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quinta-feira, 20 de julho de 2023

“Furta-Cor, de volta aos jardins", de Teresa Poester - Ocre Galeria - Porto Alegre/RS

 

"(O desenho) é um exercício de imprevistos, durante todo o tempo, lidando com a sorte ou o azar, ou seja, o acaso. Mas é também muito racional, porque saber lidar com este acaso, saber aproveitá-lo ou não a favor do resultado final, exige do conhecimento intelectual".
Teresa Poester

Fazia um tempo que não íamos Leocádia e eu a vernissages. Mas quando a oportunidade é de prestigiar artistas que gostamos e com os quais se têm relação afetiva, vale se programar. Foi o que fizemos na abertura da exposição “Furta-Cor, de volta aos jardins”, da artista visual gaúcha Teresa Poester, uma referência da arte no Rio Grande do Sul. Ex-professora da Escolinha de Arte da UFRGS de Leocádia, Teresa é alguém a quem nunca perdemos de vista. Anos atrás, em 2016, quando do lançamento do documentário sobre sua obra, “10.375 Km em Linha”, estávamos na avant-première. Temos uma Teresa original numa das paredes de nossa casa, para se ter ideia. Enfim, motivos não nos faltavam para pelo menos dar uma passada na Ocre Galeria, no Centro da cidade, para prestigiá-la e apreciar as obras.

Numa casa antiga e muito bonita, mas um tanto inadequada para espaço expositivo visto que muito estreita, conseguimos ver o que foi possível diante da circulação de bastantes convidados que foram fazer o mesmo que nós – alguns conhecidos e amigos nossos, inclusive. Mas do que deu para ver/fotografar foi aquele deleite característico que sua obra traz: uma fusão do desenho com a fotografia, cujo desenha opera em um percurso inverso ao tradicional: não desenha a partir de fotografias, mas fotografa a partir de seus desenhos de imaginação. 

Na exposição atual, a artista exibe desenhos inéditos, feitos no seu atelier na França, para o espaço da galeria, numa celebração aos 45 anos de sua intensa e contínua produção artística. O “furta-cor” do título, segundo Teresa, não se refere apenas às alterações de tonalidade conforme a luz que se projeta sobre a cor, mas também, “às cores furtadas de um mundo ameaçado que amanheceu cinza”, numa alusão ao período de isolamento social e às muitas dificuldades que assolam o mundo nos últimos anos. “De volta ao jardim”, assim, prenuncia o otimismo do retorno à vida social, à possibilidade de apreciar as cores, aos reencontros. Como os que foram promovidos naquela manhã ensolarada de amizade e arte.

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Rabiscos sobre foto ou foto sobre rabiscos?


Movimento na galeria para a abertura da exposição


Fusão entre desenho e foto


Várias obras em exposição


Em tons de azul, os riscados leves, uma marca da arte de Teresa


O casamento do desenho e da fotografia


Detalhe de uma das obras, que mostram o traço livre e riscado de Teresa


Nós dois com várias das obras ao fundo


Um rápido passeio por parte da exposição na Ocre


E uma seflie com a própria Teresa Poester

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Exposição "Furta-Cor, de volta aos jardins"
local: Ocre Galeria
R. Demétrio Ribeiro, 535 - Centro Histórico (Porto Alegre/RS)
período: até 22 de julho de 2023
horário: de segunda a sexta, das 10h às 18h, e sábados, das 10h às 13h30
ingressos: Gratuito


Daniel Rodrigues

terça-feira, 7 de setembro de 2021

“Escolinha de Arte da UFGRS (1960-2011): 51 anos de arte/educação”, de Flávia Leal - Ed. Appris (2021)



Arte em dois tempos

Quando cursei Cerâmica no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre com o mestre do barro e fã de João Bosco e Caetano Veloso, o querido Prof. Cláudio Ely, ouvi dele que uma ideia (ainda mais quando estamos falando em Arte), nunca aparece isoladamente na mente de um artista. O estalo ocorre em muitas pessoas que tem a mesma ideia, mas nem sempre tem a consciência do quanto estão interligadas, então se consideram num primeiro momento únicas e originais. Isso foi comentado numa aula no início dos anos 90, mais precisamente 1992, em que falávamos sobre autoria, originalidade e unicidade de uma obra de Arte. 

Logo depois, ainda na mesma década, vi o mundo iniciar as conexões em rede e aí cada qual foi descobrindo que suas ideias ecoavam ao mesmo tempo em outros cantos do planetinha azul, ainda mais quando se referiam a temas relevantes e universais voltados a coletividade. 

Em maio desse ano, quase 30 anos depois dessa reflexão do Prof. Ely, deparei-me com uma boa surpresa! Na mesma semana em que lancei o site "A Aventura de Criar os 50 anos da Escolinha de Arte do RS", falando sobre a pesquisa, filme e revista dos 50 anos da Escolinha de Arte do RS (1960-2010), outra pesquisadora lançava um livro sobre os 51 anos da mesma Escolinha. Sim, ambas pesquisadoras disponibilizavam em site e livro com um ano de diferença na história da Escolinha e 10 entre a feitura das pesquisas! 

Flávia Leal, a autora da nova pesquisa resultante do seu Mestrado na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), intitulado “Escolinha de Arte da UFGRS (1960-2011): 51 anos de arte/educação”, contatava-me para combinar gentilmente a entrega do seu livro. Recém publicado pela editora Appris, o lançamento seria na mesma semana em um encontro virtual com a sua mediação e a presença dos professores da Escolinha.

lançamento virtual do livro "Escolinha de Arte da UFGRS (1960-2011)"


O mais legal é que, logo no início da sua pesquisa, as únicas monografias com foco na Escolinha de Arte da UFRGS que ela encontrou foram a minha pela Feevale, que vocês já conhecem, e a da Mariana Ramos, pela UFRGS. A pesquisa da Mariana tem foco na prática do professor, pois ela estava cursando Pedagogia e fazia estágio em 2008 no Centro de Desenvolvimento da Expressão (CDE) em Porto Alegre, quando a escreveu. Aliás, é de lá do CDE que nos conhecemos. Já a minha pesquisa tem foco nos 50 anos da Escolinha e na produção da revista, filme e nas entrevistas com professores e alunos da Associação Cultural de Ex-Alunos do Instituto de Artes da UFRGS. A partir da leitura das nossas monografias, Flávia, como ela mesma diz no livro, teve a oportunidade de conhecer os olhares de duas pesquisadoras ligadas à Escolinha com olhares diferentes, uma como aluna e a outra como professora. Ela ressalta como isso foi relevante no seu processo de pesquisa:

“Assim, pude aprender mais sobre 
o objeto de minha pesquisa. A principal diferença 
entre o meu trabalho e o das pesquisadoras 
citadas é que ele se baseia, essencialmente, 
na análise de documentos, propondo-se a contribuir 
com uma perspectiva histórica da Escolinha.”

Acontece que a História da Escolinha não está separada de todos os processos que nela coabitam: a transformação dos alunos, a formação dos professores e a sua renovação e mudança também. A Escolinha é viva, pulsante e segue transcorrendo no decorrer dos anos, os fatos se relacionando em diversas esferas e abrangências, desde um ponto aparentemente isolado em uma cidade do interior do RS, mas altamente ligado à proposta da Escolinha de Arte do Brasil ou a outro país que levou a mesma filosofia adiante através do Movimento de Arte Educação. O que quero dizer é que as três pesquisas se interlaçam, falam entre si mesmas, independentemente do recorte acadêmico e metodologia da pesquisa, porque a Escolinha é esse oásis de oportunidades para o criar e o recriar-se. E isso é bom porque pontos de vista não aprofundados numa pesquisa aparecem mais contemplados noutra, enriquecendo a linha do tempo dessa história.  

O trabalho de Flávia, para fins de metodologia acadêmica, foi baseado em quatro pilares: o Ateliê, as Exposições, o Curso Intensivo de Arte-Educação (CIAE) e o Acervo. Em muitos momentos os depoimentos se repetem aos coletados por mim para o documentário “A Aventura de Criar”, porque a Escolinha marcou a vida dos professores e ex-alunos que por ela passaram e as histórias de cada um deles é única, sem outras versões, mesmo que os entrevistadores mudem. O livro mantém, em muitos momentos, pontos de emoção e de profundo reconhecimento pelo trabalho que as variadas equipes da Escolinha desenvolveram dentro da UFRGS o que é muito bom, já que a própria universidade pelo que eu soube nos relatos que coletei, nem sempre contribuiu muito para que esse espaço fosse mantido desde o seu início, o que gerava um esforço e uma constante luta das equipes que lá trabalharam para continuarem existindo. 

Gostei muito de ler no livro da Flávia outras informações sobre as cartas da pesquisa da simpática baiana Maria Dolores Coni Campos, a quem tive o prazer de visitar em 2009 no Rio de Janeiro. Na época, estava preparando a minha pesquisa para o filme quando pude entrevistá-la como uma das últimas vozes da Escolinha de Arte do Brasil, que conviveu com Augusto e Iara. E de quebra degustei um biju bem a moda baiana - Axé, Dolores! Ela afirmou aos gritos que a Escolinha de Arte do RS foi a que mais entendeu a proposta de Augusto Rodrigues, uma verdade incontestável! 

Curso Intensivo de Arte Educação para Educadoras
da SMED/Porto Alegre: da esquerda para direita
Cecília Machado Bueno, Maria Lúcia Campos Varnieri,
Eneida Moraes, Elton Manganelli, Sussy Possap,
Beatriz Noll e a Diretora da Creche da UFRGS/2011
Somam ainda ao livro de Flávia aspectos do CIAE que se manteve firme e forte até novembro/2011, quando realizamos um curso especial para a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (SMED), realizado na Creche da UFRGS e com as participação dos professores Maria Lúcia Campos Varnieri, Maria Beatriz Noll, Cecília Machado Bueno, Elton Manganelli e algumas participações de convidados especiais: Sandra Richter, Marília Fitchner e eu. Além disso, reforço o destaque especial à importância que Flávia oportunizou ao Acervo da Escolinha de Arte da UFRGS que serviu de base a sua pesquisa através de 214 documentos consultados no Acervo Histórico do Instituto de Artes da UFRGS e disponível a todos os pesquisadores interessados. 

Ao final do livro Flávia faz menção aos desdobramentos que podem ocorrer estimulando assim outros pesquisadores a seguirem em frente, em novas pesquisas. Entre essas sugestões, destaquei algumas que resultariam num material para a linha de tempo da Escolinha extremamente relevante e que teço alguns comparativos com o que encontrei na minha pesquisa: Analisar o papel de outros professores e áreas da Escolinha, como a música e o teatro, em minha pesquisa ficou notória a participação de áreas como o teatro, a música, a psicologia que dialogavam entre si, desde a criação da Escolinha; Analisar o acervo de 15 mil desenhos e pinturas dos alunos da Escolinha; esse ponto foi enfatizado por Maria Lúcia Varnieri inúmeras vezes, pois é o mapeamento do desenvolvimento de cada aluno em etapas diferenciadas de expressão, possibilitando aos professores compreender quais os avanços ela faz através da sua própria expressão; Pesquisar sobre o Movimento das Escolinhas de Arte no Rio Grande do Sul, estado onde a proposta de Augusto Rodrigues teve maior adesão no país; bem sobre esse ponto já comentei e, sem dúvida é o estado que mais alicerçou a filosofia da Escolinha sonhada por Augusto e desenvolveu parte das ações por ele esboçadas, ainda há muito o que construir. Com certeza serão ótimos temas para seguir completando com outras vozes a História da Escolinha! 

Dez anos após eu escrever a pesquisa "A aventura de criar: 50 anos da Escolinha de Arte do RS" e visitar as mesmas pessoas e ambientes por onde Flávia esteve recentemente, fiquei feliz com a continuidade e o diálogo mesmo sem nos conhecermos promovemos, através da pesquisa e da leitura, uma da outra. A arte se fez em dois tempos, no meu e no dela e quem ganha são os pesquisadores, os educadores e a sociedade em geral. Somamos histórias e reforçamos pontos dentro desse tempo que não vivemos presencialmente, enquanto a maior parte dos fatos acontecia, mas que nos envolveu e nos levou a buscar mais dados com quem os viveu profundamente. A força da Escolinha nos levou a compartilhar com todas as pessoas possíveis os resultados do que escutamos, descobrimos ou nos revelaram. Além disso, compartilhar aquilo que vivemos como indivíduos tocados pela sua proposta. 

Agradeço a Flávia pela consulta e inserção da minha pesquisa em diversos momentos da sua tese e me arrisco a provocar junto com ela, novamente os pesquisadores a buscarem quem sabe um novo olhar sobre a Escolinha. A Escolinha foi “um espaço de desenvolvimento das potencialidades e da liberdade de expressão, com o intuito de formar pessoas mais sensíveis, livres, criadores e críticos”, como afirma Flávia na sua análise final e eu assino embaixo. Então, quem sabe seja interessante escutar também essas pessoas em outras pesquisas? Quem sabe há muitos indivíduos espalhados pelo mundo, pelo nosso país, no nosso bairro,  transformando as vidas de outras pessoas através da filosofia da Escolinha exercendo tudo aquilo que aprenderam em seus variados ofícios? A Escolinha tem na sua essência essa força social e libertadora de promover transformação de cada pessoa, e se isso der em Arte, melhor ainda, mas nunca foi uma condição única.  

Finalizo essa pequena reflexão com um fragmento de uma entrevista de Teresa Poester, que foi minha professora e a quem tenho uma admiração imensa, ao jornal Zero Hora (2005), extraída para o livro de Flávia quando ela fala sobre a filosofia da Escolinha e numa de suas maiores porta-vozes que sempre acreditou no poder transformador da arte, Iara de Mattos Rodrigues (Iarinha, como a chamavam na Escolinha). O que Teresa afirma continua sendo essencial em nossas vidas, em nosso planeta. Ao citar Iarinha, está alertando a cada um de nós sobre a forma com a qual agimos, colaboramos, sentimos e convivemos uns com os outros. O recado é direto e muito atual: 

“Pessoas como Iara são, lamentavelmente, 
cada vez mais raras; não vivemos 
uma época de paixão, mas de um pragmatismo 
crescente. É preciso, pois, aproveitá-las. 
Deixam marcas profundas. São como crianças, 
não sabem mentir. São incômodas, 
malcriadas, ternas e teimosas. Resistem.”  

Vamos seguir em frente somando iniciativas e resistindo sempre juntos! Obrigada Beatriz Noll, Teresa Poester, Marilice Corona, Maria Lúcia Varnieri, Gení Mabília, Jailton Moreira, Élida Tessler, Eneida Moraes, Cecília Bueno e Elton Manganelli (in memoriam) e tantos outros por tudo o que nos oportunizaram nesses 51 anos de Escolinha da UFRGS. Toda a minha, gratidão! 


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Escolinha de Arte da UFGRS (1960-2011): 51 anos de arte/educação"
de Flávia Leal
Ed. Appris (2021)
1ª edição
R$49,50 (impresso)
www.editoraappris.com.br 


Leocádia Costa

terça-feira, 30 de junho de 2015

Visita guiada à exposição “A Aventura de Criar” - Galeria Espaço Cultural Duque - Porto Alegre/RS (27/06/2015)









Leocádia explicando aos visitantes da mostra
sobre a Escolinha de Arte
Acompanhei – e fotografei – a visita guiada conduzida por Leocádia Costa pela exposição da qual ela é curadora, “A Aventura de Criar”, na Galeria Espaço Duque. Foi a segunda ocorrida durante o período da mostra, que segue aberta até o dia 18 de julho. Público interessado e muitas informações interessantes pinçadas por Leocádia que fizeram da visita um acontecimento agradável e pedagógico. Além de passar pelas obras de cada um dos artistas em exposição (Ado Malagoli, Alice Soares, Alice Brueggemann, Ângelo Guido, Augusto Rodrigues, Cristina Balbão, Fayga Ostrower, Fernando Corona, João Fahrion, Plinio Bernhardt, Romanita Disconzi e Teresa Poester), todos ligados de alguma forma à Escolinha de Artes do Rio Grande do Sul, os visitantes puderam, ao final da fala explicativa, assistir ao filme-documentário dirigido por Leocádia em 2010, quando do aniversário de 50 anos da hoje infelizmente extinta Escolinha. Bom programa para um sábado à tarde, que àqueles que não foram, dá tempo ainda de conferir.


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Diante dos quadros de Augusto Rodrigues,
idealizador da Escolinha
"A Aventura de Criar", vários artistas ligados ao Instituto de Artes do RS e da Escolinha de Artes da UFRGS
onde: Galeria Espaço Cultural Duque (R. Duque de Caxias, n° 649 - Centro/POA)
quando: até 18 de julho, segunda a sábado, das 18h às 20h
entrada: gratuita

curadoria: Leocádia Costa





terça-feira, 19 de maio de 2015

Quadrinhos no Cinema #2 - "Superman - O Filme", de Richard Donner (1978)


O primeiro grande herói
por Vagner Rodrigues



Um personagem clássico, um elenco clássico, uma trilha sonora clássica, efeitos clássicos, um verdadeiro clássico do cinema, uma obra única, que abriu caminho para os super-heróis nos grandes estúdios.
O planeta Krypton está a beira de explodir e para salvar seu filho, Jor-El (Marlon Brando) o envia a um outro planeta onde ele possa sobreviver e crescer forte e feliz. Esse planeta é a Terra e esse garoto é Kal-El. Agora adulto usa o nome que seus pais adotivos lhe deram, Clark Kent (Christopher Reeve), e após passar um longo período na “Fortaleza da Solidão”, para conhecer mais sobre o seu passado, (o motivo deste autoexílio foi a morte de seu pai adotivo) após anos de estudo, ele decide retornar a sociedade, agora com uma missão, para ele um dever. Ao mesmo tempo que Clark é um desajeitado jornalista, torna-se o Superman, utilizando seus poderes sobre-humanos para ajudar o povo de Metrópolis, Com o decorrer do filme surge seu principal inimigo, Lex Luthor (Gene Hackman), um homem ambicioso, que não vai medir esforços para crescer no ramo imobiliário (é isso mesmo, esse é o seu objetivo).
Superman e Clark
Christopher Reeve fez o papel de sua vida, consegue fazer dois personagens no mesmo filme, Clark e Superman, que são completamente diferentes. Claro teve a maquiagem ajudou, mas diria que 99% dessa diferença vêm de sua atuação. Clark é tímido e cômico, um personagem que sentimos pena e simpatia. Esconde-se atrás de seus óculos e seu andar curvado, e parece que realmente não querer ser notado, já Superman é um escoteiro nato, o bom rapaz, parece estar sempre no lugar certo na hora certa para ajudar, e sem cobrar nada, faz porque acha justo. Sem falar no seu porte atlético e belo rosto, tudo isso somado aos seus poderes, o tornam um símbolo da cidade. E ele sabe lidar muito bem com tudo isso.
Os outros personagens foram bem representados, mas não também como Superman. Lois Lane (Margot Kidder), a repórter do Daily Planet, é o par romântico do nosso herói.  Lois é “uma mulher prafrentex”, independente, que tenta resolver os problemas sozinha, como boa repórter, sempre procura uma boa matéria, o que acaba a colocando em algumas situações de perigo. O que ficou exagerado em Lois é a questão da sexualidade. No filme ela é uma tarada, como diria Dona Bela (escolinha do Professor Raimundo)“Ela só pensa naquilo”. A principal cena que mostra que Lois não consegue se controlar, é quando ela recebe a visita do Superman em sua casa e pede para ele mostrar seus poderes. Ela poderia pedir qualquer coisa, tipo “me leve para dar uma volta voando” (eles até fazem isso, mas a ideia foi dele),  mas o pedido da moça é “você pode dizer qual a cor da minha roupa intima?”, perguntando sobre sua visão de Raio X.  Podemos dizer que o maior desafio de Superman foi resistir às investidas de Lois Lane ao longo do filme, mas no final ele acaba cedendo, provando que nem o “Homem de Aço” é feito de aço (boa piada!).
Nossos vilões planejando mais algum plano maligno.
Tenho que falar também de Lex Luthor (Gene Hackman), o grande vilão do filme e o maior inimigo das HQ’s do Superman. O personagem, embora esteja bem no filme, seu plano, assim como nas as HQ’s não era sair na porrada com o Homem de Aço, mas sim algo mais pensado e bem trabalhado (Tá, não tão bem pensado assim). Infelizmente assim como Lois, Lex Luthor também acaba caindo nos exageros, no seu caso, ele quase passa de vilão para o alívio cômico do filme. Junto com Otis (Ned Beatty), seu braço direto e Eve Teschmacher (Valerie Perrine) compõe uma trio de trapalhões. É engraçado? Sim, mas com o passar do filme vai ficando exagerado e às vezes o número de cenas cômicas os envolvendo torna-se desnecessário.
"Superman" é um filme incrível (não é um excelente filme, pois seu final tem uma solução, que só vendo para crer), obviamente tem os seus defeitos, mas suas qualidades e sua importância são muito maiores. Sua importância para os filmes de quadrinhos é enorme, por um motivo simples: o respeito da adaptação pelo espirito dos quadrinhos. O roteiro é simples, a trama quase não tem ação, as pessoas acostumadas com os filmes de Super-Heróis de hoje, podem ficar desapontadas, mas é o que o filme que precisava ser, foi feito na época certa, e foi a obra definidora do Super-Homen nos cinemas.
Você que já leu alguma HQ do Homem de Aço daquela época, sabe que o que os quadrinhos não apresentavam a violência que vemos hoje no cinema hoje. O romance de Lois e Clark (Superman) ficou ótimo, o toque de comédia também é muito bom, os efeitos especiais, embora datados, se sustentam até hoje, por que você tem que analisar como um filme de 1978, e aí os efeitos são grandiosos, você acredita mesmo que um homem pode voar, como dizia o slogan do filme. E o ponto alto é a trilha sonora do incrível, John Williams, o tema que ele criou não é só o tema do filme, mas sim o tema do SUPERMAN.
Para concluir, ficam meus parabéns pela direção de arte, para a direção, pois Richard Donner estava muito bem, e o elenco que abraçou bem os personagens, principalmente o saudoso Christopher Reeve que foi fantástico, eterno Superman...  Agora sobe O TEMA DO SUPERMAN!!!
A bela cena do voo noturno (depois disso o Superman levaria Lois às nuvens mais algumas vezes)

domingo, 17 de maio de 2015

Exposição “A Aventura de Criar” - Galeria Espaço Cultural Duque - Porto Alegre/RS (12/05/2015)










A curadora e a obra de Augusto Rodrigues, de seu acervo próprio
Tive a felicidade e o privilégio de presenciar – e fotografar! – a abertura da exposição “A Aventura de Criar”, na Galeria Espaço Cultural Duque, em Porto Alegre. Isso porque a curadora é ninguém mais, ninguém menos, que minha amada Leocádia Costa, costumaz colaboradora do Clyblog. Desta vez, a sensível fotógrafa usou suas habilidades de arte-educadora e produtora cultural para montar essa mostra que reúne obras de artistas e educadores que participaram da história do Instituto de Artes e da Escolinha de Arte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esta última, com mais de 50 anos de existência e pela qual passaram diversos artistas consagrados das artes do Rio Grande do Sul e de outros estados.
Tela do precursor da arte-educação,
Augusto Rodrigues
A ligação emocional, profissional e artística que Leocádia tem com a Escolinha vem de bastante tempo. Resultado do seu trabalho de conclusão  para a Especialização em Arte-Educação na Feevale, em 2011, a mostra “A Aventura de Criar” é uma materialização daquilo que só estava no papel até então, considerando também o filme que ela dirigira para o cinquentenário da Escolinha e o período em que esteve lá dentro. Isso, graças ao fato de a proposta dela no Curso de Curadoria, ministrado por José Francisco Alves ano passado no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, ter essa temática e ser uma das três escolhidas para a montagem de uma exposição. Deu nessa mostra, que, na prática, funcionou realmente muito bem.
O traço delicado de Alice Soares em três quadros
Estão ali obras de: Ado Malagoli, Alice Soares, Alice Brueggemann, Ângelo Guido, Augusto Rodrigues, Cristina Balbão, Fayga Ostrower, Fernando Corona, João Fahrion, Plinio Bernhardt, Romanita Disconzi e Teresa Poester. Todos feras. Espacialmente, foram divididos, nas duas compridas paredes do segundo piso da galeria, obras dos artistas homens de um lado e mulheres do outro, as quais se interpõem apenas quadros do mais feminino deles: o pernambucano Augusto Rodrigues, principal difusor da Arte-Educação no Brasil. Dele, são quatro obras: um desenho, uma pintura e duas serigrafias, sendo uma delas a única do acervo pessoal de Leocádia. Ainda, a mostra traz sete obras convidadas da artista Cecília Machado Bueno, falecida no ano passado, arte-educadora dedicada cuja arte (basicamente desenho) é de visível delicadeza. A renda obtida com a venda dos quadros dela será revertida para a Associação De Peito Aberto, na qual, entre outras atividades, era voluntária pelo calendário anual da entidade.
De resto, todas as obras, à venda, pertencem ao acervo da Galeria Duque. E tem maravilhas. Ao mesmo tempo, a exposição homenageia a Escolinha de Artes, seus principais artistas e educadores e dá um panorama da diversidade de estilos e referências de cada um. Ainda, evidencia a rica variedade de técnicas desses artistas, que datam desde os anos 50 à década atual. É o que se vê nas três selecionadas de Alice Soares: uma pintura, uma xilogravura e um desenho a grafite. Nas quatro de Alice Brueggemann e de Fayga Ostrower, também: total domínio e multiplicidade de técnicas.
Obras de Cecília Machado Bueno, 
homenageada especial da exposição
Merecem destaque ainda o trio de telas de Plinio Bernhardt, com sua temática tradicionalmente picante aliado à grande expressividade, dois desenhos lindos de Cristina Balbão – um deles, “Borracha”, que reproduz em tamanho natural o rosto de um negro –, dos mais antigos entre os selecionados, um vistoso óleo sobre tela de Ado Malagoli, autor que também foi contemplado com uma sensível litogravura chamada “Pomba”.
Haverá duas visitas guiadas com a presença da curadora e do colecionador e proprietário da Duque,  Arnaldo Buss, agendadas para final de maio e para julho, além da apresentação da pesquisa de Leocádia, no próximo dia 6. Porém, independente dessas datas, vale a pena visitar a mostra. E olha que não é parcialidade minha: “A Aventura de Criar” está realmente muito interessante, tanto pela importância do tema que aborda quanto pela qualidade das obras e do recorte curatorial que foi empregado. E como desta vez foi com isso e com a recepção aos vários convidados e amigos que prestigiaram a abertura que Leocádia teve que se preocupar, a maioria das fotos ficaram a cargo da minha pessoa mesmo.



Movimentação na galeria na abertura da mostra


A fotógrafa Iris Borges foi prestigiar

A também fotógrafa Tânia Meinerz esteve lá

Arte e desejo nos quadros de João Fahrion

Carolina Costa foi conferir as flores de Cecília Machado Bueno

Loecádia Costa com as historiadoras
Luísa Khul Brasil e Luciana de Oliveira

Leocádia e a arte-educadora Maria Lúcia Varnieri,
autora do texto de apresentação da exposição

Alice Brueggermann e a força de sua arte
em quatro quadros

Publico interessado n'Aventura de Criar

Galeira movimetada




fotos: Daniel Rodrigues, Carolina Costa e

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"A Aventura de Criar", vários artistas ligados ao Instituto de Artes do RS e da Escolinha de Artes da UFRGS
onde: Galeria Espaço Cultural Duque (R. Duque de Caxias, n° 649 - Centro/POA)
quando: segunda a sábado, das 18h às 20h
entrada: gratuita
curadoria: Leocádia Costa

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

COTIDIANAS #341 ESPECIAL NATAL - A Namorada do Papai Noel



- Ho, ho, ho! Eu conheço essa moça boniiiiita! – disse o Bom Velhinho com a voz abafada pela volumosa barba branca que caía sobre a boca.
Distraída com uma vitrine, a moça, realmente bonita, nem percebeu que era com ela.
A criançada em volta, excitada, fazia a maior algazarra, pois iriam tirar fotos com o Papai Noel. Haviam ido ao shopping com seus pais especialmente para isso. No entanto, o calor que fazia lá fora era tanto, mas tanto, que o ar condicionado, lá dentro, não dava conta, ainda mais com a superlotação típica de dezembro. Todo ano era a mesma coisa. Suando rios por debaixo daquela roupa vermelha pesada e do enchimento para parecer mais gordo, ele, no tom de vovô animado, insistiu:
arte:Cly Reis
- Ei, menina da rua Mem de Sá, do bairro São Sebastião, você não está vendo que o Papai Noel está falando com vocêêêê?
Ela, vestida num charmoso e casual vestido verão, levou um susto tão grande que virou de costas e quase se desequilibrou no salto da sandália que calçava lindamente. Voltou-se para ele bastante surpresa, pois jamais esperava por aquilo. Quem também não esperava eram as crianças, que ficaram, literalmente, boquiabertas com a cena.
- O... oi... é você, Chri...?, perguntou ainda um pouco duvidosa querendo confirmar se era ele mesmo por detrás da roupa mas, percebendo em volta aqueles vários olhos de crianças abismadas mirando-a sem piscar, parou no meio a pronúncia do nome para não revelar-lhes a identidade do Papai Noel.
Christiano, no entanto, notou o tom de interrogação da frase inconclusa, bem como a consideração que ela teve para com os pequenos em seu encantamento lúdico (“Típico dela”, pensou orgulhoso). Tanto que respondeu:
- Sou eu... siiiiim! Ho, ho, ho! Como você está, Veronicaaaa!
- Cara, você viu: ela conhece o Papai Noeeeel!! – disse hiperimpressionada uma das crianças à outra, mas baixinho para não interromper a inusitada conversa.
- Estou bem, estou bem... Surpresa em te reencontrar... Papai Noel, assim... depois de tantos anos.
- Siiiiim! Há quantos anos eu não via essa moça boniiiita! Faz quanto tempo mesmo?... Viram, crianças – disse, tentando participá-las –, essa moça NUNCA deixou de acreditar no Papai Noeeeel, mesmo depois de tantos anos sem me ver, sem ganhar um presente meu no Natal...
Ela sorriu olhando para baixo, encabulada e com graça infantil.
- Agora você é um Papai Noel, então? Eu virei administradora; sou Gerente de Treinamentos.
- Que legal... – soltou, meio embasbacado – Então a moleca que se pendurava em árvore se transformou numa alta executiva?
- Alta, não, rsrs. Executiva. Às vezes nem sei onde foi parar a menina travessa que brincava “téti a téti” com os meninos e que voltava pra casa com os joelhos todos ralados de jogar bola com eles.
Riram juntos.
- E como vai aquela... “rena”, aquela com quem você vivia?... – indagou ela, pondo seriedade na expressão.
Ele entendeu tanto o código quanto a indireta:
- Aaaaahh! A “reeena”! Aquela que tinha o nariz vermelho! Ho, ho! – segurando a pança artificial para rir; encenando, claro – Aquela rena foi emboooora! Faz quase um aaaano. Nada de filhos. Me deixou, deixou o Papai Noel sozinho, lá no... “Polo Norte”. Que coisa, né, crianças? – virando-se para elas.
O que se viu foram apenas algumas cabecinhas sacudindo em sinal de “sim”, sem ousar dizer uma palavra. Fixos.
- Ah, é? Ela te deixou? – perguntou Veronica – Ela tinha mesmo o nariz vermelho quando ficava frio, que coincidência, rsrs. Percebi isso naquela vez em que a gente se topou na rua, naquele dia gelado, lembra? rsrs... Nossa, faz anos que aquilo aconteceu. Engraçado, comigo aconteceu algo bem parecido.
- O que, seu nariz também gelou?! – perguntou ele que, de tão interessado, deixou escapar sua voz de Christiano. As crianças se entreolharam, estranhando a reação do Papai Noel.
- Não, é que me separei também.
Dando-se conta que saíra do personagem, retomou a voz de velho estufado:
– Ah! Aconteceu o mesmo com você, entããão? Há quanto tempo iiiisso?
- Faz oito meses, Papai Noel, oito... Acho que era pra acontecer mesmo, sabe? As coisas já estavam ficando monótonas, chatas: de casa pro trabalho, do trabalho pra casa, sem nenhuma novidade, aquelas coisas. Acho que o amor foi se esgotando, sei lá... Fora isso, eu brinco que era um engenheiro; aí, você pode imaginar qual era a “pegada”, né: tudo certinho, tudo perfeito, nada fora do lugar...
- Ah, sei, ho, ho, ho! – riu sacudindo a pança de tecido com a mão, pois achou engraçado mesmo – Com o Papai Noel o motivo foi o contrário. A “rena” era também toda metódica, maniática até, e por isso não gostava dessa minha vida de ir aqui, ir ali. Você sabe, né: Papai Noel não pode ficar parado pra ganhar a vida. Tem que se reciclar, correr atrás. Um Papai Noel que se preze tem que viajar para todos os lugares, “levar presentes para as criancinhas”.
- Rsrs, imagino. Um por rotina, o outro por falta de rotina, certo?
Riram com cumplicidade mas, ainda sem jeito pela situação imprevista, caíram em um incômodo silêncio logo depois. As mães já mostravam certa impaciência, querendo sair com seus filhos de vez dali, embora estes estivessem tão encantados com o acontecimento que nem as importunavam mais para bater a tal foto.
- Lembrei bastante de você. Senti saudades, sabe... – confessou o Papai Noel, já não fingindo mais a voz – Faz quanto tempo daquilo?
- 12 anos. Eu senti saudade também.
- Foram tão bonitos aqueles cinco meses e meio, né? Pena que a gente era tão jovem e não deixou as coisas irem adiante. – arriscou falar, sentindo escorrer-lhe suores da toca às botas de neve.
- Pois é. Insegurança da juventude. A gente se conhecia desde pequenos, né? Desde que a gente tinha a idade dessas crianças aqui. Como a gente brincou junto, nossa! Só dava a gente lá no São Sebastião correndo, brincando de pegar, de esconde-esconde, jogando bola, subindo em árvore! Rsrs. Que coisa boa. A mãe não mora mais lá, sabia? Foi pra Cidade Alta. Vendemos a casa e ela foi para um apartamentinho do tamanho ideal pra ela agora depois que a casa ficou vazia. Meu irmão casou e foi pra Austrália. Tem um filho lá, meu afilhado. A mãe se aposentou. Eu me formei...
Depois de uma pausa reflexiva, prosseguiu:
Você não acha engraçado tudo isso que aconteceu e do jeito que aconteceu entre a gente? A gente cresceu junto, morou na mesma rua, frequentou a mesma escola, a mesma classe e só mais tarde que fomos namorar. Já homem e mulher. E foi tão rápido, nossa!... Foi bonito o nosso amor sim. Concordo com você. Aquele passado me emociona até hoje só de lembrar. Mas por muito tempo fiquei com ódio de você, sabe? Fiquei muito magoada. Principalmente, com a sua grosseria na hora da separação. Foi tão dolorido aquilo! Nem sei bem porque a gente se separou. Você sumiu e só fui te ver de novo naquele dia com a “rena”, na rua. Lembro que estava tão frio... E eu, embora estivesse acompanhada, fiquei muito triste, me fez tão mal aquilo... Depois, nunca mais soube de você, se você estava na cidade, na China ou, quem sabe... no Polo Norte. Mas, sabe, com o passar do tempo percebi que eu também tinha errado, que não foi culpa de ninguém, na verdade. E, olha só: aqui está você de novo na minha frente. Como são essas coisas da vida, né?
Veronica encheu os olhos d’água. As mães, até então num burburinho de irritação, agora se comoviam junto com ela.
Já as crianças continuavam sem entender nada.
- Foi bom ter te reencontrado, Papai... Noel. – retomou Veronica – Confesso que voltei a ser criança hoje. A gente se vê por aí, quem sabe, num outro Natal...
- É, quem sabe. Se você puder... digo, quiser, agora sabe onde pode me encontrar. Se eu estiver perdido no meio de um amontoado de crianças, é só falar com um segurança do shopping e pedir para falar com o Papai Noel que ele me recolhe para você, viu? – brincou, disfarçando a emoção.
Despediram-se e ninguém percebeu a lágrima que escorreu escondida pela barba e pelas sobrancelhas graúdas da fantasia, a qual, salgada e viscosa tanto quanto, se misturou aos fios de suor que, agora, nem incomodavam mais Christiano.
***
- Amor, não vai se atrasar pro trabalho.
- Não, meu amor, pode deixar. Já to saindo. Minha barba secou?
- Acho que sim. Pendurei no varal ontem. Quer que eu veja?
- Já to pegando aqui. – falou de uma peça para a outra do apartamento, porém sem gritar – Tá sequinha! Obrigado, meu amor. Vou lá, que tem um monte de gente me esperando.
- Isso, meu amor. Vai com Deus. Vai e faz o que você sabe fazer muito bem: encantar as crianças. Aliás, tem uma que tá esperando um beijinho seu antes de sair.
- Eu sei, eu sei. Já to indo.
Christiano pegou a mochila com o uniforme e os cadernos, pois após o trabalho ainda tinha a faculdade de Artes Cênicas que voltara a fazer depois de anos trancada. Foi até o quarto e parou à porta por uns segundos, numa prece de agradecimento. Depois, debruçou-se sobre a cama e lascou um beijo na bochecha gordinha do filho.
- O papai tá indo trabalhar, mas depois volta pra brincar de Papai Noel com você, tá?
O pequeno, com sono, sequer abriu os olhos, mas fez um “sim” com a cabeça de quem, certamente, registrara carinhosamente o aviso do pai.
Veronica e Christiano, mesmo não sendo católicos nem muito menos tradicionais, não cogitaram outra alternativa a não ser dar o mesmo nome do pai ao filho. Concebido numa chuvosa tarde do dia 19 de março há quase sete anos (que se completariam dali a dias), Christiano Locatelli Meireles calhou de nascer, irônica ou faltamente, num escaldante 25 de dezembro. Mas todos na escolinha o chamam pelo óbvio apêndice de sua alcunha: Júnior.

Veronica e Christiano aprenderam a nunca mais duvidarem das coincidências.