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sábado, 21 de agosto de 2021

Cyro Baptista - Jazz na Fábrica - Sesc Pompeia - São Paulo/SP (2012)

 

por Samir Alhazred

Há uma série de artistas, especialmente os ligados à cena experimental, ao fusion e ao free jazz, que o SESC SP conseguiu com louvor trazer neste século, especialmente em mostras e festivais tais quais o NuBlu e o Jazz na Fábrica.

Dos que estive presente, posso citar com emoção nomes como John Zorn (recentemente, com seu New Masada, em 3 noites absurdas e históricas de 2018), Ornette Coleman, Pharoah Sanders, Peter Brötzmann, Archie Shepp, Anthony Braxton, Wadada Leo Smith, Roscoe Mitchell (do Art Ensemble Of Chicago, com seu jeito único de tocar sax), o guitarrista Fred Frith, a musa instigante do free contemporâneo Matana Roberts, o guitarrista Arto Lindsay, o baixista Avishai Cohen, o pesadíssimo The Thing de Mats Gustafsson, o fenômeno moderno Kamasi Washington, além de artistas brasileiros icônicos como Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal (que se apresenta quase todo ano), Airto Moreira, dentre tantos.

Nesta última seara, lembro-me de um show impactante do percussionista brasileiro Cyro Baptista, que já há muitos anos mora no exterior e integrou, dentre outros, o grupo do já referido John Zorn.

Em 2012, no Jazz na Fábrica, na tradicional Choperia do Sesc Pompeia, ele trouxe o espetáculo “Beat The Donkey”, e mais uma vez estive lá sem muita informação sobre o que encontrar, movido apenas pela curiosidade.

Do time reunido, não tenho todos os nomes, mas a coreógrafa Chikako Iwahori, o baterista Tim Keiper e a maravilhosa percussionista e vocalista Lisette Santiago revezavam freneticamente os instrumentos com Cyro – um percussionista inovador, a la Pascoal.

Não apenas, mas o espetáculo tomava outros formatos, com danças e performances inusitadas, shows de sapateado, figurinos exóticos e até descambando para um típico show de rock’n roll em dado momento, com Lisette mandando uma intensa versão de “Immigrant Song” do Led Zeppelin.

Poderia comparar a teatralidade e o dinamismo ao que David Byrne fez em 2018, no show ”American Utopia” – que chegou a passar pelo Brasil no festival Lollapalooza. A versão que gerou o CD/DVD ao vivo de Byrne conta inclusive com o mesmo baterista daquela noite de 2012, Tim Keiper. A conexão parece lógica!

Tenho como uma noite inesquecível, como as demais citadas acima, e que torcemos para que voltem a ocorrer o quanto antes, quando for seguro para todos. Sonho nosso! Como se nossos atuais governantes, inimigos tanto da saúde quanto da cultura, trabalhassem para isso...


Trechos do show de Cyro Baptista
(Sesc Pompeia/2012)

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Stick Man - Sesc Belenzinho - São Paulo/SP (2011)

 

por Samir Alhazred

Sob o risco de me tornar repetitivo, voltamos ao teatro do Sesc Belenzinho. Se a “orquestra” de Glenn Branca e o peso sinfônico do Sagrado Coração viriam a me surpreender, antes disso, no ano de 2011, saber que Tony Levin traria seu grupo Stick Men a um teatro já foi uma grande surpresa.

Nesta altura, conhecia Tony, mas não o grupo em si. Em 2018 a banda voltou ao Brasil, tocando em casas maiores e chegou a ter discos lançados por aqui. E o próprio Tony retornou em 2019, aí sim com o aguardadíssimo King Crimson, para meu delírio e de muitos, em shows que incluíram o Rock In Rio!

O Stick Men consistia ainda no guitarrista Markus Reuter e no baterista Pat Mastelotto (também do King Crimson), enquanto Tony comandava seu inusitado ‘stick bass’. E o set foi muito calcado em KC. Uma lembrança forte que tenho foi a do último bis, em que mandaram a insana “Elephant Talk”, faixa de abertura do disco do Crimson “Discipline” (1981), para completo êxtase dos presentes, já todos de pé tomando o pequeno teatro!

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Secret Chiefs 3 - Sesc Belenzinho - São Paulo/SP (2012)

 

por Samir Alhazred

Ainda falando do Sesc Belenzinho, agora citarei a comedoria, ambiente mais amplo e propício a um show de rock propriamente dito – ainda que seria interessantíssimo pensar em ver este show no teatro também...

O Secret Chiefs 3 é capitaneado por Trey Spruance, guitarrista do Mr. Bungle – grupo de rock experimental que revelou ninguém menos que Mike Patton. Spruance passou pelo próprio Faith No More, tocou com o mestre do free jazz John Zorn, além do grupo extremo vanguardista Faxed Head, até se juntar a seus “chefes secretos”.

Os Chiefs têm variadas formações, sendo que a que veio ao Brasil, naquele 2012, tinha o baixista Toby Driver (de excelente carreira solo e também dos grupos Kayo Dot, Maudlin Of The Well e Vaura), o violinista Timb Harris (Estradasphere), Matt Lebofsky nas guitarras e teclados, além do insano baterista Ches Smith (que inclusive voltaria ao SESC em shows solo).

O som do grupo é uma viagem de peso e experimentações, onde o jazz/fusion, a surf music e mesmo algo do klezmer judaico se encontram em mistura constante e frenética. O show é intenso e exige muito dos músicos, que trazem também uma aura performática, especialmente na figura de um encapuzado Trey.

O guitarrista Trev Spruance, líder da SC3

Anos depois, numa das já famosas Viradas Culturais organizadas pela Prefeitura paulistana, o grupo retornou num show de igual impacto pessoal (mas para uma plateia completamente diferente e aleatória, em meio à madrugada do centro da cidade!). Mas segue sendo uma banda alternativa e infelizmente pouco falada dentro do cenário do heavy metal. Faltou a “lojinha” ao fim do concerto, pois é um grupo cuja discografia é bastante difícil de achar.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Sagrado Coração da Terra - Sesc Belenzinho - São Paulo/SP (2014)

 

por Samir Alhazred

Tratei de um gênio norte-americano pouco reconhecido no texto anterior, quando falei do show de Glenn Branca. Por que não falar, então, de um gênio brasileiro ultraprodutivo e pouquíssimo falado?

Acredito que o violinista e arranjador Marcus Viana e seu grupo Sagrado Coração da Terra façam poucos shows, então foi bastante especial essa experiência em 2014, no mesmíssimo palco do Belenzinho, em que vira Glenn Branca anos antes.

Para não dizer que Marcus é um completo desconhecido, é inegável seu sucesso na trilha de séries e novelas clássicas como “Pantanal”, “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, “Xica da Silva”, “O Clone” e “A Casa das Sete Mulheres”.

Cheguei a ele, entretanto, da maneira mais torta possível: quem ouvia heavy metal no início dos anos 2000 não passou incólume pelo grandioso disco “Ritual” (2002) do Shaman, grupo do cantor Andre Matos (ex-Angra, que faleceu precocemente em 2019). Andre, admirador e amigo de Marcus, o chamou para participar não apenas de um álbum de heavy metal, mas de shows da turnê. Ainda, o próprio Andre havia participado da faixa “Bem Aventurados”, do disco “A Leste do Sol, Oeste da Lua” do Sagrado, em 2000.

Viana: cabeça da SCT
Voltando ao show do SCT em si, em 2014, o impacto do ambiente intimista para um show de “rock”, como já ocorrera com Branca, é inevitável. Guitarras altas e pesadas, aliadas às orquestrações no teclado e violino, levaram a um típico show de rock progressivo/sinfônico – mas de toque e beleza brasileiras, bastante únicas, como é característico do som do grupo mineiro (aliás, não podendo ser dissociado do Clube da Esquina e de todo o movimento progressivo próprio da região em que nasceu).

Completavam a formação, naquela noite mágica, Sérgio Pererê e Camila Amorim (vocais), Augusto Rennó (guitarra), Ivan Corrêa (baixo), Danilo Abreu (teclados), Esdra “Neném” Ferreira (bateria) e Eduardo Campos (percussão). Não soube, até então, de outra aparição do grupo mineiro. Mas anos depois, no mesmo palco, presenciei Arrigo Barnabé performando “Clara Crocodilo”, e só posso reafirmar o quanto o local contribui para este tipo de show que alia peso e experimentações.

Na saída, grande fã que sou das “lojinhas” ou estandes (geralmente, são discos que jamais esquecemos e que associamos à experiência do show), adquiri um lindo CD, cuja existência desconhecia, chamado “Poemas Místicos do Oriente”, em que Marcus Viana arranja poemas recitados por ninguém menos que a atriz Letícia Sabatella.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Glenn Branca Ensemble - Mostra Sesc de Artes - Sesc Belenzinho - São Paulo/SP (2012)

 

por Samir Alhazred

Muito legal a iniciativa do blog em retomar a experiência de grandes shows passados, especialmente neste período de – necessária – seca de grandes espetáculos (a excepcionar algumas boas experiências em ‘lives’, e mesmo assim são sensações distintas).

Dia desses, o jornalista José Norberto Flesch ainda "provocou" em suas redes sociais: “Qual show você se arrepende de não ter ido?” – o que dá margem a todo um texto à parte. Mas fica a lição futura, especialmente no atual contexto: "na dúvida, compre aquele ingresso! Você merece!"

Claro que os preços proibitivos dos ingressos no Brasil também não permitem o luxo de comparecer a todos os concertos que se deseja. Nisso, o Sesc sempre representou um grande alento, aliando variedade, bom gosto e acessibilidade.

Por isso, gostaria de lembrar 5 grandes shows que o SESC, especificamente, me/nos proporcionou:

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GLENN BRANCA ENSEMBLE

Tenho este entre meus shows preferidos, senão ‘O’ preferido da vida! Fui completamente sem pretensão numa chamada “Mostra Sesc de Artes” no ano de 2012. Conhecia Glenn Branca, ícone vanguardista ligado à no wave americana, apenas de nome. Li rapidamente acerca do projeto, da ideia de uma ”orquestra” de guitarras elétricas. Mas nada poderia me preparar para o que de fato presenciaria.

Aqui, o local fez toda a diferença. Para quem não é de São Paulo, o Sesc Belenzinho é uma das mais novas unidades do Sesc, um grande complexo, mas seu teatro é uma sala relativamente pequena, localizado num dos andares do prédio lateral. Um palco daqueles comportar cerca de 6 músicos, entre os guitarristas, baixista e baterista, além do próprio maestro Branca, já era um feito. A proximidade da plateia e o volume, altíssimo, contribuíram para a experiência avassaladora.

Branca: ícone da no
wave americana
Aquilo era a essência hipnótica do que hoje chamamos de ‘drone’, que cresce e se modifica lenta e gradativamente, agressiva e minimalista ao mesmo tempo. Descobriria depois que, naquela oportunidade, nos foi apresentada a íntegra de “The Ascension: The Sequel”, obra de Branca do ano de 2010 – hoje me recordo como uma experiência tão curta, quanto inovadora e extremamente impactante.

Também descobriria que Branca realizara o sonho de contar com mais de 100 guitarras num projeto ao vivo em 2008, “Symphony No. 13 (Hallucination City) For 100 Guitars”, que foi lançado em CD posteriormente.

Branca faleceu em 2018, aos 69 anos, e realmente me sinto privilegiado de ter comparecido àquele espetáculo de concepção tão única, por um de seus criadores máximos. Em 2021, sua obra “The Ascension” (1981) completa 40 anos. Branca ainda nos deixou “The Third Ascension”, lançada postumamente em 2019.

terça-feira, 13 de março de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Savatage - "Gutter Ballet" (1989)




"Acho que o trio,
Jon, Criss e eu,
permitiu a nós mesmos
que abríssemos portas
que não seriam abertas regularmente."
Paul O'Neill, produtor




    Lisonjeado em participar das comemorações dos 10 anos da página, confesso que senti certa carência de heavy metal entre os Álbuns Fundamentais do blog, então decidi falar de um dos grupos mais únicos do estilo: o Savatage.
   Pensem numa banda de baixíssima rejeição dentro dos mais variados âmbitos da cena heavy, do melódico ao extremo, mas ainda assim pouquíssimo lembrada quando falamos de seus grandes e mais criativos nomes. Outra curiosidade: não se fez justiça com ela dentro de seu próprio estilo, mas conseguiram ser gigantes no mainstream, repetindo sua exata proposta sonora para as grandes massas sob uma nova roupagem, a da Trans-Siberian Orchestra. Por fim, pensem em como o Savatage conseguiu manter sua essência ao longo de duas décadas (afora tantos trabalhos paralelos de seus integrantes, incluindo a TSO), mesmo tendo percorrido diversos caminhos, flertado com diversos elementos e sonoridades e, ainda, sofrido com tantas mudanças de formação - incluindo aí o trágico falecimento de um guitarrista e compositor fenomenal, irmão do líder da banda.
    As formas de se encarar o Savatage são tantas, que fica difícil até mesmo escolher um álbum sem cometer injustiças com o restante da discografia, pois todos os discos são capazes de mudar a mente do ouvinte com relação às possibilidades e alcance da música pesada. Afinal, o início já foi bombástico com "Sirens" e "Dungeons Are Calling", discos mais crus, diretos, que poderiam ser só "mais um" na cena oitentista, já não fosse uma fina dose de sofisticação que seria a marca do grupo dali em diante. O flerte óbvio com o hard/AOR viria no contido "Fighting For The Rock" (e qual grupo heavy não fez ao menos um disco tipicamente hard?). E o marco, o divisor de águas, seria a chegada do mágico produtor Paul O'Neill (que nos deixou precocemente em 2017) no clássico "Hall Of The Mountain King". A partir de 90, a banda ainda investiria em cada vez mais alucinantes e pomposas rock operas, ganhando na intensidade das composições e na complexidade e diversificação de sua música.
   Ao se colocar tantos elementos na balança, talvez resida em "Gutter Ballet" (1989) o meio-termo que buscamos. O disco é posterior ao ingresso de O'Neill, anterior à morte de Criss, já traz aquela deliciosa aura teatral que abrilhanta os álbuns da banda (embora discutível se o álbum pode ser considerado conceitual ou não), mas, ao mesmo tempo, escancara o mais autêntico hard/heavy, além de um marcante - e pouco reconhecido - toque progressivo (o que é bom ressaltar para quem esquece do Savatage ao falar apenas de Dream Theater, Queensrÿche ou Fates Warning na vanguarda do Prog Metal).
   "Gutter Ballet", pois sim, é um resumo do que é todo o Savatage. É o tapa na cara logo na abertura com "Of Rage And War" (de letra crítica que facilmente se volta, ainda hoje, ao próprio EUA). São os intensos temas emocionais de "When The Crowds Are Gone", "Summer's Rain" e da faixa-título, nas quais o indefectível Jon Oliva deposita garganta, coração e alma em sua interpretação. Mas também é a beleza dos interlúdios, indo da apoteótica "Temptation Revelation" à tranquilidade de "Silk And Steel". É o hard descompromissado e pegajoso de uma sexy "She's In Love", que encontrará em seguida o heavy visceral de uma "Hounds", "Unholy" ou "Thorazine Shuffle", de climas absolutamente sombrios e introspectivos, também marcas dessa banda de inúmeras facetas, sem jamais perder em peso e originalidade.
   Um disco que te faz rever conceitos. Eu, ao menos, descobri e redescobri o heavy metal com ele. E pautou tudo o que eu devia procurar em qualquer banda que eu ouvisse dali para frente.


por Samir Alhazred


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FAIXAS:

1. "Of Rage and War" 4:47
2. "Gutter Ballet" 6:20
3. "Temptation Revelation" (instrumental) 2:56
4. "When the Crowds Are Gone" 5:45
5. "Silk and Steel" (instrumental) 2:56
6. "She's in Love" 3:51
7. "Hounds" 6:27
8. "The Unholy" 4:37
9. "Mentally Yours" 5:19
10. "Summer's Rain" 4:33
11. "Thorazine Shuffle" 4:43

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Ouça:
Savatage - Gutter Ballet





Samir Alhazred é, como ele mesmo se define, um "colecionador paulista".