Em "Meninas Malvadas", Cady Heron, uma adolescente que sempre vivera na África com os pais pesquisadores e fora educada em casa, ao retornar para os Estados Unidos, finalmente entra para uma escola. Lá, num primeiro momento, consegue fazer apenas alguns poucos amigos, dois míseros na verdade, e estes lhe apresentam as "tribos" do território, e a alertam em especial para um grupo de 'patricinhas' pretenciosas, conhecidas como "As Poderosas". Um pouco por curiosidade, um pouco por competitividade, outro tanto por crueldade, Regina George, a 'abelha-rainha' convida a novata Cady para fazer parte do grupo. Uma vez dentro, ela conhece toda a perversidade das riquinhas que desprezam e difamam as demais garotas da escola e ainda mantém um livro de comentários maldosos, fofocas, mentiras, e bullying, com fotos e ofensas contra muitas das outras alunas, com o qual se deliciam dando risadas.
Nesse meio-tempo, Cady cai de amores por um garoto da escola, só que o gatinho fora namorado exatamente de Regina, que sabendo do interesse da caloura, reata com o rapaz somente para comprovar força e magoar a outra. Indignada com o fato e solidária à única amiga de verdade, a esquisitona Janis, que sofrera humilhações nas mãos de Regina no passado, Cady resolve aproveitar sua situação dentro do grupo para desmoralizar a abelha-rainha, ganhar o garoto e tomar seu lugar na liderança das Poderosas.
As coisas dão certo... mas nem tanto... os objetivos são alcançados mas acabam gerando efeitos colaterais e, digamos, todas têm as lições que merecem e que precisam. Todas, TODAS mesmo! Inclusive as outras garotas da escola que aprendem e entendem a grande lição que meninas, garotas, mulheres devem se apoiar ao invés de ficaram se desvalorizando e se difamando.
Com pequeníssimas mudanças, a história é a mesma, até mesmo as falas são as mesmas e estão nos mesmos lugares no filme. O que muda é que o remake troca a narração da protagonista por uma condução musical para as explicações, elucidações, impressões e passagens de tempo. Criativo... Ousado... Interessante.
Mas o fato é que, praticamente tudo que a refilmagem se propõe a (re)fazer, é melhor no primeiro.
A apresentação às Poderosas no refeitório; a famosa cena em que Aaron fala com Cady pela primeira vez e que consagrou o dia 3 de outubro como o Dia Mundial das Meninas Malvadas; a fantasia de Halloween de Cady; a surpresa, o choque, a incredulidade pelo inusitado do atropelamento de Regina; a reunião de grupo de todas as garotas da escola no auditório para analisarem suas atitudes em relação às outras; a competição de matemática; e, é claro a icônica apresentação de Natal, que o remake até muda um pouco a situação excessivamente 'pastelão' do original, mas mesmo assim não chega perto da do Jingle Bell Rock com Lindsay Lohan salvando a apresentação e botando tudo abaixo numa performance inesquecível.
A propósito, as atualizações de mídias, temas, discussões, atmosfera, o comportamento, são alguns dos méritos da nova versão, mas ao contrário do que eu, que não gosto de musicais, imaginava, os números musicais que conferem ao longa um ar de um grande videoclipão, e as performances vocais de Reneé Rapp, a nova Regina George, são o grande trunfo para o novo filme e fazem com que ele realmente valha a pena.
Mas fica nisso...
Do outro lado temos um dos maiores clássicos teen desde os filmes de John Hughes e não tem como ganhar desse time. Quem pode segurar um ataque com Rachel McAdams, Amanda Seyfried e Lindsay Lohan? Impossível! (E ainda tem a boa Lacey Chabert fazendo função tática no meio). O trio de estrelas trama várias vezes pelo meio da defesa adversária totalmente desguarnecida e marca o primeiro. 1x0
As cenas clássicas já mencionadas: "Às quartas usamos rosa"; "No dia 3 de outubro ele me perguntou que dia era"; os 'atropelamentos'; a coreografia de Natal... Tudo isso garante o segundo gol para as malvadas de 2004. 2x0
O terceiro é dela, Lindsay "Loca" . Atleta difícil, daquelas que poderia ter construído um carreira mais exitosa se tivesse mais comprometimento, disciplina e outros detalhezinhos mais... mas que inegavelmente, em sua boa época, em jogos como esse desequilibrava. E foi o que aconteceu: atuação perfeita. Discreta quando tem que ser tímida, verdadeiramente divertida nos momentos engraçados, convincente na parte dramática, arrasadora quando tem que ser poderosa, e irresistível quando tem que fazer a gostosona. Lindsay Malvadeza se infiltra no campo do adversário (o covil da Poderosas), faz a leitura perfeita da jogada (o Livro do Arraso), dá um chega pra lá na rival (dizem que ela empurrou Regina na frente do ônibus...), cai, levanta, marca com categoria (dividindo a coroa do baile) e corre para o abraço com os verdadeiros amigos (Janis e Damian). 3x0
O remake faz o seu por conta das já destacadas partes musicais, os pequenos videoclipes de transições, pensamentos e devaneios com ótimas adaptações, bem pop e revitalizadas, das canções da peça da Broadway para o filme, além das excelentes performances vocais da cantora Reneé Rapp, cujas canções para sua personagem são especialmente legais. Legais mesmo! 3x1 para MM2004.
O novo filme até surpreende, joga bem, usa seus recursos, até tenta uma cartada de mestre usando a própria craque do time adversário, Lindsay Lohan, que aparece em uma cena como a mediadora da olimpíada de matemática, mas já veterana e sem o mesmo brilho de outros tempos não tem capacidade de mudar o resultado do jogo. Vitória das Poderosas de 2004.
por Cly Reis