quarta-feira, 11 de maio de 2022
segunda-feira, 9 de maio de 2022
"Drive My Car", de Ryusuke Hamaguchi (2021)
Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima)
é um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto (Reika Kirishima), uma
linda roteirista com muitos segredos, e com quem divide sua vida, seu passado e
colaboração artística. Quando Oto morre repentinamente, Kafuku é deixado com
muitas perguntas sem respostas de seu relacionamento com ela e arrependimento
de nunca conseguir compreendê-la. Dois anos depois, ainda sem conseguir sair do
luto, ele aceita dirigir uma peça no teatro de Hiroshima e vai com seu precioso
carro Saab 900. Lá, ele encontra e tem que lidar com Misaki Watari (Toko
Miura), uma mulher e chauffeur com quem tem que deixar o carro.
A forma com que o filme vai
desenvolvendo seu roteiro e sua velocidade, de maneira bastante lenta, podem ser
fatores que afastem o público por assim dizer geral, mais acostumado com roteiros mais dinâmicos e ágeis. Contudo, particularmente, devo afirmar que, pelo contrário, para mim foi um dos pontos altos, bem como seus momentos de silencio, e que não são poucos, tão necessários, mesmo em um filme de 3 horas de duração.
"Drive My Car" consegue abordar tantos temas polêmicos de forma singular! É verdade que alguns de maneira mais superficial que outros, mas estão todos lá; morte, solidão, relacionamento, perda... Nem todos são aprofundados, contudo são apresentados brilhantemente. Uma das maiores qualidade do longa de Ryusuke Hamaguchi é a capacidade de mostrar a importância do diálogo. A peça encenada dentro do filme é cheia de atores de diferentes partes da Asia, cada um falando um idioma diferente, mas, claro, temos uma japonesa, mas que, no entanto, ironicamente, só fala na língua dos sinais. Até mesmo nas cenas onde não temos diálogos, como o início da relação de Yusuke e Misaki, muito é dito mesmo em meio ao silencio.
O longa além de artisticamente muito bom, trabalha bem com as simbologias e serve também como objeto de reflexão sobre como lidamos com nossos problemas, se os enfrentamos, se fugimos deles, se fingimos que não existem, ou se simplesmente os aceitamos e deixamos que nos consumam.
Gosto muito também da forma que o filme aborda o luto, a
perda, a sensação de não ter mais aquela pessoa na sua rotina. Tudo funciona e é muito
interessante como a peça encenada no longa dialoga com a história do filme. E aqui, dialogar é a palavra certa.
Às vezes um bom diálogo não precisa de muitas palavras ditas. |
por Vagner Rodrigues
quinta-feira, 5 de maio de 2022
cotidianas #754 - A Estrada
Fred enterrou a bomba no carro. O marcador começou a correr. Leo entrou na loja de conveniência. Alguns snaks, umas cervejas...
- Quanto dá?
- $45, 60... - respondeu de má vontade, o atendente.
- ... mais o combustível. - completou Leo.
O caixa virou o pescoço, olhou pela janela, avistou a bomba de combustível.
- $120.
Dinheiro no balcão.
- Pode ficar com o troco.
Fred já completara o tanque, Myara já voltará do banheiro. Estavam prontos para seguir.
Uma voz fez com que Leo estacasse à porta antes de sair.
- Fiquem pela principal.
- Como é? - voltou-se o rapaz.
Um velho, no fundo da loja, quase oculto por sombras, confirmava a advertência:
- Fiquem na estrada principal. Não saiam dela por nada, entenderam?
- E quem é você para dizer por onde a gente deve andar? - inquiriu incomodado o jovem.
- Não importa. O que interessa é que...
- Olha, velhote, tá meio apertado nosso tempo e a gente tava exatamente pensando em pegar aquela saída à esquerda...
- Não façam isso!!!
- Qual o problema? - quis saber, agora curioso.
- A estrada não vai deixar vocês chegarem onde querem.
- É muito ruim? Tem muitos buracos, é isso? - imaginando serem os motivos.
- Não é isso! Ela tem vontade própria. Ela tem vida própria.
- Cala a boca, Raul. - ralhou o caixa - Ele vive assustando os motoristas por aqui com esse papo de estrada, uuuuh!!! Por causa dos adolescentes mortos lá. Faz muito tempo... Era um maluco desses, sabe. Desses psicopatas, coisa do tipo... Matou cinco jovens que iam pr'um acampamento. Mas é bobagem. Lenda.
Um pouco desconfiado, agora, Leo, hesitava um pouco. Não pôde deixar de notar os cartazes de desaparecidos, jovens como ele, na parede atrás do caixa.
Mas, por fim, mesmo um pouco ressabiado sobre o que acabara de ouvir, saiu da loja e juntou-se a Fred e Myara no carro.
- O que que você tem? - perguntou a garota.
- Nada, nada...
- Vamos nessa? - instigou o amigo, ao volante, dando algumas aceleradas só pelo prazer do barulho do motor.
- Vamos. Mas... vamos ficar pela principal, tá bom?
- Tá louco? O festival já tá quase começando e a gente tá aqui ainda. Vamos pela secundária, que eu falei, que é bem mais rápido.