Curta no Facebook

Mostrando postagens com marcador Blues. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Blues. Mostrar todas as postagens

sábado, 12 de setembro de 2015

Howlin' Wolf - "Howlin' Wolf" ou "The Rockin' Chair Blues" (1962)



"Seus olhos se iluminavam e você podia
ver as veias se incharem no seu pescoço
e, irmão, sua alma inteira
se concentrava naquela canção.
Ele cantava com a danada da alma."
Sam Phillips,
da gravadora Sun Records,
descrevendo Howlin' Wolf



Um uivo de lobo.
Uma voz potente.
Um homem transfigurado em animal no estúdio.
Assim era Chester Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin' Wolf, um dos maiores nomes do blues de todos os tempos. Artista de admiráveis qualidades vocais, exímio manejo da guitarra e performances arrasadoras em shows, Wolf que começara na Sun, gravadora que revelou Elvis Presley, teve, no entanto, seu período de maior sucesso pelo famoso selo Chess, de Chicago, curiosamente levado pelas mãos do, sabidamente um arquirrival, Muddy Waters.
Rivalidades à parte, cada um com seus talentos, muitos diga-se de passagem, havia espaço para os dois na Chess. A maioria dos músicos do staff da gravadora gravavam as canções do baixista da casa e compositor Willie Dixon, mas poucos como Wolf tiraram tanto proveito desta parceria. Saíram das maos de Dixon alguns dos maiores sucessos de Howlin' Wolf e diga-se de passagem, em contrapartida, são dele algumas das melhores interpretações das músicas de Dixon.
Wolf já havia gravado um disco desde sua chegada à Chess mas que ainda trazia heranças da Sun Records, sua antiga gravadora, e contava apenas com as composições do próprio cantor, mas foi com o disco conhecido popularmente como "The Rockin' Chair Blues" que Wolf alçou voo definitivamente no universo do blues muito em função das composições de Dixon e de seu dedo na produção.
O disco abre com a excitante "Shake For Me", uma incitação à libido e já traz na sequência o clássico "The Red Rooster" cantado de maneira arrastada por Wolf com o acompanhamento de por uma slide guitar matadora do próprio cantor. A música ganharia inúmeras versões posteriores, nas quais ganharia o diminutivo pela qual é mais conhecida ("Little"), dentre elas a suingada de Sam Cooke, a suja do Jesus and Mary Chain e a maliciosa dos Rolling Stones.
"Who's Been Talkin'", um blues lento, quebrado com um toque latino é uma das duas, apenas, de autoria do próprio cantor no disco, e ""Wang Dang Doodle", que a segue é pegada, cheia de embalo, com uma guitarra vibrante e um refrão contagiante.
Outra que já foi regravada incontáveis vezes, por Etta James, Who, pelo Cream de Eric Clapton, mas que tem na versão deste blueseiro do Mississipi, a primeira, diga-se de passagem, uma de suas melhores interpretações, é a magnetizante "Spoonful",  mais uma das obras-primas de Dixon imortalizada pelo vocal singular do Lobo.
Na chorosa "Going Down Slow" onde o vocalista praticamente apenas declama a letra, o que destaca-se mesmo, desde a introdução martelada, é o piano; já em "Back Door Man", Howlin' Wolf retoma o protagonismo e encarna o personagem soltando ganidos arrepiantes numa canção que é uma espécie de assombração sensual e sedutora e que cuja versão, talvez, mais conhecida seja a da banda The Doors gravada logo em seu álbum de estreia.
Bem ritmada, embalada, impetuosa, "Howlin' for My Baby" (que também é conhecida com a variação de "... My Darling"), talvez a melhor tradução da fusão de estilos do blues do Delta para o de Chicago, encaminha com grandiosidade o final do disco para que "Tell Me", a outra composição de autoria de Wolf no disco, um gostosíssimo blues com uma levada apaixonante de harmônica  se encarregue de fechar de forma magistral.
Um daqueles caras para o qual a alcunha lenda do blues cabe perfeitamente, ainda mais reforçada pelo nome sugestivo que carregava, pelas performances insanas no palco, pelo feitiço que impunha às mulheres e pelos uivos quase animalescos que emitia em suas interpretações. Seria aquela figura na verdade uma criatura entre o home e o lobo? Teria ele, como o outro legendário Robert Johnson, feito algum pacto sinistro cujo preço seria que dividisse sua forma entre o humano e o bestial, metamorfoseando-se depois de determinada hora, em determinados dias, em dada fase lunar? Ficaria ele assim, mesmo em sua forma humana com traços do animal o que explicaria seus grunhidos, uivos e rosnados característicos e sua forma gigantesca e quase gutural? Bobagem, bobagem. Mas, ei... Alguém aí ouviu um uivo?
**********************
FAIXAS:
  1. "Shake for Me" – 2:12
  2. "The Red Rooster" – 2:22
  3. "You'll Be Mine" – 2:25
  4. "Who's Been Talkin'" (Howlin' Wolf) – 2:18
  5. "Wang Dang Doodle" – 2:18
  6. "Little Baby" – 2:45
  7. "Spoonful" – 2:42
  8. "Going Down Slow" (St. Louis Jimmy Oden) – 3:18
  9. "Down in the Bottom" – 2:05
  10. "Back Door Man" – 2:45
  11. "Howlin' for My Baby" – 2:28
  12. "Tell Me" (Howlin' Wolf) – 2:52
* todas as faixas compostas por Wilie Dixon, exceto as indicadas
******************************
Ouça: 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

A guitarra de B.B King e a maior luta de boxe do século


B.B. King foi para o Blues aquilo que Muhammad Ali foi para o boxe e Pelé no futebol. Era um cara que tocava sua Lucille sem fazer distinção ou ter preconceito de gênero. Tocou com artistas do Pop ao Soul, "rifou e solou" do rock ao Jazz. Influenciou um caralhada de monstros na guitarra como: Eric ClaptonGeorge HarrisonJimi HendrixJeff Beck, Buddy Guy, Johnny Winter, Otis Rush e John Lennon, este último, que confessou certa vez que seu maior sonho era tocar guitarra com King.
B.B. King é considerado um dos três maiores guitarristas de todos os tempos. Um dos primeiros DVD's que eu tive na vida, foi do épico show de King no Zaire (atual Congo), onde aconteceu o "Live In Africa”, em setembro de 1974. O guitarrista tocou para 80 mil pessoas naquela que é considerada sua apresentação antológica. O show era uma prévia para a maior luta de boxe de todos os tempos, a "The Rumble in the Jungle", a disputa do cinturão dos pesos pesados entre George Foreman e o campeão mundial Muhammad Ali, ocorrida no mesmo país e ano pouco mais de um mês depois.
A luta durou 8 rounds, onde Ali e Foreman se digladiaram como num coliseu romano. Ali que vinha de uma longa parada, era acostumado a rounds médios e longos e Foreman, que era o atual campeão e estava em perfeita forma, costumava derrubar seus adversários logo no primeiro ou segundo assalto. Na luta, Foreman arrancou com tudo e Ali inteligentemente deixou seu oponente bater. A famosa esquiva do lutador entraria em ação entre diversas “trocações”.
Os rounds ficavam intermináveis para ambos lutadores e incendiavam a plateia local e do mundo inteiro. Foreman levou vantagem o tempo todo. Se a luta terminasse naquele momento, ele seria o campeão. Mas Ali usou sua segunda estratégia e começou a provocar Foreman na luta, gritando: "Come on, Mother Fucker! É só isso que você sabe fazer?!”. Foreman se desestabilizou psicologicamente. Cansado de tanto bater o atual campeão ia para o último assalto com seu físico e psicológico comprometidos. No ultimo round, Foreman reuniu suas forças para tentar um trunfo, mas logo sucumbiria a uma sequência fatal do famoso soco de direita de Muhammad Ali, aquele a quem antes se chamava de Cassius Clay.
Salve “King” Clay. R.I.P, my nigga King.


B.B. King
(1925-2015)




quinta-feira, 30 de abril de 2015

Ry Cooder - “Bop Till You Drop” (1979)




"Eu tinha tudo pronto, quando um desses incompetentes gerentes de gravadora ouviu a demo e decidiu que era uma merda de cachorro e que não valia a pena gravar, de modo que não me deixaria fazer isso. Aí então que eu a gravei [“The Very Thing That Makes You Rich (Makes Me Poor)”] em “Bop...” e, de repente, eles queriam saber quem era esse autor Sidney Bailey. Ridículo. Agora, até mesmo a gravadora não pode localizá-lo para lhe pagar os seus royalties. De repente, ele poderia estar sentado neste momento numa prisão e esse dinheiro poderia tirá-lo de lá. Ou talvez ele esteja doente e precise de uma operação...” 
Ry Cooder, em 1981




Fui apresentado ao Ry Cooder pelo meu amigo, colega de Famecos e atualmente professor de Filosofia da PUC, Cláudio Almeida. Ele foi aos Estados Unidos num período no final dos anos 70 e trouxe na bagagem uma fita cassete de um disco chamado “Bop Till You Drop”. Virou hit lá em casa e nas casas de amigos, especialmente na de Mauro Magalhães. A partir deste disco, começamos uma busca incessante pelos outros trabalhos do cara, um guitarrista de mão cheia e uma espécie de arquivo vivo da música americana do Século XX. É dele aquele solo lancinante de “Sister Morphine” dos Rolling Stones.

Como um profundo conhecedor da “americana”, Cooder resolveu revisitar o rhythm and blues neste disco. E se deu muito bem. O trabalho é um triunfo estilístico bem ao estilo do guitarrista. Como se não bastasse, Cooder ainda tem o que se convencionou chamar de uma voz “blue-eyed soul”, ou seja, um branco que canta como um negro.

“Bop Till You Drop” começa com uma versão de “Little Sister”, canção de Doc Pomus & Mort Schuman que foi gravada por ninguém menos do que Elvis Presley. Como eu não gosto do “rei do rock”, prefiro o clima R&B que Cooder e seus comparsas (David Lindley na guitarra e no slide guitar; Tim Drummond no baixo; Jim Keltner na bateria; Milt Holland na percussão mais os maravilhosos vocais de Bobby King, Herman Johnson e Cliff Givens) colocam no caldeirão.
“Go Home Girl” é um bolero muito engraçado, quase um reggae. Toda em cima da percussão de Holland, do órgão de Barron e das guitarras e violões de Cooder e Lindley, a canção relata as desventuras de um cara que se mete num triângulo amoroso com a namorada de seu melhor amigo. “Go on go home girl / You better go on home / You better move on” ("Vá para casa, menina/ É melhor você ir para casa / É melhor você seguir em frente"), diz ele, mandando a garota embora, apesar de amá-la muito. Segundo ele, o “amor de uma mulher e o amor de um amigo são duas coisas que não podem ser comparadas”. Num determinado momento, Frank empresta o carro para seu amigo e fica esperando, em casa. Mal sabe ele que seu amigo está dispensando SUA namorada neste exato momento. Pra fechar, Bobby King dá a primeira de muitas estrebuchadas vocais que fazem deste disco uma delícia de ouvir.

The Very Thing That Makes You Rich (Makes Me Poor)” tem uma história interessante. Composta pelo taxista Sidney Bailey, a música foi dada a Cooder num cassete pelo próprio autor, quando o guitarrista entrou em seu carro. Até aí, nada demais. O que Cooder não sabia é que já havia gravado outras duas composições de Bailey em seu disco “Paradise and Lunch”: “Fool for a Cigarrette / Feelin' Good”, que havia encontrado numa editora. Brilham mais uma vez as guitarras de Cooder e Lindley. Keltner faz misérias na bateria. E os vocais parecem saídos direto de uma missa de domingo numa igreja batista. E a letra é divertidíssima, pois é misógina de uma maneira jocosa: “Meu pai me disse em seu leito de morte / Rapaz, a mulher vai conseguir o que quiser, não se engane / Porque ela tem uma coisa que faz / o homem deixar o dinheiro bem na mão dela / e a exata coisa que faz ela rica / te faz pobre”. Sensacional filosofia popular. Mais adiante, o pai continua a aconselhar seu filho: “Nunca, de maneira alguma, cometa este erro / Prefiro subir numa cama com uma cascavel / do que trabalhar duro todos os dias pra dar meu dinheiro pra ela”. À medida que a canção avança, os vocais vão entrando naquele clima de pergunta e resposta bem ao estilo soul music. Uma das grandes surpresas do disco vem a seguir; “I Think It's Going to Work Out Fine”, música que foi gravada por Ike & Tina Turner. Aqui, numa versão instrumental, onde Ry Cooder e David Lindley carregam a melodia nas guitarras elétricas, enquanto o mandolin faz a base.

A única composição original do disco, “Down in Hollywood” é de autoria de Cooder e do baixista Drummond e traz a primeira participação da cantora funky Chaka Khan. No refrão, eles avisam os incautos que vão passear de carro em Los Angeles: “Passeando em Hollywood / é melhor que você não fique sem gasolina / Ele vai te tirar do seu carro e chutar seu traseiro / Eles estão parados numa esquina esperando um trouxa como você / Se você quer permanecer saudável, é melhor seguir em frente”. E aí começam a aparecer todas as figuras que habitam as noites de Hollywood: os gays, os cafetões, as prostitutas, os policiais. Tudo embalado por um clima soul-funk. De certa maneira, Cooder previa os temas dos rappers de hoje, em especial a violência urbana.

“Look at a Granny Run Run” foi grande sucesso na voz de Howard Tate, um cantor de soul music da segunda metade da década de 60. A recriação de Cooder mantém o sabor original da primeira versão, mas acrescenta um astral de blues, com o mandolin e seu violão de aço fazendo a introdução. O vovô fica correndo atrás da vovó, vocês imaginam com que intenção, né? Lá pelas tantas, o vovô deixa tudo explícito: “Olhe aqui, mamãezinha, pare de correr/ tudo o que eu quero é fazer um amorzinho antes que chegue a minha hora/ Não tem nada errado com isso”.

“Trouble, You Can't Foll Me” mantém a levada R&B com ênfase no blues, especialmente nas guitarras e violões que fazem uma teia de sons, segurando a onda de Cooder e seus backing vocals. As mulheres continuam a ser um problema, mas elas não podem enganá-lo. “Estou te vendo atrás daquela árvore”.

A faixa seguinte, “Don't Mess Up a Good Thing”, foi sucesso com a cantora Fontella Bass, mas aqui vira um funky superdançante com a bateria de Keltner fazendo aquela batida soul, mantendo o clima dado pelas guitarras e pelo órgão, enquanto Cooder e Chaka Khan conversam. A mulher pede que ele “não estrague uma coisa boa” e o homem diz que “mesmo que tenha pulado a cerca de vez em quando, o cheque do pagamento vai pra ela”. É interessante que Cooder revisite o R&B dos anos 50 e 60, quando as mulheres ainda não tinham voz ativa na sociedade e eram figuras decorativas que só pensavam em gastar o dinheiro de seus maridos. O revisionismo de Ry Cooder chega a este ponto, quase que um tema só no disco inteiro, apesar das composições serem todas diferentes.

Pra fechar este maravilhoso disco, “I Can't Win”, uma balada soul entoada pelo incrível Bobby King. Cooder se dá ao luxo de fazer backing vocal pro seu backing! E se você não se dobrou totalmente por este disco e esperou até o último momento, chegou a sua hora de ajoelhar e rezar na igreja de São Ry! Esta não é uma canção. É uma prece! “Tenho tentado muito encontrar um caminho pro seu coração/ mas não consigo ganhar/ seu amor”. É uma canção de coração partido, triste como ela só. Mas com este astral gospel americano de verdade e não esta chinelagem travestida e “universalizada” (se é que vocês me entendem) que a gente ouve por aí. Se não tivesse acompanhamento musical, esta ainda seria a melhor canção do disco inteiro. É de arrepiar os cabelos. Vozes de verdade, sentimentos de verdade. Há quanto tempo, você não ouvia falar nisso, hein? Bobby King ganhou este presente de Ry Cooder, que repassou para nós, ouvintes.
*******************

FAIXAS:
1. "Little Sister" (Doc Pomus, Mort Shuman) – 3:49
2. "Go Home, Girl" (Arthur Alexander) – 5:10
3. "The Very Thing That Makes You Rich (Makes Me Poor)" (Sidney Bailey) – 5:32
4. "I Think It's Going to Work Out Fine" (Rose Marie McCoy, Sylvia McKinney) – 4:43
5. "Down in Hollywood" (Cooder, Tim Drummond) – 4:14
6. "Look at Granny Run Run" (Jerry Ragovoy, Mort Shuman) – 3:09
7. "Trouble, You Can't Fool Me" (Frederick Knight, Aaron Varnell) – 4:55
8. "Don't Mess Up a Good Thing" (Oliver Sain) – 4:08
9. "I Can't Win" (Lester Johnson, Clifton Knight, Dave Richardson) – 4:16

*******************
OUÇA O DISCO:




sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Janis Joplin - "Pearl" (1971)




"Ela jogou fora,
em poucos anos,
toda a energia de uma vida"
presidente da Columbia Records,
gravadora de Janis Joplin,
na época de sua morte



A música de Janis Joplin entrou tarde na minha vida, mas não tarde demais. Só fui ter contato com o  trabalho desta magnífica artista há uns poucos anos atrás quando um amigo meu se livrou do seu "Janis in Concert" e me deu o CD. Fiquei encantado! Como eu nunca tinha notado aquilo? Dado atenção? Como nunca tinha apreciado?
Bom antes tarde do que nunca.
A partir daquele ao vivo póstumo quis conhecer melhor sua música de estúdio e procurei ouvir seu mais elogiado trabalho, o célebre “Pearl”, de 1971, que não só confirmou, como superou todas as expectativas.
“Pearl” já mostra a que vem com a excepcional “Move Over” que faz as honras de abertura, num rock, vigoroso, cheio de energia, embalo e talento. Pra não dar chance nem pra se recuperar da primeira, Janis sai rasgando a voz na introdução da apaixonada “Cry Baby”, em uma interpretação emocionante e maravilhosa.
A soul suingada “Half-Moon, com seu piano envolvente e percussão carregada; o blues-rock instrumental pegado “Buried Dead in the Blues”; a excelente “Get It While You Can” em mais uma interpretação marcante; e a agradável “Trust Me”, merecem destaque especial, mas os grandes momentos do álbum são, não por acaso, dois de seus maiores clássicos: o clássico country, “Me and Bob McGee”, que com um colorido todo soul tem sua versão definitiva na voz de Janis, sendo até hoje um de seus números mais emblemáticos; e a legendária “Mercedez-Benz”, que com sua interpretação à capela, tornou-se uma das canções mais conhecidas  e saudadas de todos os tempos.
“Pearl” foi o último registro de estúdio feito pela jovem cantora que viria a falecer poucos meses após a finalização das gravações. Mais uma daquelas carreiras curtas abreviadas por uma morte prematura de um artista que por certo ainda teria muita coisa de interessante para nos mostrar. Onde aquela menina iria parar cantando daquele jeito? Bom, não temos como saber. Só nos resta imaginar. Resta contentamo-nos com o que ela deixou. O que não é pouco. Não é mesmo.
***************************************
FAIXAS:
  1. "Move Over"
  2. "Cry Baby"
  3. "Woman Left Lonely"
  4. "Half-Moon"
  5. "Buried Alive In The Blues"
  6. "Me and Bobby McGee"
  7. "My Baby"
  8. "Mercedez Bens"
  9. "Trust Me"
  10. "Get it While You Can"

*************************************
Ouça:
Janis Joplin Pearl


Cly Reis

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Tedeschi Trucks Band - "Revelator" (2011)



Eu comecei a cantar quando era uma garotinha,
antes mesmo de falar.
 Minha mãe disse que eu costumava
cantar todas as manhãs no berço.” 
Susan Tedeschi


A Tedeschi Trucks Band, para quem ainda não conhece, e anteriormente conhecido como Derek Trucks e Susan Tedeschi Band, é um grupo de rock blues de Jacksonville, Florida. Formada em 2010, a banda é liderada pelo casal Derek Trucks e Susan Tedeschi, junto com os membros de seus grupos quando solos, uma banda com “apenas” 11 integrantes. Seu álbum de estreia, "Revelator" (2011), ganhou o 2012 Grammy Award de Melhor Álbum de blues.
E como não ser né? Para quem não sabe, Derek é sobrinho de Butch Trucks, baterista da “The Allman Brothers Band”, nada mais nada menos que uma das melhores bandas que já conheci até hoje, uma mistura de rock, blues e country viciante... Ok, depois eu faço um “álbuns” sobre essa baita banda, onde Derek também fez parte.  Mas, voltando ao guri, ele começou a tocar guitarra aos 9 anos e aos 13, já havia tocado ao lado de Buddy Guy, sem contar que cresceu ouvindo e aprendendo com ninguém menos que Duane Allman, guitarrista do Allman Brothers e uma das influencias de Derek quanto ao estilo de tocar com slide, que infância hein... E hoje tem sido apontado como melhor guitarrista de slide. Além de já ter tocado com Allman Brothers, Buddy Guy, Bob Dylan e John Lee Hooker, em 2006 foi convidado para fazer uma turnê mundial de Eric Clapton como solista, é muita honra!
E a Susan? Quando eu crescer, quero ser como ela!!! (rsrsrs!). Além de linda, a voz dela tem sido descrita como uma mistura de Bonnie Raitt e Janis Joplin, e ambas foram suas influências. Sem contar o estilo de tocar guitarra que é influenciado por Buddy Guy, Steve Ray Vaughan , Freddie King e Doyle Bramhall. Ela foi criada em uma família que não era musical, mas ficava escutando a coleção de vinis de blues que o pai dela tinha, onde começaram suas inspirações. Ela se juntou a um grupo gospel até se formar em composição musical aos 20 anos, ela continuou cantando gospel até ingressar na cena de blues de Boston, onde logo se estabeleceu como uma das melhores atuações ao vivo. Sua crescente reputação como corajosa e poderosa cantora e guitarrista a levou em 1998, a uma indicação ao Grammy por melhor artista novo. Ela já abriu shows de John Mellencamp, Bob Dylan e Rolling Stones, e de seus heróis pessoais como BB King, Buddy Guy e Taj Mahal. E foi abrindo shows em uma turnê para o Allman Brothers que essa dupla se encontrou.
Sobre "Revelator"... Pra quem não ouviu ainda, está perdendo tempo! Baita álbum e que começa com uma sonzeira chamada Come See About Me, duvido ouvir essa música sem ao menos se balançar ou bater o pezinho. Outro destaque nesse álbum, em minha opinião, é Midnight In Harlem, é tão doce, suave, ótima de ouvir, começa com um solinho discreto do Derek e seu slide e de Kofi Burbridge em seu keyboard que dá todo o charme para o inicio dessa baita música onde, em seguida, chega dona Susan com seus vocais fortes e suaves dando um show... É, acho que essa música é a minha preferida! Ah, isso sem falar de "Until You Remember", no mesmo embalo sutil, porém com aquela pegada R&B clássica da Susan. Tem outra também que gostaria de destacar, "Learn How To Love", onde voltamos a ouvir um bom, velho e pegado rock n’ roll soul, (rss)... Bom demais! Então, Tedeschi com seus vocais poderosos e suaves, e Trucks com sua guitarra deslumbrante em solos a base de slides maravilhosos, complementam um ao outro, formando essa baita banda que lhes apresento: Tedeschi Trucks Band!
*******************

vídeo de "Midnight in Harlem" - Tedeschi Trucks Band

*******************

FAIXAS:
1 "Come See About Me"                 
2 "Don't Let Me Slide"                 
3 "Midnight In Harlem"                 
4 "Bound For Glory"                 
5 "Simple Things"                 
6 "Until You Remember"                 
7 "Ball And Chain"                 
8 "These Walls"                 
9 "Learn How To Love"                 
10 "Shrimp And Grits (Interlude)"                 
11 "Love Has Something Else To Say"                 
12 "Shelter"


********************

Ouvir:
Tedeschi Trucks Band - Revelator


domingo, 13 de abril de 2014

John Lee Hooker - "House of the Blues" (1959)



"John Lee Hooker é um daqueles caras
 que sabe o que é ter o blues,
e como mostrá-lo. 
A prova de que ele pode fazer isso
com estilo individual, força dramática e balanço crescente pode ser comprovado nesta coletânea, que deve ser considerada como um dos grandes álbuns de blues dos últimos anos."
nota da contracapa do
LP origianl de 1959


A voz rouca, o estilo quase falado de cantar, a marcação com o pé, um blues ao mesmo tempo primário e sofisticado, todas estas são marcas registradas de John Lee Hooker, uma das maiores lendas do blues e um dos músicos mais influentes de todos os tempos. Em 1959 esse cara lançava seu primeiro álbum, "House of the Blues", na verdade, uma coletânea de gravações avulsas realizadas de 1951 a 1955, com algumas faixas impressionantemente muito bem produzido e mixadas para os recursos da época, o que, de forma alguma, pelo bom aparato técnico, fazia perder a característica bem 'raiz', da música do cantor.
Como cartão de visitas, o disco abre com "Walkin' the Boogie ", um blues elétrico, experimental, que um ouvinte menos avisado poderia tranquilamente confundir com Jimmi Hendrix, e que revela bem essa ambiguidade entreo apro técnico e crueza. Também é exemplo de boa produção, a ótima "It's My Fault" com seus efeitos na voz e na guitarra e acompanhamento de piano ao fundo.
"Union State Blues", com seu solo insistente de guitarra; a belíssima "Sugar Mama" e a ótima "Louise" fazem a linha mais tradicional do cantor, em canções mais básicas, mais cruas, no modelo voz, guitarra, e marcação.
Ainda valem destaque a boa "Rumblin' by Myself" que inicia já com aquele 'mugido' característico de Hooker; o show do violão no blues acústico "Grounfd Hog Blues"; o bles/rock embalado "High Priced Woman"; e o rock'n roll de beira de estrada, quase à Chuck Berry, "Women and Money", que fecha a conta.
Grande disco de blues/rock que sempre tive vontade de ter e que, dia desses, passando pelos usados de uma loja que frenquento, dou de cara. "Ôpa! Só se for agora". Mais um ÁLBUNS FUNDAMENTAIS para a prateleira. Tá lá.
***********************************************

FAIXAS:

  1. Walkin’ The Boogie
  2. Love Blues
  3. Union Station Blues
  4. It’s My Own Fault
  5. Leave My Wife Alone
  6. Ramblin’ By Myself
  7. Sugar Mama
  8. Down At The Landing
  9. Louise
  10. Ground Hog Blues
  11. High Priced Woman
  12. Women And Money
************************************

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Arc Angels - "Arc Angels"(1992)



"Bendigam o Senhor,
 vocês, seus anjos poderosos,
que obedecem à sua palavra."
Bíblia Sagrada,
Salmos 103:20



Houve então que, em 1990, um Deus do blues embarca para o céu. Stevie Ray Vaughan abandona a Terra, mas deixa seus anjos da guarda: os ex-companheiros da banda Double Trouble (Tommy Shannon, no baixo, e Chris Layton, na bateria). Estes ficam para perpetuar o som do blues-rock. Mas, não suficientemente fortes, chamaram os guitarristas e vocalistas Doyle Braham II e Charlie Sexton. Eis que surge o Arc Angels.
Os demônios, que sempre flertam com o blues, atingiram Doyle, envolvendo-o à tentação das drogas. Esta heresia, entre outros problemas, encurtaram a vida dos Angels, em 1993.  Mesmo assim, os anjos foram lançados à terra e à história da música. O legado é apenas um álbum, que se eternizou. Para não perder a fé dos fãs, a banda realiza, desde 2009, alguns shows esporádicos, mas sem a presença de Shannon no palco. Nas turnês, Mark Newmark é o enviado para o contrabaixo. Estas aparições renderam um CD/DVD intitulado “Living in a Dream”.
A título de curiosidade, Doyle contribuiu (e muito) para outro Deus: Eric Clapton. Tanto em apresentações em shows ao vivo, como atuando em vários discos. Desde “Riding with the King”, de 2000, - que tem a parceria de outro ser superior, o mítico B.B. King - são oito discos que contam com a sua presença. Ainda tendo a honra de ter registradas duas covers de suas músicas: “Marry You” e “I Wanna Be”, esta última composta em conjunto com Charlie Sexton.
Regressando ao álbum homônimo, este oferece uma interessante sincronia da bateria com o baixo. Uma base importante para as duas guitarras solarem independentes, no entanto completando as “frases” de uma com a outra. Doyle apresenta sonoridade mais “suja”, abusando de distorções, bem ao estilo rock and roll. Já Sexton fica com a “limpa”, bem tradicional do blues. Outra marca da banda é a troca de vocais na maioria das músicas, cantadas quase meio a meio. Ou seja, repartindo o pão.
Eis alguns destaques dos doze versículos que compõem esta obra. Um sonho é o tema de “Living In A Dream”, que mostra a presença já referida da divisão de vocais. De forma “rasgada” vem Sexton, de maneira “anasalada” responde Doyle. Uma canção que lembra a guitarra de Stevie Ray. Outra canção que teria a benção de Vaugahn é “Paradise Café”, que apresenta o ritmo do blues texano - uma levada mais visceral, com bom peso nas guitarras.
Com uma percussão inicial, são evocados os anjos e assim começa “Sent By Angels”. Doyle monopoliza o vocal nessa música. Para deixar a base da canção mais “iluminada” foram utilizados um violão e um órgão de igreja.
As santas também tem vez no álbum. São duas baladas românticas interessantes, que canonizam duas mulheres. Ao som mais comercial, mas não menos celestial, vem “Sweet Nadine”. Nesta, Sexton canta sobre uma garota inesquecível, mas que não sabe o seu verdadeiro nome. Diferentemente da outra, em “The Famous Jane”, ele conhece bem a sua alcunha, além de recordar até da sua graça e pureza.
A influência do funk americano se apresenta por duas vezes no disco. Em “Good Time”, Doyle canta grave e insere um wah-wah na guitarra; fora o baixo de Shannon ser bem pulsante. Elementos que evocam os espíritos da black music. Na mesma batida do groove tem “Carry Me On”, mas com ritmo mais lento, flertando com o rhythm blues.
Ao som melancólico e com uma letra cheia de lamentações, a “See What Tomorrow Brings” tem o solo de guitarra “chorado” de Doyle, bem ao estilo de Clapton. Além disso, os riffs iniciais da música lembram “Sun King”, dos Beatles.
A redenção pode ser conferida em duas músicas. A “Shape I'm In” é bem ao compasso dos rocks dos anos 1950. Já “Always Believed In You” possui a cadência mais contemporânea da época.
A composição das duas guitarras é o destaque de “Spanish Moon”. Doyle e Sexton dão um show à parte. Tanto nos riffs como nos solos. Um abre a brecha para o outro solar.
Apesar do paraíso e anjos referidos, a queda também faz parte desse universo. Em “Too Many Ways To Fall” são males da vida que contextualizam a música, tendo um quê de levada musical dos Rolling Stones.
Após divagar sobre este álbum, segue uma passagem da Bíblia, em Salmos 103:20, que refere: “Bendigam o Senhor, vocês, seus anjos poderosos, que obedecem à sua palavra.” O livro sagrado sugere aos anjos corresponderem à Deus, no entanto os mesmos podem ter o dom de emanar um som divino, como foi o caso deste disco.
Glória ao Stevie Ray. Ao Arc Angels. Ao blues-rock. Amém.

*********************************************

FAIXAS:

  1. "Living In A Dream" (Doyle Bramhall II, Charlie Sexton) – 4:54
  2. "Paradise Cafe" (Charlie Sexton, Tonio K) - 5:14
  3. "Sent By Angels" (Doyle Bramhall II) – 5:44
  4. "Sweet Nadine" (Charlie Sexton, Tonio K) – 4:31
  5. "Good Time" (Doyle Bramhall II, S. Piazza) – 4:47
  6. "See What Tomorrow Brings" (Doyle Bramhall II) – 6:27
  7. "Always Believed In You" (Charlie Sexton, Tonio K) – 4:55
  8. "The Famous Jane" (Charlie Sexton, Tonio K) – 4:31
  9. "Spanish Moon" (Doyle Bramhall II, Charlie Sexton, Chris Layton) – 5:48
  10. "Carry Me On" (Doyle Bramhall II) – 4:09
  11. "Shape I'm In" (Doyle Bramhall II, Charlie Sexton, Marc Benno) – 4:07
  12. "Too Many Ways To Fall" (Chris Layton, Tommy Shannon, Charlie Sexton, Tonio K) – 5:52

***********************************************
Ouça:




sábado, 16 de março de 2013

Janis Joplin - "Joplin in Concert (1972)




“Existe coisa pior que morrer aos 27 anos, numa overdose acidental, depois de terminar um trabalho excelente? Sim. Ser a associada a bichos-grilos deslocados de geração, ser vomitada por rádios que fazem do rock música retrógrada para ogros ignóbeis... Virar símbolo das mulheres-que-não-tomam-banho-e-têm-o-sovaco-cabeludo, ser vulgarizada como a baranga hiipie que o Serguei carcou”.
Pedro Só, jornalista 

O pior é que eu era desses. Dos que consideravam Janis só mais uma riponga despirocada da cabeça que, até tinha algum talento, sim, mas que abusava um pouco além da conta dos gritos e dos improvisos. Assim, nunca tive maior respeito pelo trabalho dessa moça. Mas minha impressão foi mudando com o tempo. Fui ouvindo uma aqui, outra ali, descobrindo que tal música que eu conhecia era cantada por ela, achando interessantes aquelas evoluções vocais, achando inspirados aqueles improvisos, até que, por fim, ela foi entrando na minha paisagem musical. Minha descoberta definitiva deu-se no entanto, quando um amigo meu, livrando-se de alguns CD's, me deu o "Joplin In Concert" (1972). Como disse, tirando "Mercedes-Benz" que é praticamente a marca registrada da loirinha e que todo mundo já ouviu pelo menos uma vez na vida, todo meu conhecimento de Janis até então era muito superficial, e ouvindo então aquele álbum ao vivo, abriram-se meus olhos definitivamente. Nossa! que cantora, que performance, que álbum ao vivo.
Este póstumo de Janis Joplin na verdade traz momentos distintos ao vivo com bandas diferentes e foi lançado originalmente em vinil duplo, com o acompanhamento de uma banda em cada disco, sendo a primeira parte, com a Big Brother and the Holding Company, banda da qual fez parte na primeira fase da carreira, mostrando uma sonoridade um pouco mais rock, mais pegada; e o disco 2, com a Full Tilt Boogie Band, do seu cultuado álbum "Pearl", puxando um pouco mais para o blues e soul. Mas a distribuição não precisa ser levada tão à risca, uma vez que a parte rock do disco, tem por exemplo, o excelente blues envenenado, "Piece of my Heart", e a "metade blues", por assim dizer, tem um rock soul e psicodélico como "Road Block".
Mas não ficamos só nestas: destaques também para , "Down on Me" que abre o álbum, um rock poderoso com uma pegada country-folk; para "All is Loneliness" que me lembra bastante The Doors; para a interpretação fantástica dela em "Summertime"; para a soul poderosa "Half Moon"; e para a faixa final, de performance incrível da cantora, "Ball and Chain". Sei que para fãs da antiga essas são completamente batidas mas, perdoem-me a empolgação, eu as conheci nesse ao vivo e adorei nessas performances.
Outro daqueles álbuns que se alguém puder ter em LP, por conta dessa diferença dos momentos, das apresentações, dos conceitos, das bandas, das performances, deve-se dar preferência para o formato vinil.
Daquelas artistas que mostram para a gente como é importante saber reconsiderar. Eu tive ouvidos abertos e felizmente descobri Janis Joplin ainda em tempo.Acho que me redimo de todas as injustiças que durante muito tempo dediquei a ela com este ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
***********************************
FAIXAS:
  • Disco 1
lado A
1. "Down on Me"
2. "Bye, Bye Baby
3. "All is Loneliness"
4. "Piece of My Heart"
lado B
1. "Road Block"
2. "Flower in the Sun"
3. "Summertime"
4. "Ego Rock"
  • Disco2
lado C
1. "Half Moon"
2. "Kozmic Blues"
3. "Move Over"
lado D
1. "Try (Just a Little Bit Harder)"
2. "Get It While You Can"
3. "Ball and Chain"
* No disco 1: "Down on Me" e "Piece of My Heart", foram gravadas em Detroit, no Grande Ballroom, em 2 de março de 1968;
"All is Loneliness" e "Ego Rock", no Fillmore West em San Francisco, em 4 de abril de 1970;
"Road Block", "Flower in the Sun" e "Summertime", gravadas em San Francisco, no Caroussel Ballroom em 23 de junho de 1968;
e "Bye, Bye Baby, também em San Francisco, mas no Winterland, em 12 de abril de 1968.
* No disco 2: todas foram gravadas no Canadian Express Festival, porém "Half Moon" e "Kozmic Blues"  foram registradas em Toronto, no dia 28 de junho de 1970; e as demais em Calgary, também no Canadá, em 4 de julho de 1970.
Formações:
Big Brother and The Holding Company
  • James Gurley – Guitarra
  • Sam Andrew – Guitarra
  • Peter Albin – Baixo
  • Dave Getz – Bateria
Full Tilt Boogie Band
  • John Till – Guitarra
  • Richard Bell – Piano
  • Ken Pearson – Orgão
  • Brad Campbell – Baixo
  • Clark Pierson – Bateria
 **********************************************
Ouça:

terça-feira, 17 de julho de 2012

Muddy Waters - "Fathers and Sons" (1969)




“Meu ‘encanto’ funciona,
mas não com você”
“Got My Mojo Working”



Depois da fase experimental, uma retomada ao bom e velho blues característico e as pazes com os fãs, críticos, e consigo mesmo. Em “Fathers and Sons” de 1969, o grande Muddy Waters retornava ao seu estilo habitual proporcionando blues da melhor qualidade, dois discos após a psicodelia barulhenta de "Electric Mud", disco excelente, renegado no entanto pelo próprio artista.
Lançado originalmente como LP duplo, trazia 16 músicas no total sendo o disco 2 apenas com versões ao vivo.  O formato CD tem 4 faixas de estúdio a mais mas mantém as seis originais de show. Entre estas ao vivo temos a arrepiante “Long Distance Call” com sua guitarra estridente levando o público ao delírio; “Baby Please Don’t Go” que já havia sido consagrada na versão do Them, mas aqui não tão acelerada quanto na versão da banda de Van Morrison; e o clássico “Got My ‘Mojo’ Working”, tocada duas vezes, executada de modo vibrante com participação entusiástica da galera. No mais, a balada com a harmônica chorosa, “Mean Disposion”; o show particular de guitarra de Muddy em “Can’t Lose What You Ain’t Never Had”; a performance coletiva arrasadora de todo o time em “Stand Round Cryin’” e a incrível “Twenty Four Hours mostravam quem mandava no pedaço.
Era o velho McKinley Morganfield retornando com vivas ao seu bom e velho blues elétrico.
A capa genial com um  Deus negro criando o Homem, de certa forma é muito sugestiva quanto a este retorno de Muddy às suas raízes e parece conter uma espécie de recado, tipo, Deus criou o Homem. O Homem criou o blues. Muddy Waters  criou o Blues de Chicago.
Muddy fez “Fathers and Sons”...
Deus é pai, Deus é pai.
************************************

FAIXAS:
  1. "All Aboard" – 2:52
  2. "Mean Disposition" – 5:42
  3. "Blow Wind Blow" – 3:38
  4. "Can't Lose What You Ain't Never Had" – 3:06
  5. "Walkin' Thru The Park" – 3:21
  6. "Forty Days And Forty Nights" (Roth) – 3:08
  7. "Standin' Round Cryin'" – 4:05
  8. "I'm Ready" (Dixon) – 3:39
  9. "Twenty Four Hours" (Boyd) – 4:48
  10. "Sugar Sweet" – 2:18
  11. "Long Distance Call" – 6:37
  12. "Baby, Please Don't Go" (Williams) – 3:03
  13. "Honey Bee" – 3:56
  14. "The Same Thing" (Dixon) – 5:59
  15. "Got My Mojo Working, Part 1" (Foster, Morganfield) – 3:22
  16. "Got My Mojo Working, Part 2" (Foster, Morganfield) – 2:54
faixas extras da versão CD:
"Country Boy" – 3:20
"I Love the Life I Live (I Live the Life I Love)" (Dixon) – 2:45
"Oh Yeah" (Dixon) – 3:38
"I Feel So Good" (Big Bill Broonzy) – 3:00

********************
Ouça:

terça-feira, 29 de maio de 2012

Bo Diddley - "Bo Diddley" (1958)




“Bo Diddley é Jesus”
título de música da banda
The Jesus and Mary Chain 



Aquela guitarra era solo, base e percussão ao mesmo tempo!
Bo Diddley, ex-fabricante do instrumento, depois de ter produzido algumas tantas pela vida, reinventava o instrumento com uma batida única que revolucionaria o blues, o rock, a música de um modo geral. (Depois ainda reinventaria o instrumento, literalmente, produzindo a sua famosa guitarra quadrada, cujo formato não tinha muito a ver diretamente com a sonoridade e mais com o conforto de Bo na hora de tocar).
Destaco aqui seu primeiro álbum “Bo Diddley” de 1958, disco que traz algumas de suas mais marcantes canções como a 'pausada' “I’m a Man”; o gostosíssimo blues “Before you Acuse Me”; a ‘percussionada’ “Hush Your Mouth”; a excelente “Who Do You Love?”, regravada depois numa versão bem bacana pelo duo escocês The Jesus and Mary Chain, que o tem praticamente como um deus; além, é claro, das auto-homenagens megalomanas “Hey, Bo Diddley” e a outra que simplesmente leva o seu nome assim como o disco.
É outro dos poucos que eu listei aqui nos FUNDAMENTAIS que eu não tenho. Tenho, sim a coletânea da Chess Records que tem tudo de melhor da carreira do artista, inclusive todas deste álbum. Boa alternativa pra quem, como eu, não tem este primeiro disco deste bluesman pra lá de original. Mas, se encontarem, comprem. Eu, certamente farei o mesmo se topar com ele.

***********************************

FAIXAS:
1. "Bo Diddley" (2:30) 
2. "I'm a Man" (2:41)
3. "Bring It to Jerome" (Jerome Green) (2:37)
4. "Before You Accuse Me" (2:40)
5. "Hey! Bo Diddley" (2:17)
6. "Dearest Darling" (2:32)
7. "Hush Your Mouth" (2:36)
8. "Say, Boss Man" (2:18)
9. "Diddley Daddy" (McDaniel, Harvey Fuqua) (2:11)
10. "Diddy Wah Diddy" (Willie Dixon) (2:51)
11. "Who Do You Love?" (2:18)
12. "Pretty Thing" (Dixon) (2:48) 


*************************************

Ouça:
Bo Diddley 1958


Cly Reis











quinta-feira, 22 de março de 2012

cotidianas #147 - O Filho do Diabo

Quem seria àquela hora?
As batidas insistentes na porta interrompiam sua habitual sesta, da qual não abria mão, principalmente naquela época do ano em que fazia muito calor. Lidara a manhã inteira no campo de algodão e agora que conseguia descansar o corpo exausto um inconveniente vinha incomodá-lo. Quem seria?
Levantou-se ainda meio sonolento, vestiu a calça e foi até a porta ainda vestindo a camiseta regata. Abriu apenas a porta interna de madeira, deixando fechada a porta telada que lhe socorria dos insetos à noite. A claridade da rua ofuscou por um momento seus olhos, mas assim que fixou a visão, deparou-se com um negro retinto magro de chapéu de abas largas na cabeça e vestido com um terno escuro com camisa branca e  uma gravata estreita fixada no colarinho por um pregador prateado. O negro que exibia um sorriso largo, amplo, branco e com um sutil ar debochado, inclinou-se suavemente para a frente, aproximando o rosto da tela de mosquitos, encarando o dono da casa com interesse.
- Em que posso ajudá-lo? - quis saber o jovem Bob com uma certa irritação por ter sido acordado.
O desconhecido, sem desfazer o sorriso, respondeu com outra pergunta:
- Não se lembra de mim, irmão?
Bob não era bom fisionomista, mas tinha certeza de nunca ter visto aquele cidadão antes, até porque não haveria como esquecer um sorriso daqueles que parecia ter todos os dentes do mundo.
- Não, acho que não - respondeu esperando ser, então, informado acerca da ocasião da apresentação entre os dois. Mas não foi o que recebeu.
- Tem certeza, irmão?
A insistência do estranho, aliada à inconveniência da visita começavam a lhe incomodar um pouco mais agora. Sem falar naquele incômodo tratamento excessivamente aproximador, ainda mais por aquelas bandas do Mississipi, principalmente entre os pretos, como ambos eram.
- Sim, tenho certeza! Agora vai dizendo o que quer ou vai caindo fora - levantando a voz.
- Desculpe, irmão.  - disse o estranho sem desfazer um milímetro da bocarra sorridente - é que por um momento achei que seu rosto me fosse familiar...
- E então? O que quer? - insistiu.
- Sua mãe está, irmão?
Bob não conseguiu disfarçar um certo embaraço:
- Minha mãe morreu faz 7 anos, cara! o que é que você quer afinal?
- Ah, sinto muito, irmão. Me solidarizo com sua dor. - agora escondendo os dentes mas mantendo um tom de troça e levando o chapéu ao peito como em condolência.
- E pare de me chamar de irmão. - ordenou finalmente tomando aquela atitude que já queria ter tomado desde que o homem o chamara daquela maneira pela primeira vez naquela tarde
- Mas não somos todos irmãos perante... Ele, irmão? - argumentou em tom cínico movendo apenas os olhos na direção do céu.
- E quer saber: vai dando o fora daqui antes que eu pegue a minha espingarda e te ponha pra fora cheio de chumbo no rabo.
- Desculpe, irmão. Eu não quis incomodar.
- Eu já disse pra não me chamar mais de irmão, cara! Chega dessa merda, eu vou pegar a minha arma.
E já ia virando quando o sujeito falou:
- Se prefere assim, Robert.
Interrompeu o movimento e parou intrigado.
- Como sabe o meu nome?
- Eu sei muitas coisas, Robert - agora definitivamente abandonando o tratamento de irmão.
- Quem é você? - perguntou o rapaz agora verdadeiramente curioso.
-Não se lembra de mim, Robert?
Não tendo resposta do rapaz que continuava encarando-o como que procurando alguma informação em algum lugar remoto da memória, o estranho de sorriso cheio continuou:
- É, acho que não poderia lembrar, mesmo. Mas conheci sua mãe.
Foi perceptível quando Robert arregalou os olhos.
Continuou:
- Ela ia a esses bares de pretos onde nós costumávamos tocar. Eu toquei com o teu pai, sabia?
A revelação pareceu estremecer o rapaz.
- Conheceu meu pai? Você sabe quem ele é?
- Ah, pode estar certo disso, irmão. O homem era bom naquilo. No blues, sabe? As mulheres caíam por ele. Foi o que aconteceu com a tua mãe. O problema é que quase sempre os maridos, os namorados não gostavam muito disso. Foi o que aconteceu com o homem dela. É, filho, um irmão que vivia com ela não gostou muito dessa brincadeira e "PUM!". Mandou bala no teu pai, irmão.
Então a mãe envolvera-se com um blueseiro. O pai fora assassinado. Por ciúmes! A revelação era assustadora. A mãe sempre lhe dissera simplesmente que o pai sumira no mundo. Por que nunca lhe contara aquilo?
- Tinha o teu mesmo nome, guri - disse agora mudando de tratamento novamente - De certo tua mãe quis homenagear. - completou esticando a última palavra ealargando ainda mais o sorrisão.
E continuou:
- O problema é que ele ficou me devendo uma coisa antes de morrer. Não estava nos meus planos que chegasse um sujeito qualquer de cabeça enfeitada e enchesse teu pai de bala. Aí que eu não tive tempo de cobrar.
- Eu não tenho muito dinheiro, moço, mas quanto é que ele ficou devendo? Sendo coisa justa e se estiver dentro do meu possível eu posso ver se consigo dar um jeito.
Riu alto desta vez e balançou a cabeça negativamente o estranho.
- Não, não. Não se trata de dinheiro.
- O quê, então?
- Teu pai pediu minha ajuda e eu ajudei. Ele só tocava daquele jeito por minha causa, cara! Eu que afinei o violão pra ele. E olha que ele tocava demais, filho. Mas, tinha que vir aquele côrno gordo e "PÁ!". Eu não estava pronto pra levar o que era meu naquele dia, sabe? Aí que ele se salvou. Eu não consegui levar o que ele havia tratado comigo.
- Ainda não entendo...
- Entende, sim - mostrou ainda mais os dentes brancos o negro parado à porta.
- Você já tocou o blues, rapaz? - perguntou o estranho.
- Não. Minha mãe sempre me dizia que isso era coisa de vagabundos, que um homem de bem tem que trabalhar e não ficar andando com um violão, uma guitarra, uma gaita por aí. Nunca me deixou pegar num violão. - explicou o rapaz um tanto confuso.
- Tem um violão aí? - quis saber o negro apesar de já saber a resposta.
- Acho que tem um sim que a minha mãe guardava escondido de mim, no sótão.
- Vai lá buscar, filho. Eu espero.
Hesitou um pouco mas curioso, fechou também a porta de madeira, além da outra vazada que já estava fechada, por alguma garantia qualquer que desconhecia, e foi-se lá para dentro a buscar o instrumento.
Subiu ao sótão rapidamente e achou fácil atrás das antigas coisas da mãe falecida. Estava branco de poeira e as cordas irremediavelmente oxidadas. Espanou o violão como pode, desceu as escadas e levou ao estranho que esperava imóvel e com o mesmo sorriso de quando o deixara naquele mesmo lugar.
- Aqui está. - apresentou ao estranho.
- Sabe tocar?
- Já disse que não sei. Minha mãe nunca me deixou me aproximar disso - reforçou o rapaz.
- Eu acho que sabe... Toca. - disse apontando para o violão.
O rapaz então o empunhou com uma destreza que surpreendeu a ele mesmo. Levou à altura do peito e mesmo duvidando de si próprio moveu os dedos às cordas. De uma maneira inexplicável, assim que começou a mover os dedos, passou a produzir um som mágico, uma melodia admirável. O violão guardado todos aqueles anos estava perfeitamente afinado. E, cara, aquilo era blues! Era blues! Nunca havia tocado. Nem as cordas enferrujadas o impediam de fazer aquilo daquela maneira magistral. Que música era aquela? Nunca havia ouvido mas era como se a tivesse conhecido a vida toda. Robert podia não saber que música era aquela mas o estranho sabia: chamava-se"Me and the Devil Blues".
- Viu, guri. - agora já variava o tratamento entre irmão, filho, guri, cara...
- Como pode? Eu nunca...
- Foi seu pai. De alguma forma a alma dele permanece em você. E sabe como é que é, filho: trato é trato.
Robert só então parecia se dar conta do que se passava ali. De quem era aquele negro retinto permanentemente sorridente ali à sua frente. Sempre ouvira falar que os homens daquela região faziam muito desses tais pactos há muito tempo atrás mas nunca acreditara que fosse verdade.
- É alguma brincadeira? - quis certificar-se Robert.
- Temo que não, irmão.
- E o que acontece agora?
- Você vai lá dentro, veste um bom terno e vem comigo - como se fizesse alguma diferença vestir-se bem ou mal indo para o lugar onde o homem pretendia levá-lo.
- E se eu não quiser? - perguntou com uma ponta de medo do que teria como resposta.
- Bom, guri, esse foi só um primeiro encontro. Só quis que você soubesse das coisas, soubesse que eu estou por perto, de olho em você. Não esperava mesmo que viesse logo de cara. Se você não quiser vir hoje não tem problema, mais cedo ou mais tarde vai acabar tendo que vir. Mas pode ter certeza que eu não vou-te deixar escapar que nem aconteceu com o teu pai. - e perguntou só para confirmar - Mas então, você vem ou não?
- Não vou, não. Nem hoje nem nunca. Eu não tenho nada a ver com isso. Não tenho nada a ver se um blueseiro bêbado prometeu a alma pra Este ou pr'Aquele.
- Tem sim, guri. Tem sim - falou pacientemente e depois continuou - Mas não precisa ficar nervoso. Eu vou-me embora. Foi um prazer conhecê-lo, Robert - disse agora fazendo a mesma mesura da chegada, curvando-se e levando o chapéu ao peito, com os olhos cravados no rapaz e o sorriso, agora parecendo sinistro, absolutamente inalterado.
Virou as costas, desceu os dois degraus do alpendre e tomou o caminho de terra que começava na frente da casa. Andou poucos passos mas logo deteve-se voltando a cabeça para a casa, lançando um último olhar para o rapaz e fazendo questão de lembrá-lo daquilo que ele, Robert, no seu íntimo não tinha a menor dúvida:
- Eu volto - disse o negro, agora finalmente fechando o sorriso.
Robert só então abriu a porta de tela e ficou parado no alpendre com o violão em uma das mãos ao lado do corpo, acompanhando com os olhos o homem que ia caminhando pela estrada. Foi se afastando, se afastando e quando quase sumia da vista, um carro passou levantando poeira e que fez com que o estranho desparecesse finalmente ali pela altura da encruzilhada.



Cly Reis