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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Música da Cabeça - Programa #149


Que tal um programa bem subversivo hoje? Então manda chamar Machado de Assis, Petra Costa, Franz Kafka, Glenn Greenwald, Bong Joon-ho, Jane Fonda e toda a galera que teima em pensar pro Música da Cabeça! Stevie Wonder, Lennie Tristano, Elton John, David Bowie, Lisa Stansfield e outros pervertidos também vêm com a gente. Sintoniza na Rádio Elétrica às 21h, e assume essa transgressão que tá dentro de ti. Produção, apresentação e "Macunaíma" de cabeceira: Daniel Rodrigues.

Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/

domingo, 22 de maio de 2016

"Histórias Extraordinárias", de Roger Vadim, Louis Malle e Federico Fellini (1968)



Três mestres do cinema adaptando a obra de um dos grandes mestres da literatura só poderia dar boa coisa. aliás,sendo Edgar Allan Poe o referido gênio das letras, não poderia dar boa coisa uma vez que inevitavelmente a história vai acabar em sangue, morte tragédia ou em qualquer outro aterrador desfecho. Roger Vadim, Louis Malle e Federico Fellini apropriam-se de 3 contos do soturno escritor norte-americano de sua notável coletânea "Histórias Extraordinárias" para compor esta admirável colaboração conjunta.
O francês Roger Vadim, muitas vezes mais lembrado pelas beldades com quem teve o privilégio (e, imagino, sobretudo o prazer) de ter sido casado, dirige a adaptação para "Metzengerstein" e grava sua marca particular à trama substituindo o jovem Frederique, recém elevado à condição de conde pela morte do pai, por uma mulher, aliás uma das referidas esposas, Jane Fonda, conferindo assim um toque muito sensual ao conflito de famílias tradicionais que é o fio condutor do conto de Poe. Atraída pelo primo da casa rival, mas orgulhosa e mimada, além de alimentada pelo ódio entre as famílias, a impulsiva e sórdida, Frederique toma uma atitude nada simpática com a propriedade dos desafetos vizinhos o que trará a ela uma consequência que nunca poderia imaginar.
Luis Malle aproxima-se mais do original de Allan Poe em seu "William Wilson", embora garanta por sua conta uma maior dramaticidade à situação mudando a confissão em carta, original do livro, por uma desesperada num confessionário. O conto estrelado por Alain Delon e que narra o drama de um homem atormentado desde a infância por um outro absolutamente igual a ele que lhe surge sempre como uma espécie de espelho moral de seu caráter desregrado, desonesto e devasso, traz também a sensualíssima Brigitte Bardot substituindo o original adversário de jogo do livro, um homem, na cena do carteado. A narrativa de Malle é ágil, dinâmica e precisa, fazendo crescer o interesse e o suspense da história até chegar ao final que, em suas mãos fica ainda mais dramático do que no livro.
A sinistra menina com a bola branca,
"visão" constante do atormentado Toby Dammit.
Mas o grande momento do filme fica para o final com a adaptação de "Nunca Aposte sua Cabeça com o Diabo", que nas mãos do mestre Federico Fellini ganhou apenas o nome de seu personagem principal, "Toby Dammit". Fellini, mais do que os outros dois diretores, dá um contexto todo diferente para o conto de Poe. Toby Dammit (Terence Stamp) é um astro de cinema decadente e perturbado que vai a Roma participar de uma premiação e lançar seu novo filme, pelo qual pedira nada menos que uma Ferrari para participar, mal sabendo ele que a máquina, um dos grandes símbolos italianos, viria a ser sua ruína e desgraça. Fellini desfila por aquele seu tradicional universo de figurinos extravagantes, personagens exagerados, acontecimentos simultâneos no mesmo ambiente, aproveitando para fazer mesmo em um curta de terror sua crítica ao materialismo, ao mundo do entretenimento, à futilidade e, ainda que apaixonadamente, como já fizera em seu "Roma", à própria Cidade Eterna. O final, considerando o título original do conto, é bastante previsível, embora Fellini garanta uma certa surpresa pela ambientação, cenário e originalidade do desfecho.
Se quem leu as histórias de Edgar Allan Poe já as considera geniais por si só, assistindo a "Histórias Extraordinárias" chega à conclusão que a genialidade pode ser ampliada quando o mesmo material cai nas mãos certas. Três mestres do cinema que não se limitaram a meramente adaptar a obra de um grande escritor, antes disso, o que conceberam foi nada menos que uma recriação.




Cly Reis



sábado, 9 de maio de 2015

Quadrinhos no Cinema #1 - "Barbarella", de Roger Vadim (1968)


Barbarella, A primeira superprodução e primeiro grande filme das HQ's
por Vagner Rodrigues




Inocência, beleza e sensualidade.
Tudo isso na maravilhosa Jane Fonda
A primeira grande produção de quadrinhos para o cinema, "Barbarella", foi muito mal recebida na época do seu lançamento, mas hoje é um clássico cult, graças a um velho fenômeno que faz um filme ser tão ruim, mas tão ruim, que dá uma volta e fica bom.
Barbarella (Jane Fonda) é uma agente espacial que viaja pelo universo fazendo missões especiais a pedido do presidente da Terra. A história se passa durante uma das missões de Barbarella, onde ela vai atrás do perigoso Dr. Durand Durand (sim, foi daqui que a famosa banda tirou seu nome). Ao longo de sua jornada ela vai se deparando com diferentes raças e planetas, no meio deste intercâmbio cultural, ela descobre os prazeres do sexo, daí a ficção científica vai para o espaço (entenderam a piada?) e o filme e só Barbarella conhecendo diferentes homens e fazendo sexo com eles. Não tem nada explícito, o filme é sensual, desde seu início, a cena de abertura é um strip-tease de Jane Fonda, de dar inveja a Sandra Bullock em 'Gravidade".
Fonda é pura sensualidade nesta obra. O seu ar inocente (beirando ao estereótipo de loira burra), combinado com suas roupas provocantes, levam os homens a loucura, só por isso o filme já merece ser assistido.
O roteiro é uma bagunça, as falas são horríveis, muitos diálogos sem sentido, e os efeitos até mesmo para época são muito ruins. Não é um bom filme tecnicamente falando, o som é ruim, atuações quase amadoras, mas você consegue tirar algo de positivo do filme.
Os muitos uniformes de Barbarella.
Muito práticos para viagens espaciais.
Não se engane com o que você leu até aqui, pode parecer uma obra machista, mas não é. Roger Vadim acerta em cheio em sua adaptação, ao deixar sua obra exalando sexualidade, pois este é o espírito da HQ, o filme e a HQ são da época de força da luta do feminismo, do direito de igualdade e liberdade da mulher, no filme é retratado a liberdade sexual da mulher. Barbarella não é um objeto, ela quer prazer, por isso procura os homens, e não o contrário. Ela seduz (mesmo sem querer), mas não é seduzida, ela é inocente em alguns momentos, mas nunca inferiorizada. Claro, é um filme de um diretor homem, baseado em uma HQ de escritores homens, para o público em sua maioria de homens, por isso há um exagero ao mostrar a sensualidade de Barbarella, você pode assistir o filme com essa visão, de um filme soft erótico, está no seu direito, mas aconselho a superar essa camada, que irá aproveitar muito mais.
Foi isso, essas camadas do filme que me fascinaram. Você pode velo como um “filme machista”, que utiliza da sensualidade de Jane Fonda ao extremo (e usa maravilhosamente bem), pode também olhar um filme com a coragem de colocar uma heroína como personagem principal, o que ainda é difícil nos dias de hoje, ou simplesmente um filme tosco, sem sentido, o importante é: Assista ao filme e faça sua escolha, pretty! pretty!.
O striptease da abertura. E que abertura!