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sábado, 21 de março de 2020

Exposição “Território Oscilante”, de José Bechara - Fundação Iberê Camargo - Porto Alegre (RS)




Bechara e suas formas básicas
reelaboradas
Aproveitando uma ensolarada tarde de férias, Leocádia e eu fomos visitar, após assombrosos 4 anos de ausência nossa, a Fundação Iberê Camargo. Motivos houve. Além da indisponibilidade de ambos por vários motivos, o Iberê, um dos carões-postais de Porto Alegre, teve, neste meio tempo sem que o víssemos, altos e baixos, a ponto de quase fechar as portas. Mas agora, retomada sua evidente importância para a cena cultural da cidade de uns 2 anos para cá, vem trazendo, como sempre se propôs, boas programações e, principalmente, exposições interessantes. Uma delas é a do artista visual carioca José Bechara, cujas obras tomam o 1º piso e o térreo do espaço, intitulada “Território Oscilante”.

Bechara, a quem havíamos tido a boa surpresa de ver de perto seu trabalho em uma exposição menor mas semelhantes no MON, em Curitiba, em 2014, tem uma obra bastante moderna em proposta, que lida diretamente com o espaço, o equilíbrio e a forma. Desta feita, com curadoria de Luiz Camillo Osório, são cerca de 30 obras, que retratam o universo estético e ideológico do artista. As formas geométricas usadas com agudez – ora o quadrado, ora o círculo – são base para toda uma construção pictórica, que visa ir ao princípio das coisas. Mesmo quando deformadas, as formas básicas estão lá. Assim são desde suas instalações (“Ok, Ok, Let’s Talk”, madeira, 2008) como os quadros “Díptico Macio” (da série Criaturas do Dia e da Noite, acrílica, oxidação de emulsões cúprica e ferrosa sobre lona usada de caminhão, 2018).

Opressão e incomunicabilidade na instalação “Ok, Ok, Let’s Talk”:
ironia que traduz tempos de autoritarismo

Como artista visual sintonizado com a modernidade, a superfície a qual materializa suas ideias é, a se ver pelos exemplos mencionados acima, bastante variável. Ele recorre desde a fotografia, a instalação com materiais diversos à pintura e até o uso de matérias-primas vulgares, como vidro, plástico e lâmpadas fluorescentes (“Nuvem para Meia Altura”, 2015-2019).
Diversidade de técnicas na obra de Bechara

Conforme o curador, a “atenção aos elementos materiais do mundo, a experiência do tempo e suas formas de inscrição na superfície das coisas, constituíram um modo de operação poética que teve a apropriação como método e a precisão como régua”.

A mostra ainda guarda um rápido mas interessante paralelo entre a obra do artista convidado, Bechara, com a do que nomeia o espaço, Iberê Camargo. Admirador da obra do artista gaúcho, Bechara - que o compara a Byron e Augusto dos Anjos pela originalidade ("gênios que possuem substâncias mentais semelhantes àquelas que deram origem ao mundo") - busca na brutalidade poética e sombria dos territórios estranhos em que este se embrenhou artisticamente para, modestamente, fazer um paralelo de suas obsessivas formas geométrica com os obsessiva composição do autor dos carretéis.

Vejam, então, algumas das obras da exposição:

Detalhe de quadro: técnica que usa oxidação e lona de caminhão
O interessante “Nuvem para Meia Altura”
Instalação "Sobre Amarelos", composta por acrílica, madeira e vidros (2019)



A tela gigante da série "Criaturas do Dia e da Noite"

Outra lindeza da mostra, "Preta com Verde": Acrílica e oxidação de
ferro sobre madeira, de 2012

Uma das esculturas que dialoga com dois quadros de Iberê

A outra escultura de Bechara que conversa conceitualmente com o artista anfitrião

Dois clássicos de Iberê escolhidos para estabelecer paralelo,
ambos da série "Desdobramentos", dos anos 70

As belas formas geométricas que tomam o térreo do centro cultural, proposta que já
havíamos conhecido em 2014


por Daniel Rodrigues

domingo, 2 de julho de 2023

Exposição "Nuances de Brasilidade: Repertório" - Centro Cultural PGE-RJ - Rio de Janeiro/RJ

 

Embora eu não entenda nada de astrologia, deve passar por alguma explicação neste sentido a minha ligação com o Rio de Janeiro. Digo frequentemente que, mesmo gaúcho, porto-alegrense nato, e com família e amigos que moram no Rio, ando por lugares que nem os cariocas circulam, o que me faz conhecer a cidade mais do que muitos deles. Numa dessas andanças cariocas na última vez que estive na cidade, saía eu de uma visita ao Paço Imperial, na Praça XV, no Centro (lugar que, sei, muitos turistas e nem os próprios cariocas vão) e, ao atravessar a 1º de Março, percebi no frondoso prédio da calçada oposta que havia uma entrada iluminada e convidativa. Parecia ser um espaço novo. E era: o Centro Cultural PGE-RJ, aberto em 2022 pela Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, atual responsável pelo prédio histórico. 

"Novo", modo de falar, pois o Centro Cultural PGE-RJ, recém-restaurado, fica no antigo Convento do Carmo, uma das mais antigas construções do país, cedido pelos monges carmelitas para servir de residência para D. Maria I quando da vinda da Família Real para o Brasil e datado da mesma época que o Paço, século XVII. Mas voltando à astrologia. Diz-se que o Rio de Janeiro tem como signo peixes, o que o faz ser uma cidade de belezas e mistérios. Afinal, não são à toa os versos: “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”. E o que me aconteceu naquele finalzinho de tarde em que saía do Paço Imperial foi de revelação de um desse tipo de mistério que o Rio guarda nas suas entranhas. Arrisquei e minha curiosidade foi recompensada pelo belo espaço expositivo que encontrei, o qual me lembrou os do próprio Paço Mais do que isso: a qualidade da exposição em si: "Nuances de Brasilidade: Repertório".

Não deu muito tempo para visitar, pois, como falei, já era fim de tarde e o horário de atividade estava se encerrando. Mas deu para apreciar a pequena e agradável mostra de 14 artistas brasileiros com obras cedidas por colecionadores particulares. Os trabalhos são de gente do calibre de: Abraham Palatnik; Emanoel Araújo; Frans Krajcberg; José Bechara; Luiz Zerbini; Miguel Rio Branco; OSGEMEOS; Rubem Valentim e outros. Só coisa fina.

Confiram algumas obras em exposição até setembro no belo espaço do casarão da PGE-RJ.

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Já de cara, um Palatnik (acrílica sobre madeira, 2015)

As formas orgânicas e perturbadoras de Krajcberg:
obra (pigmentos naturias sobre madeira) que é um dos destaques da mostra

A profusão ótica do paulista Zerbini ("Sem título", 2007)

A fotografia também presente na mostra pelas lentes de Luiz Braga
("Menino sentado no pneu", 1988)

A genialidade afro-simbolista de Emanoel Araújo, 
que marcou esta minha ida ao RIo em três expos diferentes

A arte d'OS GÊMEOS, "Gravidade Zero", técnica
mista sobre madeira (2012)

Outro gênio, Miguel Rio Branco, e suas imagens densas
que desafiam o conceito de fotografia ("Havana velha", 1994)

O baiano Valemtim, a quem me deparei também mais de uma vez,
com "Emblema 80", de 1980 (acrílica sobre tela)



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E
xposição "Nuances de Brasilidade: Repertório"
local: Centro Cultural PGE-RJ
Praça XV de Novembro – Centro (Rio de Janeiro)
período: até 16 de setembro de 2023
horário: de terça-feira a sábado, das 10h às 18h
ingressos: Gratuito

Daniel Rodrigues