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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Oscar 2024 - Os Indicados




Pronto! Chega de especulações. Depois do Globo de Ouro, Sindicato, Critics Choice, etc., premiações que balizam e meio que alimentam as hipóteses e aumentam as apostas em relação aos indicados ao Oscar, finalmente os temos, oficialmente, os nominados pela Academia. Como era de se esperar, "Oppenheimer", de Christopher Nolan leva um caminhão de indicações (treze); "Barbie", a outra sensação da temporada, também tem bastantes indicações (oito) mas menos do que eu particularmente esperava; por mais que se reclamasse da duração, não tinha como se ignorar "Assassinos da Lua das Flores" que ficou com dez indicações; e o azarão, diante das superproduções badaladas, mas que vem ganhando reconhecimento e força, "Pobres Criaturas", do sempre intenso Yargos Lanthimos, corre por fora concorrendo também para onze categorias.

Devo admitir que, ao contrário da maioria das pessoas, não me surpreendi com a não indicação de Margot Robbie para melhor atriz por "Barbie", um papel meramente competente na minha opinião, mas não estranharia nada se a diretora Greta Gerwig tivesse seu nome entre os indicados para direção. A propósito de diretoras, Justine Triet, vencedora da Palma de Ouro em Cannes, por "Anatomia de uma Queda", é nome forte e também pode surpreender no prêmio principal, quem sabe igualando o recente "Parasita" com uma dobradinha das duas principais premiações do mundo do cinema.
No mais, imaginava que o "Napoleão" de Ridley Scott tivesse mais e melhores indicações, já prevejo histeria e gritaria das/dos leonardetes pelo fato de Leonardo DiCaprio não ter entrado para melhor ator, e celebro a indicação de Lily Gladstone para melhor atriz, a primeira indígena norte-americana a ser indicada para um Oscar.

Fique, abaixo, com todos os indicados ao Oscar 2024:

📹📹📹📹📹📹📹📹

MELHOR FILME

• American Fiction

• Anatomia de uma Queda

• Barbie

• Os Rejeitados

• Assassinos da Lua das Flores

• Maestro

• Oppenheimer

• Vidas Passadas

• Pobres Criaturas

• A Zona de Interesse


MELHOR DIREÇÃO


• Justine Triet, por Anatomia de uma Queda

• Martin Scorsese, por Assassinos da Lua das Flores

• Christopher Nolan, por Oppenheimer

• Yorgos Lanthimos, por Pobres Criaturas

• Jonathan Glazer, por A Zona de Interesse


MELHOR ATOR


• Bradley Cooper, por Maestro

• Colman Domingo, por Rustin

• Paul Giamatti, por Os Rejeitados

• Cillian Murphy, por Oppenheimer

• Jeffrey Wright, por American Fiction



MELHOR ATRIZ

• Annette Bening, por NYAD

• Lily Gladstone, por Assassinos da Lua das Flores

• Sandra Hüller, por Anatomia de uma Queda

• Carey Mulligan, por Maestro

• Emma Stone, por Pobres Criaturas


MELHOR ATOR COADJUVANTE

• Sterling K. Brown, por American Fiction

• Robert De Niro, por Assassinos da Lua das Flores

• Robert Downey Jr., por Oppenheimer

• Ryan Gosling, por Barbie

• Mark Ruffalo, por Pobres Criaturas


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

• Emily Blunt, por Oppenheimer

• Danielle Brooks, por A Cor Púrpura

• America Ferrera, por Barbie

• Jodie Foster, por NYAD

• Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

• Justine Triet & Arthur Harari, por Anatomia de uma Queda

• David Hemingson, por Os Rejeitados

• Bradley Cooper & Josh Singer, por Maestro

• Sammy Burch, por Segredos de um Escândalo

• Celine Song, por Vidas Passadas


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

• Cord Jefferson, por American Fiction

• Greta Gerwig & Noah Baumbach, por Barbie

• Christopher Nolan, por Oppenheimer

• Tony McNamara, por Pobres Criaturas

• Jonathan Glazer, por A Zona de Interesse


MELHOR ANIMAÇÃO

• O Menino e a Garça

• Elementos

• Nimona

• Meu Amigo Robô

• Homem-Aranha: Através do Aranhaverso



MELHOR FILME INTERNACIONAL


Io Capitano (Itália)

• Perfect Days (Japão)

• A Sociedade da Neve (Espanha)

• The Teacher's Lounge (Alemanha)

• A Zona de Interesse (Reino Unido)


MELHOR DOCUMENTÁRIO


• Bobi Wine: The People's President

• The Eternal Memory

• Four Daughters

• To Kill a Tiger

• 20 Days in Mariupol


MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM


• The ABCs of Book Banning

• The Barber of Little Rock

• Island in Between

• The Last Repair Shop

• Nai Nai & Wai Po


MELHOR CURTA-METRAGEM


• The After

• Invincible

• Knight of Fortune

• Red, White & Blue

• The Wonderful Story of Henry Sugar


MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

• Letter to a Pig

• 95 Senses

• Our Uniform

• Pachyderme

• War is Over (inspired by the music of John & Yoko)


MELHOR TRILHA SONORA


• Laura Karpman, por American Fiction

• John Williams, Indiana Jones e a Relíquia do Destino

• Robbie Robertson, por Assassinos da Lua das Flores

• Ludwig Göransson, por Oppenheimer

• Jerskin Fendrix, por Pobres Criaturas


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

• "The Fire Inside" (Flamin' Hot)

• "I'm Just Ken" (Barbie)

• "It Never Went Away" (American Symphony)

• "Wahzhazhe (A Song for My People)" (Assassinos da Lua das Flores)

• "What Was I Made For?" (Barbie)


MELHOR SOM


• Resistência

• Maestro

• Missão: Impossível - Acerto de Contas

• Oppenheimer

• A Zona de Interesse



MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

• Sarah Greenwood, por Barbie

• Jack Fisk, por Assassinos da Lua das Flores

• Arthur Max, por Napoleão

• Ruth De Jong, por Oppenheimer

• Shona Heath, por Pobres Criaturas


MELHOR FOTOGRAFIA

• Edward Lachman, por El Conde

• Rodrigo Prieto, por Assassinos da Lua das Flores

• Matthew Libatique, por Maestro

• Hoyte van Hoytema, por Oppenheimer

• Robbie Ryan, por Pobres Criaturas


MELHOR CABELO E MAQUIAGEM


• Golda

• Maestro

• Oppenheimer

• Pobres Criaturas

• A Sociedade da Neve


MELHOR FIGURINO


• Jacqueline Durran, por Barbie

• Jacqueline West, por Assassinos da Lua das Flores

• Janty Yates, por Napoleão

• Ellen Mirojnick, por Oppenheimer

• Holly Waddington, por Pobres Criaturas


MELHOR MONTAGEM


• Laurent Sénéchal, por Anatomia de uma Queda

• Kevin Tent, por Os Rejeitados

• Thelma Schoonmaker, por Assassinos da Lua das Flores

• Jennifer Lame, por Oppenheimer

• Yorgos Mavropsaridis, por Pobres Criaturas


• MELHORES EFEITOS VISUAIS

• Resistência

• Godzilla Minus One

• Guardiões da Galáxia Vol. 3

• Missão: Impossível - Acerto de Contas

• Napoleão


C.R.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

"Oppenheimer", de Christopher Nolan (2023)


INDICADO A
MELHOR FILME
MELHOR DIREÇÃO
MELHOR ATOR (CILLIAN MURPHY)
MELHOR ATOR COADJUVANTE (ROBERT DOWNEY JR.)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE (EMILY BLUNT)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
MELHOR FIGURINO
MELHOR CABELO E MAQUAIGEM
MELHOR TRILHA SONORA
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
MELHOR EDIÇÃO
MELHOR SOM
MELHOR FOTOGRAFIA


"Oppenheimer"
é o bom meio termo entre a costumeira narrativa intrincada, fragmentada, de Christopher Nolan, e um cinema mais convencional. Tinha curiosidade para ver como o diretor se sairia em uma proposta de retratar uma personalidade, um acontecimento histórico, e ao mesmo tempo encaixar esse tipo de abordagem a seu estilo de filmar, manipulador de tempo e sensações, do qual tinha certeza que ele não abandonaria, e o resultado é um trabalho bastante eficiente e convincente. É bem verdade que ele já  havia se aventurado em acontecimentos históricos no bom "Dunkirk",  mas lá, sem maior compromisso com um personagem em particular ou com uma cronologia rígida, pode brincar à vontade com seus elementos  habituais, proporcionando um produto final com sua marca registrada do tradicional nó na mente do espectador.
"Oppenheimer" não é o melhor trabalho de Nolan, mas certamente é o que mais agradará o público em geral, até por conta dessa 'simplificação' à qual ele se viu obrigado em nome de contar a história com alguma coerência.
O filme acompanha a trajetória do brilhante físico norte-americano Robert Oppenheimer que, curioso, ambicioso, vaidoso, levou suas teorias sobre a fissão nuclear a um ponto de que a mesma viesse a servir para o desenvolvimento de uma bomba atômica. Pressionado pelo governo norte-americano, em pleno auge da segunda guerra mundial e diante de uma insana queda de braço internacional pelo hegemonia militar, o físico concorda em desenvolver o projeto da bomba para o governo, o que, no fim das contas, depois dos resultados que hoje conhecemos, resultaria para ele, além de invejas e desafetos, um processo de responsabilidade movido pelas autoridades, isso sem falar, intimamente, nos questionamentos pessoais e crises de consciência.

"Oppenheimer" - trailer


Com uma edição ágil, uma montagem muito bem executada e um trabalho de som espetacular, "Oppenheimer" é  tecnicamente impecável, disparado o trabalho mais bem acabado de Christopher Nolan. Apesar das três  horas de duração, a dinâmica do filme, a alternância de tempos, de estados emocionais, o preto e branco, a cor, o silêncio, a explosão, fazem com que o longa não se torne cansativo. Contudo, por outro lado, a narrativa quebrada, inconstante, obriga o espectador a estar sempre atento ao que é passado, presente, o que é realidade, o que é  sonho, desejo, delírio ou pensamento...
Nolan, me parece, tem o mérito de contar a história, relatar os fatos, sem, no entanto, submeter seu protagonista a um julgamento, mesmo diante de uma consequência tão séria quanto foi a tragédia nuclear do Japão e todo o aparato bélico que veio a ser instalado ao redor do mundo depois de sua descoberta. Ele deixa para a espectador o juízo de cada um, e para o próprio personagem retratado, os conflitos de sua consciência.
É sabido que o diretor sofre alguma resistência tanto do público quanto da crítica por uma suposta pretensão e uma certa ambição grandiloquente, mas talvez "Oppenheimer" tenha equilibrado as coisas e acabe lhe rendendo, finalmente, um justo reconhecimento por um trabalho que, no fim das contas, tem muitas qualidades e, para bem ou para o mal, mexe com o espectador. E esse reconhecimento, talvez venha em forma de algumas estatuetas douradas na prateleira.

Em "Oppenheimer", Christopher Nolan talvez tenha encontrado o equilíbrio de seu cinema.
O encontro de duas mentes brilhantes.
Oppenheimer em conversa com Albert Einstein, num dos momentos
marcantes  do filme.



Cly Reis 

segunda-feira, 11 de março de 2024

Oscar 2024 - Os Vencedores

 


"Oppenheimer", filme do diretor Christopher Nolan, faturou sete Oscar na cerimônia deste domingo à noite. com seu
Christopher Nolan, finalmente, ganhando seu
tão aguardado Oscar.
A noite deste domingo, dia 10 de março, marcou a cerimônia da 96ª edição do Oscar, na qual "Oppenheimer", filme do diretor Christopher Nolan, foi o grande vencedor, com sete estatuetas, mas com grande destaque para "Pobres Criaturas", de Yorgos Lanthimos, que levou quatro.

Apresentada pelo comediante Jimmy Kimmel, a festa não teve grandes novidades nem surpresas. A presença de cinco apresentadores, todos já vencedores, para apresentar os prêmios de atuação foi algo interessante, John cena apresentando "pelado" o prêmio de figurino foi engraçado, Slash, do Guns'n' Roses, dando uma canja na performance de "I'm Just Ken" foi muito show, e o momento mais emocionante, sem dúvida, ficou com o diretor do documentário "20 dias em Mariupol", sobre a guerra da Ucrânia, Mstyslav Chernov, emocionado, declarando que gostaria de nunca precisar ter feito um filme sobre algo assim.

A meu ver, nenhuma grande injustiça. "Anatomia de Uma Queda", de enredo brilhante, justamente agraciado com o prêmio de roteiro original, "Zona de Interesse", o mais complexo e artístico dos estrangeiros ganhando o prêmio de filme internacional, "Godzila Minjus One" desbancando os gigantes e vencendo a categoria de efeitos visuais... Até dá pra discutir um Downey Jr. ao invés de um DeNiro, uma Emma Stone e não Lily Gladstone, mas, de um modo geral, nenhum absurdo gritante, a meu ver.

Bom, quer saber como foram todos os prêmios? Dá uma olhada aí abaixo e conheça, então, todos os vencedores da noite:

📹📹📹📹📹📹📹📹

MELHOR FILME

• Oppenheimer


MELHOR DIREÇÃO


• Christopher Nolan, por Oppenheimer


MELHOR ATOR

• Cillian Murphy, por Oppenheimer


MELHOR ATRIZ


• Emma Stone, por Pobres Criaturas


MELHOR ATOR COADJUVANTE

• Robert Downey Jr., por Oppenheimer


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

• Da'Vine Joy Randolph, por Os Rejeitados


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

• Justine Triet & Arthur Harari, por Anatomia de uma Queda


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

• Cord Jefferson, por American Fiction


MELHOR ANIMAÇÃO

• O Menino e a Garça


MELHOR FILME INTERNACIONAL


• A Zona de Interesse (Reino Unido)


MELHOR DOCUMENTÁRIO


• 20 Days in Mariupol


MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM


• The ABCs of Book Banning


MELHOR CURTA-METRAGEM

• The Wonderful Story of Henry Sugar


MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

• War is Over (inspired by the music of John & Yoko)


MELHOR TRILHA SONORA


• Ludwig Göransson, por Oppenheimer


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

• "What Was I Made For?" (Barbie)


MELHOR SOM


• A Zona de Interesse



MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

• Shona Heath, por Pobres Criaturas


MELHOR FOTOGRAFIA

• Hoyte van Hoytema, por Oppenheimer


MELHOR CABELO E MAQUIAGEM


• Pobres Criaturas


MELHOR FIGURINO

• Holly Waddington, por Pobres Criaturas


MELHOR MONTAGEM


• Jennifer Lame, por Oppenheimer


• MELHORES EFEITOS VISUAIS

• Godzilla Minus One





C.R.

sábado, 9 de março de 2024

“Dias Perfeitos” , de Wim Wenders (2023)



INDICADO A
MELHOR FILME INTERNACIONAL


Teria muito para falar de Wim Wenders, de qualquer filme de sua extensa filmografia, de sua carreira, do namoro de seus filmes com a filosofia, das diversas fases e projetos diferentes, das obras-primas. Mas o que talvez dê mais prazer e uma alegria até ingênua é falar sobre a realização de um filme japonês de Wim Wenders. “Dias Perfeitos” é, acima de tudo, uma dessas delícias que cinéfilos admiram: um filme de um cineasta de um país realizado noutro e com total propriedade. Porque, sim, “Dias Perfeitos” é um filme japonês, produzido com verba japonesa, falado em japonês, com atores japoneses e cheio de referências ao cinema japonês. E um baita de um filme.

“Dias Perfeitos” acompanha com extrema delicadeza a história de Hirayama (Koji Yakusho, lindo e atorzaço), um homem de meia idade reflexivo que vive de forma modesta como zelador e limpando banheiros em Tóquio. Sua rotina é revelada ao espectador através da música que ouve, dos livros que lê e da apreciação das árvores, suas três paixões. À medida que os dias Hirayama avançam, encontros inesperados começam a surgir e passam a revelar um passado escondido, que jogam luz sobre os porquês da solidão, da fuga e da busca de sentido na vida moderna.

Wenders assumidamente faz uma homenagem e referencia seus mestres do Oriente: Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi e, principalmente, Yasujiro Ozu, sua grande paixão talvez apenas equiparável a Michelangelo Antonioni. É do Ozu de “A Rotina Tem seu Encanto” e “Era uma Vez em Tóquio”, cineasta já perscrutado por Wenders no documentário poético “Tokyo-Ga”, de 1985, que ele extrai o senso contemplativo de “Dias...”. Seja na extensão sem pressa do transcorrer das cenas, seja na posição baixa da câmera em determinadas tomadas, quase ao chão, seja na apreciação natural da ação, aproveitando o som direto e sem “interferência” de trilha sonora.

Tomada quase no chão ao estilo Ozu

Por falar em música, aliás, são elas que ajudam a conduzir o filme. Ou melhor: pontuá-lo. A bela seleção de K7s do personagem, a qual ele ouve no carro pelas ruas e avenidas de Tóquio (Otis Redding, Lou Reed, Nina Simone, Patti Smith, só coisa boa) geralmente indo ou voltando do trabalho, demarcam não apenas a busca dele por “dias perfeitos” como, igualmente, o conduzem a praticamente encontrá-los ao final. Como uma trilha que acompanha momentos da vida e traduz emoções. 

Como em “Paris, Texas”, “O Estado das Coisas” e “Além das Nuvens“, Wenders dá ao “decurso do tempo” (para usar outro título de filme seu) a forma e a estética, que se fundem. Mais uma vez captando com muita pertinência o espírito da terra em que se apropriou, o cineasta atribui aos silêncios (o “ma” da cultura oriental) uma função primordial para transmitir sentimentos de culpa, sofrimento, medo, frustração, angústia e, porque não, também de alegria. Em compensação, os diálogos são extremamente bem aproveitados, precisos como um golpe samurai. Vários são realmente tocantes, como o breve reencontro com a irmã abastada e de vida triste, que vai à sua humilde casa resgatar a filha, fugida de casa e de sua realidade para ter alguns dias de harmonia com o tio que tanto gosta.

Hirayama com a sobrinha: momentos
de contemplação e harmonia
A dialética entre o arcaico e o moderno é, contudo, o centro da trama. Isso faz remeter, mais profundamente analisando, a uma forma de se colocar no mundo. O anacronismo do tipo de música e a mídia que Hirayama tanto apreciava é um símbolo de algo em extinção, mas capaz de gerar uma genuína conexão do ser humano com a arte, embora isso não faça mais tanto sentido num mundo cada vez mais digitalizado e fragmentado. A busca por si próprio no isolamento e na circunspecção faz lembrar filmes em que este foi o refúgio existencial de personagens na procura pelo sentido da vida, casos de “Nascido e Criado”, de Pablo Trapero, “O Turista Acidental”, de Lawrence Kasdan, e o próprio “Paris, Texas”. Porém, assim como nestes exemplo, “Dias...”, em suas propositais repetições de cenas e na progressão emocional do protagonista ao longo da história, vota numa solução humana para as dificuldades. Perfeição não existe.

Embora torça para isso, dificilmente Wenders levará o Oscar de Filme Internacional. Sem o gigante “Anatomia de uma Queda” na disputa, uma vez que a produção francesa ganhadora da Palma de Ouro em Cannes concorre somente ao de Melhor Filme ao lado de favoritos como “Oppenheimer” e “Vidas Passadas”, o caminho para o elogiado longa alemão (mas um tanto superestimado) “A Zona de Interesse” vencer está facilitado. Porém, só o fato de ver no páreo um “Junger Deutscher” como Wenders, um verdadeiro esteta e revolucionário do cinema moderno, é quase que um prêmio adiantado a ele e a toda uma geração. Herzog, Schlöndorff, Fassbinder, Von Trotta, Kluge: estão todos representados com esta indicação. E não só eles, mas também, no caso, Ozu, Kurosawa, Mizogushi, Imamura, Oshima. Porém, talvez nem Wenders dê tanta importância a uma conquista como esta. Afinal, mesmo com o reconhecimento a uma obra de meio século como a dele, a Academia está longe de ser perfeita. Assim como os dias.

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trailer de "Dias Perfeitos", de Wim Wenders



Daniel Rodrigues