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sexta-feira, 22 de março de 2024

Gene Vincent - "I'm Back and I'm Proud" (1969)

 



"Consciente do fenômeno Elvis
de quem observava cada movimento (...),
Gene Vincent se situava
a meio caminho entre seu herói
e o lirismo romântico de Buddy Holly."
do livro "Raízes do Rock"
de Florent Mazzoleni




Conheci "Be-Bop-a-Lula" no filme "Coração Selvagem", um road-movie frenético e improvável do diretor David Lynch, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1990. A canção era uma espécie de música-tema da personagem Lula, ainda que não se repetisse diversas vezes ou a cada aparição dela, como costuma acontecer nesse tipo de identificação no cinema.
Desde então passei a gostar muito da excelente trilha sonora do filme e em especial, entre outras de "Be-Bop-a-Lula".
"Be-Bop-a-Lula", um delicioso rockabilly embalado, descontraído, cheio de alternativas vocais, "gagueiras", respirações e gritinhos, foi o primeiro grande sucesso de Gene Vincent, cantor e compositor que surgiu naquela leva de novos-Elvis dos anos 50, mas que mostrava uma série de predicados que o qualificaram como algo diferenciado em meio àquele monte de promessas comerciais.
Curiosamente, a música que impulsionou a carreira de Vincent só veio a sair em álbum de carreira, 13 anos depois de seu lançamento, em 1969, no disco "I'm back and I'm proud", que como o nome sugere, representava uma espécie de retomada numa carreira que, depois dos primeiros anos de grande sucesso, não conseguira manter o mesmo patamar. Assim, para tal retomada, nada melhor do que partir do que tinha de melhor, ou seja, seu maior hit e, desta forma, "Be-Bop-a-Lula" era a arma nada secreta de Vincet.
Mas "I'm back and I'm proud" não se limitava a um apelo a "Be-Bop-a-Lula" que aqui, exigência dos tempos, aparecia numa versão  levemente mais psicodélica que sua original, lá de 1956. Merecem destaque também o rock vigoroso e elegante "Rockin Robin" que abre o disco; a eletrizante "White Lightning" gravada também pelo The Fall, posteriormente; a incendiária "Sexy Ways"; as releituras poderosas para duas lendas do country, "Rainbow at Midnight" de Ernest Tubb, e "I Heard the lonesome whistle", de Hank Williams; a revisitação de duas de suas antigonas, "Lotta Lovin'" e "Ruby Baby", uma espécie de variação de "Be-Bop-a-Lula" reproduzindo alguns versos e vocalizações, e ainda uma versão melancólica do clássico de domínio público "Scarlet Ribbons".
A retomada não veio, ainda que Gene Vincent mostrasse com o bom "I'm Back and I'm Proud" que que ainda tinha gasolina no tanque e lenha pra queimar. No auge do psicodelismo, das bandas inglesas, d ascensão de novos estilos, pouca gente queria saber dos ícones topetudos dos anos 50, embora, particularmente, Vincent gozasse ainda de um bom prestígio na Europa. A tentativa de ressurreição artística durou pouco pois, dois anos depois, Gene Vincent viria a falecer em decorrência do álcool, deixando, por um lado a impressão que a geração rock'n roll raiz, cinquentista, havia dado o que tinha quedar, mas por outro, a sensação que com um disco tão interessante quanto àquela, ainda poderia ter algo a oferecer.

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FAIXAS:

1 Rockin' Robin
2 In the Pines
3 Be Bop a Lula 69
4 Rainbow at Midnight
5 Black Letter
6 White Lightning
7 Sexy Ways
8 Ruby Baby
9 Lotta Lovin'
10 Circle Never Broken
11 I Heard That Lonesome Whistle
12 Scarlet Ribbons (For Her Hair)

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Ouça:

Gene Vincent - I'm Back and I'm Proud"
https://www.youtube.com/watch?v=X_xURXbVhyA&list=OLAK5uy_ljNPj1atjQgPcahNjaugSGhO4XJfR3M5w



Cly Reis

sábado, 8 de agosto de 2015

The Fall – Manchester Cathedral – Manchester / Inglaterra


3x The Fall
por Fabrício Silveira


Mark E. Smith no palco
Mark E. Smith não envelheceu como um astro do rock. Envelheceu como um trabalhador comum, numa família suburbana. O modo como se veste tem um aspecto atemporal. É anacrônico. O corte de cabelo, os fortes sulcos no rosto, o ar embriagado e o relógio de pulso lhe dão a aparência de um tio distante, morador de alguma pequena cidade, no interior do estado. Com ele, o tempo parece dobrar-se, rodopiando, fazendo-se sentir apenas parcialmente, deixando muita coisa intacta. Impressiona o fato de que o The Fall ainda tenha público, depois de mais de 35 anos de estrada, experimentações e incessantes trocas de formação.
Em cinco semanas – em pouco mais de um mês, portanto –, fui a três shows da banda, na turnê de lançamento do álbum “Sub-Lingual Tablet” (Norman Records, 2015). Foram três cidades diferentes: Londres, Liverpool e Manchester, esta última, na catedral ecumênica. Dentre os shows que vi, foi o melhor, sem dúvida nenhuma. Uma verdadeira comunhão pós-punk. Havia mais público do que em Liverpool. Havia mais jovens e mais mulheres. Havia também uma expectativa e uma empolgação muito maiores. É uma audiência adulta, majoritariamente, de senhores acima dos 50 anos de idade, que se divertem como crianças no mosh pit, na roda de pogo.
E tivemos a performance usual de Mr. Smith, falando quase o tempo todo, utilizando dois ou três microfones, às vezes simultaneamente. A conversação começa, acelerada, antes mesmo de subir no palco. Não raro, durante o espetáculo, retira-se da vista de todos, esconde-se atrás das caixas de som, volta aos camarins, deixando-nos apenas o sermão incessante, feito de longe, na cadência da música.
Capa do novo disco,
"Sub-Lingual Tablet"
Ele costuma caminhar de um lado a outro, importuna os colegas de banda, empurrando-lhes. Deliberadamente, mexe com as regulagens dos amplificadores, chuta os pedais de efeitos, intromete-se na execução das canções, quer se apossar dos instrumentos. Desvia a atenção dos músicos, pedindo-lhes para que cantem em seu lugar. Quando lhe parece apropriado, agride os pratos da bateria. Marca o ritmo batendo nas próprias pernas. Morde-se. Faz caretas. Busca um pouco mais de caos. Entrega um dos microfones para o fã mais afoito, encontrado ao acaso, na pequena multidão.
Mas qual é o segredo do The Fall? A resposta é simples: é repetição, a sensação do volume do som, a pulsação e o grave do baixo esmagando o peito e a permanente elaboração lírica do sr. Smith. Na prática, não há canto. Não se pode nem mesmo dizer que Mark E. Smith seja um cantor. Ele apenas sabe como colocar a própria voz. Sabe como utilizá-la. Trabalha num registro falado e reiterativo. Improvisa. Incorpora o ambiente no discurso que faz. Interpela o público, chama-o à fala, ao reforço dos bordões, ao canto conjunto.
O performer Mark E. Smith
num dos shows da The Fall
A catedral de Manchester dá uma acústica particularíssima à apresentação. O som é consistente e limpo, sem ecos. Há um enorme pé direito, que se afunila em distintas torres e cúpulas, acima de nossas cabeças. Estamos cercados por muitas colunas, um púlpito esculpido em madeira, pequenas capelas laterais, altares e confessionários, anjos e Gárgulas, estátuas de pedra maciça. Às 20h30, quando a banda de abertura começou, o sol ainda batia nos vitrais, projetando múltiplos feixes de luz no interior da nave central.
Uma igreja barroca, que começou a ser construída na Idade Média e foi seriamente danificada na Segunda Guerra Mundial, agora abriga a sobrevivência teimosa do pós-punk inglês. Em pé, à contemplação de todos, diante da pia de batismos, Mark E. Smith abre os braços. Murmura alguma coisa. De repente, deixa a cabeça cair para a frente, encostando o queixo no peito. Então suspira. O show está começando.



*resenha publicada originalmente no portal Culturíssima

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

The Fall - 'Bend Sinister" (1988)




"Bem-vindos aos anos 80-90"





Estava ouvindo dia desses no carro o Bend Sinister do The Fall.
Este é um daqueles álbuns que considero referência. Um dos discos mais expressivos dos anos 80, que com certeza, pra mim, tem seu lugar entre os 10 desta época.
O álbum tem a cara dos 80, só que ao mesmo tempo, dá cara para o rock da década com faixas emblemáticas como a excepcional "US 80's-90's", com sua batida funk e sua guitarra forte a agressiva com aquela voz narrada, recitada, desfilando POR CIMA da música, característica esta, aliás presente em diversas faixas.
Mark E. Smith é daqueles vocalistas que claramente "não sabe cantar". Não sabe. Não tem a técnica vocal perfeita e sua voz é meio rascante, aguda. Mas faz disso seu trunfoe diferencial, criando uma maneira toda sua que ora dá pungência, ora dá tom de ironia, e muitas vezes uma ar divertido.
O álbum mistura rock tradicional, com new wave, sem perder contudo, a característica de banda surgida do punk de Manchester.Outros destaques do álbum são a faixa de abertura "R.O.D", vibrante, a ótima "Mr. Pharmacist" e a quase monocórdia "Living too Late".

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FAIXAS:
  1. "R.O.D." (Mark E. Smith, Steve Hanley, Simon Rogers, Craig Scanlon, Brix E. Smith, Simon Wolstencroft) – 4:36
  2. "Dktr Faustus" (M. Smith, Scanlon) – 5:35
  3. "Shoulder Pads 1#" (M. Smith, B. Smith) – 2:56
  4. "Mr Pharmacist" (Jeff Nowlen) – 2:22
  5. "Gross Chapel - GB Grenadiers" (M. Smith, Hanley, Scanlon) – 7:21
  6. "U.S. 80's-90's" (M. Smith, B. Smith) – 4:36
  7. "Terry Waite Sez" (M. Smith, B. Smith) – 1:39
  8. "Bournemouth Runner" (M. Smith, Hanley, B. Smith) – 6:06
  9. "Riddler!" (M. Smith, Rogers, B. Smith) – 6:22
  10. "Shoulder Pads 2#" (M. Smith, B. Smith) – 1:57
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