
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As belas formas geométricas que tomam o térreo do centro cultural, proposta que já havíamos conhecido em 2014 |
por Daniel Rodrigues