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sábado, 4 de julho de 2015

Van Morrison - “Into the Music” (1979)




“Quando você escuta a música tocando sua alma/
E sente em seu coração e cresce e cresce/
E vem daquele rock and roll das ruas
e a cura começou” 
da letra de “And the Healing Has Begun”




Tem uma cena do filme “The Last Waltz” (“O Último Concerto de Rock” no Brasil), de Martin Scorsese, que define o irlandês Van Morrison, autor do disco que é um dos favoritos totais aqui da casa: “Into the Music”, de 1979. Após cantar seu sucesso “Caravan” com The Band, o guitarrista do grupo, Robbie Robertson, olha para a plateia e diz: “Van the Man”. É exatamente isso que Van Morrison é: THE MAN! Um irlandês baixinho, arretado, irritado, brigão, xarope, malão mesmo. Mas quando compõe e abre a boca pra cantar, todo mundo esquece estas “qualidades” e se delicia com a música em estado puro que se derrama daquele corpinho. Mas nem sempre foi assim.

Durante os anos 60, ele surgiu liderando o grupo Them, que fez muito sucesso com “Gloria”. Quando o empresário começou a dar palpites, Van partiu pra carreira solo, que começou lá em cima com o cultuado "Astral Weeks", em 1968, e seguiu com "Moondance", dois anos depois  (ambos perfilados aqui no blog como ÁLBUNS FUNDAMENTAIS). Na segunda metade dos anos 70, entretanto, ele passava por um momento de reflexão profunda da sua carreira musical e se voltando – como todo irlandês, aliás – para a religião e o amor a Deus. Após gravar “Veedon Fleece”, em 1974, ficou três anos fora dos estúdios e dos palcos. Ao voltar, fez um disco chamado “A Period of Transition”, que era exatamente isso. No ano seguinte, ensaiou uma volta à velha forma com “Wavelength”, mas ainda não era aquele disco que se esperava de uma figura mítica como ele. Isto só aconteceu em 1979 com “Into the Music”, não por acaso uma brincadeira e trocadilho com uma de suas canções mais conhecidas, “Into the Mystic”. Ao lado de seu fiel escudeiro, o baixista David Hayes, mais a violinista Tony Marcus e a dupla extraordinária Pee Wee Ellis (ex-James Brown) no saxofone e Mark Isham nos trompetes, teclados e arranjos, entre outros, Van reuniu um grupo de canções que louvam a Deus, ao poder curador da música e, é claro, às mulheres, todas embaladas em blues, folk, R&B, soul e muito mais.

Tudo começa com “Bright Side of the Road”, um country com levada R&B, onde brilham a harmônica de Van, o violino de Marcus e os backing vocals de Katie Kissoon. Na letra, Van diz à mulher amada que “Do final escuro da rua/ ao lado iluminado da estrada/ seremos amantes novamente/ no lado iluminado da estrada/ Querida vem comigo/ me ajuda a repartir este peso?”.

Ao começar o disco com um discurso “profano”, Van se retrata com “o homem” em “Full Force Gale” cantando: “Como uma tempestade a toda força/ eu fui erguido novamente/ eu fui erguido pelo Senhor/ E não importa por onde eu ande/ Vou encontrar meu caminho de volta pra casa/ Vou sempre voltar para o Senhor”. Esta letra de entrega à religião é carregada pela slide guitar de Ry Cooder e o naipe de sopros fazendo aquele clima soul music.

Em “Steppin' Out Queen”, Van volta a conversar com uma mulher afirmando que ela pode “Passar seu batom/ se maquiar/ Às vezes você está vivendo num sonho/ e então cai fora rainha”. Na verdade, Van quer convencê-la a “vir para o jardim e olhar as flores”, ao invés de sair pra rua. O naipe de sopros toca um tema irresistível, daqueles de ficar assobiando o dia inteiro.

“Troubadours” traz o penny whistle (flautim irlandês) de Robin Williamson, um dos fundadores da Incredible String Band. Van fala sobre os trovadores e sua música que “trazia as pessoas que vem de longe e vem de perto/ para ouvir os trovadores”. Mais adiante, afirma que “eles vem cantando canções de amor e cavalheirismo dos tempos antigos”. Ellis e Isham também ganham solos nesta canção, que trata do poder curativo da música.

Já “Rolling Hills” traz a influência da música celta que Van ouviu a vida inteira em Belfast. E volta o discurso místico: “Entre as colinas ondulantes/ Eu vivo minha vida com ele/ Oh eu vivo minha vida com ele/ entre as colinas ondulantes/ Eu leio minha Bíblia quieto/ Oh eu leio minha Bíblia quieto/ entre as colinas ondulantes”.

Pra fechar o Lado 1, um exemplo bem claro do que se poderia chamar de soul music na versão de Van Morrison: “You Make Me Feel So Free”. Como as letras são ambíguas durante todo o disco, Van pode estar se referindo a uma mulher ou à música: “Algumas pessoas passam a vida correndo em círculos/ sempre atrás de um pássaro exótico/ eu prefiro gastar meu tempo apenas ouvindo algo muito especial/ que nunca ouvi/ Gosto de ter uma canção nova pra cantar, outro show ou algum lugar totalmente diferente para ficar/ mas baby, você me faz sentir muito livre”. Quem é “baby”? A música, uma mulher, o Deus? Faça sua escolha. O saxofonista Pee Wee Ellis deve ter lembrado dos seus tempos com os JBs, pois seu solo tem todas aquelas características dos melhores trabalhos de James Brown. E o pianista Mark Jordan brinca com o jazz de New Orleans e a sonoridade de Professor Longhair e Dr. John.

Abrindo o lado 2 do LP, mais uma ode, agora explícita, a uma mulher, “Angeliou”, um anjo em forma de fêmea. O encontro aconteceu “no mês de maio/ na cidade de Paris”. Tony Marcus faz misérias com seu mandolin e violino, enquanto Mark Jordan faz um tema ao piano que lembra aquelas peças para cravo de Bach. Ao abrir seu coração para Angeliou, ele afirma que “caminhando numa rua quem poderia imaginar que seria tocado por uma total estranha, não eu/ Mas quando você veio até a mim aquele dia e contou sua história/ Lembrou muito de mim mesmo/ Não foi o que você disse mas a maneira como pareceu a mim/ sobre uma busca e uma jornada como a minha”. Nesta canção, Van faz o que se tornou uma marca registrada de suas interpretações, o ad-lib ou a improvisação em cima da letra e do tema da música, bem ao estilo jazzístico, mudando o andamento e o tempo. À medida que avança, “Angeliou” vai se transformando numa balada R&B.

Este estilo interpretativo chega ao auge na próxima música, “And the Healing Has Begun”. O título diz tudo: “E a cura começou”. A cura através da música. Com a batida de Peter van Hooke beirando a soul music e a violinista Tony Marcus tomando as rédeas dos solos nas suas mãos, Van se transporta a um nirvana musical cantando: “Quando você escuta a música tocando sua alma/ E sente em seu coração e cresce e cresce/ E vem daquele rock and roll das ruas e a cura começou”. E se sua cura não começar ao ouvir esta música, pode crer que está muito doente!

Depois deste orgasmo musical, Van, expert em dinâmica de um disco, baixa a bola. Tudo recomeça com a única música que não foi composta por ele neste disco: “It's All in the Game”, que ganhou letra de Carl Sigman em 1951 em cima de uma melodia composta 40 anos antes por Charles Dawes, que foi vice-presidente dos Estados Unidos. Foi sucesso pop no final dos anos 50 com Tommy Edwards, um cantor de R&B. A curiosidade é que Van usa esta canção como um veículo para desaguar em outra composição sua, “You Know What They're Writing About”. Esta sim explicando a quem porventura não tenha entendido ainda o poder mágico da música e suas curas. Ele abre esta canção sussurrando: “Você sabe sobre o que eles estão compondo/ É uma coisa chamada amor através dos tempos/ Te faz ter vontade de chorar às vezes/ Te faz ter vontade de deitar e morrer às vezes/ Te anima às vezes/ Mas quando tu entendes, te levanta o astral”. No final, os sopros de Pee Wee Ellis e Mark Isham fazem um tema, enquanto Van canta “quero te encontrar/ você está aí?”. O resto da banda se esbalda até a canção ir morrendo aos poucos.

Um final apoteótico para “Into the Music” que, segundo ele, representa a volta à música. Esta busca incessante de Van Morrison pelo amor da musa, por Deus e pela cura dos males através da música continua até hoje. Recentemente, ele lançou um disco cujo título diz absolutamente tudo: “Born to Sing: No Plan B”, ou seja, “Nascido para cantar: sem Plano B”.
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FAIXAS:
1. "Bright Side of the Road" – 3:47
2. "Full Force Gale" – 3:14
3. "Stepping Out Queen" – 5:28
4. "Troubadours" – 4:41
5. "Rolling Hills" – 2:53
6. "You Make Me Feel So Free" – 4:09
7. "Angeliou" – 6:48
8. "And the Healing Has Begun" – 7:59
9. "It's All In The Game" (Charles Dawes/Carl Sigman) – 4:39
10. "You Know What They're Writing About" – 6:10

todas as composições de autoria de Van Morrison, exceto indicada
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OUÇA O DISCO:





quarta-feira, 16 de maio de 2012

Van Morrison - "Moondance" (1969)



"Não me encaixo nos padrões do showbiz, definitivamente"
Van Morrison



 Depois de um trabalho ‘difícil’, introspectivo, de vendagens baixas, um projeto conceitual quase acústico, como foi "Astral Weeks", o inquieto e criativo Van Morrison tirava da cartola outra obra-prima. “Moondance” de 1969, visitava o jazz, o soul, o blues, o folk, com beleza, sutileza e sofisticação. “Moondance” a canção que nomeia o disco é exemplo perfeito desse apuro sonoro, num jazz-rock charmoso cheio de metais e de interpretação impecável do cantor.
As baladas “Crazy Love” e “Brand New Day” são duas preciosidades, a primeira com uma bela linha gospel das backing vocals e a outra altamente sofisticada em sua composição misturando jazz, country e gospel de uma maneira incrível, com destaque para o trabalho de piano e para uma slide-guitar chorosa que conduz a canção.
“These Dreams of You” é bem blues; já “Into the Mystic” vai mais pelo lado regionalista, interiorano, explorando de certa forma uma veia folk no trabalho de Morrison; e “Caravan” destaca-se sobemaneira pela interpretação envolvida e intensa do cantor. “And It Stoned Me”, que lembra bandas fúnebres de New Orleans por causa dos metais, é absolutamente notável; a embalada “Come Running”, carregada no soul é espetacular; “Glad Tidings”, que também vai por essa linha black-music não faria feio pra nenhum James Brown; e o rock-barroco “Everyone” ainda é resquício do trabalho anterior de Morrison pela levada acústica e uso de flautas.
Se parecia que Van Morrison tinha chegado ao máximo com "Astral Weeks", “Moondance” estava lá, pelo menos para botar aquela duvidazinha na cabeça dos fãs e críticos.
Eu sou um que fico com essa dúvida? Qual o melhor, “Moondance” ou "Astral Weeks"?
Na dúvida, tenha os dois.

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FAIXAS:
1. "And It Stoned Me" — 4:30
2. "Moondance" — 4:35
3. "Crazy Love" — 2:34
4. "Caravan" — 4:57
5. "Into the Mystic" — 3:25
6. "Come Running" — 2:30
7. "These Dreams of You" — 3:50
8. "Brand New Day" — 5:09
9. "Everyone" — 3:31
10. "Glad Tidings" — 3:42

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Ouça:
Van Morrison Moondance


Cly Reis

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Van Morrison - "Astral Weeks" (1968)



"As canções de Astral Weeks" ... eram de outro tipo de lugar nada óbvio. Elas são poesia e reflexões míticas canalizadas da minha imaginação."
Van Morrison


Uma obra inusitada!
Em seu segundo álbum solo, após deixar o Them, Van Morrison surpreende com um álbum acústico acompanhado por músicos de jazz e rythm'n blues, recheado de improvisações e virtuosismo.
Composições belas e de rara inspiração; interpretações emocionantes; uma sonoridade singular. Tudo isso faz de "Astral Weeks" um dos meus discos preferidos.
Destaques para a excelente primeira faixa, que dá nome ao álbum; para a tocante "Beside You", para "The Way Young Lovers Do" que ainda traz ecos do Them e para "Slim Slow Slider" que fecha com chave-de-ouro.
"Astral Weeks" de Van Morrison, amigos: Básico!
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FAIXAS:
  1. "Astral Weeks" – 7:06
  2. "Beside You" – 5:16
  3. "Sweet Thing" – 4:25
  4. "Cyprus Avenue" – 7:00
  5. "Afterwards"
  6. "The Way Young Lovers Do" – 3:18
  7. "Madame George" – 9:45
  8. "Ballerina" – 7:03
  9. "Slim Slow Slider" – 3:17
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Ouça:
Van Morrison Astral Weeks


Cly Reis

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Them - "The Angry Young Them" (1965)



"Estes cinco jovens rebeldes 
são escandalosamente fiéis a si mesmos.
Provocadores! Irritados! Tristes!
Eles são honestos ao nível do insulto!"
pequena descrição da banda
na contracapa original de 1965



Quando assisti a "Coração Selvagem", de David Lynch, além de ter me apaixonado pelo filme, a trilha sonora me chamou muito atenção, diversificada, visitando o clássico, como nas composições de Angelo Badalamenti, usual parceiro de Lynch; o metal, na estrondosa "Slaughterhouse" da banda Powermad que pontua o filme diversas vezes ao longo de sua duração; o blues como na cena do posto de gasolina, por exemplo; Elvis Presley por conta da admiração pessoal do protagonista Sailor Ripley que chega a interpretar, com alguma competência "Love Me" do Rei do Rock; e o rock'n roll de uma maneira geral. Uma que se destacava no filme era a canção que tocava no momento em que Sailor e sua namorada Lula decidem vilar a condicional do rapaz e irem para Nova Orleans. Era um rock, agudo, enérgico, vivaz que, na época, na minha ignorância não situei como sendo um rock sessentista, podendo, tal sua qualidade e atemporalidade, ser contemporânea do filme. Gostei tanto da trilha que comprei o LP. Nele descobri que a música chamava-se "Baby Please Don't Go" e que era efetivamente um rock lá dos idos dos anos 60, e era interpretado por uma banda irlandesa chamada Them. Só algum tempo depois quando meu irmão me apresentou o álbum "Astral Weeks" foi que soube que a tal Them era a banda original da carreira do cantor irlandês Van Morrison, a quem passei a admirar muito assim que conheci sua obra solo.
No entanto não conhecia muito do Them a não ser aquela canção do filme, assim fui atrás do álbum em que ela estivesse e para minha surpresa ele não constava na curta discografia da banda com o enfezado Morrison na formação, de apenas dois discos. A faixa havia sido lançada apenas em single com "Gloria", o grande sucesso da banda no lado B. Mas mesmo saindo somente em compacto e em um EP posterior, "Baby Please Don't Go", de tantas outras regravações por diversos artistas, alcançou êxito e popularidade sendo reconhecida como um clássico na versão da banda.
Assim cheguei ao álbum "The Angry Them Young", o primeiro da banda, lá de 1965, e que além do hit "Gloria", marcante pelo seu refrão com pronunciado alto com toda a clareza, traz todo aquela atmosfera de invasão rock dos anos 60, blues acelerados e baladas que começavam a fugir do tradicional pelo som "sujo" de garagem e os vocais rasgados que o vocalista imprimia às canções.
O álbum traz além de "Gloria", o rock frenético de guitarra nervosa "Mystic Eyes" que faz as honras de abrir o álbum; a balada com clima meio western "You Just Can't Win" e  a outra "If You And I Could Be As Two", onde Morrison já exercita rumos que seu trabalho viria a tomar;  o blues agressivo e gritado "Just A Little Bit"; a versão para "Don't Look Back" de John Lee Hooker; a intensa "I Like It That", e a boa e bem ritmada versão de "Route 66", que fecha o disco.
A fama de maus fez mal à banda, à gravadora, às vendas, e o já irritadiço e enfezado Morrison não tardou a mandar tudo pro inferno e ir cuidar da própria vida, o que, diga-se de passagem, fez muito bem, pois, embora o Them tenha sido importante para geração britânica da metade dos anos 60, tenha tido papel importante na história do rock e seu lugar reservado nela, o futuro acabou por mostrar que aquele universo de som sujo e caras de mau era reduzido demais para a genialidade e o talento de um cara como ele.

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FAIXAS:
  1. "Mystic Eyes" (Van Morrison) – 2:41
  2. "If You and I Could Be as Two" (Morrison) – 2:53
  3. "Little Girl" (Morrison) – 2:21
  4. "Just a Little Bit" (Ralph Bass, Buster Brown, John Thornton, Ferdinand "Fats" Washington) – 2:21
  5. "I Gave My Love a Diamond" (Bert Berns, Wes Farrell) – 2:48
  6. "Gloria" (Morrison) – 2:38
  7. "You Just Can't Win" (Morrison) – 2:21
  8. "Go On Home Baby" (Berns, Farrell) – 2:39
  9. "Don't Look Back" (John Lee Hooker) – 3:23
  10. "I Like It Like That" (Morrison) – 3:35
  11. "I'm Gonna Dress in Black" (M. Gillon aka Tommy Scott, M. Howe) – 3:34
  12. "Bright Lights, Big City" (Jimmy Reed) – 2:30
  13. "My Little Baby" (Berns, Farrell) – 2:00
  14. "(Get Your Kicks On) Route 66" (Bobby Troup) – 2:22

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Ouça o disco:



Cly Reis



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Adeus ao Bispo

“Quando olho para trás na minha vida, eu vejo todos os meus amigos que já partiram para outra jornada, então é hora de fazer tudo que posso.”
Solomon Burke (1940-2010)


Nesta última semana morreu, aos 70 anos, um dos principais cantores da música americana e um dos criadores da soul music, difundida aos quatro cantos do planeta a partir dos anos 50. Trata-se de Solomon Burke, o ex-pastor que saiu do altar das igrejas para demarcar seu lugar no showbizz, considerado pelo produtor musical Jerry Wexler como o "o melhor cantor de soul de todos os tempos". Vitimado por causas naturais, o Bispo, como era conhecido, partiu desta para melhor depois de chegar ao aeroporto Schipol, em Amsterdã. Além de músicas, deixou na Terra 21 filhos, 90 netos e 19 bisnetos. Poxa!...
Burke morreu menos conhecido que outras lendas do rythm’ n’ blues, como Otis Reding, James Brown, Ray Charles e Sam Cooke, todos de grande sucesso e até idolatria. Com seu barítono romântico cheio de groove e carregado de tradição gospel, embora de importância inegável para a música pop, não foi um campeão de hits como seus contemporâneos. Seu maior sucesso nas paradas foi “Just Out of Reach”, de 1961. Depois disso, teve outras de impacto ora bom ora mediano, como “The Price”, inspirada em um sermão, e “Cry to Me”, uma das duas músicas de seu repertório gravada pelos já antenados Rolling Stones no primeiro disco da banda, de 1964. A outra, “Everybody Needs Somebody to Love”, além da versão dos ingleses, também aparece cantada por John Belushi e Dan Akroyd no divertido filme-homenagem à soul music "Irmãos Cara-de-Pau" , de 1980.
Há muito Burke vinha produzindo bastante, porém sem vendagens significativas. Até que Deus interveio. O Todo-Poderoso não poderia deixar de dar, em vida, uma graça a um filho tão talentoso – ainda mais a um que O propagandeou tão bem como líder religioso fora e dentro dos palcos. Em 2002, já aos 62 anos, a independente Fat Possum Records, aproveitando de sua boa saúde – principalmente vocal –, resolveu prestar-lhe uma grata homenagem. Resgatando-o do ostracismo e oferecendo-lhe um aparato técnico de qualidade, a gravadora produziu um CD onde o Bispo interpreta canções de outros compositores, todas inéditas e feitas especialmente para aquela ocasião. O disco chama-se “Don’t Give Up to Me” (“Não desista de mim”, título bem apropriado).
Olhem só o time de feras chamado para este serviço: Bob Dylan, Van Morrison, Tom Waits, Elvis Costello, Brian Wilson, entre outros. O resultado não poderia ser diferente: um discaço! Não tenho muita noção de outros discos de carreira de Burke, mas provavelmente este é seu melhor trabalho. De produção cuidadosa, valoriza sua voz ao mesmo tempo em que imprime uma sonoridade entre o retrô e o moderno, transpassando a ideia não só de resgate da cultura negra americana mas, também, do quanto aquele Solomon Burke ainda era potente, vivo, às novas gerações. “Don’t Give...” deu-lhe, enfim, o primeiro grande reconhecimento: o prêmio Grammy, em 2003.
Deste disco, destaco a sensível “Diamonds in Your Mind” (de Waits), a lindíssima faixa-título – cartão de visita ao abrir em clima de balada a la Atlantic Records dos anos 50/60 – e o bluesão “Stepchild”, de Dylan, que parece tê-la escrito e dito (naquele seu jeitão presunçosamente carinhoso): “Toma aí, velho: manda ver!”.
Mas a obra-prima mesmo é “Fast Train”, uma das duas compostas por Van Morrison (a outra é “Only a Dream”). Uma balada arrasadora: amor, vida, morte, passagem do tempo; tudo está nela. Pincelada por agudas frases de órgão típico das igrejas negras nas quais Burke tanto pregou, e interpretada com intensidade na sua voz levemente envelhecida mas incrivelmente vigorosa, “Fast.Train” – como toda boa balada – começa calma e prossegue num crescendo de emoção. Vão se adicionando aos poucos um coro feminino, e os elementos sonoros se intensificam até o clímax, quando começa a decrescer lentamente, diminuindo e subtraindo cada um dos sons, como se já saciado e feliz. Como se aquele “rápido trem” tivesse, enfim, chegado á estação final, até sumir no horizonte com um último – e afinadíssimo – sopro de voz do Bispo-cantor.

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Dos registros antigos, certamente o melhor deles está compilado no CD “The Very Best of Solomon Burke”, de 1998. Como sempre, a caprichada edição do selo Rhino remasterizou as matrizes originais e traz todos os principais hits do cara.
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Coincidentemente, comentaram-me esta semana (por um outro motivo) sobre o filme “Alta Fidelidade”, que conta a história de um dono de uma loja de música à beira da falência (interpretado por John Cusack), um profundo conhecedor da música pop e fiel aos discos de vinil. Mas a referência a Burke está no livro ao qual o filme é inspirado, que tem "Got to Get You (Off My Mind)" como tema-chave.

Ouça o disco:
Solomon Burke Don't Give Up On Me

postado por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Pink Floyd – “The Piper at the Gates of Down” (1967)


“’Sim’, disse o Rato gravemente. ‘Ele está desaparecido há alguns dias, e as lontras caçaram em todos os lugares, de alto a baixo, sem encontrar o menor vestígio, e também perguntaram a todos os animais por milhas ao redor, e ninguém sabe nada sobre ele.’”
trecho do conto infantil “O Vento nos Salgueiros”,
de Kenneth Grahame, de onde Syd Barrett tirou a frase
“The Piper at the Gates of Down” (“O Flautista nas Portas do Alvorecer”)


A explosão de talentos ocorrida no rock dos anos 60 ainda é inigualável em comparação a qualquer outra época da história do gênero mais popular e subversivo da música moderna. Além de hábeis compositores, eram verdadeiros mestres na reelaboração dos elementos do blues e não raro sob a lisérgica roupagem psicodélica. Jimi Hendrix, John Lennon, Eric Clapton e Van Morrison são exemplos incontestes. Em alguns casos, entretanto, a psicodelia era tanta que a sonoridade pendia para a vanguarda experimental, caso dos igualmente brilhantes Frank Zappa, Don Van Vliet, Mayo Thompson e Roky Erikson. De fato, nem todo mundo conseguia soar pop e equilibrar uma escrita musical própria com a tendência psicodélica, a qual, por si, apontava para infinitos caminhos. Quem melhor chegou a esta química – que continha em sua composição muita droga psicotrópica, em especial LSD – foi o gênio louco Syd Barrett, cabeça e fundador do Pink Floyd.

“Diamante Desvairado”, como os companheiros de banda o apelidaram, é a melhor classificação que podia ser dada a Syd Barrett. A perturbação mental e emocional sempre lhe foram uma faca de dois gumes. Suspeita-se que sofria de Síndrome de Asperger, condição neurológica do espectro autista caracterizada por dificuldades na interação social e comunicação não-verbal, além de padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Em contrapartida, tal condição lhe evidenciava uma criatividade acima da média – ou, quem sabe, não era suficiente para suplantar-lhe o ato de criar. “Não acho que seja fácil falar de mim, tenho uma mente muito irregular”, dizia, referindo-se a si próprio. De fato, como os misteriosos caminhos percorridos pela lontra Portly ao perder-se na floresta em “O Vento nos Salgueiros”, não é simples entender por quais meandros psiconeurológicos percorriam a mente de Barrett, artista capaz de conciliar rock com música barroca, conto de fadas, expressionismo abstrato, duendes, jazz avant-garde, teosofia e B movie numa única sinapse cerebral. Naturalmente uma mente de vanguarda. “The Piper at the Gates of Down”, um dos ícones do rock psicodélico, é a melhor representação dessa equação ímpar engendrada por Barrett. Junto com “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, o primeiro do The Doors, “Velvet Underground & Nico” e alguns outros clássicos do rock que completam 50 anos em 2017, a estreia do Pink Floyd continua inovadora a cada audição, inundando de referências gerações e gerações.

“The Piper...” é surpreendente do início ao fim. A começar pela capa, que não poderia ser mais tradutora da psicodelia da época, em que os integrantes do grupo se misturam como num caleidoscópio lisérgico. A produção de Norman Smith se vale do luxuoso aparato técnico do estúdio Abbey Road, em Londres, para criar a devida atmosfera espacial e jogar luz sobre todos os detalhes (não raro exóticos) ressaltados por Barrett e a jovem banda, que trazia Roger Waters, baixo e voz; Richard Wright, teclados, sintetizador; e Nick Mason, bateria e percussão – ou seja, os integrantes clássicos do Pink Floyd somados a David Gilmour, substituto de Barrett a partir de 1968. Comandando a guitarra e os vocais, Barrett dá o direcionamento conceitual do álbum, que começa com a tensa "Astronomy Dominé". Sinais intermitentes de um contador Geiger iniciam a música prenunciando a instabilidade do tema. Em uníssono, o vocal canta sobre um compasso monofônico: “Verde-limão límpido, uma segunda cena/ Uma luta entre o azul que você uma vez conheceu/ Flutuando para baixo o som ressoa/ Pelas águas geladas e subterrâneas/ Júpiter e Saturno, Oberon, Miranda e Titânia/ Netuno, Titã, estrelas podem assustar”. Uma espécie de refrão sem letra se dá numa frase de guitarra e um vocalize que, unidos, assemelham-se a um uivo selvagem. Isso até chegar a 1 min 35 da faixa, ponto onde ela muda totalmente. Parece que a canção irá se manter nesse rumo sob sons de órgão, efeitos, interferências de rádio e improvisações. Entretanto, a melodia de repente volta ao tema inicial e o término é igualmente intenso, quase catártico. Isso tudo é o disco recém começando...

A magnífica “Lucifer Sam” – cuja produção e a engenharia de som de Peter Bown são irretocáveis – é, basicamente, um blues ritmado com certa pegada surf music. Não fosse sua atmosfera sombria e mística (“Lucifer Sam, um gato siamês/ Sempre sentado ao seu lado/ Sempre ao seu lado/ Esse gato tem algo que não posso explicar/ Jennifer Gentle você é uma bruxa/ Você está do lado esquerdo/ Ele está do lado direito/ Esse gato tem algo que não posso explicar...”), que a leva mais para uma obscura trilha de série de TV. Efeitos como chocalhos, o órgão de Wright, a guitarra-base, o baixo de Waters e a bateria de Mason são perfeitamente ouvidos, mas o que se destaca mesmo é a segunda guitarra de Barrett, que executa um riff em tom grave, a qual contém uma das características compositivas dele: os leves atrasos nos tempos. Como se sempre algo estivesse fora do presente, pondo-se entre a realidade e o sonho. E se o virtuosismo não é a característica de Barrett – como será a de Gilmour, que assumirá as guitarras logo em seguida na banda –, o solo da faixa (toque percutido, exploração dos efeitos de pedal, variação de escala) é de pura criatividade.

Novamente revelador, o disco traz a estranha mas brilhante “Matilda Mother”, que muda totalmente pelo menos umas três vezes em pouco mais de 3 minutos de canção. O arranjo vocal, incrivelmente variante, é um primor, lembrando bastante no refrão o estilo que o Pink Floyd adotaria muitas vezes a partir de então, como em “Breath” (1973) e “The Thin Ice” (1979). O teclado e o baixo pronunciam o acorde inicial, pausado e contemplativo. O universo lúdico da infância, ao mesmo tempo fantástico e tempestuoso, é expresso na letra, em que Barrett clama pela mãe e pela criança que não mais é: “Havia um rei que governou a terra/ Sua Majestade estava no comando/ Com olhos prateados a águia escarlate/ Banhou de prata as pessoas/ Oh, Mãe, me conte mais”. Depois de algumas sinuosidades melódicas, lá por 1 min 25 entra um solo de órgão de ares barrocos. Porém, o que mais se destaca é a psicodélica percussão gutural de Barrett. De repente, as vozes se intensificam, a guitarra dita o riff e... volta tudo à melodia inicial, num proposital corte abrupto – como uma contação de estória sendo interrompida, ou melhor, deslocando-se no tempo psicológico em que o autor se dá conta de que a infância se foi. Em 2 min 25, um novo fim falso, que leva a música até o desfecho num clima ainda mais onírico.

“Flaming” não só se mantém no universo anedótico como o expande, levando o ouvinte a um céu estrelado e azul com unicórnios e animais da floresta de toda ordem. A melodia é ondulante, obscura, exótica. Não é para menos, pois se trata de um dos mais fiéis relatos de uma viagem lisérgica de LSD: “Observando botões-de-ouro moldarem a luz/ Dormindo em um dente-de-leão/ É demais, eu não vou te tocar/ Mas até poderia”. Exemplo de melodia composta no violão e devidamente arranjada pela banda em que todos se destacam, principalmente Barrett ao violão e Wright, que segura o clima no órgão e no solo de cravo ao final.

Nova surpresa, nova montanha-russa, nova obra-prima. Os sons articulados na goela e na faringe não apenas reaparecem como sustentam a abertura da sui generis “Pow R. Toc. H.”. O que se ouve são cacos vocais e sons quase demenciados sobre curtos e esquisitos rufares percussivos igualmente gerados por aparelho vocal humano. Essa configuração estranha se transforma em seguida num som de culto indígena, haja vista os gritos tribais e o ritmo ritualístico ditado pelo tambor – agora da própria bateria. Essa nova formatação sonora, entretanto, se altera rapidamente de novo numa perfeita transição executada na mesa de estúdio, fazendo a melodia se transformar agora num... elegante jazz! É Wright quem brilha nessa parte, solando no piano por quase 1 minuto sobre a ainda tribal percussão. Isso é interrompido mais uma vez, claro. Sons de órgão e de guitarra improvisam e se entrelaçam por quase 2 min, direcionando o tom jazzístico para uma polifonia. Tudo isso, para retomar a linha melódica inicial, agora com a guitarra, os efeitos de mesa e de pedal e os ensandecidos alaridos finalizando o número. Junto com “Peaches en Regalia”, de Zappa, é um dos temas instrumentais mais criativos do rock anos 60. Além disso, é, ao lado de “Interstellar Overdrive”, a única composição coletiva do disco, que já denota claramente que o Pink Floyd não era (e não seria, fatalmente) apenas Syd Barrett.

Composição de Waters, “Take Up Thy Stethoscope And Walk” é mais um belo exemplar do rock psicodélico que 1967 emoldurava. Isso se deve em parte, principalmente na primeira parte – ou melhor, até onde vai a seção cantada, a pouco mais dos 30 segundos iniciais, tendo em vista que o restante, exceto o rápido desfecho, é tomado de delírios instrumentais da banda inteira – a Barrett, que se vale, novamente dos cacos e sons guturais em conjunção com os efeitos e as texturas sonoras para compor o arranjo.

Centro do disco, a já mencionada “Interstellar Overdrive” é um hino lisérgico, que se assemelha em formato e proposta a outro clássico do rock composto naquele mesmo ano: “Heroin”, do Velvet Underground. Quase uma pequena sinfonia, começa como um hard rock cuja semelhança à sonoridade de Black Sabbath e Led Zeppelin não é mera coincidência. A 2 min e 20, a guitarra parece trancar como se tivesse arranhado o sulco naquele ponto (novamente, sente-se o estranhamento com o tempo). Essa ideia – lapidada pela maestrina do pós-jazz Carla Bley em “Musique Mecanique III”, de 1979 – reproduz no instrumento outra das peculiaridades da música de Barrett: os fonemas cacofônicos, ditos com certo engasgo. É como se fosse o sintoma da formação de uma linguagem atípica e excêntrica do Asperger, aliado ao dos padrões repetidos da doença, traduzido para música, para arte.

Seguem-se cerca de 7 minutos de improviso de toda a banda, que forma uma sonoridade espacial, quando não de uma viagem alucinógena ou uma trilha de filme de ficção científica. Até que, quase no fim do tema, um ruidoso e longo rolo de Mason traz de volta o riff inicial. Mas... algo estranho está embaralhando os ouvidos e os sentidos... É Norman Smith mais uma vez valendo-se do aparato do Abbey Road e de sua técnica como produtor operando uma radical alteração do balance, o qual joga rapidamente todo o som de um lado para o outro nas caixas de som: enquanto uma fica em silêncio, a outra recebe toda a massa sonora. Isso gera um efeito de desequilíbrio, espiral, revolto, que age diretamente sobre os sentidos humanos. Parece que se está escutando a arte da capa do disco. Impossível ficar impassível, pois o efeito atingido aqui pelo Pink Floyd chega a ser físico. Por todas essas particularidades, “Interstellar...” pode-se dizer a precursora do rock progressivo, que faria tantas bandas surgirem ou aderirem (como o próprio Pink Floyd em certa medida) nos anos 70.

Aí, como se nada tivesse acontecido, colada à intensa “Interstellar...”, entra a faixa seguinte, “The Gnome”: uma singela ciranda infantil sobre seres elementais. Só que não! Igualmente brilhante e consideravelmente sinistra, “The Gnome” (“Quero te contar uma história/ Sobre um homenzinho/ Se eu puder/ Um gnomo chamado Grimble Crumble/ E pequenos gnomos que ficam em suas casas/ Comendo, dormindo, bebendo vinho...”) realça o belo timbre de voz de Barrett e sua pronúncia elegante – o que confere ainda mais obscuridade ao tema. Os cacos fonéticos e a preferência por vocábulos “engasgados” (“GRimble”, “CRumble”, “tunIC”, “ADventure”) aparecem em abundância, intensificados pela dicção do cantor.

Rivalizando com outras duas canções daquele ano, “Within You Without You”, dos Beatles, e “The End”, dos Doors, “Chapter 24” ergue uma mística capela sonora. Wright é exímio ao imitar nos teclados o som de um fole nórdico. A percussão, inteligente, é apenas nos pratos e sinos, emprestando muita naturalidade. Apenas o baixo é mais “moderno” na sonoridade de “Chpater 24”, haja vista que o canto de Barrett soa quase litúrgico. Talvez a mais linear faixa do disco – se é que dá pra classificar qualquer uma das peças assim, tão simploriamente –, abre caminho para a totalmente medieval “Scarecrow” com suas flautas celtas e percussão barroca. Genialmente, Barrett dissolve qualquer noção de tempo – o mesmo “tempo” que ele, mentalmente perturbado, não consegue apreender. A bela letra é talvez a mais autobiográfica e – haja vista a metáfora essencial, a comparação de si com um “espantalho” – tristemente reveladora. Merece ser reproduzida por completo:

“O espantalho preto e verde
Como todo mundo sabe
Ficava com um pássaro no seu chapéu
E palha por todo lado
Ele não se importava
Ele ficava num campo onde o milho cresce
Sua cabeça não pensava, seus braços não se moviam
Exceto quando o vento soprava
E ratos corriam pelo chão
Ele ficava num campo onde o milho cresce
O espantalho preto e verde é mais triste do que eu
Mas agora ele está resignado com seu destino
Pois a vida não é má
Ele não se importa
Ele fica num campo onde o milho cresce.”

O que resta a um disco impecável como este? “Scarecrow”, por seu final quase épico, dá indícios de fim. Mas clássico que é clássico tem mais uma joia reservada. É o caso da originalíssima e sarcasticamente circense “Bike”, forjada sobre um único compasso. A voz de Barrett, tão cristalina quanto alucinada, joga versos em demasia sobre os intervalos – mas eles fazem caber no tempo musical, hábeis em harmonia como são. A festa no picadeiro lúgubre parece terminar a 1 min 45', mas sons de bugigangas (entre estas, relógios, como os que aparecerão 6 anos mais tarde em “Time”, do “The Dark Side of the Moon”), comandados pelos teclados fasmáticos de Wright, entram para preencher o restante da faixa a la John Cage. Esta, no entanto, termina da talvez mais apavorante forma que qualquer disco da música pop – e olha que bate muita dark music. O volume vai baixando aos poucos, anunciando o final, quando surge um som que parece ser de uma boneca enguiçada. Misto de gargalhada macabra com urro de dor e de prazer carnal, vai subindo até um clímax, que chega a chocar os ouvidos. Porém, logo em seguida, vai caindo até terminar o disco finalmente. Dá para imaginar uma cena de filme de terror em que o palhaço assassino aproxima-se, chegando a centímetros do escondido e amedrontado perseguido, mas que, não o encontrando, afasta-se e vai embora. No quarto de brinquedos, quebrados e tristes, está terminada a obra sinistra de Barrett e Cia.

A aparente infinita inventividade de Barrett, por infelicidade, teve sim um fim. Acometido pela deterioração mental, agravada pelo exagerado uso de drogas, Barrett afastou-se da banda antes de lançar um segundo trabalho com eles, restando apenas mais uma (e igualmente brilhante) composição sua em “A Saucerful of Secrets”, de 1968: “Corporal Clegg”. Vieram ainda duas obras-primas solo em 1970: “The Madcap Laughts” e “Barrett”, nos quais já se nota o progressivo agravamento do quadro físico e psíquico. Logo em seguida, entra numa reclusão autoimposta de 30 anos até a morte, em 2006. Porém, os parcos 6 anos em que produziu seguem influenciando profundamente a cultura pop meio século depois de seu surgimento em “The Piper...”. Para o próprio Pink Floyd foi assim: com talento, souberam apreender e reelaborar o legado de seu ex-líder, avançando em suas ideias mas mantendo-lhe uma ligação permanente. Mesmo com as capacidades criativas de e liderança tanto de Waters quanto de Gilmour, o Pink Floyd foi e sempre será como um tal personagem de conto de fadas chamado Syd Barrett.

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“The Piper…” teve, em 1967, uma edição norte-americana que, além de alterar a ordem das faixas e suprimir duas delas (“Bike” e “Astronomy Dominé”), conta com uma nova, “See Emily Play”.  Em 1974, os dois primeiros álbuns do Pink Floyd são reunidos num único volume, “A Nice Pair”. Ainda, “The Piper...” consta na íntegra com outros discos nas caixas “First XI” (1979), “Shine On” (1992), “1997 Vinyl Collection” e “Oh By the Way” (2010).

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FAIXAS:
1- "Astronomy Domine" – 4:12
2 - "Lucifer Sam" – 3:07
3 - "Matilda Mother" – 3:03
4 - "Flaming" – 2:46
5 - "Pow R. Toc H." (Nick Mason, Richard Wright, Roger Waters, Syd Barrett) – 4:26
6 - "Take Up Thy Stethoscope and Walk" (Waters) – 3:05
7 - "Interstellar Overdrive" (Barrett, Mason, Waters, Wright) – 9:41
8 - "The Gnome" – 2:13
9 - "Chapter 24" – 3:42
10 - "The Scarecrow" – 2:11
11 - "Bike" – 3:21
todas as composições de autoria de Syd Barrett, exceto indicadas

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OUÇA O DISCO:


por Daniel Rodrigues

sexta-feira, 22 de março de 2013

Beck - "Odelay" (1996)




Um Homem (que perdeu a chance de ser) Célebre



"E aí voltaram as náuseas de si mesmo,
o ódio a quem lhe pedia a nova polca da moda,
e juntamente o esforço de compor alguma coisa ao sabor clássico,
uma página que fosse, uma só, mas tal que pudesse ser encadernada entre Bach e Schumann."
trecho do conto "Um Homem Célebre"
de Machado de Assis

De um modo geral, procuro nunca nutrir expectativas quanto a artistas. O que ele já fez e eu goste me basta, e o que vier de bom pela frente é lucro. Porém, a uma exceção me permito: Beck Hansen, autor do espetacular “Odelay”, de 1996. Sem exagero, Beck ficou ali-ali para parear com gênios da música norte-americana como Stevie Wonder, Gil Scott-Heron, Bob Dylan ou Tom Waits  mas, parecido com o personagem Pestana do conto “Um Homem Célebre”, de Machado de Assis, nunca superou a si mesmo – e provavelmente não o fará mais talvez por autobloqueio. Beck despontou na cena alternativa no início dos anos 90 já prometendo. Veio numa crescente e trouxe ao showbizz o excelente “Mellow Gold”, de 1994, difícil de superar. Mas ele superou. Para mim o maior disco da música pop da sua década, “Odelay” é uma obra radicalmente criativa, transgressora e crítica, um disco caleidoscópico que traz em si todas as referências musicais possíveis e imagináveis, num caldeirão sonoro de composição, execução e produção na mais absoluta sintonia.

A coisa toda já começa tirando o fôlego com “Devils Haircuit”, pós-punk com um riff repetitivo carregado de distorção, um sequenciador eletrônico propositadamente simplório e muitos, mas muitos samples, colagens, efeitos de mesa, tudo que se possa imaginar. Impressionante. “Hotwax”, na sequência, começa com uma viola caipira e muda direto para um inusitado rap-folk. E assim o álbum segue, pois tudo cabe nesta “desordem organizada” criada por Beck: folk, funk, blues, hardcore, rap, indie, soul.  As faixas são como uma montanha russa, pois tudo pode mudar a qualquer momento. E muda. Alta riqueza de texturas, sonoridades, ritmos, notações. Um barroquismo moderno esculpido por psicodelia e experimentalismo. Assim é “Lord Only Knows”, que inicia com um grito ensandecido e passa, como se nada tivesse acontecido, a uma balada folk desenhada pelos lindos canto e voz de Beck.

“Derelict”, densa e percussiva, tem um tom dark com seus elementos indianos e árabes, lembrando as peças étnico-pop de David Byrne e Brian Eno de "Remain in Light" e "My Life in the Bush of Ghosts". Já “Novacane”, outra magnífica, é um rock carregado cantado como hip-hop, com um baixo pesado e bateria marcada, ao estilo do new-rock inglês de Stone Roses e Primal Scream e um riff feito apenas na modulação da distorção da guitarra no amplificador, uma ideia estupenda. Porém, o que parece num primeiro momento uma execução de músicos cai por terra quando entra sem aviso um sample que substitui tudo, voltando, logo em seguida, ao andamento anterior. Ou seja: uma quebra que serve para mostrar que tudo era apenas um produto artificial. Para causar ainda mais espanto, a música, em sua parte final avança para uma tensão de ruídos que se transformam num ritmo de break, como que saído de um Nintendo, terminando deste jeito: noutra textura e absolutamente diferente de como começou. É como se Beck pusesse à prova o que é tocado e o que não é, pois em todo o disco é quase impossível definir isso com exatidão, como se fosse uma música feita de plástico.

Esse conceito de reciclagem está também em “Jack-Ass”, mas em forma de tributo, visto que, num lance, Beck homenageia dois mestres da música pop universal: Van Morrison e Bob Dylan. Do primeiro, ele sampleia a linda base de "It's All Over Now, Baby Blue", um clássico de Dylan que Morrison versara para o Them em 1966. E o mais importante: o faz sem parecer preguiça ou falta de criatividade, pois recria uma nova música – ao estilo Dylan, propositadamente – em cima da melodia de uma outra recriação, a do Them, num processo semiótico. “Where it’s At”, hit do disco, é mais uma brilhante. Inicia com o chiado de uma agulha sendo posta sobre um vinil, que dá lugar a um soul retrô originalíssimo com direito a scratchs, samples diversos, ruídos, microfonias e um refrão pegajoso.

Pra não deixar que a coisa desvirtue para uma palhaçada pretensamente “cabeça”, “Minus” vem mostrar que rock bom é rock básico e sem firula. Sonic Youth na veia: seca, às guitarradas, voz furiosa e ritmo punk mantido na linha do baixo, que rosna. Depois, “Sissyneck”, uma mistura de folk e eletrofunk, assonante e harmonicamente complexa, mas com um refrão saboroso e totalmente agradável ao ouvido. Já “Readmade” segue a linha de massa sonora, com muitos efeitos, texturas e trabalho de estúdio, descendo o tom do disco novamente como foi em “Derelict”. Sóbria, traz curiosamente em seu sample de destaque uma frase sonora de “Desafinado”, clássico de Tom e Vinicius na versão de Sérgio Mendes.

Quase terminando o álbum, Beck sai com outra joia: “High 5”. Um break dance ao estilo Afrika Bambaata em que não faltam scratches, efeitos de voz e, claro, guitarras pesadas. Referências aparentemente díspares convivem e se entrosam perfeitamente nesta faixa. Inicia com um violão na batida de bossa-nova, que, em seguida, dá lugar às vozes de Beck e outros rappers com vozeirão de negrão do Harlem. Lá pelas tantas, o andamento é interrompido para entrar um trecho de... “O Lago dos Cisnes”! Como se não bastasse, depois de voltar no que era e de uma breve incursão daquela mesma melodia com som de videogame barato que desfecha “Novacane”, Beck adiciona a “High 5” cuícas de samba, encontrando a tal “batida perfeita” que Marcelo D2 tanto procura mas sem precisar fazer marketing disso.

Toda essa variedade torna “Odelay” quase uma obra aleatória, uma “obra aberta”, como definiria Umberto Eco. Aí entra uma das grandes questões que o disco levanta: ele questiona o papel do músico moderno diante da tecnologia e das novas formas de interação social através das mídias. É impossível o músico hoje ter total autenticidade de sua obra, pois esta, mesmo que ele não queira, será afetada pelos efeitos externos da vida contemporânea. Trata-se de uma nova autenticidade, a das TVs cuspindo publicidades e Big Brothers, do lixo eletrônico, do lixo pornográfico, do lixo midiático, do lixo sonoro. É “a nova poluição”, termo que dá título a uma das mais geniais faixas do disco: um drum n’ bass, espécie de “Tomorrow Never Knows” pós-moderno, mantido numa base inteligente de guitarra e colagens sem receio de esconder as “sujeiras”. Ou seja, é possível escutar os remendos entre um sample e outro de propósito. Sinal dos novos tempos, em que o músico não pode mais esconder que sua música se vale de elementos que estão além dele próprio. É a “estética do arrastão”, como diria Tom Zé.

Fechando o disco, depois de todo esse arsenal de sons e ideias, Beck dá um novo recado aparentemente contraditório: o de que, se o papel do músico-autor ficou mais subjetivo hoje, não quer dizer que ele não tenha ainda espaço para compor “à moda antiga”. É isto que está incutido em “Ramshackle”: acústica, só nos violões, voz e percussão. Sem sequem qualquer efeito de computador. O que seria um final “tradicional”, num disco como “Odelay” se torna ainda mais transgressor.

Isso que Beck trouxe em “Odelay” não é necessariamente uma novidade. Miles Davis já anunciava tal fusão conceitual no final dos anos 60 com "Bitches Brew"  na mesma época, Milton Nascimento e a galera do Clube da Esquina, assim como os tropicalistas, já experimentavam toda essa musicalidade, só que com aparato técnico mais deficiente; Prince e David Bowie também já formularam com precisão essa química. Beck mesmo já mostrara muito disso no seu trabalho anterior, e os Beastie Boys já faziam tal mescla de estilos e referências numa roupagem moderna desde Paul’s Boutique, de 1989. Mas Beck apresenta tudo isso com uma maestria diferente, denso, original, além de manter um senso de ironia constante uma vez que interroga a fundo a sociedade de massas, seu massacre de informações e imagens, suas ideologias distorcidas, suas ideias que se tornam abstratas de tão sem sentido. E ele faz isso reciclando tudo que já fora produzido em música pop até então, gerando um produto pós-moderno incrivelmente bem acabado.

Depois de “Odelay”, Beck caiu na pior armadilha que um artista pode cair: a de supervalorizar a sua arte. Passou a fazer trabalhos sempre apontando para um nível técnico altíssimo, sem, contudo, concentra-se no que interessa: a alma da obra. Neste sentido, lembra o dilema de Pestana, do conto machadiano, que, descontente por compor apenas polcas, tentava, mesmo com o sucesso popular destas, produzir em vão uma obra “respeitável”, a qual, no entanto, não conferia com seu espírito. É parecido com o que aconteceu com Beck: por causa de uma ideia genuína bem executada, “Odelay”, ele passou a inverter a lógica, ou seja, a tornar forçadamente uma boa execução numa ideia genuína. Já deu várias provas disso, sendo a última em 2012, quando lançou seu novo disco. Só de partituras (!). Nada consumível ou próximo do público como foram seus triunfos com “Mellow Gold” e, obviamente, “Odelay”, que, se não tem substituto até hoje, é porque talvez ele mesmo, Beck Hensen, não se disponha a superá-lo. Pelo menos, é o que se percebe: enquanto Pestana tinha neura em se superar, Beck tem medo do autoenfrentamento.

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FAIXAS:
1 "Devils Haircut" – 3:14
2 "Hotwax" – 3:49
3  "Lord Only Knows" – 4:14
4 "The New Pollution" – 3:39
5 "Derelict" – 4:12
6 "Novacane" – 4:37
7 "Jack-Ass" – 4:11
8 "Where It's At" – 5:30
9 "Minus" – 2:32
10 "Sissyneck" – 3:52
11 "Readymade" – 2:37
12 "High 5 (Rock the Catskills)" – 4:10
13 "Ramshackle"  – 7:29

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vídeo de Where it’s At




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Ouça:




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Dossiê ÁLBUNS FUNDAMENTAIS 2020

 


Corre pro abraçaço, Caetano!
Você tá na liderança.

Como de costume, todo início de ano, organizamos os dados, ordenamos as informações e conferimos como vai indo a contagem dos nossos  ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, quem tem mais discos indicados, que país se destaca e tudo mais. Se 2020 não foi lá um grande ano, nós do Clyblog não podemos reclamar no que diz repsito a grandes discos que apareceram por aqui, ótimos textos e colaborações importantes. O mês do nosso aniversário por exemplo, agosto, teve um convidado para cada semana, destacando um disco diferente, fechando as comemorações com a primeira participação internacional no nosso blog, da escritora angolana Marta Santos, que nos apresentou o excelente disco de Elias Dya Kymuezu, "Elia", de 1969
A propósito de país estreante nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, no ano que passou tivemos também a inclusão de belgas (Front 242) e russos (Sergei Prokofiev) na nossa seleta lista que, por sinal, continua com a inabalável liderança dos norte-americanos, seguidos por brasileiros e ingleses. 
Também não há mudanças nas décadas, em que os anos 70 continuam mandando no pedaço; nem no que diz respeito aos anos, onde o de 1986 continua na frente mesmo sem ter marcado nenhum disco nessa última temporada, embora haja alguma movimentação na segunda colocação.
A principal modificação que se dá é na ponta da lista de discos nacionais, onde, pela primeira vez em muito tempo, Jorge Ben é desbancado da primeira posição por Caetano Veloso. Jorge até tem o mesmo número de álbuns que o baiano, mas leva a desvantagem de um deles ser em parceria com Gil e todos os de Caetano, serem "solo". Sinto, muito, Babulina. São as regras.
Na lista internacional, a liderança continua nas mãos dos Beatles, mas temos novidade na vice-liderança onde Pink Floyd se junta a David Bowie, Kraftwerk e Rolling Stones no segundo degrau do pódio. Mas é bom a galera da frente começar a ficar esperta porque Wayne Shorter vem correndo por fora e se aproxima perigosamente.
Destaques, de um modo geral, para Milton Nascimento que, até este ano não tinha nenhum disco na nossa lista e que, de uma hora para outra já tem dois, embora ambos sejam de parcerias, e falando em parcerias, destaque também para John Cale, que com dois solos, uma parceria aqui, outra ali, também já chega a quatro discos indicados nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.

Dá uma olhada , então, na nossa atualização de discos pra fechar o ano de 2020:



PLACAR POR ARTISTA INTERNACIONAL (GERAL)

  • The Beatles: 6 álbuns
  • David Bowie, Kraftwerk, Rolling Sones e Pink Floyd: 5 álbuns cada
  • Miles Davis, Talking Heads, The Who, Smiths, Led Zeppelin, Wayne Shorter e John Cale*  **: 4 álbuns cada
  • Stevie Wonder, Cure, John Coltrane, Van Morrison, Sonic Youth, Kinks, Iron Maiden, Bob Dylan e Lou Reed**: 3 álbuns cada
  • Björk, The Beach Boys, Cocteau Twins, Cream, Deep Purple, The Doors, Echo and The Bunnymen, Elvis Presley, Elton John, Queen, Creedence Clarwater Revival, Herbie Hancock, Janis Joplin, Johnny Cash, Joy Division, Lee Morgan, Madonna, Massive Attack, Morrissey, Muddy Waters, Neil Young and The Crazy Horse, New Order, Nivana, Nine Inch Nails, PIL, Prince, Prodigy, Public Enemy, R.E.M., Ramones, Siouxsie and The Banshees, The Stooges, U2, Pixies, Dead Kennedy's, Velvet Underground, Metallica, Grant Green e Brian Eno* : todos com 2 álbuns
*contando com o álbum  Brian Eno e John Cale , ¨Wrong Way Out"
**contando com o álbum Lou Reed e John Cale,  "Songs for Drella"



PLACAR POR ARTISTA (NACIONAL)

  • Caetano Veloso: 5 álbuns
  • Jorge Ben: 5 álbuns *
  • Gilberto Gil*, Tim Maia e Chico Buarque: 4 álbuns
  • Gal Costa, Legião Urbana, Titãs e Engenheiros do Hawaii: 3 álbuns cada
  • Baden Powell**,, João Bosco, João Gilberto***, Lobão, Novos Baianos, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Ratos de Porão, Sepultura e Milton Nascimento**** : todos com 2 álbuns 
*contando o álbum Gilberto Gil e Jorge Ben, "Gil e Jorge"
** contando o álbum Baden Powell e Vinícius de Moraes, "Afro-sambas"
*** contando o álbum Stan Getz e João Gilberto, "Getz/Gilberto" ****
contando com os álbuns Milton Nascimento e Criolo, "Existe Amor" e Milton Nascimento e Lô Borges, "Clube da Esquina"



PLACAR POR DÉCADA

  • anos 20: 2
  • anos 30: 3
  • anos 40: -
  • anos 50: 15
  • anos 60: 90
  • anos 70: 132
  • anos 80: 110
  • anos 90: 86
  • anos 2000: 13
  • anos 2010: 13
  • anos 2020: 1


*séc. XIX: 2
*séc. XVIII: 1


PLACAR POR ANO

  • 1986: 21 álbuns
  • 1985, 1969 e 1977: 17 álbuns
  • 1967, 1973 e 1976: 16 álbuns cada
  • 1968 e 1972: 15 álbuns cada
  • 1970, 1971, 1979 e 1991: 14 álbuns
  • 1975, e 1980: 13 álbuns
  • 1965 e 1992: 12 álbuns cada
  • 1964, 1987,1989 e 1994: 11 álbuns cada
  • 1966, 1978 e 1990: 10 álbuns cada



PLACAR POR NACIONALIDADE*

  • Estados Unidos: 171 obras de artistas*
  • Brasil: 131 obras
  • Inglaterra: 114 obras
  • Alemanha: 9 obras
  • Irlanda: 6 obras
  • Canadá: 4 obras
  • Escócia: 4 obras
  • México, Austrália, Jamaica, Islândia, País de Gales: 2 cada
  • País de Gales, Itália, Hungria, Suíça, França, Bélgica, Rússia, Angola e São Cristóvão e Névis: 1 cada

*artista oriundo daquele país
(em caso de parcerias de artistas de páises diferentes, conta um para cada)