Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por data para a consulta veríssimo. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta veríssimo. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 2 de maio de 2016

"Borges e os Orangotangos Eternos", de Luís Fernando Veríssimo - Ed. Companhia das Letras (2000)




Um romance de Luís Fernando Veríssimo às voltas com Jorge Luis Borges e entremeado pela obra de Edgar Allan Poe. Ah, algo assim não teria como ser nada menos do que incrível! "Borges e os Orangotandgos Eternos" que ganhei no Natal e que só agora, pela fila, teve sua vez, é um saboroso e envolvente mistério repleto de homenagens e referências literárias sem, por isso, tornar-se chato nem pedante. Bem ao estilo do autor, bem humorado e inteligente, o romance tem o charme de ter um de seus ídolos literários Jorge Luis Borges como "personagem" numa espécie de ode e reconhecimento à sua genialidade, inventividade e capacidade de criar tramas labirínticas, fazendo do escritor argentino o parceiro de investigação do portoalegrense Vogelstein, um professor, tradutor, escritor amador e amante de livros, envolvido na cena de um misterioso assassinato em Buenos Aires, em meio a um congresso de especialistas da obra de Edgar Allan Poe. Ao melhor estilo do escritor norte-americano criador do estilo de literatura de mistério e cuja obra é praticamente centro do livro, um dos integrantes do congresso, um antipaticíssimo estudioso, Joachim Rotkopf, é assassinado dentro de seu quarto de hotel fechado por dentro sem sinais de arrombamento, a exemplo do célebre conto "Os Assassinatos da Rua Morgue", tendo tendo tentado deixar, possivelmente, algum tipo de mensagem secreta, uma pista, antes de morrer, pela posição de seu corpo junto a um espelho, elemento, por sua vez muito comum na obra de Borges. Suspeitos não faltam uma vez que Rotkopf não era nada querido e mais de uma vez havia sido jurado de morte por integrantes daquele congresso. Aí então que Vogelstein, por ter sido o primeiro a encontrar o corpo, o detetive Cuervo, outro apreciador da obra de Poe (e mais uma das referências à sua obra) e Jorge Luis Borges, amigo e conselheiro de investigações do policial por conta de sua elevadíssima capacidade dedutiva fruto da construção de mistérios improváveis, debruçam-se sobre os elementos do crime com todas seus recursos, desde pistas concretas, as investigações das autoridades, as informações de Vogelstein, o último a ver Rotkopf com vida, especulações baseadas em obras da literatura de mistério, elocubrações misticas e a tradicional e charmosa "falsa" erudição de Borges com a qual sempre alicerçou sua obra de maneira tão verossímil a ponto de nos perguntarmos se os livros, lugares ou civilizações que criava nunca existiram de verdade.
Um adorável mistério cheio de reviravoltas, surpresas e até mesmo clichês mas sendo estes colocados proposital e charmosamente por Veríssimo como uma reverência ao gênero literário que criou mitos como Conan Doyle e Agatha Christie e do qual seu "convidado", Jorge Luis Borges, fez uso de forma tão original e especial em sua obra. "Borges e os Orangotangos Eternos", além de uma homenagem ao herói Borges, da saudação à obra de Poe, de um exercício estilístico, é acima de tudo uma declaração de amor à literatura, ao gosto de escrever e ao gosto de ler e, nisso em especial, se justifica plenamente. Quem sai ganhando com toda essa séria brincadeira literária de Veríssimo é o leitor.


Cly Reis

sábado, 31 de maio de 2014

"Um Time de Primeira - Grandes Escritores Brasileiros Falam de Futebol", Vários Autores - 2014 (Ed. Nova Fronteira)



Acabei de ler agora, por esses dias, o bom livro "Um Time De Primeira", uma coletânea de textos de onze autores de épocas diferentes, praticamente desde os tempos da chegada do futebol ao Brasil até os contemporâneos. Com um time que conta com nomes como Vinicius de Moraes, Mário de Andrade, Luís Fernando Veríssimo, Lima Barreto, Rubem Fonseca, João do Rio, Antônio de Alcântara Machado, Mário Filho, Coelho Neto, Nelson Rodrigues e João Cabral de Melo Neto não dá pra esperar nada senão textos altamente qualificados. E são, efetivamente! Tem a beleza lírica dos textos de Coelho Neto, o ufanismo apaixonado de Nelson Rodrigues, o habitual bom-humor de Luís Fernando Veríssimo, a ficção envolvente de Rubem Fonseca e a incrível atualidade da crítica de Lima Barreto ao esporte e seu papel social. Textos e estilos para todos os gostos: crônica, poema, conto, matéria para jornal, resenha para revista, poema inédito, fragmento de livro. Tudo da melhor qualidade. Como o título do livro sugere, com um time como esse só poderíamos mesmo ter um livro de primeira.
Livro daqueles pra provar que futebol vai além das quatro linhas e que também é jogado assim, linha por linha.
Golaço.


Cly Reis

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ClyBlog 5+ Livros



E chegamos ao último especial da série 5+ do clyblog. Não que não tivéssemos mais assunto, daria pra pesquisar sobre mais um monte de coisas com os  amigos, saber o que mais um monte de pessoas interessantes pensam, levantar listas mas acredito que estes temas abordados, além de bastante significativos, resumem, de certa forma, a ênfase de assuntos e as áreas de interesse do nosso canal.
E pra encerrar, então, até aproveitando o embalo da Feira do Livro de Porto Alegre, cidade que é uma espécie de segundo QG do clyblog, o assunto dessa vez é literatura. Sim, os livros! Esses fantásticos objetos que amamos e que guardam as mais diversas surpresas, emoções, descobertas e conhecimentos.
Cinco convidados especialíssimos destacam 5 livros que já os fizeram sonhar, viajar, rir, chorar, os livros que formaram suas mentes, os que os ajudaram a descobrir verdades, livros que podem mudar o mundo. Se bem que, como diz aquela frase do romando Caio Graco, "Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros mudam as pessoas.".
Com vocês, clyblog 5+ livros:




1. Afobório
escritor e
editor
(Carazinho/RS)
" 'O Almoço Nu' é muito bom.
Gosto muito desse livro."

1- "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutiérrez
2 -"Búfalo da Noite", Guillermo Arriaga
3- "Numa Fria", charles Bukowski
4 - "Sorte Um Caso de Estupro", Alice Sebold
5 - "O Almoço Nu", William Burroughs
 
Programa Agenda falando sobre o livro "O Almoço Nu", de William Burroughs

*******************************************

2. Tatiana Vianna
funcionária pública e
produtora cultural
(Viamão/RS)


Kerouac, um dos 'marginais'
da geração beatnik
"Cada um destes são livros que chegaram as minhas mãos em momentos diferentes de vida
e foram importantes para muitos esclarecimentos.
Algumas destas leituras volta e meia as retomo novamente para entender melhor,
porque sempre algo fica pra trás ou algo você precisa ler depois de um tempo,
de acordo com o seu olhar do momento."

1- "On the Road, Jack Kerouak
2 - "1984", George Orwell
3 - "Os Ratos", Dionélio Machado
4 - "A Ilha", Fernando Morais
5 - "O livro Tibetano do Viver e Morrer", Sogyal Rinpoche






*******************************************

3. Jana Lauxen
escritora e
editora
(Carazinho/RS)


"Minha vida se resume a antes e depois de "O Acrobata pede desculpas e cai".
"O Jardim do Diabo", do Veríssimo, é um romance policial incrível
do tipo que você não larga enquanto não acabar. E quando acaba dá aquela tristeza.
"Capitães da Areia" li há muito tempo e não consigo me esquecer desse livro.
O engraçado é que a primeira vez que o li, tinha uns 12 anos e  não gostei.
A segunda vez eu tinha mais de 20 e fiquei fascinada pela obra.
O "Livro do Desassossego" é para ter sempre por perto, para abrir aleatoriamente e dar aquela lidinha amiga.
Conheci Pedro Juan em uma entrevista que ele concedeu para a revista Playboy,
e a "Trilogia Suja de Havana" foi o primeiro livro do autor que eu li.
Seus livros são proibidos em seu próprio país, visto a crítica social que o autor acaba fazendo sem querer.
Digo sem querer por que sua temática não é política – ele fala de sexo, de drogas, de pobreza, de putas,
e detesta ser classificado como um autor político.
Mas acaba sendo, pois é impossível descrever qualquer história que se passe em Cuba sem acabar fazendo alguma crítica social.
Mesmo que enviesada."

"Capitães da
Areia"

1- "O Acrobata Pede Desculpas e Cai", Fausto Wolff
2 - "O Jardim do Diabo", Luís Fernando Veríssimo
3 - "Capitães da Areia", Jorge Amado
4 - "Livro do Desassossego", Fernando Pessoa
5 - "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutiérrez





*******************************************

4. Walessa Puerta
professora
(Viamão/RS)


"Estes são os meus favoritos."

1- "O Tempo e o Vento", Érico Veríssimo
2 - "O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder
3 - "Era dos Extremos", Eric Hobsbawn
4 - "Dom Casmurro", Machado de  Assis
5 - "O Iluminado", Stephen King



 A brilhante adaptação de Stanley Kubrick, para o cinema, da obra de Stephen King

*******************************************

5. Luan Pires
jornalista
(Porto Alegre/RS)


"Dom Casmurro" tem uma das personagens mais emblemáticas da literatura nacional:
Capitu. A personagem dos "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" é um verdadeiro ensaio para quem curte a construção de um personagem.
Toda criança deveria ler a coleção do "Sítio do Pica-Pau amarelo". E todo adulto deveria reler.
Uma homenagem a imaginação, a cultura e ao sonho das crianças e dos adultos que nunca deveriam deixar de ter certas inquietações juvenis.
Desafio qualquer um no mundo a descobrir o final de "O Assassinato de Roger Ackroyd"! [ponto final!].
Cara, pra mim, "Modernidade Líquida" é o livro mais necessários dos últimos tempos.
Pra entender a sociedade e o caminho para onde estamos seguindo.
"@mor" é um ensaio perfeito das relações humanas atuais.
O que me chamou atenção é que não demoniza a internet, mas aceita o papel dela nos relacionamentos atuais.
O formato, só em troca de e-mails, é um charme. E o final é de perder o fôlego."


1- "Dom Casmurro", Machado de Assis
2 - "Sítio do Pica-Pau Amarelo" (qualquer um da coleção), Monteiro Lobato
A turma do Sítio, do seriado de TV
da década de 70, posando com seu criador
(à direita)
















3 - "O Assassinato de Roger Ackroyd", Agatha Christie
4 - "Modernidade Líquida", Zigmunt Bauman
5 - "@mor", Daniel Glattauer




*******************************************


terça-feira, 23 de abril de 2013

Adriana Partimpim - "Partimpim Tlês" (2012)


Ganhei de presente de minha amada Leocádia Costa o último CD do projeto Partimpim, de Adriana Calcanhoto: o “Partimpim Tlês” (isso mesmo, três com “L”, bem queridinho e infantil). Como esperado, um encanto de disco. Assim como os dois primeiros, o já fundamental “Adriana Partimpim”, de 2004, e “Partimpim 2”, lançado somente cinco anos depois, o novo da série traz canções infantis (ou não) para crianças (ou não) com muita poesia e numa roupagem ao mesmo tempo lúdica e arrojada, tendo em vista os arranjos primorosos que vão do intimismo à vanguarda. 

Tudo é muito artesanal, mas não que se exima de usar toda uma parafernália tecnológica e uma produção caprichadíssima. A banda, por exemplo, conta com nada menos que craques como Kassin, Moreno Veloso, Domenico e Berna Ceppas. Enfim, um projeto que já dura nove anos e que tem como diferencial não subestimar a inteligência dos pequenos. A instrumentação rebuscada, o primor das harmonias, o alto nível dos autores e parceiros (que vão desde Augusto de Campos e Ferreira Gullar até Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes, tudo mostra o quanto este público merece, sim, não só Xuxa ou coisa pior.

Mas o disco? Repleto de pérolas do cancioneiro infantil ou, melhor ainda, identificadas com muita sensibilidade por Adriana como sendo também música que criança pode ouvir. Por que não? É o caso da sacada de “Taj Mahal”, de Jorge Ben compositor cujas letras, de fato, sempre tiveram um quê de infantil. Também é o que acontece com a ecológica “Passaredo”, de Chico Buarque e Francis Hime, e a mais surpreendente e brilhante delas: “Lindo Lago do Amor”, hit de Gonzaguinha nos anos 80 mas que nunca havia sido identificada como podendo ser também para os pequenos ouvintes. Tem ainda, ao contrário do primeiro da série, que só continha músicas de outros compositores, canções próprias de Adriana – tal como já ocorrera a partir do segundo volume. Destas, “Salada Russa”, parceria com Paula Toller, é um verdadeiro barato com sua letra inteligente que brinca com divertidas e inteligentes antífrases (despertando, inclusive, a curiosidade nas crianças sobre as figuras de linguagem).

Das inéditas, também tem a graciosa “Criança Crionça”, do poeta concretista Augusto de Campos e seu filho, o compositor Cid Campos – que conta com a participação especialíssima nos créditos do ronronar da gatinha de Adriana, a Sofia; a poética e etérea “Por que os Peixes Falam Francês?”; e a fofa canção-de-ninar “Também Vocês”, feita, como diz na dedicatória, para Lucinda Verissimo cantar para seu avô (Luís Fernando Veríssimo).

Destaques ainda para “De Onde Vem o Baião”, de Gilberto Gil (feita originalmente para Gal Costa que a gravou em 1978), e o clássico da bossa-nova “O Pato”, que há tempos estava caindo de maduro para Adriana gravar no Patimpim.

O CD desfecha em tom leve e quase “soninho” com Dorival Caymmi e sua “Acalanto”, autor que também mereceu outra homenagem com a maravilhosa “Tia Nastácia”, feita originalmente para a trilha sonora do Sítio do Pica-Pau Amarelo da Globo, nos anos 70. Esse é o melhor exemplo de que Adriana Calcanhoto, que assumiu o sobrenome Partimpim até nos créditos, pegou pra si a responsabilidade de seguir adiante com a tradição de trilhas para criança inteligentes como se fizera tempo atrás em obras referenciais como "Plunct Plact Zum!!!", “O Grande Circo Místico” ou “Arca de Noé” mas que, em tempos de progressiva imbecilidade da sociedade, vinha se estabelecendo. Ainda bem que a Adriana (a Partimpim!) está aqui para salvar a nós e à criançada. Longa vida a Adriana, seja a Partimpim ou a Calcanhoto.

***********************************************


quinta-feira, 14 de abril de 2011

"O Cachorro que Jogava na Ponta Esquerda", de Luís Fernando Veríssimo - Coleção Gol de Letras - Ed. Rocco (2010)



Acabo de ler o delicioso livro “O Cachorro que Jogava na Ponta Esquerda” de Luís Fernando Veríssimo, escritor que como já, de hábito, cativa pela sua inteligência e bom humor, neste então, amante de futebol como é, chega a emocionar quem, pelo menos uma vez na vida já correu atrás de uma bola num campo de pelada.
Num livro como este, por mais que a gente saiba, parece que reforça o quanto cada campinho, cada joguinho de pelada, cada timezinho , cada meninada é praticamente igual.
Muda uma coisa aqui, um detalhe acolá, mas a essência do negócio é a mesma. As situações são, por exemplo, muito parecidas com diversas que aconteciam com meu time de bairro trazendo à lembrança com nostalgia e bom humor cada momento, situações engraçadas e dramáticas que passamos. O dono da bola, o craque do time, o pereba, os jogos importantes, os grandes momentos e claro, os tipos estranhos que aqui ficam incrivelmente representados na figura de um cachorro.
Muito legal. Divertidíssimo. Ri muito sozinho lendo no pátio da empresa e olhando pros lados para ver se não estava sendo observado por alguém que pudesse estar pensando, “que que aquele maluco tá rindo sozinho, ali embaixo daquela árvore?”. Bom, se alguém viu, azar! O fato é que estava muito bom e eu tava curtindo pra caramba.
Não é só recomendável mas indispensável para que já bateu uma bolinha quando criança. Traz de volta tudo aquilo de gostoso e puro que nossas infâncias deixaram pra trás. Aquilo era rico em experiências, lealdade, amizade, objetivos e formação de caráter, e de certa forma, com um conto singelo e de narrativa simples, Luís Fernando Veríssimo consegue nos fazer lembrar destes valores e curtir de novo aqueles momentos. Afinal de contas, tinha coisa mais legal do que ir jogar bola no campinho com os amigos?


Cly Reis

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Presentes Colorados

Ganhei (a meu pedido) recentemente uma verdadeira enxurrada de livros sobre o meu time, o Sport Club Internacional.
Dois deles do professor Luís Augusto Fischer, apaixonado e constante colaborados nas publicações do clube. Dele, ganhei o pocket “O Time do Meu Coração”, uma publicação mais informativa voltado para novos torcedores ou curiosos, com números, goleadores, datas, títulos etc., e que traz junto uma pequena revista em quadrinhos voltada para o público infantil, chamado “Colorado das Glórias, Orgulho do Brasil”; e o outro, “Sangue, Suor e Talento – O Segredo Colorado”, com muita informação e história também porém mais autoral, pessoal e apaixonado.
Também aproveitei e levei pra casa “Os 10 Mais do Internacional” onde figuram os grandes jogadores que vestiram a camisa colorada na visão do jornalista Kenny Braga com suas respectivas biografias, detalhes e curiosidades; um destes craques, Paulo Roberto Falcão é o autor de outro dos que foram lá pra casa, chamado  “O Time que Nunca Perdeu” que conta a trajetória do Inter de 1979, o único time brasileiro campeão nacional invicto.Ainda acrescentei à minha biblioteca colorada “Internacional - Autobiografia de Uma Paixão” de Luís Fernando Veríssimo, livro bem ao estilo dele; bem humorado, sagaz, inteligente; com a diferença de neste estar tratando sobre seu clube do coração. Adorável! Independente de ser colorado ou não é uma leitura agradabilíssima pra quem gosta de futebol.
Agora com a estante praticamente vermelha é ir relembrando as grandes glórias enquanto se espera pelas próximas.
E que venha o Bi da América.

terça-feira, 9 de junho de 2009

"Budapeste" Chico Buarque (ed. Companhia das Letras 2008)




Viagens longas também podem nos proporcionar boas leituras. Chega uma hora que a gente cansa de assistir filme, olhar pela janelinha do avião e só ver branco, branco e branco, olhar pela janela do trem e só ver verde, verde e verde. Aí saca-se da mochila aquele livro que se escolheu especialmente para esta situação e começa verdadeiramente outro tipo de viagem. Tive a felicidade de escolher "Budapeste”, de Chico Buarque de Hollanda, como companheiro de viagem.
“Budapeste” é daqueles livros que a gente acaba de ler com um sorriso no rosto. “Espantado, verdadeiramente espantado” como definiu também Luís Fernando Veríssimo. Ao chegar à última página eu quase não acreditava no que acabara de ler.
Chico parece ter deixado de tentar esconder o compositor, de se livrar da sombra do músico em seus romances. “Budapeste” conjuga perfeitamente a equação romancista-compositor e a novela ganha ritmo e poesia. A profusão de palavras e vírgulas num ziguezague e um vaivém vertiginoso são em grande parte responsáveis por este ritmo e a obra fica quase musical em muitos momentos. A parte em que praticamente joga com os elementos “7 anos antes – Hamburgo – Baía da Guanabara”, quase que poderia ser CANTADA. Os elementos são repetidos, Chico parte deles e volta neles e volta ao mesmo ponto até se desenhar dentro do seu livro a história do tal livro do Alemão, que por sua vez é emocionante pela composição: escrever na Teresa, escrever nas outras mulheres, nas putas, nas estudantes e estas passearem por aí como se fossem capítulos de um livro soltos cidade afora, até chegar a escrever de trás para a frente em uma vaidosa amante que gostava de se ler no espelho. Lindo!!!
E a musicalidade do livro não se limita a isso. O autor se utiliza no romance de recursos que remetem muito claramente aos utilizados em canções suas, de maneira muito semelhante, como na hipérbole “pensei que não fosse dormir nunca mais”, que é bem comum na obra musical de Chico e lembra imediatamente o “sol nunca mais vai se pôr” de “Bye, bye, Brasil”. Ou na descrição da previsibilidade do hábito feminino com um toque sutil de sensualidade na parte em que José Costa prevê que a esposa irá beijá-lo e dizer que está com sono e logo em seguida ela “soltou seus lábios dos meus, apoiou-se na pia, me encarou com os olhos ainda fechados, esfregou-os e disse: estou morta de sono”, que lembra muito aquela coisa da música “Cotidiano”: ‘toda noite ela diz p’eu não me afastar/ meia-noite ela jura eterno amor/ e me aperta pr’eu quase sufocar/ e me beija com a boca de pavor”.
O livro todo, com as viagens a Budapeste e seus retornos para o Rio do protagonista José Costa, lembra um pouco a construção de “Construção” que em cada parte, cada etapa, cada volta pra casa funciona de uma maneira diferente, tipo “amou daquela vez como se fosse a última/ beijou sua mulher como se fosse a última” na primeira parte e “amou daquela vez como se fosse máquina/ beijou sua mulher como se fosse lógico” em outra. E isto torna extremamente rica, inteligente e valorável a CONSTRUÇÃO do livro.
Li por aí que que falta coesão ao romance, consistência, que é muito poético, que Chico não se desapegou do lado músico... Ora, não vejo como grandes defeitos em ser poético, ou ter ritmo, ou ter fluência. Características estas, aliás, que faltam à maioria dos “escrevedores” que vemos por aí hoje em dia. E cá entre nós, coesão, consistência, seriedade? Me parecem ranzinice deu quem não consegue enxergar além das exigências formais e um romance. As que provavelmente se aprende em algum lugar como receita de bolo.
Sei que li o livro e dele gostei muitíssimo. Um livro de um romancista ainda em amadurecimento, é verdade, mas que consegue proporcionar ao seu leitor, assim como proporciona ao ouvinte, extremo prazer nas suas palavras. Talvez tenha sido o livro em que vemos um Chico mais descontraído nesta sua nova condição de autor, se dando ao direito de brincar com as palavras, torcer e retorcer as frases, o sentido e o tempo. Um autor que se dá ao direito de escrever sobre um lugar que até então nunca tinha estado e sobre um idoma que, no mais, desconhece fazendo uso inclusive, até como recurso de quem tinha pouca referência, de nomes de jogadores da famosa seleção de 54 para batizar seus poetas húngaros.
O filme acabou de sair a algumas semanas e não fui ver ainda. Aliás duvido um pouco da capacidade do diretor de traduzir alguma magia e singularidade que só algo escrito pode conter. Não por causa daquela história toda de que o filme quase nunca é melhor que o livro. Não, não. Não me refiro a isso. É que considero que, ainda que o livro contenha possibilidades visuais bastante interessantes, ele se faz grande, se torna mágico exatamente por ser ESCRITO, por se tratar de um escritor, por vermos as palavras por apresentar diversas alternativas de escrita que certamente o filme não conseguirá traduzir nem tampouco causar a mesma sensação. Consegue-se isso, é claro. Mas não estamos falando de nenhum mestre do cinema e acredito que a proposta não seja tão cerebral. Não sei se se prestaria a ser um filme de imagens uma vez que, acima de tudo, com o perdão da redundância, trata-se de um livro de palavras.
‘Budapeste” é uma espécie de homenagem do escritor Chico Buarque à música por toda a musicalidade que confere a um romance, e ao mês mo tempo uma ode do compositor Chico às palavras, consagrando-as agora em forma de livro, elas que sempre foram tão importantes na sua obra msical.
Usando um adjetivo do filho da húngara Khriska no livro: “Mortífero”.

Cly Reis