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quinta-feira, 1 de abril de 2021

"Malcolm & Marie", de Sam Levinson (2021)




Minha relação com o filme é a mesma do casal Malcolm e Marie: amei, porém perdi a paciência várias vezes. Muito repetitivo...
O cineasta Malcolm (Washington) e sua namorada Marie (Zendaya) voltam para casa após a festa de lançamento de um filme para aguardar o iminente sucesso de crítica e financeiro. A noite, de repente, toma outro rumo quando revelações sobre o relacionamento começam a surgir, testando a força do amor do casal.
Embora as atuações passem muita verdade, sejam intensas, senti Zendaya muito solta com sua personagem, enquanto Washington, ainda que não esteja ruim, dá umas exageradas, o que talvez tenha sido orientação do diretor Sam Levinson, mas o fato é que não se vê muito evolução em seu personagem. O fato do longa ter apenas esses dois personagens, faz render belíssimos diálogos, mas, por outro lado, também torna o filme repetitivo e, às vezes você se perde sobre o que o casal está discutindo, pois a todo momento há um novo motivo. Chega um determinado momento que a gente nem sabe mais como aquilo começou e qual a razão daquela discussão. Como falei, as atuações estão bem fortes, o longa tem muito espaço para diálogos, os atores se entregam e quando clima esquenta você sente o filme ganhar força, bem como quando ele para e fica reflexivo, e então você aproveita para ver a belíssima fotografia.
“Malcolm & Marie” aposta muito nos elementos teatrais, nos diálogos, nas atuações, na doação dos atores, e, apesar de ser repetitivo, ele acerta. O grande destaque é Zendaya. Seu talento transborda em cenas como a da faca, delirando totalmente, ou a da banheira, na qual quase não fala nada, mas conseguimos sentir tudo que ela está sentido.
Discursos fortes, atuações intensas, metalinguagem criticando críticos de cinema, questionamento do cinema arte, “Malcolm & Marie ” é muito mais que uma DR de casal, embora, indiscutivelmente, seja, sim, uma grande DR.

Intensos, pura emoção, quase zero de razão.

 


por Vagner Rodrigues 

sábado, 10 de agosto de 2024

"Rivais", de Luca Guadagnino (2024)

 



Tudo é tênis.

Tudo é relacionamento.

Tênis é relacionamento.

Relações se confundem com o jogo e o  jogo tem o poder de excitar, despertar desejo.

"Rivais" é tênis, é relacionamento, é um estranho triângulo amoroso entre três tenistas envolvidos desde a adolescência.

Enquanto uma partida é jogada, flashbacks vão nos revelando quem são aqueles dois caras se enfrentando, e aquela charmosa espectadora inquieta na plateia.

Um deles, Art Donaldson, é hoje um tenista de sucesso, ganhador de torneios de Grand Slam, porém em má fase, jogando um torneio pequeno para voltar a vencer e recuperar a confiança; o outro, um tenista fracassado, Patrick Zweig, que podia ter ido além na carreira, mas que agora mal consegue pagar um café da manhã, que com o dinheiro da premiação do torneio pretende, pelo menos, conseguir um lugar onde dormir. Os dois, outrora amigos, parceiros de adolescência desde os tempos dos torneios de juniores, se enfrentam agora na final da modesta competição sob o olhar de Tashi, ex-tenista que teve que deixar as quadras cedo por uma lesão, atualmente esposa e treinadora de Art mas que já tivera também um passado com Zweig. Ou melhor, um passado compartilhado com ambos.

As três pontas do triângulo: Art, Tashi e Patrick.

A partida, que poderia simplesmente estar decidindo mais um troféu para ocupar espaço numa prateleira, uma grana para algumas diárias de Patrick em um hotel, ou uns trocados dispensáveis para Art, que ele daria de gorjeta, tem contornos maiores do que imaginamos inicialmente e que vão sendo esclarecidos ao longo da trama, numa edição ágil e muito envolvente.

Roteiro muito bem elaborado, ótimos diálogos, uma montagem impecável, cenas de jogo empolgantes, Zendaya numa atuação excelente, e tudo isso ao som de uma trilha sonora eletrônica alucinante do Nine Inch NailsTrent Raznor com seu parceiro para cinema, Atticus Ross.

Em "Rivais", adversários são amigos, amigos são namorados, inimigo é  amante, treinadora é esposa, vida é jogo, e tênis... é sexo.

Winner de Luca Guadagnino


"Rivais" - trailer



"Rivais"
Título Original: "Challengers"
Direção: Luca Guadagnino
Com: Zendaya, Mike Faist e Josh O'Connor
Gênero: Drama / Romance /Comédia
Duração: 131 min.
Ano: 2024
País: Estados Unidos


🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬🎬



por Cly Reis

quinta-feira, 24 de março de 2022

"Duna", de David Lynch (1984) vs. "Duna", de Denis Villeneuve (2021)


Uma substância valiosa e a disputa pela administração e a exploração desse produto no planeta onde ele é extraído está  no centro das ações de ambas as versões de "Duna". O duque Atreides é incumbido pelo Imperador para a tarefa de chefiar o planeta Arrakis, mas o que parecia ser uma honra e benefício mostra-se, na verdade, uma armadilha tramada pelo Império com os perigosos Hakkonen para eliminar o duque e seu filho, o jovem Paul Atreides que, gerado da relação com uma bruxa, tem atributos um tanto especiais que se acentuam ainda mais quando o jovem chega a Arrakis. Seus talentos, sua sensitividade, seus poderes que ele própro não domina completamente, mostram-se fundamentais, especialmente depois que seu pai é traído e morto pelos Hakkonen, e o rapaz, fugitivo, é obrigado a se isolar no deserto com sua mãe, se aproximando a cada momento, a cada passo, de uma profecia que anuncia um "escolhido" que liderará o povo de Arrakis e acabará com a tirania do Império.
Não estou entre os tantos que deploram a adaptação de David Lynch, de 1984, para o romance de Frank Herbert. O filme tem bom elenco, com Jürgen Prochnow, de "O Barco", Sean Young, de "Blade Runner", Max Von Sydow, de "O Sétimo Selo", Patrick Stewart, que viria  estrelar a saga "Star Trek", o astro pop Sting, e Kyle McLachlan que estrelava seu primeiro longa mas que seria, a partir dali, um dos atores preferidos de David Lynch. Os figurinos são incríveis, a direção de arte é bem impressionante, os cenários muito interessantes, a fotografia, na maioria das vezes, é bem competente, e além de tudo isso, a trilha sonora ficava por conta de Toto e Brian Eno.
O grande problema do filme de Lynch foi a parte técnica. Os efeitos especiais, para um filme de ficção científica e com o bom orçamento que teve, são, no mínimo decepcionantes. Mesmo se levando em consideração a época, as limitações técnicas, a primariedade de alguns recursos, eles são, em determinados momentos, quase risíveis. A armadura, por exemplo, que envolve o corpo dos guerreiros de Atreides, uma espécie de campo de força, é simplesmente ridícula. Uma animação geométrica constrangedora. E não me venham dizer que era o que dava pra fazer em 1984 porque, àquelas alturas, já tinham sido feitos três "Star Wars" (1977, 1980, 1983), "Blade Runner" (1982), dois "Superman" (1978, 1980), só pra ficar em alguns, com efeitos visuais muito mais impressionantes e convincentes.
Mas se ficasse limitado a isso, dava pra dar um desconto. A narrativa é apressada, tem muito texto narrado, o que, ao invés de ajudar, atrapalha mais a compreensão, e a última meia hora é atropelada e confusa. Aí, o resto de boa vontade que podia-se ter com o filme de 1984, foi pro espaço.
O que podia ser um gol contra a nova versão de "Duna", que é o fato de não acabar a história (não estou dando spoiler pois todo mundo sabe que vão rodar uma sequência), acaba sendo positivo pelo fato de não correr com a trama pra resolver logo, como fez seu antecessor. O novo "Duna" usa mais tempo mas desenvolve bem a história, sem presa, com paciência, sem precisar recorrer a uma narração explicativa durante todo o filme, e ainda dá mais profundidade e destaque a alguns personagens subutilizados no primeiro, aproximando-os do espectador. Colabora para isso, também, o elenco, igualmente muito qualificado, como no original: Oscar Issac, de "Ex-Machina" e da nova saga "Star Wars", Rebecca Ferguson, de Doutor Sono" e da franquia "Missão Impossível", Jason Momoa ("Aquaman"l), a veterana Charlotte Rampling ("Coração Satânico", "Melancolia"), a carismática Zendaya, dos novos "Homem-Aranha", e, capitaneado o time, o grande queridinho do momento, Timothée Chalamet, de "Me Chame Pelo Seu Nome" e "Não Olhe Para Cima", ente outros, no papel do "messias" Paul Atreides.
A parte técnica, então, que era o ponto fraco do outro, é exatamente uma das maiores virtudes do novo, com efeitos visuais e som espetaculares, não à toa indicados ao Oscar, além da fotografia, com seu visual sombrio e suas locações no deserto simplesmente impressionantes.

"Duna" (1984) - trailer


"Duna" (2021) - trailer


Elenco por elenco, vamos deixar no empate; protagonista por protagonista, também não vejo grande vantagem para ninguém; no entanto, na caracterização e desenvolvimento dos personagens, o remake salta na frente no placar. E, a propósito de desenvolvimento, o andamento do filme e sua estrutura garantem mais um para a nova versão. Os cenários e a direção de arte, os figurinos do primeiro garantem um tento para o time de 1984, contudo, a fotografia, magistral, do novo filme acabam com a alegria do antigo "Duna" que tem que buscar mais uma no fundo das redes. De um modo geral, os efeitos especiais do filme de Villeneuve são muito melhores, mais espetaculares e, sem dúvida representam um golaço para o time de 2022, embora tenhamos que fazer justiça para com os vermes do primeiro filme que também era muito impressionantes, mesmo para as limitações da época. Em compensação, o que os habitantes subterrâneos do deserto de Arrakis acrescentam de positivo, a tal armadura que envolve o corpo dos guerreiros, tira. Quase um gol contra.
Quanto aos caras da casamata, ou seja, os diretores, são dois maestros competentíssimos e, apesar de ser fã de David Lynch, tenho que reconhecer que, mesmo com um bom material humano, com um bom investimento, ele comete alguns erros que comprometem o desempenho final de seu time, ao passo que Denis Villeneuve conduz seu time com precisão, usa um esquema mais adequado para a situação de jogo e, assim, extrai o melhor de cada um de seus atletas.
Duna '84 foi indicado ao Oscar de melhor som mas sua refilmagem atual, além de ser indicada na mesma categoria, ainda recebeu nomeações para outras nove, incluindo melhor filme. Por aí já dá pra ter um pouco da ideia da diferença entre os dois filmes. Duna '21 está muitos anos-luz à frente.

Alguns pontos de comparação entre os dois filmes:
No alto, a Reverenda Madre da ordem das Bene Gasserit nas duas versões.
 original, à esquerda, mais requintada e exótica, e à direita, a nova, mais sobria.
Na segunda linha, o barão Hakkonen, o original típico das bizarrices de David Lynch,
o outro, mais sério, sinistro é mais fiel ao livro.
Em seguida, os vermes do deserto, a esquerda o antigo e à direita, o novo.
Apesar das deficiências dos efeitos visuais do primeiro filme, os vermes de David Lynch se salvam 
e até se destacam como uma das coisas boas do filme.
Em compensação o escudo virtual do primeiro filme, à esquerda, na quarta faixa, é lamentável,
enquanto o outro, da nova versão. é meramente discreto, mas funciona melhor visualmente.
E para finalizar, os dois Paul Atreides.
Kyle McLaclan, do primeiro filme, não decepciona e vai bem no papel e a derrota não passa por ele,
 bem como o queridinho do momento, Timothée Chalamet, que se não é brilhante , não compromete também. 






Cly Reis