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segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Faith No More - Live at Brixton Academy (1990)

 



"What is it? 
What is it? 
WHAT THE FUCK IS IT???"
introdução, no show, 
 ao refrão de "Epic"




Tem gente que prefere discos ao vivo aos originais de estúdio, por conta da energia, da naturalidade, da espontaneidade ou da execução . Particularmente, prefiro as gravações de estúdio nas quais um álbum é pensado e elaborado como uma obra de arte, do início ao fim. Mas há exceções e, em alguns casos, o registro ao vivo acaba agregando elementos tão significativos ao que foi inicialmente proposto em estúdio, que se impõe, de modo a ser até mais marcante que a gravação que deu origem ao repertório executado no show. É o caso, para mim, do álbum "Live at Brixton Academy", do Faith No More, de 1990. Reproduzindo grande parte do conteúdo do disco "The Real Thing", trabalho responsável pelo estouro de popularidade e vendas da banda, a performance gravada ao vivo em Londres, originalmente para vídeo, potencializa ainda mais as virtudes já apresentadas no ótimo disco de estúdio. O ambiente do palco, a acústica de um espaço amplo com público, a espontaneidade da banda os favoreceram em tudo e seu som e "Live at Braxton Academy" acaba entregando mais do que já se tinha recebido em "The Real Thing". As virtudes dos instrumentistas e a qualidade compositiva acabam ficando mais evidenciadas sem a mixagem excessivamente limpa e cuidadosa de estúdio que, naquele momento visava atingir e conquistar um público que começava a se interessar pela mistura de peso com embalo que o Faith No More e algumas outras bandas começavam a explorar. Ali, mais cru, mais raiz, a percepção da fundição não somente do metal com o funk, mas das linhas de metal melódico, das influências de música clássica, do pop oitentista, ganhava em leitura mais clara, além, é claro, da qualidade e versatilidade vocal de Mike Patton, que, totalmente à vontade no palco, dominando o território e com um musicalidade absurda, proporcionava inúmeras possibilidades e variantes ao show. A pouco conhecida "Zombie Eaters", uma pequena sinfonia metal com ricas variações rítmicas e de intensidade, talvez seja o melhor exemplo desse ganho ao vivo. Sua composição primorosa, que consegue ir de uma linha melódica quase bachiana, às caracteristicas guitarras galopantes do metal, fica ainda mais poderosa e impressionante nessa situação. E Patton, afinadíssimo, vai do requinte à fúria, com incrível naturalidade. Aliás, o vocalista é um show à parte. Em "Edge of The world", por exemplo, ele comanda a balada, uma espécie de jazz de cabaré, com uma condução leve e descontraída que confere todo um ar bem-humorado ao número; e na badalada "Epic", Patton, depois de praticamente recriar partes do vocal da música, fazer sustenidos, baixos e chegar quase a um soprano, de quebra, no final, ainda emenda com uma improvável inserção do hit dance "Pump up the jam", do Technotronic, dando a ela toda uma leitura melancólica, no epílogo de piano.
Patton, ainda, toma conta de "We Care a Lot", faixa superdiversificada, com baixo funkeado, levada rap, transição metal e refrão pop, que já era do repertório da banda antes de seu ingresso; e, com uma performance enlouquecida, só joga mais gasolina em cima da já incendiária "From Out of Nowhere", uma espécie de synth-punk alucinante, que dá vontade de sair pulando cada vez que eu ouço.
"Falling to Pieces" é intensa e contagiante, "The Real Thing" lembra muito Black Sabbath e, propósito, a cover de "War Pigs", muito competente (mas talvez um pouco descontraída demais) confirma inspirações e referências. As duas faixas "extra" por assim dizer, uma vez que não apareciam no material original do vídeo, "The Grade", um country acelerado instrumental, e a nada mais que interessante "The Cowboy Song", são meio que dispensáveis, se bem que, sem elas a duração já curta do álbum ficaria ainda mais prejudicada.
De certa forma, dá pra dizer que essa questão, a da duração, seja, possivelmente, o único grande defeito do álbum, muito curto para um registro ao vivo. Mas, por outro lado, também dá pra dizer que o tempo utilizado é muito bem aproveitado e que, de minha parte, o tempo pelo qual se estende é curtido com entusiasmo do início ao fim, neste que é um dos meus discos ao vivo preferidos.
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FAIXAS:
  1. "Falling to Pieces" – 4:47
  2. "The Real Thing" – 7:53
  3. "Epic" – 4:55
  4. "War Pigs" – 6:58
  5. "From out of Nowhere" – 3:24
  6. "We Care a Lot" – 3:50
  7. "Zombie Eaters" – 6:05
  8. "Edge of the World" – 5:50
  9. "The Grade" (Instrumental) – 2:05
  10. "The Cowboy Song" – 5:12

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Ouça:
Faith No More - Live at Brixton Acdemy - Londres (1990)




Cly Reis

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Secret Chiefs 3 - Sesc Belenzinho - São Paulo/SP (2012)

 

por Samir Alhazred

Ainda falando do Sesc Belenzinho, agora citarei a comedoria, ambiente mais amplo e propício a um show de rock propriamente dito – ainda que seria interessantíssimo pensar em ver este show no teatro também...

O Secret Chiefs 3 é capitaneado por Trey Spruance, guitarrista do Mr. Bungle – grupo de rock experimental que revelou ninguém menos que Mike Patton. Spruance passou pelo próprio Faith No More, tocou com o mestre do free jazz John Zorn, além do grupo extremo vanguardista Faxed Head, até se juntar a seus “chefes secretos”.

Os Chiefs têm variadas formações, sendo que a que veio ao Brasil, naquele 2012, tinha o baixista Toby Driver (de excelente carreira solo e também dos grupos Kayo Dot, Maudlin Of The Well e Vaura), o violinista Timb Harris (Estradasphere), Matt Lebofsky nas guitarras e teclados, além do insano baterista Ches Smith (que inclusive voltaria ao SESC em shows solo).

O som do grupo é uma viagem de peso e experimentações, onde o jazz/fusion, a surf music e mesmo algo do klezmer judaico se encontram em mistura constante e frenética. O show é intenso e exige muito dos músicos, que trazem também uma aura performática, especialmente na figura de um encapuzado Trey.

O guitarrista Trev Spruance, líder da SC3

Anos depois, numa das já famosas Viradas Culturais organizadas pela Prefeitura paulistana, o grupo retornou num show de igual impacto pessoal (mas para uma plateia completamente diferente e aleatória, em meio à madrugada do centro da cidade!). Mas segue sendo uma banda alternativa e infelizmente pouco falada dentro do cenário do heavy metal. Faltou a “lojinha” ao fim do concerto, pois é um grupo cuja discografia é bastante difícil de achar.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Sepultura - "Roots" (1996)



“Max Cavalera é uma lenda.
Nunca se vendeu, 
sempre foi verdadeiro - 
e sempre poderá dizer
‘Eu gravei Roots’.
Para mim, isso é grandioso.”
Dave Grohl (Foo Fighters e ex-Nirvana)


Um daqueles discos que mudou o rumo das coisas. "Roots", da banda brasileira Sepultura, de 1996, como se não bastasse ser legal pra caramba, deu uma nova perspectiva ao metal levando-o a uma nova dimensão. Algum douto pretensioso pedante pode alegar que "uma banda dinamarquesa lá de mil novecentos e setenta e pico já havia misturado regionalismos e folclores nórdicos ao metal e coisa e tal e blablablá..." Tá bem, tá bem. Mas tenho certeza que ninguém o fizera com tamanha qualidade, riqueza e sobretudo, com alcance, por conta do renome que o Sepultura já gozava no cenário mundial.
"Roots" conseguia a proeza de agregar ao metal ritmos brasileiros, indígenas, regionalismos, tradicionalismos e folclore, sem abrir mão do peso e da agressividade, suas marcas registradas.
É certo que seu antecessor, "Chaos A.D.", de 1993, já indicava o caminho, mas coisas como a incrível "Ratamahatta", em parceria, quem diria, com Carlinhos Brown, de letra em português com palavras soltas lançadas praticamente aleatoriamente; e a literalmente tribal "Itsári", uma levada acústica de violões acompanhada de cantos xavantes gravada na própria reserva indígena; eram a confirmação daquela tendência da banda e a afirmação da ousadia sonora em um nível poucas vezes visto no gênero.
No entanto, a melhor síntese da sonoridade pretendida e alcançada no projeto da banda fica por conta da faixa que abre o disco, "Roots", que ao mesmo tempo que mantém as características básicas da banda com todo seu peso e energia, mescla de maneira perfeita  e muito sonora, os elementos rítmicos estranhos à sua linguagem. Uma paulada metal com batucada brasileira. Genial e espetacular.
"Attitude", com seu berimbau; a excelente "Cut-Throat", influência inequívoca para o chamado Nu-Metal com sua estrutura toda quebrada ; a batucada à Olodum de "Breed Apart"; e a ótima "Born Stubborn" em ritmo de ponto de umbanda, também são dignas de nota, bem como o metal-industrial, "Lookaway", que conta com a participação de Mike Patton do Faith No More. Algumas edições do álbum trazem ainda faixas extras como a versão para "Procreation (of the Wicked)" do Celtic Frost e a competente cover do Black Sabbath, "Symphtom of the Universe".
Muitos fãs torceram o nariz para o trabalho mas não há como negar o caráter absolutamente inovador da proposta. Aquilo havia sido algo novo e inusitado e era tão interessante que não só viria a dar rumo aos novos caminhos musicais que a própria banda seguiria, como influenciaria diversas bandas e artistas da cena musical dali por diante.
Um daqueles álbuns que mudou o rumo das coisas.
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FAIXAS:
1-Roots Bloody Roots
2-Attitude
3-Cut-Throat
4-Ratamahatta
5-Breed Apart
6-Straighthate
7-Spit
8-Lookaway
9-Dusted
10-Born Stubborn
11-Jasco
12-Itsári
13-Ambush
14-Endangered Species
15-Dictatorshit

16-Canyon Jam

17-Procreation (Of The Wicked) – Celtic Frost Cover*
18-Symptom Of The Universe (Black Sabbath Cover)*


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Ouça:
Sepultura Roots


Cly Reis