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sexta-feira, 20 de maio de 2016

cotidianas #434



arte: Cly Reis
Ela estava com frio. Escondia-se dentro de um grosso casaco e uma longa manta vermelha. Mas não era a única coisa que sentia. O medo também a congelava. Paralisava-a. Aguardava o último horário do D43 no Campus do Vale da UFRGS, na divisa entre Porto Alegre e Viamão. Ficara bebendo junto com colegas num boteco na parte onde já é o bairro Jardim Aparecida. Eles moravam em JKs por ali, mesmo. Nenhum se dispôs a acompanhá-la. O medo a apunhalou com mais força quando ele apareceu. Um rapaz. Jovem. Pele escura. Lábios grossos. Usava um moletom com capuz, uma calça de abrigo larga com três listras e calçava tênis da principal concorrente da marca do abrigo. Havia ido visitar parentes. Precisava chegar até o Pinheiro. Ele também estava com medo. Pelos tênis caros. Pelo celular que havia comprado há pouco. Pela ideia de assustar a jovem que o observava visivelmente aterrorizada. Esperaram. Enquanto isso o silêncio tratava de ensurdecê-los.



Eduardo Dorneles

***



Eduardo Dorneles é jornalista em formação e escritor. Considera-se um cético romântico: não crê em utopias que tenham o braço humano como elemento transformador, mas acredita no poder redentor que essa coisa inexplicável que é amar pode causar. Gosta de escrever sobre a comédia trágica que é nosso dia a dia e de rir da rotina. Amante de literatura e cinema, tem como ícones Nelson Rodrigues e Stanley Kubrick.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

"Biografia Incompleta" Exposição Coletiva – Museu de Arte Contemporânea - Niterói /RJ (08/08/2013)









Eu reencontrando o MAC, em Niterói
Ao lado da amorosa companhia de Leocádia Costa, que empresta seu olhar fotográfico para este registro, voltei ao MAC, em Niterói (RJ), o qual havia visitado em 2011 e me impressionado muito com aquele traçado em forma uma flor, de um cálice, lindo de qualquer ângulo que se contemple. Dois anos depois, constatei que a admiração pela obra de Niemeyer continua intacta naquela arquitetura tão poética e em plena simbiose com a natureza local, simbiose aparentemente improvável haja vista o desenho futurista e quase extraterrestre que é o prédio do museu.

A obra de Antônio Dias
que deu nome à mostra
Como se não bastasse a beleza e grandiosidade da natureza e da arquitetura num radiante domingo de sol e praia, que já valeriam o passeio, deparei-me com exposições maravilhosas em seu interior. Uma delas é a da mostra Biografia Incompleta, que reuniu obras do colecionador João Sattamini que compreende quase 30 anos com peças de alguns dos principais artistas da vanguarda das artes plásticas brasileira: Antonio Dias, Loio-Pérsio, Nelson Leirner, Raymundo Colares e Rubens Gerchman. Tomadas de sarcasmo, crítica e personalidade, as obras desses artistas ligados ao neoconstrutivismo, corrente das artes plásticas brasileira iniciada nos anos 60 que, de forma pungente e mordaz, traz novos elementos ao construtivismo e ao abstratismo próprios de uma nova realidade urbana, como a cultura de massas (quadrinhos, cinema americano, publicidade, erotismo) e a vida social (violência, religiosidade, censura, política, indústria). Incrivelmente atuais para um “Brasil ano 2000”.

Acrílico sobre madeira Raymundo Colares
Isso fica evidente nas obras de Raymundo Colares, que, em telas que brincam a tridimensionalidade, explora os elementos kitsch, dos quadrinhos, da dinâmica da montagem do cinema e até do àquela época já midiatizado universo do automobilismo. “Objeto ônibus”, da série de 1969, é um tinta esmalte industrial sobre metal que traz bem esta ideia. Outra, um belo acrílico sobre madeira, é magnífico em sua simplicidade conceitual, movimento e ideia de equilíbrio.

Antonio Dias, um dos dois únicos vivos entre os cinco artistas junto com Nelson Leirner, é dono de uma obra altamente peculiar marcada pelo minimalismo e pela exploração minuciosa de texturas visuais, porém não menos crítica, valendo-se, por exemplo, da secura visual dos códigos binários da linguagem dos computadores para expor sua indubitável simbologia maniqueísta. Além disso, revela fortemente a massificação imperialista através dos debochados grafismos em inglês. Sua identificação com o pop é absurdamente atual. Uma das obras expostas, “The Place”, poderia ser a capa de qualquer disco de artista tecno. O aspecto enterteinment, no entanto, se esvai rapidamente: a crítica, presente, está na observância de que o escrito “mente” (mind) encontra-se disperso no nada (preto da tela), enquanto que a palavra “mapa” (“map”), ou seja, aquilo que a mente deveria circunscrever, é justamente a que está localizada dentro de um espaço delimitado. Outro quadro, o que dá nome à exposição, é um acrílico sobre tela que lança, em poucos elementos simbólicos, a dimensão das utopias do mundo moderno: o “desejo” tão distante do percurso do traço.

"Milagre", de Nelson Leirner
A seleção de Leirner é outra espetacular. Numa linguagem própria que, igualmente, caminha entre o severo e o deboche, vale-se de técnicas inovadoras e até insólitas (colagem de asas de borboleta em sua Santa Ceia), além de miniaturas e recursos “não nobres” para as artes plásticas, como a serigrafia e o off-set da publicidade.  A religiosidade católica, moral e eticamente comprometida, assim como a violência urbana, convivem sem nenhuma fronteira. Dois brilhantes: “Milagre”, serigrafia e pintura sobre madeira em que Nossa Senhora de Fátima ganha traços e dimensões pop e tupiniquins ao colocar-lhe aos pés suplicantes mendigos da cidade grande; e, a mais impressionante, “São Sebastião do Rio de Janeiro” (2002), assustadoramente atual numa cidade de balas perdidas e de dessacralização dos mitos pela ação humana, um conjunto de imagens sacras enfileiradas ao lado de “patrióticas“ flâmulas em que cada um dos santos têm cravado no peito uma bala de revólver. Impossível não se lembrar dos versos de “Estação Derradeira”, de Chico Buarque: “São Sebastião crivado nublai minha visão/ Na noite da grande fogueira desvairada”.

Se Leirner tem correlação com a MPB, Rubens Gerchman está essencialmente ligado à vanguarda da música brasileira. Dono de uma arte que mistura erotismo e dinheiro, violência  e beleza, morro e asfalto, futebol e escola de samba, tradição e ruptura, Gerchman, irônico e crítico ao extremo, é diretamente ligado ao tropicalismo (é dele a arte da capa de “Tropicália”, de 1967, e, inspirados em uma peça homônima sua, Caetano Veloso e Gilberto Gil escreveram, para este mesmo disco, a canção “Lindonéia”, cheia de críticas à esquizofrenia mortífera e ao endeusamento do belo da sociedade moderna), o que fica evidente em suas obras daquela época (décadas de 60 e 70): coloridamente tropicais e conscientemente globalizadas e cáusticas.
"Monalou", a Monalisa
fascista de Gerchman
Suas “monalisas” dão diretamente este tom: uma, “Monalou” (tinta óleo sobre fotográfica colada em eucatex, 1975) a quebra do elemento clássico (a perspectiva ao fundo da personagem, aqui chapada e carregada de simbologia política), a outra, a revelação/massificação (a Gioconda com beiços de negra). Maravilhoso e forte, igualmente, o quadro em que um acontecimento da mídia dos anos 60, o sumiço de um ajudante de obra durante a Ditadura Militar pego pela polícia por um suposto porte de drogas, serve de denúncia e mostra de inconformismo. Ele se vale da linguagem corriqueira e sensacionalista dos jornais e da dissolução folclore/cultura pop para evidenciar de forma ainda mais reveladora a realidade obscura. Alguma semelhança com o caso Amarildo não é mera coincidência.

Igualmente revolucionário em conceito (seu falso díptico, que, na verdade, forma um tríptico, é muito interessante), porém trabalhando volumes e cores com a intenção de não atribuir-lhes nenhuma associação figurativa, acabou deixando Loio-Pérsio um tanto deslocado dentro da mostra se comparado ao impacto e transgressão dos outros autores. Um lapso da curadoria (Luiz Guilherme Vergara) totalmente perdoado, tendo em vista o enorme acerto da seleção como um todo.



Abaixo, mais alguns momentos da mostra:



Denúncia social na obra
de Rubens Gerchman

Eu diante da versão tupiniquim
da Monalisa de Gerchman

O 'díptico-tríptico' de Loio-Pérsio

"Ônibus ônibus",
Raymundo Collares

"The Place", de Antônio Dias,
capa de disco de tecno

Visitantes se deparando com o São Sebastião
crivado de balas, de Leiner



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

15 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 70


Seguimos com a listagem de filmes essenciais para entender o cinema brasileiro das décadas de 60, 70 e 80. Começamos com os gloriosos e revolucionários anos 60, do qual extraímos, de um universo numeroso e profícuo, 20 joias. Agora, no entanto, como diz a gíria popular, “o buraco é mais embaixo”. Nos anos de chumbo, com o afunilamento dos direitos sociais e políticos advindos com o AI-5, de 1968, o cerco fechou para qualquer cidadão que quisesse se expressar ou simplesmente dar-se ao direto de pensar diferente do sistema vigente. Torturas, desaparecimentos e perseguições aumentaram. E claro que a classe artística, incluindo quem fazia cinema, foi uma das maiores prejudicadas nos anos 70. Toda a geração de cineastas e autores advindos com a explosão criativa dos 50/60, acuados ou exilados, mal conseguiam levantar recursos para produzir aquilo que pensavam – claro, se aquilo que pensavam não concordava com o que os militares queriam.

Resultado? Perda de espaço para o cinema norte-americano e europeu e, no próprio mercado interno, para as famigeradas “pornochanchadas”, as malditas produções baratas e mal-acabadas financiadas pelo governo não eram nem pornôs nem chanchadas e que serviam basicamente para entreter o povo com o que ele mais gosta e odeia em si: a malandragem e a sacanagem.

O minguamento do cinema de autor foi perceptível: nos anos 70, a grande cabaça do moderno cinema brasileiro, Glauber Rocha, produziu na Espanha, Itália, Cuba, Portugal e Congo, menos no Brasil. Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Paulo César Saraceni e vários outros não conseguiam estabilizar um nível de produção digno, oscilando entre filmes ótimos a fracos. E pior: às vezes, faziam filmes até bons, mas cuja qualidade técnica comprometia tanto que restaram inviáveis de se assistir.

No entanto, era muito talento e coragem para que nada desse certo. De tudo que se produziu na década, 15 longas podem ser considerados, cada um por um motivo, obras essenciais para o, àquela época, ainda mais combalido e combativo cinema brasileiro no século XX. Tanto é verdade de que foram cineastas vitoriosos que todos os títulos elencados são obras de nomes da geração anterior. Nota-se um aperfeiçoamento da linguagem metafórica do Cinema Novo e um amadurecimento do cinema popular, bem escrito e com olhos para todos os públicos. Em contrapartida, há um adensamento da linguagem transgressora do cinema marginal e que o coloca ainda mais à margem do mercado. Então, entre mortos e feridos (literalmente), os 15 filmes essenciais para entender o que é cinema brasileiro nos anos 70:



1 - “Sem Essa Aranha”, Rogério Sganzerla (70) – O cinema underground do Sganzerla avança brutalmente neste filme altamente transgressor e simbólico, onde ele mistura metáforas do terceiro mundo, chanchada, rádio Nacional e cinema de poesia. Anárquico, louco e ainda assim engraçado por conta do maravilhoso Jorge Loredo como Zé Bonitinho, que “ancora” toda a (não)história. Memorável sequência com Luis Gonzaga tocando enquanto Helena Ignez e Loredo encenam.







2 - “Copacabana Moun Amour”, Rogério Sganzerla (70) – O cara tava tão inspirado que fez dois filmes essenciais em apenas 365 dias. Devaneio intelectual na Rio de Janeiro em época de ditadura, numa referência metafórica ao fim da civilização, à nouvelle vague (principalmente Resnais de “Hiroshima Moun Amour”) e, claro, ao cenário político brasileiro. E a trilha é algo de genial, composta especialmente por Gilberto Gil, que a mandou do exílio em Londres, e que virou um disco clássico da carreira do baiano.







3 - “São Bernardo”, Leon Hirszman (71) – Adaptação do livro do Graciliano Ramos, que transporta para a tela não só a história, mas a secura das relações e a incomunicabilidade numa grande fazenda do início do século XX, escorada na desigualdade dos latifúndios. Não há diálogo: a vida é assim e pronto. Daqueles filmes impecáveis em narrativa e concepção. E o Leon, comunista como era, não deixa de, num deslocamento temporal, dar seu recado quanto à reforma agrária.







4 - “O Doce Esporte do Sexo”, Zelito Viana (71) – Filme de episódios com ninguém menos que Chico Anysio, na época, no auge de sua criatividade como ator e escritor. Dirigido por seu irmão, Zelito, é um bom exemplo de que já se faziam comédias mesmo numa época de produções pobres como foi os anos 70, considerando que hoje se faz esse gênero às pencas no Brasil com ótimas produções mas nem de perto com a qualidade de texto de “O Doce Esporte...”.







5 - “Como Era Gostoso o Meu Francês”, Nelson Pereira dos Santos (71) – Nelson Pereira teve dificuldades nos 70 de produzir com a qualidade técnica que ele sabe, mas esse aqui saiu perfeito. Comédia bizarra sobre antropofagia cultural e canibal. Uma fantasia que põe Hans Staden em cores modernistas e que evidencia uma série de lacunas de nossas cultura e civilização. Ganhou Brasília e foi indicado ao Urso de Ouro em Berlim. Engraçado e profundo.








6 - “Vai Trabalhar, Vagabundo”, Hugo Carvana (73) – Outra ótima comédia, primeiro filme do Carvana atrás das câmeras – que se pôs na frente também, pois ele mesmo faz o hilário Secundino Meireles, personagem principal que retrata o brasileiro consciente com a situação do País mas de saco cheio com a miséria moral e política. Trama inteligente, crônica da sociedade da época. Venceu Gramado. Trilha original linda do Chico Buarque. Um barato.








7 - “O Marginal”, Carlos Manga (74). O Manga produziu pouca coisa pra cinema depois dos 60. Esse é o único de ficção dele dos anos 70, mas toda sua experiência de cenas de aventuras nas várias chanchadas que dirigiu desde os anos 40 estão aqui, adicionado a um teor psicológico superconvincente e bem conduzido. Música original de autoria de Roberto e Erasmo, um luxo. E o Tarcisão tá ótimo.






8 - “Dnª Flor e seus Dois Maridos”, Bruno Barreto (76) – Provavelmente a melhor adaptação de Jorge Amado para a tela grande e o melhor brasileiro da década. Por 34 anos foi recordista de público no cinema brasileiro, levando mais 10 milhões de espectadores às salas de exibição. Fotografia, roteiro, trilha e atuações memoráveis. Cheio de cenas inesquecíveis, como a da morte do Vadinho e os diálogos entre Wilker e Sônia Braga. Um clássico vencedor de Gramado e indicado ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro.






9 - “Xica da Silva”, Cacá Diegues (76) – Também sucesso de bilheteria. Cacá emendou uma sequência de ótimas produções nos anos 70, talvez o cineasta que melhor tenha produzido de todos os remanescentes do Cinema Novo. Este é um “épico à brasileira”. Zezé Mota encarnou super bem Xica, o grande papel dela no cinema. Mais uma vez, a trilha do filme do Cacá se destaca: a música original é do Jorge Ben.








10 - “A Queda”, Ruy Guerra e Nelson Xavier (76) – Ruy Guerra, outro comunista irrefreável como o Leon, co-dirige com o também ator Xavier um pequeno episódio de um operário que morre na queda de um andaime, história que usa pra gerar toda uma crítica político-social. Trilha do cineasta (que também era compositor) em parceria com ninguém menos que Milton Nascimento. Urso de Prata em Berlim e Margarida de Prata pela CNBB.








11 - “Iracema, Uma Transa Amazônica”, Jorge Bodanzky e Orlando Senna (76) – Quer filme mais “marginal” do que um com cara de documentário anárquico, rodado com câmera na mão, usando vários atores amadores nativos, Pereio cheirado e fumado até as guampa, proibido pela censura e que só foi exibido pós-Abertura, 6 anos depois de finalizado? Filme que inspirou muito Fernando Meirelles. Palavras dele.







12 - “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”, Hector Babenco (76) – Lembro que assisti esse filme pequeno e me deixou com medo, de tão tenso que é. Policial bem realista, com Reginaldo Faria estupendo no papel do assaltante de bancos em crise de identidade, mas que não tem como sair daquele círculo vicioso. Forte pra caralho. Melhor Filme na Mostra Internacional de Cinema São Paulo, além de levar vários Kikitos em Gramado (Ator, Ator Coadjuvante, Fotografia e Edição).







13 - “Chuvas de Verão”, Cacá Diegues (78) – Filme pequeno com cara de conto. Delicado e atípico em tema, pois aborda o amor na terceira idade. Interessantes as ligações com a vida social brasileira e do choque de culturas do velho e do novo. Uma joia que levou prêmios em Brasília, Rio e São Paulo.










14 - “Tudo Bem”, Arnaldo Jabor (78) – Embora não goste do Jabor, pretensioso e “intelectualóide” reacionário, esse aqui é muito legal. Durante a obra de uma antiga casa no subúrbio carioca, a sociedade brasileira (a qual se transformaria na classe média atual) aparece como uma “fauna”: caricata, preconceituosa, mal-resolvida. Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo geniais.





15 - “Bye Bye Brasil”, Cacá Diegues (79) – Demarca o fim da segunda fase de Cacá, com referências do Cinema Novo mas mais amadurecido. Ao mesmo tempo que reflete com crueza a vida de pessoas pobres e sem perspectivas, também ressalta a beleza e a magia intuitiva de artistas mambembes. Daqueles filmes feitos na hora certa e pela pessoa certa. Um registro sociocultural e político de um Brasil florescendo e que veio a dar naquilo que somos hoje. Destaque de novo pra trilha, não só as músicas originais do Chico Buarque mas também os “bregas”, que tocam aqui e ali e funcionam tri ambientais.







segunda-feira, 16 de outubro de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (última parte)

 

Coutinho dirige e atua em seu "Cabra...", um dos 10
maiores e um dos 5 filmes do diretor na lista
Chegamos, enfim, ao momento mais aguardado: o final do nosso especial “Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes”. Ou melhor, o início, já que seguimos uma ordem numeral inversa, partindo dos últimos da lista para, agora, os primeiros. Chegou a hora de dar fim a um dos conteúdos especiais alusivos aos 15 anos do Clyblog em 2023, iniciada em abril e publicado em cinco partes ano longo dos meses. Nossa proposta foi trazer aqui, de forma criteriosa e misturando noções de crítica e história do cinema com preferências pessoais, títulos que representassem o cinema brasileiro neste corte temporal. E justamente num ano em que o cinema brasileiro completou 125 de nascimento segundo a efeméride oficial. O que não invalida a nossa intenção, a qual teve como referência, se não a gênese da produção cinematográfica nacional, em 1898, outro marco inconteste para a história da cultura audiovisual sul-americana, que é a exibição do mais antigo filme brasileiro preservado: “Os Óculos do Vovô”, de 1913.

Embora as corriqueiras e até salutares ausências (afinal, listas servem muito para que outras também sejam compostas), o que se viu aqui ao longo da extensa classificação foram títulos da maior importância e qualidade daquilo que foi produzido no cinema do Brasil neste mais de um século. De produções clássicas, passando pela fase muda, os alternativos, o cinema da atualidade aos sucessos de bilheteria. Num país de dimensão continental, houve trabalhos do Norte ao Sul, com representantes de seis estados da nação: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia. Entre as décadas, leva pequena vantagem os anos 60 sobre os 80 e 2000, com 25, 24 e 23 títulos respectivamente, dando uma boa ideia dos períodos de maior incentivo à produção 

Diretores consagrados e filmes marcantes para a cinematografia brasileira e mundial também percorreram a listagem de cabo a rabo. Nomes como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Hector Babenco, Kléber Mendonça Filho, Leon Hirszman, Nelson Pereira dos Santos, Eduardo Coutinho e Joaquim Pedro de Andrade se fizeram presentes de forma consistente e todos com mais de um título, provando sua importância basal para a concepção formativa do cinema brasileiro. Glauber, maior cineasta brasileiro, encabeça, com seis filmes, seguido de Coutinho, com cinco, e Nelson, Leon e Babenco, com quatro cada. Porém, os novatos, nem por isso deixaram de também demarcarem seus espaços, feito talvez ainda mais louvável uma vez que, com pouco tempo de realização, já figuram entre os grandes. Caio Sóh, com “Canastra Suja”, de 2018, (107º colocado), Gustavo Pizzi, de “Benzinho” (2018), e Gabriel Martins, com “Marte Um”, de 2022 (79º) estão aí para provar.

Katia, uma das 7 cineastas
mulheres: pouca representatividade
Embora em menor número, as diretoras não deixam de contribuir com seu talento ímpar. Kátia Lund (com duas co-direções, junto a Fernando Meirelles e a João Moreira Salles), Anna Muylaert, Daniela Thomas (“Terra Estrangeira”, com Walter Salles Jr.), Sandra Kogut, Laís Bodanzky, Tatiana Issa e Suzana Amaral formam o time de sete cineastas mulheres, que dão um pouco de diversidade à lista. Muito a se evoluir? Sim. Representatividades negras, LGBTQIAPN+ e indígenas aparecem de maneira periférica, até superficial, consequência natural participação de tais minorias na economia cultural brasileira ao longo da história. Quem sabe, daqui a mais uns anos não se precise demorar tanto mais para que se incluam definitivamente entre os essenciais do cinema brasileiro?

Outro recorte que vale ser frisado são os documentários, que se estendem por todas as postagens dessa série. Além de contarem com um dos dois mais representativos realizadores, Coutinho, rivalizam muito bem com as ficções, totalizando nada mais nada menos que 13 títulos neste formato, 11,8% do geral. Enfim, análises que podem se deduzir a uma coleção de filmes tão interessantes e simbólicos de uma nação, aqui representados por aqueles mais bem colocados e, de certa forma, mais significativos. Por isso, diferentemente do que vínhamos procedendo até então, ao invés de comentarmos apenas de 5 e 5, todos desta vez merecem algumas palavras. Afinal, eles podem se vangloriar de serem os 10 melhores filmes brasileiros de todos tempos. Ao menos, nesta singela e propositiva seleção. 

************

10.
“Pixote, A Lei do Mais Fraco”, Hector Babenco (1980) 

Babenco chega à maturidade de seu cinema e faz o até hoje melhor trabalho de sua longa e regular filmografia. Com ar de documentário, toma forma de um drama realista e trágico, trazendo à tona mais uma mazela da sociedade brasileira: a desassistência político-social às crianças e a violência urbana. O pequeno Fernando, que, ao interpretar Pixote, faz bem dizer ele mesmo, nos emociona e nos entristece. Marília está num dos papeis mais espetaculares da história. Indicado ao Globo de Ouro e vencedor do New York Film Critics Circle Awards (além de Locarno e San Sebastian), é considerado dos filmes essenciais dos anos 80 no mundo.




09. “Eles não Usam Black Tie”, Leon Hirszman (1981)
Como um “Batalha de Argel” e “Alemanha Ano Zero”, é uma ficção que se mistura com a realidade, e neste caso, por vários fatores. Adaptação para o cinema da peça dos anos 50 de Gianfrancesco Guarnieri sobre uma greve e a repressão política decorrente, transpõe para a realidade da época do filme, de Abertura Política e ânsia pela democracia, retratando as greves no ABC Paulista. E ainda: tem o próprio Guarnieri como ator, que, segundo relatos, codirigiu o filme. Filme lindo, que remete a Eisenstein e Petri. Música original da peça de 58 de autoria de Adoniran Barbosa. Prêmio do Júri em Veneza.


08. ”Cabra Marcado para Morrer”, Eduardo Coutinho (1984) 
Mestre do documentário mundial, Coutinho não se entregava mesmo quando parecia impossível. “Cabra...”, um dos maiores filmes do gênero, é um documentário do documentário. Interrompido em 1964 pelo governo militar, narra a vida do líder camponês João Pedro Teixeira e teve suas filmagens retomadas 17 anos depois, introduzindo na narrativa os porquês da lacuna. Premiado na Alemanha, França, Cuba, Portugal e Brasil, onde conquistou Gramado e FestRio.


07“Cidade de Deus”, Fernando Meirelles e Kátia Lund (2002)
Talvez apenas “Ganga Bruta”, “Rio 40 Graus”, “Terra em Transe” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos” se equiparem em importância a “Cidade...” para o cinema nacional. Determinador de um “antes” e um “depois” na produção audiovisual não apenas brasileira, mas daquela produzida fora dos grandes estúdios sem ser relegada à margem. Pode-se afirmar que influenciou de Hollywood a Bollywood, ajudando a provocar uma mudança irreversível nos conceitos da indústria cinematográfica mundial. Ou se acha que "Quem quer Ser um Milionário?" existiria para o resto do mundo sem antes ter existido "Cidade..."? O cineasta, bem como alguns atores e técnicos, ganharam escala internacional a partir de então. Tudo isso, contudo, não foi com bravata, mas por conta de um filme extraordinário. Autoral e pop, “Cidade...” é revolucionário em estética, narrativa, abordagem e técnicas. Entre seus feitos, concorreu ao Oscar não como Filme Estrangeiro, mas nas cabeças: como Filme e Diretor (outra porta que abriu). Ao estilo Zé Pequeno, agora pode-se dizer: "Hollywood um caralho! Meu nome agora é cinema brasileiro, porra!".



06. “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, Roberto Santos (1965)
Uma joia meio esquecida. Leonardo Villar, de novo ele, faz o papel principal, que ele literalmente encarna. Baseado no conto-novela do Guimarães Rosa, é daquelas adaptações ao mesmo tempo fiéis mas que souberam transportar a história pra outro suporte. Obra-prima pouco lembrada.


05. 
"O Cangaceiro”, Lima Barreto (1953)
No nível do que Nelson Pereira faria com Jorge Amado e Ruy com Chico Buarque anos mais tarde, Lima Barreto teve a o privilégio de contar com diálogos escritos por Raquel de Queiroz. O que já seria suficiente ainda é completado por um filme de narrativa e condução perfeitas, com uma trilha magnífica, figurinos de Carybé, uma fotografia impecável e enquadramentos referenciados no Neo-Realismo de Vittorio De Sica e no western norte-americano de John Ford. O precursor do faroeste brasileiro ao recriar sua atmosfera e signos à realidade do nordeste. Se "Bacurau" foi aplaudido de pé em Cannes 66 anos depois, muitas dessas palmas devem-se a "O Cangaceiro", onde o filme de Barreto já havia emplacado o prêmio de Melhor Filme de Aventura e uma menção honrosa pela trilha sonora. Primeiro filme nacional a ganhar prestígio internacional, também levou os prêmios de Melhor filme no Festival de Edimburgo, na Escócia, Prêmio Saci de Melhor Filme (O Estado de S. Paulo) e Prêmio Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos.




04. “Limite”, Mário Peixoto (1930)
Scorsese apontou-o como um dos mais importantes filmes do séc. XX, tanto que o restaurou e para a posteridade pela sua World Cinema Foundation. David Bowie escolheu-o como o único filme brasileiro entre seus dez favoritos da América Latina. Influenciado pelas vanguardas europeias dos anos 20, Peixoto, que rodou apenas esta obra, traz-lhe, contudo, elementos muito subjetivos, que potencializam sua atmosfera experimental. Impressionantes pelo arrojo da fotografia, da montagem, da concepção cênica. Considerado por muitos o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Um cult.


03. “Vidas Secas”, Nelson Pereira dos Santos (1963)
Genial. Precursor em muitas coisas: fotografia seca, roteiro, cenografia, atuações. Daquelas adaptações literárias tão boas quanto o livro, ouso dizer. Tem uma das cenas mais tristes do cinema mundial, a do sacrifício da cachorra Baleia. Limite também entre Neo-Realismo e Cinema Novo. Indicado a Palma de Ouro. Aula de cinema.




02. “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha (1963)
A obra-prima do Cinema Novo, um dos maiores filmes do século XX. De tirar o fôlego. Sobre este, reserva-se o direito de  um post inteiro, escrito no blog de cinema O Estado das Coisas em 2010. Mais recentemente, este marcante filme de Glauber mereceu outra resenha, esta no Clyblog.



1º.
 
"O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte (1960) 

Com absoluta convicção, o melhor de todos os tempos no Brasil. Perfeito do início ao fim: fotografia, atuações, roteiro, trilha, edição, cenografia. Obra de Dias Gomes transposta para a tela com o cuidado do bom cinema clássico. Brasilidade na alma, das mazelas às qualidades. Cenas inesquecíveis, final arrepiante. E tem um dos papeis mais memoráveis do cinema: Leonardo Villar como Zé do Burro. E ainda é um Palma de Ouro em Cannes que venceu Antonioni, Pasolini e Buñuel. Tá bom pra ti? Irretocável.





Daniel Rodrigues

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

CLAQUETE ESPECIAL 15 ANOS DO CLYBLOG - Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes (parte 4)

 

Os clássicos absolutos chegaram, entre eles,
"O Beijo da Mulher Aranha", primeiro filme
brasileiro a vencer um Oscar
Demorou um pouco além do normal, mas voltamos com mais uma parte da nossa série especial “Cinema Brasileiro: 110 anos, 110 filmes”. E tem justificativa para esta demora. Isso porque reservamos este quarto e penúltimo recorte da lista para o mês de agosto, o de aniversário do Clyblog, uma vez que este Claquete Especial, iniciado em abril, é justamente em celebração dos 15 anos do blog.

Talvez somente esta justificativa não baste, entendemos. Então, já que vínhamos mês a mês postando uma nova listagem com 20 títulos cada, propositalmente falhamos em julho para que agora, no mês do aniversário, fizéssemos uma sequência não apenas de 20 filmes, mas de 40 de uma vez. E não se tratam de quaisquer quatro dezenas! Afinal, a seleção inteira é tão rica, que igualável em qualidade a qualquer cinematografia mundial. Mas, especialmente, porque estes novos compreendem as posições do 50º ao 11º. Ou seja: aqueles “top top” mesmo, quase chegando nos “finalmentes”.

Waltinho, um dos 6 com 2 filmes entre
os 40 melhores
E se o adensamento já vinha acontecendo fortemente, com a presença de grandes realizadores, títulos clássicos e premiados e escolas reconhecidas somadas às novas produções do furtivo século XXI, agora, então, esta confluência se faz ainda mais presente. Dá para se ter ideia pelos nomes de cineastas de primeira linha como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Walter Salles Jr., Luis Sergio Person, Hector Babenco e Eduardo Coutinho, que já deram as caras com obras anteriormente e, desta feita, emplacam dois filmes cada entre os selecionados, até então os mais bem colocados. Somam-se a eles os altamente competentes João Moreira Salles, Jorge Furtado e Bruno Barreto, também com dois entre os 40.

Pode-se dizer que, agora, é quando de fato entram os clássicos incontestes, aqueles “divisores de águas” do cinema nacional (e, por que não, mundial), como “Ganga Bruta”, de Humberto Mauro, "O Beijo da Mulher Aranha", de Babenco, “São Paulo S/A”, de Person, e “Tropa de Elite”, de José Padilha. Mas também pedem passagem “novos clássicos”, tal o perturbador documentário “Estamira” e o premiado “Bacurau”, de 2019, quarto mais recente entre os 110 atrás apenas de “Três Verões” (63º), “Marte Um” (79º) e “Marighella” (106º).

Elas, as cineastas mulheres, se ainda em desigualdade na contagem geral, marcam forte presença nesta fatia mais qualificada até aqui. Estão entre elas Kátia Lund, Daniela Thomas e Anna Muylaert, esta última, responsável por um dos filmes mais tocantes e críticos do cinema brasileiro, “Que Horas Ela Volta?”. Então, pegando carona na expressão, para quem estava nos perguntando "que horas eles voltariam?”: voltamos. E voltamos abalando com 40 filmes imperdíveis, que dignificam o cinema brasileiro e latino-americano. Pensa bem: apenas 10 títulos os separam do melhor cinema do Brasil. Isso diz muito.

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50. "Estamira”, Marcos Prado (2004)

Dentre as dezenas de documentários realizados na década 00, um merece especial destaque por sua força expressiva incomum: "Estamira". Certamente o que colabora para esta pungência do filme do até então apenas produtor Marcos Prado, sócio de José Padilha à época, é a abordagem sem filtro e nem concessões da personagem central, uma mulher catadora de lixo com sério desequilíbrio mental, capaz de extravasar o mais colérico impulso e a mais profunda sabedoria filosófica. A própria presença da câmera, aliás, é bastantemente honesta, visto que por vezes perturba Estamira. Obra bela e inquietante. Melhor doc do FestRio, Mostra de SP, Karlovy Vary e Marselha, além de prêmios em Belém, Miami e Nuremberg.




49. “Tropa de Elite”, de José Padilha (2007)
48. “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratón (2007)
47. “Terra Estrangeira”, Walter Salles Jr. e Daniela Thomas (1996) 
46. “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, Jorge Furtado e José Pedro Goulart (1986)
45. “Amarelo Manga”, de Cláudio Assis (2002)



44. “Nunca Fomos Tão Felizes”, Murilo Salles (1984) 
43. “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (2002)
42. “O Homem da Capa Preta”, Sérgio Rezende (1986)
41. “O Beijo da Mulher Aranha”, Hector Babenco (1985)


40. 
“São Bernardo”, Leon Hirszman (1971) 

Adaptação do livro do Graciliano Ramos, que transporta para a tela não só a história, mas a secura das relações e a incomunicabilidade numa grande fazenda do início do século XX, escorada na desigualdade dos latifúndios. Não há diálogo: a vida é assim e pronto. Daqueles filmes impecáveis em narrativa e concepção. E Leon, comunista como era, não deixa de, num deslocamento temporal, dar seu recado quanto à reforma agrária. A trilha, vanguarda e folk, algo varèsiana e smetakiana, é de Caetano Veloso, que acompanha a secura da narrativa e cria uma "música" totalmente vocal em cima de melismas lamentosos e desconcertados. Recebeu vários prêmios em festivais, entre eles o de melhor ator para Othon Bastos no Festival de Gramado, o Prêmio Air France de melhor filme, diretor, ator e atriz (Isabel Ribeiro), além do Coruja de Ouro de melhor diretor e atriz coadjuvante (Vanda Lacerda). 



39. “Carandiru”, de Hector Babenco (2002)
38. “O Som do Redor”, Kleber Mendonça Filho (2012)
37. “Que Horas Ela Volta?”, Anna Muylaert (2015) 
36. “Notícias de uma Guerra Particular”, Kátia Lund e João Moreira Salles (1999)
35. “Ganga Bruta”, Humberto Mauro (1933)



34. “Lavoura Arcaica”, Luiz Fernando Carvalho (2001)
33. “Bar Esperança, O Último que Fecha”, Hugo Carvana (1982) 
32. “Couro de Gato”, Joaquim Pedro de Andrade (1962)
31. “Os Fuzis”, Ruy Guerra (1964)


30. “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (1968) 

Se existe cinema marginal, esta classificação se deve a “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir a obra inaugural de Sganzerla, que trilharia pela "marginalidade" até o final da coerente carreira. Um filme de manifesto, questionamento de ordem política, de uma estética diferente e bela (apesar do baixo orçamento) e a vontade de avacalhar com tudo. "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha e se esculhamba". Grande vencedor do Festival de Brasília de 1968. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.


29. "Santiago", de João Moreira Salles (2007)
28. “Jogo de Cena”, Eduardo Coutinho (2007)
27. “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha (1968)
26. “Noite Vazia”, Walter Hugo Khouri (1964)
25. “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (1965) 



24. "Terra em Transe", Glauber Rocha (1967) 
23. "Sargento Getúlio”, Hermano Penna (1981) 
22. “O Caso dos Irmãos Naves”, Luis Sergio Person (1967) 
21. “Memórias do Cárcere”, Nelson Pereira dos Santos (1984) 

20. 
 “Ilha das Flores”, Jorge Furtado (1989)

É incontestável a importância de "Ilha das Flores" para a cinematografia gaúcha e nacional. O filme que, em plenos anos 80 ainda de fim do período de Ditadura, expôs ao mundo uma realidade muito pouco enxergada, o fez de forma absolutamente criativa e impactante. Ao acompanhar o percurso de um mero tomate da horta até o lixão a céu aberto onde vive uma fatia da população em total miséria e descaso social, Furtado virou de cabeça para baixo a narrativa do audiovisual brasileiro, influenciado diretamente as produções de TV dos anos 80 e 90 e o cinema pós-retomada nos anos 2000. Urso de Prata para curta-metragem no 40° Festival de Berlim, Prêmio Especial do Júri e Melhor Filme do Júri Popular no 3° Festival de Clermont-Ferrand, França, entre outras premiações na Alemanha, Estados Unidos e Brasil. Um clássico ainda hoje perturbador.



19. “O Beijo no Asfalto”, Bruno Barreto (1980) 
18. “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr. (1998) 
17. “Dnª Flor e seus Dois Maridos”, Bruno Barreto (1976)
16. “Garrincha, A Alegria do Povo”, Joaquim Pedro de Andrade (1962)
15. “Barravento”, Glauber Rocha (1962)


14. “Rio 40 Graus”, Nelson Pereira dos Santos (1955)
13. “Bacurau”, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (2019)
12. “Assalto ao Trem Pagador”, Roberto Faria (1962) 
11. “Bye Bye Brasil”, Cacá Diegues (1979) 



Daniel Rodrigues