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sábado, 10 de agosto de 2019

"Essa História Está Diferente : Dez Contos Para Canções de Chico Buarque" - vários autores, organização de Ronaldo Bressane - ed. Companhia das Letras (2010)




Com uma obra tão visual e rica em detalhes e sutilezas é um pouco estranha a sensação do fã de Chico Buarque ao deparar-se com as letras de suas músicas representando algo diferente do que o autor já apresentara com toda sua propriedade e competência, fazendo-nos, não raro, tamanha a riqueza de imagens que é capaz de construir em seus versos, praticamente, formar no nosso imaginário, cenários, situações e personagens de forma tão completa que a ponto de não dar espaço para outra visão que não aquela que ele nos mostrou. Mas é exatamente este o desafio de "Essa história está diferente", livro que reúne dez autores que se propõe a dar uma nova possibilidade, por assim dizer, a determinada letra do consagrado cantor e compositor da música brasileira, e, de um modo geral, ele se sai bem.
É muito difícil sobrepujar as impressões que deixam as letras de Chico mas o livro traz boas propostas sobre estas e conseguindo em alguns casos o grande mérito de até firmar um certo laço com a obra musical correspondente. Outros, possivelmente no intento de desapegar-se do objeto original, afastam-se de forma bastante radical da letra de inspiração, gerando resultados bastante ousados e, no mínimo, curiosos.

Inspirado na canção "Ela faz cinema", o conto "O direito de ler enquanto se janta sozinho", do argentino Alan Pauls, me sensibilizou, em especial pela questão paterna, da proximidade com a filha e daquele sentimento, que para mim ainda virá, de estar perdendo sua "menininha" quando ela começa a se tornar uma mulher. Detalhe: a garota do conto faz teatro. "Lodaçal", de André Sant'anna, baseado em "Brejo da cruz", mantendo o universo de desigualdade social proposto por Chico,  impressiona pela linguagem, pela ritmo, pelo impacto, criando uma espécie de grande aliteração onírica de um "surrealismo", em muitas passagens, revelador e chocante. 
"Carioca", do paulistano Cadão Volpato , ex-vocalista da cultuada banda Fellini, me decepcionou um pouco. Embora contenha sua habitual poesia cotidiana, tem uma condução sonolenta e até mesmo cansativa num enredo pouco sedutor sobre um rapaz e sua misteriosa hóspede que, no fim das contas, ao que parece, sequer é... carioca. 
"Entrelaces", da chilena Carola Saavedra, é uma grande D.R., muito cinematográfica, alternado a percepção dele e dela sobre a relação do casal, tendo a música, "Mil perdões", como importante elemento dentro do conto. 
"A calça branca", conto do gaúcho João Gilberto Noll é um dos que causam estranheza ao leitor-fã por trabalhar de forma bastante inusitada uma daquelas canções, "As Vitrines", no caso, da qual já temos uma imagem tão pronta que fica difícil admitir outra coisa que não o que sempre "enxergamos" ao ouvi-la. Ainda que preserve a ideia da vitrine, do reflexo, a introdução de uma relação entre dois homens e as memórias que o reencontro casual na galeria trazem à tona, tornam o conto algo muito inesperado e surpreendente para o leitor.
O que mais se aproxima, diretamente da obra de Chico, é "Feijoada completa", de Luís Fernando Veríssimo, que traz toda aquela coisa do preparativo para este prato tipicamente brasileiro e seus ingredientes, tal qual a música, contendo inclusive trechos da letra, servindo como pano de fundo para uma divertida crise de casal.
O mais estranho é "Os fantasmas do massagista" que para chegar "Construção", uma das mais emblemáticas canções do compositor, recorre a uma trama de um fisioterapeuta que narra a um de seus pacientes ocaso da mãe, uma antiga declamadora de músicas populares recém falecida, e como os últimos momentos dela o afetaram. "Construção" está na trama, ela até aparece e de uma maneira muito inusitada e até divertida, mas que a história do mexicano Mario Bellatin é muito esquisita, isso é.
O consagrado escritor moçambicano Mia Couto aparece com o elegante conto "Olhos nus: olhos", do qual nem é necessário dizer a canção de origem, e que apresenta o momento pós-rompimento de um casal, com todas suas particularidades e reminiscências. "A mulher dos meus sonhos", de Rodrigo Fresán, da canção "Outros sonhos" trabalha este elemento do inconsciente sob diversas possibilidades num conto de estrutura repetida e insistente; e o divertido "Um corte de cetim", do pernambucano Xico Sá, que aproxima-se de sua música inspiradora especialmente pela atmosfera mundana, fecha o livro, trazendo o desabafo, num buteco, numa quarta-feira de cinzas, de um folião traído, que chegou a dedicar à musa um belíssimo e generoso pedaço do tecido em questão.
Devo admitir que, por conta de toda a figuratividade já mencionada contida nas letras de Chico, na maioria dos casos, ao ler os contos, ficava com a expectativa de uma mera variação das letras, um complemento delas, um detalhe no que, para mim, já  era irretocável, o que acabou fazendo com que algumas das histórias não caíssem imediatamente nas minhas graças. Mas um afastamento, um desapego, uma segunda passada faz com que a gente acabe aceitando melhor a proposta e simpatizando mesmo com aqueles contos que mais se distanciam da ideia original. Não adianta: não  é a mesma coisa e nem é para ser. A história está diferente mas, afinal de contas, compreenda leitor, leitor acomodado como eu. Aqui, é isso que ela quer ser. A história: ser diferente.




Cly Reis

quarta-feira, 14 de março de 2018

Música da Cabeça - Programa #50



E chegamos ao Música da Cabeça de nº 50! Para celebrar, a gente traz uma série de coisas legais no programa que vai ao ar hoje. A começar pela entrevista exclusiva com o músico, jornalista, escritor e ilustrador Cadão Volpato. Sim, ele mesmo, da banda Fellini, do antigo programa Metrópolis, da TV Cultura, da Funziona Senza Vapore, dos livros, das ilustrações. Um cara multifacetado que falou com a gente para o quadro “Uma Palavra”. Igualmente especial estará o set-list, que contará com Lincoln Olivetti & Robson Jorge, Caetano Veloso, The Beatles, Sly & The Family Stone e mais. Se não ouvir, não será por falta de aviso, hein? É hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção e apresentação: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://radioeletrica.com.br/

Música da Cabeça - Teaser Programa #50



Hoje tem Música da Cabeça Especial. É o programa de número cinquenta e para marcar a ocasião, além daquele set musical sempre eclético e variado, tem entrevista especialíssima com o jornalista, ilustrador, músico ex-vocalista da cultuada banda Fellini, Cadão Volpato. Imperdível, hein!
É hoje às 21 horas na Rádio Elétrica. Produção e apresentação de Daniel Rodrigues.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Fellini - "3 Lugares Diferentes" (1987)






" A rapaziada tá brincando bastante.
Ninguém ganha nada, não tá vendendo nada,
o disco não tá legal mas a gente
tá dando muita risada 
e tá realmente sendo uma grande curtição,
vamos levar isso pra frente."
Osmar Santos,
trecho do programa "Balancê" com participação do Fellini,
na introdução da música "Rio-Bahia"





Mas o que era aquilo? Legião e Titãs detonando tudo aqui pelo Brasil em vendagens, hits, shows, popularidade e a Bizz insistindo destacar o disco de um tal de Fellini como um dos grandes de 1987? A Bizz, para quem não sabe, era a grande publicação musical do país e todo ano elegia os melhores de crítica e público. É lógico que a galera, na qual me incluía, não tinha dúvidas que o "Que País é Este" da Legião Urbana, embora fosse praticamente uma "coletânea" de material antigo mas cheio de protesto, carisma e hits, como o improvável sucesso radiofônico "Faroeste Caboclo" era um dos favoritos a disco do ano; mas especialmente o ótimo "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" com suas "Lugar Nenhum", "Comida", Diversão" e "Desordem", até por ser um álbum de inéditas e sucessor à altura do revolucionário "Cabeça Dinossauro" era para o público geral imbatível. Mas os críticos da revista, convidados e músicos que votavam, para minha surpresa, os equivaliam ao quase desconhecido "3 Lugares Diferentes", do tal Fellini, fazendo-o empatar na primeira colocação daquele ano com o discaço dos Titãs. Bom, "quase desconhecido" para mim, uma vez que o projeto da dupla de amigos Cadão Volpato e Thomas Pappon já gozava de uma certa reputação no underground paulistano, vinha de dois discos no mínimo interessantes na bagagem e orgulhava-se, com justiça, de já ter sido tocado no programa do lendário DJ inglês John Peel, que apresentara ao mundo entre outros bandas como Pink FloydJoy DivisionThe Cure, no seu Radio 1 da rádio BBC.
Devo admitir que, naquela época, descobrindo muitos sons novos e com a enxurrada de boas bandas que apareciam naquela metade dos anos 80, ávido por conhecer o máximo de coisas legais que pudesse, diante da premiação da Bizz, fiquei bastante curioso para conhecer o som dos caras, mas não era um som que se encontrasse em qualquer Mesbla da vida e na época isso acabou não cruzando meu caminho o que só veio a acontecer alguns anos depois assitindo a um show que a TV Educativa de Porto Alegre transmitiu, realizado na Reitoria da UFRGS e que já trazia o repertório do disco "Amor Louco", mas o que foi suficiente para fazê-los caírem nas minhas graças e ganharem minha total simpatia a admiração.
O Fellini fazia uma espécie de samba experimental, minimalista, eletrônico, com raízes no punk paulista, admitindo no entanto quaisquer inter-relações musicais que pudessem torná-lo interessante como blues, valsa, funk, reggae, bossa nova, bolero, apresentando letras de enorme sensibilidade poética cantadas muitas vezes com um vocal quase declamatório por seu vocalista, Cadão Volpato, que compensava sua limitação vocal com moderação, inteligência e criatividade interpretativa. 
"3 lugares diferentes", traz todos esses elementos. É um disco, ao mesmo tempo, primário e sofisticado. Se por um lado suas gravações muito básicas, quase artesanais, com condições técnicas mínimas, muitas vezes somente com uma bateria eletrônica e uma guitarra, sua concepção sonora e é avançada com uma leitura ímpar dos ritmos brasileiros numa quase improvável, mas muitíssimo bem sucedida, integração com o rock e suas vertente. O conceito já havia sido explorado no segundo "Fellini Só Vive Duas Vezes", contudo, limitados pelas condições técnicas, seu resultado, embora interessante, mostrava-se ainda muito duro, cru, com pouca plasticidade e flexibilidade. "3 Lugares Diferentes" conseguia o resultado estético mais interessante com canções mais sonoras e marcantes.
Depois de um texto de abertura, um manifesto sobre música (que de certa forma sugere que uma banda como o Fellini, por exemplo, não poderia fazer música), sucedido por uma introdução de gaita harmônica, a programação eletrônica que marca o singular samba felliniano já dá as caras na maravilhosa "Ambos Mundos", canção de uma poesia urbana lindíssima que une cotidiano, sonho, astronomia e surrealismo ("Depois do batente Vênus descansava/ Marte sempre cortês jogava cartas/ preto era o céu/ bom de se olhar/ onde Três Virgos queriam se arrumar"). "Rosas", que a segue, é uma espécie de blues experimental, lento, arrastado e sussurrado;  e "La Paz Song, a seguinte, traz uma sonoridade que, por conta de sua percussão eletrônica e do teclado, sugere algo militar, numa letra que mistura o português com o espanhol de maneira bastante sonora.
O Fellini não tocou nas rádios, não teve um grande hit, mas se tem uma canção que teria esse potencial seria a adorável "Teu Inglês", uma das faixas mais bem acabadas da banda, com a participação do percussionista Silvano Marcelino, de trabalhos com vários artistas da MPB, que combina sua contribuição à batucada eletrônica característica da banda, uma guitarra leve e requintada primorosa em todos os momentos, uma nova aparição oportuna e interessante da harmônica e um refrão absolutamente gostoso e cativante.
Outra das melhores do disco, "Zum Zum Zum Zazoeira", com um mínimo de elementos, uma batida repetida básica, uma base de teclado quase constante, uma linha de guitarra sinuosa e perturbadora e um inteligente e preciso jogo de palavras-chave ("poeira", "lampião", porteira", "boi") consegue sugerir uma atmosfera regionalista, sertaneja, nevoenta, quente e árida. Genial!
A bela "Pai", de andamento meio new-wave, por assim dizer, é mais um exemplo da doce poesia cotidiana de Cadão Volpato ; de letra repleta de enigmas, signos e chaves, mais uma vez mesclando português com espanhol, "Valsa de La Revolución" justifica o nome num valseado minimalista conduzido pela guitarra de Thomas Pappon; e soturna, característica da turma do underground paulistano das noites de Madame Satã, "Massacres da Coletivização" divaga de forma pesada sobre o tempo e memórias.
"Rio-Bahia" apresenta novamente o tal "samba-maluco da rapaziada do grupo Fellini" como definira o falecido Osmar Santos na introdução da própria música, numa gravação do programa de rádio "Balancê" que apresentava e do qual a banda participara em certa ocasião. Além da batucada eletrônica, "Rio-Bahia" e "Lavorare Stanca", que são praticamente emendadas, mostram desta vez alguma intervenção acústica dos próprios integrantes com tamborins e outros elementos percussivos. Sem falar no do tradicional "trompete bucal" do vocalista Cadão, mais um dos muitos improvisos espontâneos da banda que costumava seguir seus instintos musicais e que pela ausência de um instrumento, pela vontade de enriquecer o som, pela sensibilidade de perceber que um determinado som cairia bem, arriscava uma brincadeira, a registrava e tornava seu som ainda mais interessantes e original.
Como um ocaso, a ainda mais esquisita "Onde o Sol se Esconde", minimalista sonoramente, de vocal embriagado e letra non-sense misturando palavras em português, inglês, francês, espanhol, traz o encerramento do álbum não sem ainda uma pequena vinheta da descontração de estúdio da gravação de "Teu Inglês" ao final.
O relançamento em CD traz ainda gravações bem interessantes ao vivo de "Zum Zum Zum Zazoeira", "Ambos Mundos" e "Teu Inglês", além de uma faixa oculta, a canção "Aeroporto", gravada ao vivo no antigo programa "Matéria Prima" de Serginho Groissman na rádio Cultura.
Embora os cabeças da banda tenham restrições técnicas ao álbum e o próprio Thomas Pappon admita uma certa decepção com ele pela ausência de baixo, "3 Lugares Diferentes", reconhecem também, por outro lado, que o disco foi inovador, quase revolucionário, antecipando muitas coisas que só começaram a serem feitas agora no pop-rock nacional, e seu reconhecimento com a premiação da Bizz, embora apenas simbólico, e posteriormente essa aura cult que paira sobra a banda, representam uma espécie de vitória da independência, da liberdade, do idealismo, da arte enquanto senso de seguir o próprio coração e ter prazer no que se faz.
O trabalho do Fellini, seu conceito, sua concepção de música, sua produção, seu conteúdo, seu resultado e seu reconhecimento, atualmente, como uma das bandas mais interessantes do rock nacional fazem com que o texto do gaitista norte-americano "Sugar Blue, sugerido pelo próprio Pappon para a introdução do disco, soe hoje ainda mais curioso, controverso e irônico: “Música não é para preguiçosos, música não é para engraçadinhos, música não é para desmiolados. Música é um negócio sério que reflete esforços humanos para nos tornarmos o que buscamos quando nos manifestamos".
Será mesmo?
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FAIXAS:
  1. Ambos Mundos
  2. Rosas
  3. La Paz Song
  4. Teu Inglês
  5. Zum Zum Zum Zazoeira
  6. Pai
  7. Valsa de La Revolución
  8. Massacres da Coletivização
  9. Rio-Bahia
  10. Lavorare Stanca
  11. Onde o Sol se esconde

A versão relançada em 1995 contém as seguintes faixas gravadas ao vivo:
12. Zum Zum Zum Zazoeira
13. Ambos Mundos
14. Teu Inglês

faixa oculta:
15. Aeroporto

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Ouça:

terça-feira, 20 de agosto de 2013

cotidianas #240 - Tabu



Um terremoto destruiu o México
esta manhã
Eu fui promovido
Eu estou impaciente com a
Grande Complicação
e com o saco cheio de ouvidos
ouvindo os meus demônios
intestinos
É um milagre ainda estarmos
vivos

Hoje eu ouvi sua voz honrada ao telefone
Casmurro, careca, e escreveu um livro
Ele tá velho demais pra virar um mito
Eu também tô sonhando sozinho
Não é um milagre ainda
estarmos vivos?
É um milagre

Uma imagem apagada,
um tabu,
que um leve tremor pode destruir
para então não haver mais nada em que pensar
antes de dormir antes de acordar
Não é um milagre ainda estarmos vivos?


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letra da música "Tabu"da banda Fellini

Ouça:
Fellini - "Tabu"

domingo, 12 de agosto de 2012

cotidianas #173 - Dia dos Pais - "Pai"



Pretendo ter dois lindos filhos
Uma menina e um robusto menino
Botar eles na escola desde o princípio
Mandar às favas os vizinhos
(À noite ouvem nossos ruídos
O que eles ganham eles põem no cofre
Um filho uma árvore e um livro
Herança de gente muito pobre)

E terminar todas as fábulas
Quando eu sair da chaminé
Depois montar na bicicleta
Esperar que eles criem calos nos pés

(À noite ouvem nossos ruídos
Uma vida despojada de sentido)
E assim nós vamos indo
Minha pequena mulher vai dirigindo
E assim nós vamos indo
Meu filho segue torcendo comigo
E assim nós vamos indo

Meus filhos foram me chamar
Um avião estava preso nos fios
Meus filhos foram me chamar


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letra da música "Pai"
da banda Fellini


Ouça:
Fellini - "Pai"

sábado, 16 de janeiro de 2010

cotidianas #15 - Cidade Irmã


Hora da faxina
(Quando o sol entrar pelos
fundos)
Você sai
na sua corrida maluca
Eu fico só
Amo Você como louco, louco
louco, louco


Nada que nos una
Vendo a lua saindo de um
prédio
Tantas luzes
Que piscam na zona sul
Estrelas mortas
Amo Você como louco, louco
louco, louco


Nada que nos una
Eu vejo navios
Paris no tempo do rei sol
Folheia um livro
Você toma banho de espuma
Eu fico só
Amo você como louco

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"Cidade Irmã"
(Cadão Volpato)

Ouça:
Fellini Cidade Irmã



*PS: A última estrofe aparece no encarte mas não foi gravada no álbum "Amor Louco" de 1989.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fellini "O Adeus de Fellini", "Fellini Só Vive Duas Vezes", "3 Lugares Diferentes", "Amor Louco"e "Amanhã é Tarde"


Chegou, para mim, na semana passada uma encomenda que fiz do selo Baratos Afins de São Paulo que é o CD da banda Fellini com os álbuns "O Adeus de Fellini" e o "Fellini só vive duas vezes" juntos num 2 em 1.
Pra quem não sabe a Baratos Afins é uma gravadora independente que atuou mais intensamente nos anos 80 tendo em seu cast bandas como Mercenárias, Smack, Akira S e o próprio Fellini, além de outros nomes do underground do rock brasileiro.
O Fellini nunca foi conhecido do grande público, nunca estourou vendagens nem emplacou hits, mas gozava de um grande respeito de críticos, músicos e do pessoal alternativo desde o seu aparecimento. Lembro que a Bizz, que na época era a maior revista do segmento musical no Brasil, costumava eleger todos os anos os melhores em diversas categorias e na escolha do público dava, Titãs, Legião, Paralamas e para crítica, Fellini. Eu ficava curioso pra saber do que se tratava. Por que esta banda tinha tal simpatia dos especialistas? Só fui conhecer algum tempo depois, num especial na TVE de Porto Alegre, com trechos de um show, acho que realizado na Reitoria da UFRGS. Conheci ali gostei e fiz o processo retroativo, fui buscar os tais dos discos que a Bizz tanto elogiava e relamente não me decepcionaram.
Curiosamente o primeiro disco da banda chama-se "O Adeus de Fellini", um álbum de uma banda pretensiosa (num bom sentido), cheia de gás, ainda com respingos de punk e com bastante influência do rock inglês. Destacam-se "Funziona Senza Vapore", "Rock Europeu", a agressiva e sarcástica"Cultura" e a adorável "História do Fogo".
"Fellini só vive duas vezes", o segundo disco, gravado num mini-estúdio de 4 canais, apenas pelo núcleo da banda, o volcalista Cadão e pelo guitarrista Thomas Pappon, ainda traz esse rock inglês incorporado mas já apresenta alguma queda para o samba e para a bossa-nova, além de muitos experimentalismos, que se dão muito, em parte, por conta da limitação técnica de serem apenas os dois e uma bateria eletrônica, que ainda soa muito crua e pouco trabalhada neste disco.
"Tabu" é um poema declamado sobre uma base samba-canção, "Mãe dos Gatos" e "Socorro" e as duas "Padre Hippie" demonstram bem o experimentalismo e alguma inconseqüência do disco, que tem destaque para "Domingo de Páscoa", a melhor do disco, que também tem uma levada meio samba e traz o "trumpete-bucal" de Cadão Volpato, como ele mesmo definiu.
O resultado destas duas experiências anteriores chega preciso e afinado no terceiro álbum, "3 lugares diferentes", no qual o rock, o pop, o samba, a bassa-nova e os experimentalismos estão todos juntos mas com um produto final muito mais maduro.
Mesmo a batida eletrônica que soava crua para se fazer sambas, neste disco volta aparecer mas fica mais bem entrosada com os outros elementos e a proposta do samba/rock/bossa-nova fica maravilhosa em "Ambos Mundos", "Teu Inglês", "Lavorare Stanca" e "Rio-Bahia". As "doideiras" do disco anterior aparecem também neste mas neste, mais musicais, como em "Rosas" e "Onde o Sol se Esconde". "Massacres da Coletivização" lembra o pop-rock do primeiro disco, "Valsa de la Revolución" mistura espanhol com português com uma letra falada sobre uma base de bateria eletrônica e "Zum Zum Zum Zazoeira" com uns efeitos de bichos na introdução tem um sotaque meio nordestino e soa até meio regionalista.
Depois destes o Fellini trocou de gravadora, saiu da Baratos e foi para a Wop-Bop e lá lançou o bom disco "Amor Louco" no qual esta linguagem samba já estava bem consolidada. A ótima faixa título é doce e delicada, "Cidade Irmã" traz uma poesia urbana cheia de imagens e "Kandinsky Song" é arrebatadora.
Soube que o Fellini tentou ainda mais uma experiência posterior, com o álbum "Amanhã é Tarde", mas que não teria sido muito bem sucedida. Este eu não ouvi e não posso opinar, mas dos que conheço posso dizer que entendo perfeitamente porque a crítica tomava aquele rumo diferente da opinião geral, mesmo diante de álbuns como o "Dois" do Legião e o "Cabeça Dinossauro" dos Titãs, dos quais o ótimo "3 lugares diferentes", por exemplo, é contemporâneo.
Pra quem quiser dar uma conferida, abaixo links de dois trabalhos da banda: "O Adeus de Fellini" e "3 lugares diferentes".

















Ouça:
O Adeus de Fellini
Três Lugares Diferentes