“A música deste disco
preenche a
lacuna entre
o rock branco e Mahavishnu Orchestra,
ou jazz-rock”
Jeff Beck
Há muito tempo, tinha vontade de escrever sobre minhas preferências
musicais. Agora, depois dos 50 (um pouco depois, na verdade), resolvi tomar
coragem e colocar no "papel virtual" minhas impressões sobre aqueles
discos que significam muito pra mim. Um de suma importância é um clássico do fusion, que foi a minha porta de entrada
no jazz propriamente dito: "Blow by
Blow", do guitarrista inglês Jeff Beck.
Pra começar, um pouquinho de história. Jeff Beck foi um daqueles
talentos da guitarra que surgiram na década de 60 em Londres, ao lado de Eric Clapton, Peter Green e Jimmy Page, entre outros. Ele integrou os Yardbirds, fez
um disco de blues considerado clássico chamado “Truth” com a Jeff Beck Group e
montou outras diversas bandas (entre elas, um power trio Beck, Bogert & Appice). Em 1974, porém, Beck estava
numa encruzilhada: tinha desmontado o JB Group e o BBA e tinha ficado fascinado
com a sonoridade conseguida no jazz-rock
ou fusion de um colega guitarrista, o
também inglês John McLauglhin, mentor e criador da Mahavishnu Orchestra. Ele
monta então um quarteto para gravar seu novo disco no Air Studios, de
propriedade de George Martin. Ao lado de Max Middleton nos teclados; Phil Chen no
baixo e Richard Bailey na bateria, Beck viria a fazer história. O resultado foi
“Blow by Blow”. O disco começa com um funk-jazz
de primeira chamado "You Know What I Mean", que é uma espécie de
carta de intenções do guitarrista. O swing
é irresistível, mas ele não descuida do trabalho em grupo. Todos brilham. Na
sequência, começa a aparecer a influência de Martin na produção: "She's a
Woman", do repertório dos Beatles, composta por John Lennon e McCartney. Numa
levada reggae, Beck acrescenta o som
muito em moda na época do talk box,
popularizado um ano depois por Peter Frampton em "Show me the Way".
Depois, vem uma música em que o título diz tudo: "Constipated
Duck" ou pato resfriado. Munido de um pedal wah-wah e muitos efeitos, Beck brinca com a sonoridade de sua
guitarra. Pra fechar o lado 1 (é, eu sou do tempo do LP e da fita cassete), uma
dupla explosiva: "Air Blower", composta pela banda, e
"Scatterbrain", de Beck e Middleton. Nestas duas faixas, sem
intervalos entre uma e outra, o guitarrista exercita todo seu talento e exige
uma performance além da conta de sua banda. Destaque absoluto pro baterista Richard
Bailey, que faz coisas incríveis em seu instrumento, acompanhando as maluquices
engendradas por Beck. No final de segunda, inclusive, Martin consegue romper o
cerco e coloca sua orquestra pra dar um molho todo especial na pauleira fusion do quarteto. Depois de todo este
virtuosismo, Beck nos brinda com uma das gravações mais bonitas que eu já ouvi
em meus quase 53 anos de vida: "Cause We've Ended as Lovers", uma
balada maravilhosa composta por ninguém menos do que Stevie Wonder. A relação entre os dois começou quando Beck gravou um solo no disco "Talking Book" de Stevie
(já resenhado por Eduardo Wolff aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS). Depois, com o Beck,
Bogert & Appice, fez uma versão da clássica "Superstition", que
foi o grande sucesso do disco. Nesta balada, Beck geme, esperneia, se entorta
todo com sua guitarra mostrando toda a tristeza que Stevie quis passar na
canção. De tirar o fôlego.
Após isso, só mesmo um funkão em homenagem ao mestre Thelonious Monk pra
gente poder respirar. Em "Thelonious", Stevie faz sua participação
especial no clavinete. Em seguida, vem uma faixa estradeira, talvez a faixa
mais roqueira do disco, chamada "Freeway Jam". O baixo de Phil Chen segura
todas, enquanto o resto se esbalda na jam
session. E, pra encerrar, um momento sublime do disco: "Diamond
Dust". Outra balada, desta vez com as cordas arranjadas e regidas por Martin
fazendo o contraponto à guitarra límpida de Beck. “Blow By Blow” é um disco
seminal que eu não me canso de ouvir há exatos 38 anos.
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Curiosidades: Jeff Beck sempre montou bandas extraordinárias. Uma
delas, a do disco “Truth” com Rod Stewart no vocal e Ron Wood no baixo. E Rod
nunca se cansou de roubar os músicos de Beck. Primeiro foi o baterista Carmine
Appice e, depois, o baixista Phil Chen. Os dois tocam no disco "Blondes
Have More Fun", de 78, que tem o "sucesso" roubado de Jorge Ben,
"Do Ya Think I'm Sexy".
Ganhei “Blow By Blow” em cassete do meu querido e saudoso primo José
Carlos De Andrade Ribeiro, o popular Chico Caroço, que foi um pouco responsável
pela minha educação musical. Mas
esta é outra história...
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FAIXAS:
1. "You Know What
I Mean" (Jeff Beck/Max Middleton) - 4:05
2. "She's a
Woman" (John Lennon/Paul McCartney) - 4:31
3. "Constipated
Duck" (Beck) - 2:48
4. "Air
Blower" (Beck/Middleton/Phil Chen/Richard Bailey) - 5:09
5. "Scatterbrain"
(Beck/Middleton) - 5:39
6. "Cause We've
Ended as Lovers" (Stevie Wonder) - 5:52
7.
"Thelonius" (Wonder) - 3:16
8. "Freeway
Jam" (Middleton) - 4:58
9. "Diamond
Dust" (Bernie Holland) - 8:26
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OUÇA O DISCO
por Paulo Moreira