Jogaço!!!
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
"Medéia, A Feiticeira do Amor", de Pier Paolo Pasolini (1969) vs. "Medéia", de Lars Von Trier (1988)
Jogaço!!!
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
"Teorema", de Pier Paolo Pasolini (1968)
Ganhei do meu irmão e parceiro de blog, há algum tempo atrás, um monte de filmes
Terence Stamp, o misterioso 'anjo' sedutor
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segunda-feira, 1 de setembro de 2008
"Medeia", de Pier-Paolo Pasolini (1969)
Mesmo considerando o caráter alternativo da obra e a visão particular de um artista incomum, não pode-se deixar de se exigir mais qualidade no produto final. O filme e' muito mal acabado. E quando digo isso nao me refiro a recursos financeiros, produção ou algo assim. E' tosco em elementos básicos para um cineasta. Em alguns momentos parece dirigido com um desleixo que não pode ser atribuído somente a uma eventual precariedade e sim a deficiências e limitações do diretor. Ve-se que ele tentou fazer uma coisa e ficou assim... então ficou. Em nome da 'pureza'? Hmmm... Na
ão sei se se justifica o suficiente.
Isso serve também para os atores que, por serem amadores, ao invés de conferir uma crueza `as cenas, o que talvez fosse a intenção, acabam comprometendo a qualidade de uma obra que com um texto tao rico, teria um ganho enorme com interpretações que fossem no minimo boas.
A gente sabe que o cinema autoral, muitas vezes opta pela ideia em si, mais do que a forma. Nao tenho duvida disso. Mas parece que a ideia em si fica comprometida nestas condições.
É claro que um pouco deste improviso, deste desapego formal tem a ver com a linha cinematográfica do diretor, muito próxima do nosso Cinema Novo, no caso especifico deste filme, mas que dentro do todo da obra se perdem em meio a artifícios fragilíssimos e pobres e aí já não sabemos mais o que era acaso, intenção e consequentemente o que e' mérito.
No meu ponto de vista, há mérito na desconstrução que Pasolini faz da narrativa, ainda que um tanto confusa, em parte pela já citada limitação dos atores e outra por uma certa "pressa" na montagem que faz com que elementos fiquem desconexos demais, sobretudo na primeira metade.
Outra virtude do filme é a não utilização de cenários artificiais e isto feito com muita qualidade, com panorâmicas e planos abertos sobre cenários naturais contendo significados e simbolismos. Mas, sobremaneira, me agradaram os figurinos e a direcao de arte. Muito criativa, utilizando galhos, flores, fibras naturais e tecidos leves inserindo `a sua maneira, sutilmente, um contexto sugerido.
Destaque também para a unica aparição dramática em cinema da soprano Maria Callas interpretando a personagem titulo.
Como eu costumo dizer: Vale conferir. Foi o que eu disse a mim mesmo depois do filme. "Valeu conferir".
No entanto recomendo mesmo, Salo'- ou os 120 dias de Sodoma também do Pasolini, mas que, advirto, deve ser visto com muito "estomago" e tolerância.
Cly Reis
terça-feira, 29 de agosto de 2023
Mostra de Curtas-Metragens Gaúchos - 51º Festival de Cinema de Gramado
Como vêm se adensando a cada ano, as temáticas antes “marginais”, como LGBTQIAP+, povos originários, capacitismo, xenofobia, entre outros, manifestam-se com potência junto aos realizadores. Caso de “Rasgão”, de Victor Di Marco e Márcio Picoli, que levou Menção Honrosa, em sua narrativa que trata da acessibilidade; ou “O Tempo”, vencedor de Melhor Trilha Sonora (Gabriel Araújo, Nina Fola e Malyck Badu) e Roteiro (Ellen Correa, também diretora), expositor de forma sutil de questões raciais e existenciais. Porém, o que mais chama atenção é o apontamento das lentes para uma visão poética do cinema, o que se observa tanto no rigor formal quanto na liberdade estética.
A intencionalidade de um cinema de poesia, dentro daquilo que Pasolini e Bressane servem de base, sustenta os curtas mais cativantes da mostra. Um deles é “Messi”, um pequeno documentário dirigido por Henrique Lahude e Camila Acosta, que traz o jovem Edu, menino pertencente a uma família moradora da cidade fronteiriça de El Soberbio, limite entre Brasil e Argentina, assistindo a um jogo das Quartas de final da Copa do Mundo 2022 em que o time do craque portenho jogava. A forma como esta tarde é contada, com suas sutilezas e percepções sensíveis, quase anulando a presença da câmera, fazem de “Messi” daqueles filmes aparentemente simples em realização, mas profundos em significados. Não à toa, recebeu o prêmio de Montagem, a cargo de André Berzagui.
"Sabão Líquido" toca em questões atuais da sociedade gaúcha e brasileira |
Ainda, impossível não citar nesta linha de entendimento poético o belo “Fiar o Vento”, Melhor Fotografia para a também diretora Mari Moraga com suas expressivas imagens e enquadramentos da Lagoa dos Patos e da ancestral arte de fiação com lã de ovelha; e o impactante “Centenário da Minha Bisa”, de Cristyelen Ambrozio. Feminino, profundo, reflexivo. Cinema de arte. O filme trata do caminho ficcional trilhado pela própria Cristyelen – mulher indígena e egressa da primeira turma do curso superior em Tecnologia em Produção Multimídia de uma instituição pública, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) –, que redescobre sua bisavó a partir de álbuns de família. Memória e realidade se entrelaçam e se tensionam, num jogo intenso entre os elementos textuais, vídeo-artísticos e sensoriais. Com muita assertividade, a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) concedeu-lhe o prêmio de Melhor Curta Gaúcho pelo Júri da Crítica.
De todos, no entanto, aquele que arrebatou público e crítica foi, de fato, o principal vencedor da mostra competitiva: “Concha de Água Doce”, de Lau Azevedo e João Pires. Certa unanimidade se deve, antes de mais nada, à qualidade do curta, seja em narrativa, seja na excelente montagem ou mesmo nas interpretações dos poucos personagens, uma delas o do ator Aren Gallo, que lhe rendeu o troféu de Melhor Ator. Sensível à questão da transsexualidade, o filme traz este tema como ponto central para desencadear uma travessia sem escalas no tempo físico ou emocional, o tempo que está dentro ou fora, o que se guarda no olhar ou na profundeza do mar.
O grande vencedor "“Concha de Água Doce": poesia para tratar de questões de gênero |
A se ver pelo apuro técnico, criatividade e, principalmente, pela assertiva escolha por abordagens que aproveitem as possibilidades estéticas que o cinema suscita, há de se ficar bastante satisfeito com o que o audiovisual gaúcho seguirá promovendo depois de passar por provas de fogo nos últimos anos. Como outro concorrente da mostra de curtas traz, “As Ondas”, e tal como se bradou pelos corredores do Palácio dos Festivais durante os dias de evento, é de se comemorar os novos ventos da cultura brasileira com a entrada do atual governo. A atmosfera já se mostra muito mais respirável e alentadora depois de tanto enxofre empestando o ar. Viva o cinema – e viva a poesia – para promover essa necessária higienização.
*Texto originalmente publicado no site da ACCIRS
Daniel Rodrigues
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
20 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 60
Outro dia, logo após postar no Facebook que havia revisto um dos meus filmes favoritos da cinematografia nacional, “Bye Bye Brasil” (sobre o qual comentarei melhor em um próximo post), surtiram, como geralmente ocorre, alguns comentários. Na ocasião, entretanto, um dos que comentou foi meu primo e colaborador do ClyBlog (especialmente para da seção Claquete) Vagner Rodrigues. Amante de cinema, ele revelou não apenas querer conhecer o filme em questão quanto se aprofundar mais no cinema brasileiro das décadas de 60, 70 e 80.
1 - "O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte (60) – Com absoluta convicção, o melhor de todos os tempos no Brasil. Perfeito do início a fim: fotografia, atuações, roteiro, trilha, edição, cenografia. E tem um dos papeis mais memoráveis do cinema: Leonardo Villar como Zé do Burro. E ainda é um Palma de Ouro em Cannes que venceu Antonioni, Pasolini e Buñuel. Tá bom pra ti? Irretocável.
6 – “Vidas Secas”, Nelson Pereira dos Santos (63) - Genial. Precursor em muitas coisas: fotografia seca, roteiro, cenografia, atuações. Daquelas adaptações literárias tão boas quanto o livro, ouso dizer. Tem uma das cenas mais tristes que já vi, a o sacrifício da cachorra Baleia. Limite também entre Neo-Realismo e Cinema Novo. Indicado a Palma de Ouro. Aula de cinema.
7 - “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha (63) - A obra-prima do Cinema Novo, um dos maiores filmes do século XX. De tirar o fôlego. Sobre este, me reservo o direito de indicar um post inteiro que escrevi sobre ele em meu blog de cinema: http://oestadodascoisascine.wordpress.com/2010/11/09/a-terra-do-homem-e-o-mito-da-morte/
8 - “Os Fuzis”, Ruy Guerra (64) – Um soco no estômago. Sobre um cerco militar que se forma numa cidade do sertão nordestino, pondo à mostra toda a miséria social e moral gerada pelo Estado, quase um presságio do derramamento de sangue que ocorreria com os que combateriam a ditadura militar, então recém-iniciada. Dos filmes preferidos de gente como Gustavo Spolidoro e Eduardo Valente, foi Urso de Prata em Berlim em Direção.
11 – “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (65) – Outro clássico. Walmor Chagas tá ótimo. Na linha d’”Os Cafajestes”, mas sob outra ótica, mostra a asfixia da classe média (paulistana, no caso), imersa na impessoaliadade da vida industrial e maquinal da grande cidade. Recebeu prêmios na Itália, México e São Paulo. Muito atual.
12 – “O Desafio”, Paulo César Saraceni (65) – Parece loucura, mas o diretor fez um filme sobre a ditadura em plena ditadura. Haja peito! E mostra em detalhes a vida daqueles que não se enquadram naquilo, a tristeza de ver seu país tomado sem lado para correr. É um filme revoltado, corajoso e triste com todos os elementos de Cinema Novo: câmera na mão, fotografia natural, improvisação, tom documental, trilha sonora da MPB combativa da época.
17 - “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, José Mojica Marins (68) – O genial Mojica traz indiretamente seu célebre personagem, que não aparece mas “representa” os 3 episódios que compõem o longa. Sua melhor produção, que mostra o quanto ele, um dos maiores mestres do terror trash mundial, ao lado de Argento, Carpenter e Bava, é capaz de fazer miséria com um pouquinho mais de recurso.
18 - “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (68) – Se existe cinema marginal, é “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir. Grande vencedor do Festival de Brasília daquele ano. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.
19 – “O Anjo Nasceu”, Julio Bressane (69) – Gênio do cinema autoral da atualidade (haja vista que é vivo e segue produzindo), junto com Sganzerla originou o chamado cinema “udigrudi”, o underground brasileiro, que subvertia ainda mais a estética e narrativa do que o Cinema Novo. Segundo filme dele, que, embora tenha um pouco mais de história (o que o diretor praticamente abandonou a partir do final dos 70), é tomado de simbologias e metáforas, que, por sinal, embaralharam a cabeça dos militares, que o proibiram sem saber porquê.
20 – “Brasil Ano 2000”, Walter Lima Jr. (69) – Fala-se muito do “Macunaíma” (referencial certamente, mas um filme confuso), mas esse do Walter Lima é exemplar no que seria um cinema “tropicalista” e “antropofágico”. É um musical com trilha original do Gilberto Gil cujos temas são muito bem integrados à história, pois se trata de uma ficção surrealista inteligente e engraçada. Muita criatividade com pouco.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019
"Roma", de Alfonso Cuarón (2018)
"Roma" é um filme lento. Mas isso não é demérito algum. De desenvolvimento é lento, sua dinâmica é lenta, os movimentos de câmera são lentos e ele não tem a menor pressa para, utilizando bem suas mais de duas horas, conquistar o espectador. O filme é focado na personagem Cleodegaria Gutiérrez, ou simplesmente Cleo, ( Yalitza Aparicio) uma empregada de uma família de classe média no México, no início dos anos '70, que se envolve com um rapaz, engravida dele e é abandonada por ele. Ela teme ser despedida da casa onde trabalha e mantém uma relação afetiva muito próxima com os filhos dos patrões, mas ao contrário do que imaginava, é acolhida pela patroa que, com uma viagem do marido sob pretexto profissional, vê-se sozinha e fragilizada para cuidar dos filhos. Em meio ao momento político conturbado, manifestações estudantis, conflitos, guerrilhas, , terremoto, recessão, vamos acompanhando a jornada de Cleo, o andamento de sua gravidez e as mudanças ocorridas no ambiente familiar da casa em que trabalha com a ausência do pai.
Cleo, ao fundo, com a família para a qual trabalha. |
"Roma" que, na verdade não tem nada a ver diretamente com a capital italiana e, sim, com o bairro Colonia Roma, onde vive a família do filme e onde viveu o diretor na infância, não à toa é repleto de referências ao cinema italiano, ao neo-realismo de Rosselini e a seu "Roma, Cidade Aberta", a "Mamma Roma" de Pasolini, e em muitos momentos a Fellini, mas curiosamente não ao filme homônimo do mestre italiano que homenageia Cidade Eterna, e sim a "8 1/2" como na cena da chegada de Cleo à favela e na do túnel que são as mais evidentes.
Por mais que seja inegavelmente belo e tocante, acredito que o longa de Cuarón não deva levar o Oscar de melhor filme. Por mais que a Academia já tenha me surpreendido com prêmios para "Birdman" e "O Artista", acredito que um filme como "Roma" faça, menos que os citados, o tipo de filme que agrada o americano e se distancia do que o grande público espera do "vencedor de melhor filme". Isso sem falar na questão do streaming que ainda é um certo tabu para Hollywood e que, embora com um grande número de indicações este ano, representaria, para mim, uma grande surpresa se superasse essa barreira tão cedo e ainda mais no nível de premiação máxima. Porém, pelos méritos de direção de Cuarón, pelo capricho, pela beleza, não duvido que, no fim da noite do dia 24 de fevereiro, este talentoso mexicano tenha outra estatueta de melhor diretor para colocar na prateleira ao lado da que ele já tem.
A fotografia, assinada pelo próprio Cuarón, é um dos grandes destaques do filme. |