Nesse dia histórico para a democracia no Brasil, tem palco montado para o julgamento do Lula, para as manifestações populares, mas também para a sessão especial do Música da Cabeça! Sobem no nosso tablado sonoro hoje cultura, informação, política e eles, os sons. E também tem entrevista no quadro "Uma Palavra", num papo teatral (e musical) com o ator e dramaturgo Cleiton Echeveste. Ainda, "Palavra, Lê" celebrando os 7.0 de Ronaldo Bastos, "Música de Fato" discutindo o Facebook e as músicas que estiveram em cena conosco durante a semana. Corre lá pra ouvir, que ainda tem ingresso! Inicia às 21h, hoje, pela Rádio Elétrica. Produção, apresentação e coxia: Daniel Rodrigues
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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
Música da Cabeça - Programa #43
Nesse dia histórico para a democracia no Brasil, tem palco montado para o julgamento do Lula, para as manifestações populares, mas também para a sessão especial do Música da Cabeça! Sobem no nosso tablado sonoro hoje cultura, informação, política e eles, os sons. E também tem entrevista no quadro "Uma Palavra", num papo teatral (e musical) com o ator e dramaturgo Cleiton Echeveste. Ainda, "Palavra, Lê" celebrando os 7.0 de Ronaldo Bastos, "Música de Fato" discutindo o Facebook e as músicas que estiveram em cena conosco durante a semana. Corre lá pra ouvir, que ainda tem ingresso! Inicia às 21h, hoje, pela Rádio Elétrica. Produção, apresentação e coxia: Daniel Rodrigues
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
As minhas 20 melhores capas de disco da música brasileira
Dia desses, deparei-me com um programa no canal Arte 1 da série “Design Gráfico Brasileiro” cujo tema eram capas de discos da música brasileira. Além de trazer histórias bem interessantes sobre algumas delas, como as de “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, “Severino”, dos Paralamas do Sucesso, e “Zé”, da Biquíni Cavadão, ainda entrevistava alguns dos principais designers dessa área aos quais nutro grande admiração, como Gringo Cardia e Elifas Andreato.
Elifas: o mestre do design de capas de disco no Brasil |
Assim como ocorre nos Estados Unidos e Europa, a tradição da arte brasileira acabou por se integrar à indústria fonográfica. Principalmente, a partir dos anos 50, época em que, além do surgimento do método de impressão em offset e a melhora das técnicas fotográficas, a indústria do disco se fortaleceu e começou a se descolar do rádio, até então detentor do mercado de música. Os músicos começaram a vender discos e, na esteira, o pessoal das artes visuais também passou a ganhar espaço nas capas e encartes que envolviam os bolachões a ponto de, às vezes, se destacarem tanto quanto o conteúdo do sulco.
Arte de Wahrol para o selo norte-americano Verve |
No Brasil, em especial, a possibilidade de estes autores tratarem com elementos da cultura brasileira, rica e diversa em cores, referências étnico-sociais, religiosas e estéticas, dá ainda, se não mais tempero, elementos de diferenciação diante da arte gráfica feita noutros países. Assim, abarcando parte dessa riqueza cultural, procurei elencar, em ordem de data, as minhas 20 capas preferidas da música brasileira. Posso pecar, sim, por falta de conhecimento, uma vez que a discografia nacional é vasta e, não raro, me deparo com algum disco (mesmo que não necessariamente bom em termos musicais) cuja capa é arrebatadora. Quem sabe, daqui a algum tempo não me motive a listar outros 20?
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1 - “Aracy canta Noel” – Aracy de Almeida (1954)
Arte: Di Cavalcanti
Era o começo da indústria dos “long playing” no Brasil, tanto que se precisou fazer um box com três vinis de 10 polegadas reunindo as faixas dos compactos que Aracy gravara entre 1048 e 1950 com o repertório de Noel Rosa. A Continental quis investir no inovador produto e chamou ninguém menos que Di Cavalcanti para realizar a arte do invólucro. Como uma obra de arte, hoje, um disco original não sai por menos de R$ 500.
2 - “Canções Praieiras” – Dorival Caymmi (1954)
Arte: Dorival Caymmi
É como aquela anedota do jogador de futebol que cobra o escanteio, vai para a área cabecear e ele mesmo defende a bola no gol. “Canções Praieiras”, de Caymmi, é assim: tudo, instrumental, voz, imagem e espírito são de autoria dele. E tudo é a mesma arte. “Pintor de domingos”, como se dizia, desde cedo pintava óleos com o lirismo e a fineza que os orixás lhe deram. Esta capa, a traços que lembram Caribé e Di, é sua mais bela. Como disse o jornalista Luis Antonio Giron: ”Sua música lhe ofereceu todos os elementos para pintar”.
3 - “Orfeu da Conceição” – Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes (1956)
Arte: Raimundo Nogueira
Arte: Raimundo Nogueira
A peça musical inaugural da era de ouro da MPB tinha, além do brilhantismo dos dois autores que a assinam, ainda Oscar Niemeyer na cenografia, Leo Jusi, na direção, e Luis Bonfá, ao violão-base. Só feras. Quando, por iniciativa do eternamente antenado Aloysio de Oliveira, a trilha da peça virou disco, Vinicius, homem de muitos amigos, chamou um deles, o pintor Raimundo Correa, para a arte da capa. Alto nível mantido.
4 - “À Vontade” – Baden Powell (1963)
Arte: Cesar Vilela
O minimalismo do P&B estourado e apenas a cor vermelha fazendo contraponto deram a Elenco – outro trunfo de Aloysio de Oliveira – a aura de cult. Além de, musicalmente falando, lançar diversos talentos no início dos anos 60, os quais se tornariam célebres logo após, o selo ainda tinha um diferencial visual. A capa de "À Vontade" é apenas uma delas, que junta o estilo cromático de Vilela com um desenho magnífico do violeiro, representativo da linhagem a qual Baden pertence. Uma leitura moderna da arte dos mestres da pintura brasileira aplicada ao formato do vinil.
5 - “Secos & Molhados” – Secos & Molhados (1971)
Arte: Décio Duarte Ambrósio
Impossível não se impactar com a icônica imagem das cabeças dos integrantes da banda servidas para o banquete. Impressionam a luz sépia e sombreada, o detalhismo do cenário e o barroquismo antropofágico da cena. E que disco! Fora o fato de que as cabeças estão... de olhos abertos!
6 - “Ou Não” ou "Disco da Mosca" - Walter Franco (1971)
Arte: Lígia Goulart
Os discos “brancos”, como o clássico dos Beatles ou o do pré-exílio de Caetano Veloso (1969), guardam, talvez mais do que os discos “pretos”, um charme especial. Conseguem transmitir a mesma transgressão que suas músicas contêm, porém sem a agressividade visual dos de capas negras. Ao mesmo tempo, são, sim, chocantes ao fazerem se deparar com aquela capa sem nada. Ou melhor: quase nada. Nesta, que Lígia Goulart fez para Walter Franco, o único elemento é a pequena mosca, a qual, por menor que seja, é impossível não percebê-la, uma vez que a imagem chama o olho naquele vazio do fundo sem cor.
7 – “Fa-Tal - Gal a Todo Vapor” - Gal Costa (1971)
Arte: Hélio Oiticica e Waly Salomão
Gal Costa teve o privilégio de contar com a genial dupla na autoria da arte de um trabalho seu. Em conjunto, Oiticica e Waly deram a este disco ao vivo da cantora um caráter de obra de arte, dessas que podem ser expostas em qualquer museu. Além disso, crítica e atual. A mistura de elementos gráficos, a foto cortada e a distribuição espacial dão à arte uma sensação de descontinuidade, fragmentação e imprecisão, tudo que o pós-tropicalismo daquele momento, com Caetano e Gil exilados, queria dizer.
8 - “Clube da Esquina” – Milton Nascimento e Lô Borges (1972)
Arte: Cafi e Ronaldo Bastos
Talvez a mais lendária foto de capa de todos os tempos no Brasil. Tanto que, anos atrás, foi-se atrás dos então meninos Tonho e Cacau para reproduzir a cena com eles agora adultos. Metalinguística, prescinde de tipografia para informar de quem é o disco. As crianças representam não só Milton e Lô como ao próprio “movimento” Clube da Esquina de um modo geral e metafórico: puro, brejeiro, mestiço, brasileiro, banhado de sol.
9 - “Lô Borges” ou “Disco do Tênis” - Lô Borges (1972)
Arte: Cafi e Ronaldo Bastos
Não bastasse a já simbólica capa de “Clube da Esquina”, que Cafi e Ronaldo idealizaram para o disco de Milton e Lô, no mesmo ano, criam para este último outra arte histórica da música brasileira. Símbolo da turma de Minas Gerais, os usados tênis All Star dizem muito: a sintonia com o rock, a transgressão da juventude, a ligação do Brasil com a cultura de fora, o sentimento de liberdade. Tudo o que, dentro, o disco contém.
10 – “Cantar” – Gal Costa (1972)
Arte: Rogério Duarte
Mais um de Gal. As capas que Rogério fez para todos os tropicalistas na fase áurea do movimento, como as de “Gilberto Gil” (1968), “Gal Costa” (1969) e a de “Caetano Veloso” (1968) são históricas, mas esta aqui, já depurados os elementos estilísticos da Tropicália (que ia do pós-modernismo à antropofagia), é uma solução visual altamente harmônica, que se vale de uma foto desfocada e uma tipografia bem colorida. Delicada, sensual, tropical. A tradução do que a artista era naquele momento: o “Cantar”.
11 - “Pérola Negra” – Luiz Melodia (1973)
Arte: Rubens Maia
Somente num país tropical faz tanto sentido usar feijões pretos para uma arte de capa. No Brasil dos ano 70, cuja pecha subdesenvolvida mesclava-se ao espírito carnavalesco e ao naturalismo, o feijão configura-se, assim como o artista que ali simboliza, a verdadeira “pérola negra”. Além disso, a desproporção dos grãos em relação à imagem de Melodia dentro da banheira dá um ar de magia, de surrealismo.
12 - “Todos os Olhos” – Tom Zé (1973)
Arte: Décio Pignatari
A polêmica capa do ânus com uma bolita foi concebida deliberadamente para mandar um recado aos militares da Ditadura. Não preciso dizer que mensagem é essa, né? O fato foi que os milicos não entenderam a ofensa e a capa do disco de Tom Zé entrou para a história da arte gráfica brasileira não somente pela lenda, mas também pela concepção artística revolucionária que comporta e o instigante resultado final.
13 – “A Tábua de Esmeraldas” - Jorge Ben (1974)
Arte: Aldo Luiz
Responsável por criar para a Philips, à época a gravadora com o maior e melhor cast de artistas da MPB, Aldo Luiz tinha a missão de produzir muita coisa. Dentre estas, a impactante capa do melhor disco de Jorge Ben, na qual reproduz desenhos do artista e alquimista francês do século XII Nicolas Flamel, o qual traz capítulos de uma história da luta entre o bem e o mal. Dentro da viagem de Ben àquela época, Aldo conseguiu, de fato, fazer com que os alquimistas chegassem já de cara, na arte da capa.
14 - “Rosa do Povo” – Martinho da Vila (1976)
Arte: Elifas Andreato
Uma das obras-primas de Elifas, e uma das maravilhas entre as várias que fez para Martinho da Vila. Tem a marca do artista, cujo traço forte e bem delineado sustenta cores vivas e gestos oníricos. De claro cunho social, a imagem dos pés lembra os dos trabalhadores do café de Portinari. Para Martinho, Elifas fez pelo menos mais duas obras-primas das artes visuais brasileira: “Martinho da Vila”, de 1990, e “Canta Canta, Minha Gente”, de 1974.
15 - “Memórias Cantando” e “Memórias Chorando” – Paulinho da Viola (1976)
Arte: Elifas Andreato
Podia tranquilamente escolher outras capas que Elifas fez para Paulinho, como a de “Nervos de Aço” (1973), com seu emocionante desenho, ou a premiada de “Bebadosamba” (1997), por exemplo. Mas os do duo “Memórias”, ambas lançadas no mesmo ano, são simplesmente magníficas. Os “erês”, destacados no fundo branco, desenhados em delicados traços e em cores vivas (além da impressionante arte encarte dos encartes, quase cronísticas), são provavelmente a mais poética arte feita pelo designer ao amigo compositor.Arte: Elifas Andreato
16 - “Zé Ramalho 2” ou “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu” – Zé Ramalho (1979)
Arte: Zé Ramalho e Ivan Cardoso
A inusitada foto da capa em que Zé Ramalho é pego por trás por uma vampiresca atriz Xuxa Lopes e, pela frente, prestes a ser atacado por Zé do Caixão, só podia ser fruto de cabeças muito criativas. A concepção é do próprio Zé Ramalho e a foto do cineasta “udigrudi” Ivan Cardoso, mas a arte tem participação também de Hélio Oiticica, Mônica Schmidt e... Satã! (Não sou eu que estou dizendo, está nos créditos do disco.)
17 - “Almanaque” – Chico Buarque (1982)
Arte: Elifas Andreato
Mais uma de Elifas, é uma das mais divertidas e lúdicas capas feitas no Brasil. Além do lindo desenho do rosto de Chico, que parece submergir do fundo branco, as letras, os arabescos e, principalmente, a descrição dos signos do calendário do ano de lançamento do disco, 1982, é coisa de parar para ler por horas – de preferência, ouvindo o magnífico conteúdo musical junto.
18 - “Let’s Play That” – Jards Macalé (1983)
Arte: Walmir Zuzzi
Macalé sempre deu bastante atenção à questão gráfica de seus discos, pois, como o próprio diz, não vê diferença entre artes visuais e música. Igualmente, sempre andou rodeado de artistas visuais do mais alto calibre, como os amigos Hélio Oiticica, Lygia Clark e Rubens Gerchman. Nesta charmosa capa de figuras geométricas, Zuzzi faz lembrar muito Oiticica. Em clima de jam session basicamente entre Macalé e Naná Vasconcelos, a capa traz o impacto visual e sensorial da teoria das cores como uma metáfora: duas cores diferentes em contraste direto, que intensifica ainda mais a diferença (e semelhanças) entre ambas.
19 - “Cabeça Dinossauro” – Titãs (1986)
Arte: Sérgio Brito
Multitalentosa, a banda Titãs tinha em cada integrante mais do que somente a função de músicos. A Sérgio Brito, cabia a função “extra” da parte visual. São dele a maioria das capas da banda, e esta, em especial, é de um acerto incomparável. Reproduzindo desenhos de Leonardo da Vinci (“Expressão de um Homem Urrando”, na capa, e “Cabeça Grotesca”, na contra, por volta de 1490), Brito e seus companheiros de banda deram cara ao novo momento do grupo e ao rock nacional. Não poderia ser outra capa para definir o melhor disco de rock brasileiro de todos os tempos.
20 - “Brasil” - Ratos de Porão (1988)
Arte: Marcatti
O punk nunca mandou dizer nada. Esta capa, do quarto álbum da banda paulista, diz tanto quanto o próprio disco ou o que o título abertamente sugere. “Naquele disco, a gente fala mal do país o tempo inteiro, desde a capa até a última música”, disse João Gordo. Afinal, para punks como a RDP não tinha como não sentar o pau mesmo: inflação, Plano Cruzado, corrupção na política, HIV em descontrole, repressão policial, a lambada invadindo as rádios, Carnaval Globeleza... Os cartoons de Marcatti, que tomam a capa inteira, são repletos de crítica social e humor negro, como a cena dos fiéis com crucifixos enfiados no cu ou dos políticos engravatados assaltando um moleque de rua. É ou não é o verdadeiro Brasil?
por Daniel Rodrigues
com a colaboração de Márcio Pinheiro
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017
Mart’nália – Show “Em samba!” – Espaço Cultural BNDES – Rio de Janeiro/RJ
Já é tradicional sempre que viemos ao Rio de Janeiro Leocádia e eu –
desta vez acompanhados por nossa hermana Carolina – assistirmos nos dois
primeiros dias de estada algum show musical com minha mãe, Iara. Ela, antenada
nas atividades culturais da cidade, invariavelmente nos leva a algum espetáculo
especial. Já foi assim com Jorge Ben Jor, em 2015, com Monarco e Nei Lopes, em
março deste ano, por exemplo. Desta feita, no dia em que pisamos os três na
Cidade Maravilhosa, minha mãe nos participa que Mart’nália se apresentaria de graça naquela tarde no Auditório do
BNDES, no Centro. Mesmo com chuva, fomos lá os quatro em busca de ingresso.
Oportunidade dessas em Porto Alegre é algo inimaginável, tanto pela qualidade
artística quanto pela gratuidade, uma vez que seria de 100 Reais para mais para
vermos a mesma coisa em nossa cidade.
Ingressos retirados, ajudamos a ocupar um lotado auditório, o qual
presenciou um show da mais alta qualidade técnica e artística. Som e iluminação
perfeitas e, o mais importante, uma apresentação digna dos maiores artistas
brasileiros da atualidade. Mart’nália é um espetáculo por si própria. Dona do
palco e totalmente entrosada com sua banda (Humberto Mirabelli, violão e
guitarra; Rodrigo Villa, baixo; Menino Brito, percussão e cavaquinho; Raoni
Ventepane, percussão; Macaco Branco, percussão; e Analimar Ventepane, percussão
e vocal), faz lembrar o pai Martinho da Vila, com quem se parece bastante fisicamente
e no gestual. Mas Mart’nália, musicista consagrada e original, não é apenas uma
cópia dele. Vê-se nela a música pop, a modernidade do rap, o swing da soul, a
urbanidade do funk carioca, a tradição dos sambistas anteriores a Martinho, as
mulheres bambas, como D. Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra. Uma artista
completa que respira música e que, com alegria e malandragem, transmite isso no
palco.
A carismática e talentosa Mart'nália interagindo com o público |
O repertório, dedicado aos 100 anos do samba, começa com a prece
sambística “Peço a Deus”. Entretanto, o show não trouxe apenas o ritmo mais
brasileiro de todos. Tinha, em perfeita mistura, os ritmos da música pop, como
o funk, o reggae e outros ritmos que Mart’nália introduz com uma naturalidade
tocante. Assim foi com “Tava por aí” e “Pretinhosidade”, duas dela e de Mombaça,
“Cabide”, seu grande sucesso, de autoria de Ana Carolina, “Namora comigo”, de Paulinho
Moska, e a linda “Ela é minha cara”, feita especialmente por Ronaldo Bastos e
Celso Fonseca a ela. Nessa mesma linha, a belíssima “Pé do meu samba”, escrita
por Caetano Veloso, de quem Mart’nália tocou também a graciosa “Gatas
extraordinárias”, conhecida na voz de Cássia Eller e que Mart’nália não se
atreve a meramente copiar, haja visto que sua versão lembra a original mas
traz-lhe toques de samba-reggae.
A segunda metade do show foi dedicada às raízes de Mart’nália, ou seja,
os sambas que cresceu ouvindo nas quadras da Vila Isabel e nos pagodes da vida.
A começar pela diva do samba, D. Ivone, de quem emendou três clássicos,
começando pela linda “Mas quem disse que eu te esqueço”, que muito me
emocionou, “Acreditar” e o sucesso “Sorriso Negro”. Veio uma de Benito di
Paula, “Que beleza”, e outra altamente emocionante do show: “Pra que chorar”,
de Vinicius de Moraes e Baden Powell, numa versão delicada e cheia de
musicalidade. A sensibilidade musical de Mart’nália, que canta e toca vários
instrumentos de percussão com impressionante naturalidade, prossegue com um
arranjo precioso de dois clássicos do mais célebre compositor de Vila Isabel,
Noel Rosa: “Feitiço da Vila” e “Com que roupa”.
Se o assunto era samba e Vila Isabel, então, era hora de puxar aquilo
que trouxe “de casa”, como ela mesma referiu. Ela emenda pout-pourri com seis clássicos de seu pai, começando por “Casa de
bamba” (“Lá na minha casa todo mundo é
bamba/ Todo mundo bebe, todo mundo samba”), passando por “Mulheres”, “Canta
Canta, Minha Gente” e uma engraçada performance de “Nhem nhem nhem”, na qual
Mart’nália gesticula como se estivesse sendo perseguida pela esposa dentro de
casa (“Toda vez que eu chego/ Em casa
você vem/ Com nhem, nhem, nhem/ Se eu vou pro quarto/ Você vai/ Volto pra sala/
Você vem/ Nos meus ouvidos, perturbando/ Nhem, nhem, nhem/ Nhem, nhem, nhem”).
Fechando a roda de samba, outro hit de Martinho: “Madalena”. O desfecho foi com
“Chega”, mais uma dela com Mombaça, canção muito querida do público.
Não tinha exatamente ideia do que ia encontrar num show de Mart’nália.
Embora as notícias davam conta de que sua presença de palco e seu carisma
cativavam o público, tive uma surpresa muito positiva. É muito bonito ver um
artista genuíno no palco, com entrega e amor pelo que faz. No caso dela, como
já mencionei, isso se junta à total musicalidade e bom gosto. Valeu, enfim,
mais uma empreitada idealizada por minha mãe. Que venham os próximos shows de recepção
no Rio, pois este foi mais um dos especiais.
Visão geral do bonito palco do BNDES |
Texto Daniel Rodrigues
Fotos Leocádia Costa
Fotos Leocádia Costa
domingo, 14 de agosto de 2016
ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL DIA DOS PAIS - Elis Regina - "Elis" (1980)
“A vida é boa te digo eu/
A mãe ensina que ela é sábia/
O mal não faço, eu quero o bem/
A nossa casa reflete comunhão.”
da
música “Comunhão”,
de Fernando Brant e Milton Nascimento,
criada para o musical
Missa de Quilombo, 1982
Meu pai e eu éramos muito ligados. Nem todos os
filhos sentem-se assim ligados aos seus pais. Muitos de nós passamos parte da
vida lamentando o berço familiar, a descendência e tudo o que existe dentro de
uma família.
Comigo não foi assim.
Cresci até os 4 anos com um pai muito feliz,
animado e parceiro de aventuras. Cresci no Centro da cidade de Porto Alegre
após nascer no Bom Fim. Nas imediações do Centro eu e ele íamos ao parquinho
que ficava no Largo da Epatur. Eu viajava nos discos voadores, andava de
charrete e montava nos cavalinhos do carrossel. Ele ficava me cuidando e
fotografando ao mesmo tempo.
Meu pai curtia revelar as imagens e organizar nos
álbuns, que naquele tempo eram feitas em câmera com negativo quadrado e a
imagem final dependia das condições técnicas do fotógrafo – ele tinha talento! Todas
as fotos aprovadas iam para um álbum-pasta que por anos nos acompanhou. Dono de
um gênio forte, por vezes temperamental, sempre se percebia amor nele e alegria
nestes momentos.
Assim cresci: parte saindo rumo aos parques, praças
e ruas do bairro e por outras tive meus momentos de estar em casa. Lá brincava
comigo de gravar a voz. Eu adorava. Vez em quando cantava ou contava do meu dia
na escola.
Faz um tempo que recebi uma “cutucada”, como se diz
no dialeto estranho das redes sociais, dos editores do ClyBlog para escrever
sobre uma das maiores cantoras brasileiras, Elis Regina. O que isso tem a ver comigo e com a minha relação paterna? Tudo! Mas confesso que o convite me
deixou atordoada, sem saber por onde começar. Elis está em muitos momentos da
minha vida representando transformação.
Eu e Marcelo na abertura da exposição
A Aventura de Criar - Galeiria Duque, maio 2015
|
Depois de tantas audições no lar, eu já sabia as
letras, os tempos e as paradas que a cantora fazia. Então, apresentava a
dublagem nas reuniões de final de ano e nos aniversários à família. E me achava
a segunda melhor cantora daquele momento por conta dessa total sintonia que
tínhamos. Eu tinha de 7 para 8 anos de idade.
Nunca me rendi somente à voz, mas a toda atmosfera
como intérprete que Elis criava para cada canção. A emoção, a quebra das
palavras, o respirar das frases, a cadência de cada arranjo tornava cada faixa
do LP única. Realmente algumas canções são “inescutáveis” se a intérprete não
for Elis Regina.
O LP que mais tocou em mim é este, de 1980, que tem
as faixas inesquecíveis: “Rebento” de Gilberto Gil; “Nova Estação“ de Luiz
Guedes e Thomas Roth; “O Medo de Amar é o medo de ser livre” de Beto Guedes e Fernando Brant; “Aprendendo a jogar” e “Só Deus é quem sabe”, ambas de
Guilherme Arantes; além da arrebatadora “Trem Azul”, de Lô Borges e Ronaldo
Bastos, hino em minha vida. Quem escutava Elis recebia a melhor produção
musical do momento.
Acervo de Elis da CCMQ
Jornal Zero Hora - 22/09/2005
|
Fui compreender seu universo e sua enorme
contribuição a jovens compositores anos mais tarde, quando, adolescente, lendo
matérias, vendo artigos e escutando amigos me dei conta do movimento, da
visibilidade e da força que ela deu a uma galera referência até hoje na música
brasileira.
O tempo passou e meu pai acabou perdoando a morte
de Elis Regina, voltou a escutar sua voz e vez em quando ele comentava: “Mas ela canta como ninguém mais poderia
interpretar essa canção!”, e
então se recolhia ao silêncio respeitoso de escutá-la.
Em 2005, tive a alegria de ser convidada por Sergio
Napp, então Diretor da Casa de Cultura Mário Quintana, a criar o Acervo Elis Regina da CCMQ. Nesta época,
mergulhei em todas as informações que recolhemos de acervos doados e de livros
editados sobre ela. Lembro-me do impacto que tive com a análise do mapa astral
de Elis, por um dos maiores astrólogos do país, Antônio Carlos “Bola” Harres,
que anos mais tarde foi meu cunhado e que apresenta a configuração astral de
Elis de uma forma que compreendemos os conflitos, o fluxo das emoções e as
nuances talentosas da cantora.
Elis era uma mulher com força impulsiva e, ao mesmo
tempo, com alta sensibilidade. Opostos atuando sempre ao mesmo tempo. Essa análise
me ajudou a compor com os arquitetos Carlos e Lizete Jardim as cores, a
atmosfera e a forma de apresentar os conteúdos do Acervo. Nesta época também
conheci mais profundamente o repertório de Elis e a sua estreita relação com
compositores que embalaram minha mesma infância, tais como: Milton Nascimento/Fernando
Brant, Gil, Beto Guedes, Guilherme Arantes, Ronaldo Bastos, Lô Borges, João Bosco/Aldir Blanc, Ivan Lins, entre outros.
Durante todo o tempo de pesquisa sobre o Acervo meu
pai me incentivou com orgulho de ver aquela escuta de anos atrás se transformar
em um espaço físico homenageando a intérprete e a cantora, que mesmo sendo um
dos maiores nomes da música brasileira, se achava brega perto de outras
cantoras da sua época, a exemplo de Rita Lee.
Meses após termos aberto o Acervo Eis Regina, fui
apresentada por Luiz Carlos Prestes Filho em Porto Alegre a Fernando Brant, compositor
e letrista da mais alta qualidade musical e humana. Ele ficou muito feliz com o
Acervo, que conheceu numa vista a CCMQ quando estava na fase de implementação da
sede da União Brasileira de Compositores na capital gaúcha. Ficamos amigos.
Eu e Fernando Brant na inauguração do UBC
em Porto Alegre em 2006
|
Em 2011, numa visita a Belo Horizonte, cidade onde
Fernando morava, fomos ao show de Milton Nascimento que abria o novo espaço da
cidade. Fazia poucos meses que Fernando havia participado do projeto Coleção
Mario Quintana para a Infância, volumes IV e V, realizado por minha empresa
Aprata. Todo faceiro com a chegada da Coleção (que levei pessoalmente a ele em
agradecimento por tanta generosidade), ele me recebeu com esse convite
irrecusável: “Vamos assistir o Bituca,
Leo? Ele fará um show no teatro recém-inaugurado aqui após reforma pelo SESC e
vai homenagear a Elis. Você tem que estar lá porque vais representar Porto
Alegre nesse momento. Vamos?” Como é que eu diria não?
Fomos então direto para o teatro e lá chorei por 90
minutos do show, segurando a mão do Fernando, que emocionado com a audição de
suas composições, enchia os olhos de água e dava longos suspiros sorrindo. Um
dos maiores presentes que recebi da vida: reunir neste dia os compositores e a
carga musical que tenho em minha bagagem relacionada a Elis.
Depois desse dia, só falei com ele por telefone e
e-mail. Foi a nossa despedida amiga em grande estilo envolvidos pela atmosfera
musical que ele construiu de tanta beleza e com a homenagem à mulher que,
segundo ele, foi a maior incentivadora da carreira de todo aquele Clube da
Esquina e os outros tantos desgarrados que até então buscavam uma oportunidade
para persistir na música.
Quando voltei a Porto Alegre, contei a meus pais e
os dois se emocionaram muito com essa vivência em Beagá. Tentei escrever sobre
todos estes momentos, mas não conseguia elencar os fatos, porque a emoção me
invadia e desorganizava a escrita. Comecei a escrever o texto com meu pai e
Fernando ainda vivos. Porém foi somente com a partida de ambos, Fernando em
junho de 2015, e meu pai, em junho de 2016, que me senti serena para contar
essa história de total sintonia entre nós.
Obrigado meu pai por não proibir a escuta, mesmo
doendo demais a ausência de Elis.
Obrigado Fernando por essa amizade inesquecível.
Obrigado Elis por esse sentimento de comunhão, por trazer
até todos nós em forma de Arte - essa vibração prateada, brilhante e sonora,
que foi sua passagem por esse planeta e que tanto nos liga amorosamente.
Saudade de tudo que vivemos e hoje é memória viva
em mim!
Gratidão, Amor e Luz para vocês.
****************
Elis Regina - "Aprendendo a Jogar" - programa Fantástico (1980)
FAIXAS:
1. "Sai Dessa" (Ana Terra/Nathan Marques)
2. "Rebento" (Gilberto Gil)
3. "Nova Estação" (Thomas Roth/Luiz
Guedes)
4. "O Medo de Amar É o Medo de Ser Livre"
(Beto Guedes/Fernando Brant)
5. "Aprendendo a Jogar" (Guilherme
Arantes)
6. "Só Deus É quem Sabe" (Guilherme
Arantes)
7. "O Trem Azul" (Lô Borges/Ronaldo
Bastos)
8. "Vento de Maio" (Telo Borges/Márcio
Borges)
9. "Calcanhar de Aquiles" (Jean Garfunkel
/Paulo Garfunkel)
faixas bônus
do relançamento em CD
1. "Tiro ao Álvaro" (Adoniran Barbosa /
Osvaldo Molles) – Com
Adoniran Barbosa
2. "Se Eu Quiser Falar com Deus"
(Gilberto Gil)
3. "O que Foi Feito Devera (de Vera)"
(Milton Nascimento/Fernando Brant/Márcio Borges) – Com Milton Nascimento
4. "Outro Cais" (Marilton Borges/Duca
Leal) – Com Os Borges
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