Fazendo um apanhado dos 60 anos de produção da artista, a
mostra é enxuta em volume de obras, apenas 12 óleos e tinta acrílica sobre tela (todos sem título).
Porém, a vontade de apreciar mais artes de Tomie é relativamente sanada com a
excelente curadoria de Cézar Prestes, que conseguiu reunir quadros muito representativos
das diferentes épocas de sua produção. Nas palavras de Prestes, a apreciação da
exposição “leva o espectador a desfrutar de um mundo de imensa força pictórica
e sensorial – mesmo que não tenha conhecido as fases anteriores da artista,
atende ao chamado de sua arte”.
Já havia tido a oportunidade de ver obras de Tomie em outras
exposições coletivas, tanto no Rio de Janeiro quanto em Curitiba mas, principalmente, no
maravilhoso Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde estive em 2010 com minha
mãe. Porém, uma seleção individual e focada em sua trajetória é, mais do que um
presente à cidade em que moro, um sublinhado da excelência da arte brasileira moderna
das últimas seis décadas.
Há quem valorize Tomie mais do que ao celebrado artista visual
norte-americano Mark Rothko, a quem atribuem ser menos inovador (e nem pioneiro)
no estilo de arte expressionista abstrata. A obra de 1967 da mostra de Tomie, a
mais antiga entre todas expostas, talvez seja uma prova disso: a disposição cromática,
que divide o quadro em blocos, como que fundando mundos distintos mas
dialogáveis. Por falar em mundo, interessante perceber a noção espacial de
Tomie - muito oriental, aliás - inclusive no que se refere a elementos pictóricos, seja das superfícies ou
da natureza. O quadro de 1968, onde se percebe associada ao verde escuro a forma
e a textura de uma lua, ou a impressionante tela de 2013, de cujo amarelo
intenso se observa à distância genes encadeados, carregam esta ligação orgânica
entre abstração e realidade.
Ideias estas que subentendem movimento, como o sutil
deslocamento de luz por detrás de camadas escuras na obra de 1985, a qual se
mostra mais evidente (como que ampliada) na de um ano antes. Impressiona igualmente
a habilidade cromática de Tomie. Como se faz para extrair cores tão vívidas e
pessoais? A junção destes elementos – cores próprias, imagem astral e
organicidade – está evidente em duas das obras da exposição: o grande óleo sobre
tela de 2002, que ocupa sozinho a parede ao fundo do espaço e o qual invoca um universo em ebulição, e, um pouco menor,
a de 2013, das obras da última safra da artista antes de sua morte. Olhando-se de
longe, parece até uma foto de uma floresta escura vista de cima tamanha a
vivacidade da luz. Porém, quando se aproxima, nota-se um traço abstrato
esvanecido em que a luz é trabalhada em núcleos distintos, que formam o todo.
Completam ainda a exposição telas dos anos 70 (1970, 1974 e 1976),
que, embora também tenham deixado a sensação de que poderia haver mais,
principalmente considerando o gigantesco acervo de Tomie Ohtake, foram
suficientes para encantar nossa tarde. Confiram abaixo algumas fotos e vídeo daquilo que pode ser visitando até dia 25 deste mês de fevereiro:
Obra dos anos 60. Melhor que Rothko? |
Noção espacial e texturas de superfícies |
O sutil movimento expresso em obras de anos sequentes, 83 e 84 |
A impressionante tela azul que remete a um universo em movimento |
Carol e Léo atentas à exposição |
Trabalho de luz incrível de Tomie: visto de longe, uma selva. de perto, borrões esverdeados |
O intenso amarelo que descortina um caráter genético |
O minimalismo oriental de Tomie |
Visão geral do salão Uma panorâmica da exposição "Tomie Ohtake: seis décadas de pintura" |
local: Instituto Ling
endereço: R. João Caetano, 440 - Três Figueiras, Porto Alegre - RS
quando: até 25 de fevereiro
ingresso; gratuito
Mais informações: institutoling.org.br
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