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quinta-feira, 20 de julho de 2023

“Furta-Cor, de volta aos jardins", de Teresa Poester - Ocre Galeria - Porto Alegre/RS

 

"(O desenho) é um exercício de imprevistos, durante todo o tempo, lidando com a sorte ou o azar, ou seja, o acaso. Mas é também muito racional, porque saber lidar com este acaso, saber aproveitá-lo ou não a favor do resultado final, exige do conhecimento intelectual".
Teresa Poester

Fazia um tempo que não íamos Leocádia e eu a vernissages. Mas quando a oportunidade é de prestigiar artistas que gostamos e com os quais se têm relação afetiva, vale se programar. Foi o que fizemos na abertura da exposição “Furta-Cor, de volta aos jardins”, da artista visual gaúcha Teresa Poester, uma referência da arte no Rio Grande do Sul. Ex-professora da Escolinha de Arte da UFRGS de Leocádia, Teresa é alguém a quem nunca perdemos de vista. Anos atrás, em 2016, quando do lançamento do documentário sobre sua obra, “10.375 Km em Linha”, estávamos na avant-première. Temos uma Teresa original numa das paredes de nossa casa, para se ter ideia. Enfim, motivos não nos faltavam para pelo menos dar uma passada na Ocre Galeria, no Centro da cidade, para prestigiá-la e apreciar as obras.

Numa casa antiga e muito bonita, mas um tanto inadequada para espaço expositivo visto que muito estreita, conseguimos ver o que foi possível diante da circulação de bastantes convidados que foram fazer o mesmo que nós – alguns conhecidos e amigos nossos, inclusive. Mas do que deu para ver/fotografar foi aquele deleite característico que sua obra traz: uma fusão do desenho com a fotografia, cujo desenha opera em um percurso inverso ao tradicional: não desenha a partir de fotografias, mas fotografa a partir de seus desenhos de imaginação. 

Na exposição atual, a artista exibe desenhos inéditos, feitos no seu atelier na França, para o espaço da galeria, numa celebração aos 45 anos de sua intensa e contínua produção artística. O “furta-cor” do título, segundo Teresa, não se refere apenas às alterações de tonalidade conforme a luz que se projeta sobre a cor, mas também, “às cores furtadas de um mundo ameaçado que amanheceu cinza”, numa alusão ao período de isolamento social e às muitas dificuldades que assolam o mundo nos últimos anos. “De volta ao jardim”, assim, prenuncia o otimismo do retorno à vida social, à possibilidade de apreciar as cores, aos reencontros. Como os que foram promovidos naquela manhã ensolarada de amizade e arte.

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Rabiscos sobre foto ou foto sobre rabiscos?


Movimento na galeria para a abertura da exposição


Fusão entre desenho e foto


Várias obras em exposição


Em tons de azul, os riscados leves, uma marca da arte de Teresa


O casamento do desenho e da fotografia


Detalhe de uma das obras, que mostram o traço livre e riscado de Teresa


Nós dois com várias das obras ao fundo


Um rápido passeio por parte da exposição na Ocre


E uma seflie com a própria Teresa Poester

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Exposição "Furta-Cor, de volta aos jardins"
local: Ocre Galeria
R. Demétrio Ribeiro, 535 - Centro Histórico (Porto Alegre/RS)
período: até 22 de julho de 2023
horário: de segunda a sexta, das 10h às 18h, e sábados, das 10h às 13h30
ingressos: Gratuito


Daniel Rodrigues

domingo, 2 de julho de 2023

Exposição "Nuances de Brasilidade: Repertório" - Centro Cultural PGE-RJ - Rio de Janeiro/RJ

 

Embora eu não entenda nada de astrologia, deve passar por alguma explicação neste sentido a minha ligação com o Rio de Janeiro. Digo frequentemente que, mesmo gaúcho, porto-alegrense nato, e com família e amigos que moram no Rio, ando por lugares que nem os cariocas circulam, o que me faz conhecer a cidade mais do que muitos deles. Numa dessas andanças cariocas na última vez que estive na cidade, saía eu de uma visita ao Paço Imperial, na Praça XV, no Centro (lugar que, sei, muitos turistas e nem os próprios cariocas vão) e, ao atravessar a 1º de Março, percebi no frondoso prédio da calçada oposta que havia uma entrada iluminada e convidativa. Parecia ser um espaço novo. E era: o Centro Cultural PGE-RJ, aberto em 2022 pela Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, atual responsável pelo prédio histórico. 

"Novo", modo de falar, pois o Centro Cultural PGE-RJ, recém-restaurado, fica no antigo Convento do Carmo, uma das mais antigas construções do país, cedido pelos monges carmelitas para servir de residência para D. Maria I quando da vinda da Família Real para o Brasil e datado da mesma época que o Paço, século XVII. Mas voltando à astrologia. Diz-se que o Rio de Janeiro tem como signo peixes, o que o faz ser uma cidade de belezas e mistérios. Afinal, não são à toa os versos: “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”. E o que me aconteceu naquele finalzinho de tarde em que saía do Paço Imperial foi de revelação de um desse tipo de mistério que o Rio guarda nas suas entranhas. Arrisquei e minha curiosidade foi recompensada pelo belo espaço expositivo que encontrei, o qual me lembrou os do próprio Paço Mais do que isso: a qualidade da exposição em si: "Nuances de Brasilidade: Repertório".

Não deu muito tempo para visitar, pois, como falei, já era fim de tarde e o horário de atividade estava se encerrando. Mas deu para apreciar a pequena e agradável mostra de 14 artistas brasileiros com obras cedidas por colecionadores particulares. Os trabalhos são de gente do calibre de: Abraham Palatnik; Emanoel Araújo; Frans Krajcberg; José Bechara; Luiz Zerbini; Miguel Rio Branco; OSGEMEOS; Rubem Valentim e outros. Só coisa fina.

Confiram algumas obras em exposição até setembro no belo espaço do casarão da PGE-RJ.

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Já de cara, um Palatnik (acrílica sobre madeira, 2015)

As formas orgânicas e perturbadoras de Krajcberg:
obra (pigmentos naturias sobre madeira) que é um dos destaques da mostra

A profusão ótica do paulista Zerbini ("Sem título", 2007)

A fotografia também presente na mostra pelas lentes de Luiz Braga
("Menino sentado no pneu", 1988)

A genialidade afro-simbolista de Emanoel Araújo, 
que marcou esta minha ida ao RIo em três expos diferentes

A arte d'OS GÊMEOS, "Gravidade Zero", técnica
mista sobre madeira (2012)

Outro gênio, Miguel Rio Branco, e suas imagens densas
que desafiam o conceito de fotografia ("Havana velha", 1994)

O baiano Valemtim, a quem me deparei também mais de uma vez,
com "Emblema 80", de 1980 (acrílica sobre tela)



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E
xposição "Nuances de Brasilidade: Repertório"
local: Centro Cultural PGE-RJ
Praça XV de Novembro – Centro (Rio de Janeiro)
período: até 16 de setembro de 2023
horário: de terça-feira a sábado, das 10h às 18h
ingressos: Gratuito

Daniel Rodrigues


segunda-feira, 26 de junho de 2023

"Uma Estética do Recomeço", de César Bahia - Museu de Arte do Rio - MAR

 






Exposição de esculturas de inspiração africana mas com representações e interpretações muito mais amplas.

Assim como sugere nobreza, reverencia divindades, exalta nobreza, o artista César Bahia carrega seu cinzel de ironia, crítica social e do grito por respeito e igualdade. 

"Uma Estática do Recomeço", exposição em cartaz no MAR, Museu de Arte do Rio, é arte altamente expressiva e extremamente forte e potente.

Uma mistura cáustica de África com Brasil, de rústico com barroco, de tradição com ruptura, de doçura com veneno, de beleza com agressividade.

Vale a pena dar uma conferida. A exposição fica no MAR, Museu de Arte do Rio, até 30 de julho.

Fique com algumas imagens da exposição e confira o serviço completo para visitação:


Belíssima cabeça africana

Muitas simbologias na arte de César Bahia

Divindades e orixás
saudados na obra do artista

Exus e outras entidades também

Máscaras que unem reverência e provocação




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exposição "Uma Estética do Recomeço", de César Bahia
local: Museu de Arte do Rio - MAR
Praça Mauá, nª5 - Centro (Rio de Janeiro)
período: até 30 quinta a domingo, das 11h às 17h
ingressos: R$20,00 (inteira) / R$10,00 (meia-entrada)




por Cly Reis

domingo, 11 de junho de 2023

Exposição “ÀMÌ: Signos Ancestrais” - Espaço Cultural Arte Sesc - Rio de Janeiro/RJ (16/05/2023)

 

Foram poucos dias de visita à minha família naquela que é minha segunda cidade, Rio de Janeiro, mas de uma programação cultural significativa. Teve show, feira, bares, passeios, flâneur e, claro, exposições de arte. Dentre elas, uma que juntou mais de um desses atrativos: após uma caminhada pelas ruas entre o Cosme Velho, a Laranjeiras e o Flamengo, minha mãe e eu fomos parar no charmoso Espaço Cultural Arte Sesc, novo espaço cultural do Rio ao qual já saí de Porto Alegre com intenção de conhecer. Minha mãe, já tinha ido ao bistrô tempo antes, mas não às salas expositivas, que guardavam uma rica surpresa para nós: um encontro com as nossas raízes pretas na bela mostra tripla “ÀMÌ: Signos Ancestrais”.

Antes de mais nada, vale, contudo, conhecer o próprio espaço em si, mesmo que não se almeje ver alguma exposição. Instalado num belo casarão em estilo Eclético construído em 1912, o Espaço Cultural Arte Sesc foi a moradia do empreendedor tcheco Frederico Figner, pioneiro da indústria fonográfica no Brasil e fundador da Casa Edison e da Odeon, a primeira gravadora musical do país (olhe só esses reencontros com aquilo que a gente gosta). Originalmente denominada Mansão Figner, a edificação representa ideais da época em que o Rio de Janeiro era a capital do país, sendo uma das mais relevantes e significativas casas de natureza residencial que integram o patrimônio arquitetônico da cidade.

A bela casa estilo
Eclético do novo espaço
cultural do Rio
Mas voltando à exposição. Ou melhor: tripla exposição. A partir da palavra “ÀMÌ”, que designa “signo” e “símbolo” na língua yorubá, os jovens artistas Guilhermina Augusti e Raphael Cruz valem-se da brilhante e referencial obra do baiano Emanoel Araújo, um ícone da arte brasileira e negra no Brasil, para traçar um diálogo revelador e propositivo. Trazidos da África para o Brasil no século XIX, o povo de origem nagô, antes residente abaixo do deserto do Saara, possuía uma riqueza de ritos, cultos, pensamento matemático que acabaram sendo incorporados ao Brasil como partícipes da cultura nacional. É desta riqueza ancestral que Araújo sempre desvelou raízes e signos afrodescendentes.

As divindades do Candomblé estão identificadas seja na figuração quanto na abstração, em que os artistas assumem um lugar de representação e representatividade. Instigante, a obra de Guilhermina coopta essa divindade para uma realidade mais urbana e moderna, colocando neste panteão personagens pretos como Madame Satã, Yêdamaria e Arthur Bispo do Rosário na sequência de serigrafias. Ela também instiga a reflexão no díptico “Noite Eterna”, em que o machado de Xangô sustenta seu povo, seja no dia ou na noite, quer dizer, na eternidade. Interessante também o painel de Cruz, transversalizando a arte urbana do seu bairro, Irajá, família, ancestralidades e musicalidades afrorreferenciadas.

Mas, evidentemente, o grande impacto fica por conta da seção destinada a Emanoel Araújo. Falecido precocemente no ano passado, este intelectual nascido na terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia, Santo Amaro da Purificação, foi escultor, desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo. Suas obras tensionam tridimensionalidades que dialogam com construções totêmicas africanas num conjunto de dogmas retrabalhados e reinscritos em um novo lugar: na diáspora afro-brasileira. É o que se vê na assombrosa capacidade de síntese que suas peças deflagram, caso da impactante “Exu”, montada a partir de elementos não apenas artísticos mas, antes de tudo, totêmico: espelhos, miçangas, cabaças, conchas, pregos e ferro. Em sua concepção que amalgama pesquisa em profundidade e sentimento de identidade, a técnica se reveste de simbologia.

O curador da mostra se refere à Araújo dizendo que este “observa e reflete a África em dimensões contemporâneas, pensa a travessia dos signos, registra o povo negro com amabilidade e doçura, raras nas interpretações violentas e caricatas de então, direcionando-se, também, à percepção de si como um homem negro afrodiaspórico”. “Relevo” (madeira e tinta automotiva), “Xangô” (madeira, tinta automotiva, vidro, machado, máscara e miçangas) e “Sem título” (madeira policromada) trazem isso com absoluta coesão. Neste aspecto, a arte de Araújo remete às composições geométricas de um de seus mestres, o conterrâneo Rubem Valentim – com quem há paralelo, inclusive, em outra exposição que visitei, no Casa Roberto Marinho. Os símbolos e emblemas afro-brasileiros de Valentim reaparecem revisitados e ressignificados em Araújo.

Confiram, então, algumas fotos e vídeos da exposição e do espaço:

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Entrando na sala expositiva


Arte urbana de Raphael Cruz no Arte Sesc

Guilhermina Augusti e suas novas divindades

A eternidade do machado de Xangô 

A fascinante obra de 1985, mais antiga da mostra

A densa "Exú", de Emanoel Araújo

Outra obra divina de Araújo

Detalhe da madeira policromada

Os dois flâneurs do Rio encerrando o passeio na exposição

E este blogueiro em frente ao mural do Arte Sesc


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Exposição "ÀMÌ: Signos Ancestrais"
local: Espaço Cultural Arte Sesc
Av. Marquês de Abrantes, 99 - Flamengo (Rio de Janeiro)
período: até 31 de outubro de 2023
horário: de segunda a sábado, das 12h às 19h
ingressos: Gratuito


Daniel Rodrigues

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Exposição "Um Defeito de Cor" - Museu de Arte do Rio - MAR (14/05/2023)











"Quando não souberes
para onde ir,
olha para trás
e saiba
pelo menos
de onde vens"





Programa de Dia das Mães foi passeio no Museu de Arte do Rio com a coroa. Tivemos a oportunidade de visitar diversas exposições, espalhadas pelo amplo espaço do MAR, das quais falaremos aqui no ClyArt, oportunamente, mas num primeiro momento vou me ater à maior delas, àquela de destaque no espaço, a mostra "Um Defeito de Cor", mostra coletiva, inspirada no livro de mesmo título, contando com mais de 100 artistas com foco na negritude e em todas as suas nuances, desde a sua influência, sua inegável contribuição cultural, à resistência da sociedade branca de ontem e hoje, o amordaçamento, a discriminação, e o genocídio preto nosso de cada dia.
Uma exposição linda, muito intensa e comovente, seja pela beleza, seja pela denúncia. Enfim, um programa que não faz o visitante passar indiferente. Escancara, como diria o poeta, "a dor e a delícia de se ser o que é".

Fique, na sequência, com algumas imagens da exposição:


Já, de cara, a impactante instalação que denuncia a morte de crianças pretas.
"80 peças de roupa, 8 balas, 40, fio de nylon", de Priscila Rezende

Série de xilogravuras de Caribé

A tapeçaria "Diáspora", do artista J. Cunha

Esculturas que remetem ao poder, à luta e a religiosidade negra

A belíssima "Mulher Pássaro", de Nádia Taquary

E da mesma artista, " Mulher Peixe"


Belíssimos registros de Pierre Verger


A alegria, o samba, a musicalidade 
no lindíssimo "Fim de Tarde", de Wallace Pato

Os orixás representados em bonecas

Paisagem da Bahia, de Milton da Costa

Série de "Afrocolagens", de Silvana Mendes

Objetos e artefatos africanos

Belíssima instalação com inspiração na areia e no mar

Uma vista mais ampla da segunda sala da exposição

Expressiva escultura em madeira


"Bananal", da pintora Djanira

Belíssima pintura representando o Mercado de Peixes


Instalação coletiva "Fundamento"

Fantasia carnavalesca, de Alexandre Louzada e André Rodrigues
da Escola Beija-Flor de Nilópolis

Pequenos ídolos em metal, de autoria desconhecida

"Grupo", escultura de Maurino Araújo

A fortíssima "Insondável Mistério", de Nádia Taquary,
que compõe um conjunto com outras pinturas e instalações

Este seu blogueiro, documentando a exposição





Cly Reis

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Exposição "Um Defeito de Cor"
local: Museu de Arte do Rio
Praça Mauá - Centro (Rio de Janeiro)
período: até 27 de agosto de 2023
horário: de terça a domingo, das 10h30min, às 17h
ingressos: R$20,00 (inteira) / R$10,00 (meia-entrada)