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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Peter Hook & The Light - Teatro Rival Petrobrás - Rio de Janeiro/RJ (01/12/2016)



Peter Hook e sua banda, a The Light, numa noite de New Order e Joy Division.
No dia em que o New Order se apresentava em uma cidade e seu litigante ex-baixista em outra, tocando, a propósito, inclusive repertório desta sua ex-banda, mesmo não tenha visto ao vivo o grupo oriundo do Joy Division, por questão óbvia de localização acabei, sem muita hesitação optando por acompanhar mais uma vez o show de Peter Hook sua banda The Light. Não sei se o do New Order foi bom, até vi alguns comentários positivos em uma manchete que outra na internet mas o que posso afirmar é que dificilmente tenha sido melhor do que o que presenciei no Teatro Rival aqui no Rio de Janeiro. Peter Hook and The Light contagiaram o público com mais de duas horas de show desfilando na íntegra os álbuns "Substance" do New Order e do Joy Division e mais alguns B-sides de cada um deles. Energia pura! Emoção total! Afiadíssimos os músicos executaram impecavelmente a célebre coletânea do New Order considerada um dos clássicos dos anos 80, que numa impressão mais apressada pode parecer mais fácil por conta dos recursos eletrônicos, mas que exatamente por conta disso torna a execução ao vivo mais complexa exigindo uma sincronia mais perfeita com os instrumentos convencionais e nas transições para as intervenções de baixo do próprio Hook.
E foi exatamente com o repertório neworderiano que abriram a apresentação começando com três faixas menos conhecidas, lados B de singles e integrantes da edição completa do disco "Substance",  mas não por isso menos respeitadas pelos fãs e naõ menos festejadas assim que eram ouvidos seu primeiros acordes. Saíram com "Lonesome Tonight" canção meio raggae, nem tão vibrante assim mas que, como eu disse, não por isso deixou de ser empolgante; seguiram de "Procession", essa sim, uma transição potente entre as linguagens das bandas das quais o baixista fez parte, e completaram este, por assim dizer, prólogo com outra na mesma linha "Cries and Whispers", pegada e intensa mas já com os sinais do que viria a ser o New Order.
Um quase coadjuvante que revelou
grande aptidão para o protagonismo.
Mas aí sim começava o "Substance" com a faixa que abre do disco e que qualquer fã que sabe de cor e salteado aquela ordem sabe qual é: trata-se da hínica "Ceremony", canção ainda tocada pelo Joy Division nos últimos tempos antes da morte de Ian Curtis e que, ali no teatro, envolveu-nos a todos numa espécie de aura mágica à qual não fiquei incólume sendo irremediavelmente levado às lágrimas. "Everything Is Gone Green" de extrema competência, atenuou um pouco a emoção mas botou de vez lenha na fogueira; e a belíssima "Temptation" com sua inquieta programação-base encarregou-se de novamente carregar o lugar de uma energia diferenciada. "Blue Monday" um dos melhores exemplos da competência da banda e da perfeita integração do eletrônico com os instrumentos mais tradicionais, deu aquele ar de Festa Ploc* ao show com sua batida contagiante e ritmo convidativo. Seguiram "Confusion" mantendo no alto o clima e "Thieves Like Us", perfeita, baixando um pouco a rotação.
Como não poderia deixar de ser, um dos melhores momentos do show como um todo, independente de New Order ou Joy Division, foi "Perfect Kiss", na minha opinião uma das melhores obras do New Order e um momento grandioso no show. Uma daquelas que mesmo bem calcada no eletrônico tem participação fundamental e destacada do baixo solista e agudo de Peter Hook. Enquanto o filho, o competente John segurava as pontas no baixo fazendo a base, Papa Hook esmerilhava em linhas agressivas daquelas que só ele sabe fazer, com direito ainda a uma boa esticada no já maravilhoso final da música.
A sequência "Perfect Kiss", "Shellshock" e "Subculture" já é matadora no disco, ao vivo então mostrou-se catártica! Que coisa!!! Um petardo atrás do outro e a banda, volto a dizer, muito bem azeitada, praticamente emendava uma na outra não deixando tempo pr'a gente respirar demonstrando muito ensaio e total domínio do que fazia.
Veio a ótima "State of The Nation" de baixo marcante mas esta, na maior parte da música, mais por conta do filho John. A ela seguiu-se o clássico "Bizarre Love Triangle", talvez junto com "Blue Monday" a mais popular da banda. Redundância dizer que foi mais um show, não? Hook lacrou de novo! Música que, para muitos pode não parecer mas exige dele o tempo inteiro e na maior parte do tempo com aquela intensidade característica. "True Faith" despontou grandiosa para encerrar as faixas do álbum mas para minha grata surpresa ainda traria na carona mais uma "lado-B", a adorável "1963". E assim, saía o HookOrder e entrava o HookDivision. Ia começar o outro "Substance". Ia começar a festa punk.
Hook comandando a celebração dos "Substance".
Assim como na primeira parte, antecederam às faixas do disco algumas avulsas, na maioria músicas que não entraram em álbuns ou que só saíram em reedições do próprio "Substance". Mas em se tratando de Joy Division, banda de repertório relativamente curto dada a brevidade de sua existência e sendo tão cultuada como é, qualquer música é conhecida por seus fãs e tão respeitada quanto qualquer outra mais badalada. E não foi diferente com "No Love Lost" que abriu a segunda parte, recebida já nas primeiras notas do baixo com grande entusiasmo, estado de espírito que se traduziu para minha felicidade e, tenho certeza, para a satisfação de Peter Hook, que presenciou aquela grande cena punk inglesa dos final dos anos 70, numa selvagem e furiosa roda de pogo. Yeah!
"Shadowplay" que deu continuidade ao show foi juntamente com "Twenty Four Hours" que a seguiu exceções ao critério de músicas avulsas, tendo as duas aparecido nos dois únicos álbuns de carreira da banda, "Unknown Pleasures" e "Closer", respectivamente; mas "Komakino" e 'These Days" revalidaram o padrão de singles e completaram a sessão pré-substance.
Mas se o bicho já tava pegando, quando começou a "contagem" "3,5,0,1,2,5, Go!", o negócio veio abaixo! Era "Warsaw" a música que abre o "Substance" do Joy Division e um dos maiores símbolos da fase mais punk e crua do som da banda. Loucura era apelido!
E veio "Leaders of Men", outra paulada; e veio "Digital" com aquele "day in, day out" entoado em coro geral; veio "Autosuggestion" e nem nessa o pessoal da roda punk deu alívio aproveitando sua parte mais agitada pra mandar ver; e veio "Trasmission" também num coro selvagem para o famoso "dance, dance, dance, dance, dance to the radio".
"She's Lost Control", sempre ponto alto, parece ter uma entrega diferente de Hook tanto na performance instrumental quanto na vocal, destruindo no baixo e quase vociferando em alguns momentos. Espetacular!
"Incubation", punk instrumental originalmente pegado e cheio de energia, música da qual particularmente gosto muito, devo admitir que perdeu força funcionando quase apenas como uma música de transição, de preparação para o momento final. E, sim, e o momento final precisava mesmo de uma preparação, de alguns minutinhos pra respirar, pra pegar fôlego, pra preparar o coração. Seriam três atos finais de puro êxtase.
Conseguindo ainda transmitir toda aquela fúria angustiada de Ian Cutis, a perturbadora "Dead Souls" era apenas o primeiro desses três atos derradeiros que marcariam definitivamente aquela noite.
Sempre emocionante, a  elegíaca "Atmosphere" foi, muito apropriadamente, dedicada à Chapecoense, cujo acidente aéreo ocorrera havia uma semana, e como não podia deixar de ser comoveu a todos. E o ato final não poderia ser outro que não "Love Will Tear Us Apart", música que fecha o disco e que logicamente teria que dar ponto final `apresentação. Em termos de grande público certamente a mais conhecida e uma das que indicava uma linguagem que mais se aproximaria do que o New Order viria a assumir como identidade musical, "Love Will Tear Us Apart" teve seu refrão entoado entusiasticamente em coro pelo público e foi assim que tudo acabou: apenas com as vozes do publico. Depois que a banda já parara, se despedira e entrara para os camarins, lindamente as vozes continuaram "Love, love will tear us apart again/ love. love will tear us apart again...", até se desvanecerem aos poucos e morrerem na escuridão. Um final grandioso para um show grandioso.
Não sei como é que estava o show de lá mas não consigo imaginar que tenha sido melhor do que o daqui. Eu sempre digo (mentirosamente, eu sei, mas sempre digo) que não existe nada melhor do que New Order. Acho que esse show espetacular de Peter Hook, parte viva do Joy Division e integrante eterno do New Order, me fará ter que rever a minha afirmação ou, no mínimo, complementá-la. Talvez deva adaptá-la assim: Não existe nada melhor do que New Order... a não ser o próprio New Order.


"She's Lost Control" - Peter Hook and The Light
Teatro Rival - Rio de Janeiro -RJ



Cly Reis




domingo, 27 de novembro de 2016

Peter Hook & The Light - "Substance"



Já vi Peter Hook e sua banda na turnê que fizeram interpretando o álbum "Unknown Pleasures" do Joy Division e embora tenha gostado muito do show em si, permaneceu em mim muito fortemente a sensação de estar assistindo a um mero show caça-níqueis de um cara que em litígio com sua banda e nunca tendo emplacado grande sucesso com seus projetos paralelos ou independentes, apelava para o tiro certeiro de apoiar-se na aura mítica e cultuada de sua banda original. Pois neste meio tempo entre aquele show e o que se avizinha, no próximo dia 1º de dezembro no qual ele e a The Light, sua banda interpretarão os dois "Substance", o do Joy Division e o do New Order, esta impressão de mercenarismo musical foi amenizando-se em meu espírito, especialmente depois de ter lido a biografia "Joy Division: Unknown Pleasures - A biografia definitiva da cult band mais influente de todos os tempos" escrita por ele, na qual revelou-se, pelo menos pra mim, uma pessoa extremamente verdadeira, autêntica e de um envolvimento emocional tal com sua ex-banda, o Joy Division,  que lhe conferia, sim, legitimidade o bastante para ter o direito de tocar publicamente aquelas músicas.
E eis que agora o verei novamente, desta vez no Teatro Rival, aqui no centro do Rio, que está sendo chamado de Dia New Order no Brasil, uma vez que o restante da banda estará tocando em São Paulo na mesma data. Se da outra vez Hook e seus pupilos apresentaram um show bastante cru sonoramente, sem teclados ou efeitos, desta vez, pela proposta, creio que seja inevitável que tenham um aparato técnico maior até pelo fato de que muitas das músicas do "Substance" do New Order têm ênfase no eletrônico e até mesmo coisas do Joy Division da fase final, antes da morte de Ian Curtis já começavam a flertar com estes elementos.
Sinceramente não sei se na hipótese de ter New Order e Peter Hook no mesmo dia  e no mesmo lugar por qual eu optaria. Pesaria a favor do N.W. o fato de já ter visto Peter Hook na turnê anterior, mas a favor do baixista, o interesse pelo repertório de seu atual espetáculo. Decisão difícil... Bom, mas não precisei decidir: O New Order estará lá em Sampa e quem estará aqui, para minha igual satisfação é Peter Hook e se ele é um oportunista, mercenário, se sua turnê é um caça-níqueis, pelo menso, depois de conhecê-lo um pouco melhor nas páginas de seu livro, penso que ao menos é um caça-níqueis honesto.


fique com um drops do que vai rolar na quinta-feira
Peter Hook and The Light executando "Perfect Kiss" do New Order
no Wiltern, Los Angeles/CA em setembro deste ano.


C.R.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Coluna dEle #40



Salve, salve!
Tamo chegando.
E aí como é que tão as coisa? Tudo tranquilo e favorável?
Então tá bom.
De Minha parte, Eu tô nas nuvens.

***

Mas a propósito de tranquilo, favorável, desse MC aí, daquela outra lá da metralhadora, Eu coloco aí Tom Jobim, Pixinguinha, Villa-Lobos, tem vivos Gil, Caetano, Chico, Jorge Ben e vocês ficam ouvindo essas porcarias?
Eu dou biscoito pra quem não tem dente, mesmo.
Depois Eu é que não vou salvar ninguém do Inferno, hein.

***

Eu sei, Eu sei, dou muitos caras foda aí pra vocês mas tiro também. Eu sei. Mas é da vida, uma hora eles vão ter que vir. Naná, por exemplo, que acabou de subir: se é pra vocês ficaram ouvindo Bin Laden e tratratrá, é sinal que não tá fazendo falta nenhuma aí embaixo. 
Aqui, assim que chegou, já saiu batucando nas Tábuas Sagradas, batendo os sinos celestiais e usando as auréolas dos anjinhos como se fossem triângulos.
Gênio!

***

Mal chegou e já foi relembrando as parcerias
Por falar em gênio, outro que Eu chamei pro andar de cima  que sei que vocês não engoliram bem até agora foi o Bowie.
Sei que não tem NINGUÉM aí embaixo pra fazer o que ele fazia, sei que essa posição fica vaga mas, pensa bem, o cara já fez tudo que era possível pra um mortal fazer em matéria de arte, já deixou o bastante pra vocês, não? Queriam mais? 
Deixem o cara sair de cena. Além do mais aqui ele fica mais perto das estrelas que ele gosta tanto e com as quais é tão acostumado.
Foi outro que mal chegou e já foi fazendo um som. Encontrou o Freddie e já puxaram um "Under Pressure" e com o John saiu cantando "Fame". Pelo jeito até já encaminhou outras parcerias interessantes por aqui. O vi combinando alguma coisa com o Ian Curtis, com a Amy, com o Jimi, com o Kurt, com o Lou com quem ele já tinha feito uns lances, e até com o Lemmy que também chegou há pouco.
Mas talvez as parcerias aqui de cima não se confirmem. A gente tá revendo a estratégia de marketing e não é de se descartar que ele volte. Como um Lázaro.

***

Ainda falando em deuses, e os show dos Stones por aí , hein?
Que que foi aquilo, véi???
Os velhinhos sabem das coisas, não?
Tenho que admitir que já chamei o Keith umas trocentas vezes pra vir pra cá pra cima mas que ele ainda tá mandando ver, tá! Até vou dar mais uns anos pra ele depois dessa turnê. 
Podia ter visto de graça aqui de cima mas a visão era muito longe do palco, aí tive que morrer numa nota preta mas vi de pertinho, ali do gargarejo. Teve uma hora que um cara até falou "Deus está entre nós", Eu pensei que ele tinha Me reconhecido mas ele tava se referindo ao Richards. Ufa!
O show todo foi afudê mas Eu fiquei arrepiado mesmo foi com "Sympathy for the Devil". "Pleased to meet you/ hope you gessed my name".

***

Mas ainda sobre o mundo do entretenimento, nunca recebi tanta oração pra alguém ganhar um prêmio quanto pra esse tal de DiCaprio. Não vejo porque tanta ansiedade pra isso. Tanta gente tão boa ou melhor no cinema passou a vida inteira fazendo coisas incríveis e só foi "ganhar" a sua estatuazinha dourada depois que já tinha vindo pra cá. Mas se era importante pra ele... pras fãs... Taí. Faça bom proveito.

***

Sobre o filme, esse que ele participa e que ganhou prêmio de direção também, o que tenho dizer é que... Não vi. Não posso opinar.

***

Tive que dar explicações sobre o meu patrimônio
ter aumentado em apenas sete dias
Mas agora, mudando de saco pra mala, a situação política aí no Nosso... digo, no país de vocês, de tranquila e favorável não tem nada, hein. E o pior é que é o sujo falando do mal lavado. Não tem um que se escape. Eu não queria estar na pele de vocês quando tiver eleições. 
A propósito, Eu nunca tinha visto uma cassação prévia como estão tentando fazer por aí.

***

E não me venha com essa de que Ele é de direita, Ele é de esquerda. Eu não sou de lado nenhum. eu sou de cima.

***

Uma vez Me vieram uns agentes da Polícia Celestial aqui em casa querendo Me levar para dar explicações de como é que que tinha construído todo Meu patrimônio em sete dias. Me vieram com um papo de condução, como é que é, coercitiva, eu acho. Eu disse que não ia, que tinha meus direitos, que aquilo era uma violência contra o cidadão, que não iam encontrar ninguém mais honesto do que Eu, que aquilo ia contra o Decálogo,  e se eles sabiam com QUEM tavam falando. O cara da Celestial só Me disse, "Mesmo que tu fosse Deus. Se até o Lula foi, tu vai também". E tive que ir.

***

Fui lá dei Meu depoimento, blablablá, biriri e bororó  e Me liberaram. Eles perceberam, na verdade, que não tinha jeito porque se Me prendessem, Eu virava herói, se Me matassem, como Nietzsche tentou, Eu virava mártir, e se Me deixassem, solto Eu seria um Deus.

***

Tenho que ir, Minhas crias.
Vocês não fazem ideia do quanto cuidar de vocês Me dá trabalho.

Qualquer coisa, orações pra astros de cinema, pra queda de presidente, pra queda de presidente da câmara, pra queda de candidato à presidência, pra eliminação de participante do BBB, pra eliminação do programa BBB, pra baixar o dólar, contra a dengue, o chycungunya, a zica, a urucubaca ou qualquer outro assunto,
enviar para o e-mail:
god@voxdei.gov


Fiquem Comigo e que Eu os abençoe.

Ralei peito, meti o pé, deitei o cabelo, fui!


por Ele

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

"Joy Division: Unknown Pleasures - A biografia definitiva da cult band mais influente de todos os tempos", de Peter Hook - Ed. Seoman (2015)




" Este livro é a verdade,
somente a verdade
e nada mais que a verdade...
do modo que me lembro!"
Peter Hook





Que livro legal.
Que coisa boa de ler.
Peter Hook, baixista fundador da lendária Joy Division, surpreende pela desenvoltura e fluidez num relato honesto, sincero e bem-humorado. Hook, é verdade, às vezes se atrapalha um pouco, sai da linha de narração, volta para o ponto onde estava mas o faz bem e o andamento não fica prejudicado, o que para todo caso, pode ser socorrido por linhas de tempo ao final de cada período narrado pelo autor. Mas sua "desordem" não chega a se constituir num defeito. Pelo contrário, acho que confere mais espontaneidade à biografia e, de certa forma é um dos charmes dela.
Devo admitir que hesitei um pouco em adquirir e ler seu "Joy Division: Unknown Pleasures - A biografia definitiva da cult band mais influente de todos os tempos" acreditando que, em função das brigas com Bernard Sumner, das farpas com o New Order e dos processos judiciais que envolvem as partes, Hook viesse a ser muito parcial e tendencioso em seus relatos e análises dos fatos, mas isso com certeza não acontece. Ele revê erros, admite margem para possíveis equívocos, elogia e valoriza constantemente Barney, sem a mágoa, e constantemente se expõe, muitas vezes até de maneira comovente. 
"Joy Division: Unknown Pleasures" tem o grande benefício da memória de um dos integrantes que estava lá o tempo todo, e, por vezes, o charme da falta dela. Alguns episódios ficam nebulosos, mal contados mas o essencial, os momentos marcantes e importantes da banda são contados em detalhes  e, como eu falei, com a grande vantagem da impressão de alguém que vivenciou o instante. Os primeiros shows, o processo de composição, as gravações dos álbuns, os ataques de Ian. Nada melhor do que tudo isso ser relatado por alguém que fez parte daquilo tudo de maneira decisiva.
É bonito perceber o quanto ele admirava Ian Curtis, sua inteligência, sua presença de palco, sua liderança, e o quanto sente e ainda se questiona sobre o que poderia ter feito de diferente, de melhor para salvar o amigo. Legal também a enorme consideração que manifesta pelo produtor Martin Hannett, qualificando-o como gênio, mesmo admitindo discordâncias na época das gravações dos álbuns e até ainda hoje, alguma reprovação a alguns resultados finais para algumas músicas do Joy Division; saber que sua preferida é "Insight"; do orgulho de que um riff  seu, como o de "She's Lost Control", tenha sido cantado por alguém que admirava tanto quanto Ian e tenha se tornado um dos mais marcantes da banda; as pequenas pinceladas do que viria a ser o New Order; e as análises faixa a faixa das músicas dos dois álbuns da banda.
O livro traz diversas curiosidades, fatos engraçados, coisas de estrada, sacanagens entre bandas e muitas outras coisas que envolvem um grupo de rock, mas para mim uma das mais interessantes talvez tenha sido o fato de que um amplificador com defeito foi o que veio a definir o jeito de tocar de Peter Hook, nas notas altas, um dos baixistas que mais admiro e um dos estilos mais marcantes do mundo do rock.
Baita livro. Super-recomendo!


Cly Reis

terça-feira, 15 de setembro de 2015

"Joy Division: Unknown Pleasures", de Peter Hook - Ed. Seoman (2015)





"Este livro é a verdade,
somente a verdade
e nada mais que a verdade...
do modo como me lembro."
Peter Hook




Comprei há poucos dias a biografia, "Joy Division: Unknown Pleasures", que aabou de sair no Brasil, escrita por ninguém menos que seu baixista, Peter Hook. Na verdade, apesar de ser um amante de música, não era muito de biografias de bandas e cantores até pouco tempo atrás quando li a muito boa "There's A Light That Never Goes Out - A Biografia", dos Smiths que, não somente pela história da banda em si, mas também pela boa estruturação e escrita, me despertou esse novo hábito. No caso desta do Joy Division, uma das bandas mais cultuadas de todos os tempos, o que me estimulou a querer lê-la é o fato de ser escrita por um dos integrantes, um cara inteligente, autêntico e bem articulado (polêmico, também) que tem grande possibilidade de produzir um bom material escrito. Além do mais, pelas informações que tenho do livro, parece que Hook em "Unknown Pleasures" traz uma abordagem nostálgica e carinhosa da época e dos integrantes, esquecendo em parte todo o desconforto que existe atualmente com seus ex-colegas deJoy Division/New Order. É lógico que a visão positiva do autor sobre aquele momento não o faz esquecer os momentos duros e difíceis do temperamento do vocalista e amigo Ian Curtis, seus problemas de saúde e o fatídico suicídio, mas só o fato de não ter uma disposição meramente rancorosa, privilegiando, como ele mesmo diz na introdução os fatos como ele lembra, já tornam a biografia recomendável para os fãs.
Como ingrediente extra, como se não bastasse tudo, o livro tem ainda um interessante prefácio de Edgar Scandurra, do Ira!, cara que com certeza, pelas raízes, viveu a cena pós-punk paulistana e de uma forma ou de outra, como a maioria das bandas dos anos 80, teve um pouquinho de Joy Division no DNA.
Por ser o autor quem é, um dos membros, um dos caras que estava ali todo o tempo, vivendo as coisas, convivendo com o instável Ian Curtis, e pela proposta tão corajosa e verdadeira, desde já, "Unknown Pleasures" me parece um documento indispensável pra qualquer fã desta banda que parece, ainda hoje, uma espécie de entidade, algo que não é apenas musical, algo que está entre nós de alguma forma. Poucos conseguiram isso até o hoje. E por isso o Joy Division goza de tamanho respeito e admiração em todos os segmentos do meio musical pop/rock. É uma verdadeira lenda e o legal de "Unknown Pleasures" é que, ao que aprece, Peter Hook não vem disposto a desfazê-la e sim a revelá-la ainda maior.



Cly Reis






domingo, 27 de julho de 2014

New Order - "Substance" (1987)


"Perguntei a Bono quais eram
suas principais influências,
e ele me disse que
uma de suas maiores influências
havia sido exatamente o New Order.
O New Order,
uma das grandes influências do U2"
Peter Hook




Uma compilação de singles e remixes que virou clássico.
Bom, talvez por não se resumir a apenas uma mera coletânea como muitas retrospectivas comuns entre bandas que chegam a determinado ponto e repassam a carreira.
"Substance" de 1987 é um marco.
Um dos discos mais importantes para a linguagem pop dos anos 80 e o maior responsável pela explosão da música eletrônica no início da década que se seguiria. Muito por conta de "Blue Monday", hit lançado em 1983 apenas em single e que repetia o sucesso, desta vez de modo muito mais massivo com o lançamento de "Substance". Uma incrível peça musical basicamente eletrônica, extremamente dançante, de ritmo alucinante, tom grave e uma programação de bateria marcante e enlouquecedora. Não havia quem não conhecesse "Blue Monday" e não tivesse dançado com ela.
Mas "Substance" tinha outros trunfos que o tornavam especial em relação a outras coletâneas: pra começar, abria com "Ceremony", canção da banda-embrião do New Order, o Joy Division, que era apresentada em versão de estúdio pela primeira vez, canção que traduzia bem a transição do estilo soturno do grupo na época de Ian Curtis para a tendência dançante que se seguiria a partir da criação da nova banda.
O disco traz ainda, além de versões estendidas, diferentes das dos singles e de seus álbuns correspondentes, duas versões inéditas regravadas de antigos singles, "Confusion" e "Temptation", e uma inédita, naquele momento, a ótima "True Faith", um pop sofisticado, impecável, que imagino que seja tudo que os Pet Shop Boys sempre desejaram ter feito.
Tem "Subculture" em versão mais longa e diferente da do álbum original, com seus teclados monumentais da abertura soando ainda mais imponentes e grandiosos; "Shellshock", perfeita, com suas influências hip-hop, break e black music de rua dos anos 80; o mega-hit "Bizarre Love Triangle", um pop dançante de estrutura muito bem elaborada, mas que na mixagem da versão para a coletânea teve cometido o pecado da ausência do som do baixo, deixando a música muito mais dançante, é verdade, porém muito mais pobre musicalmente.
A épica "Perfect Kiss" que aparece no álbum "Low-Life" em versão editada, aqui, neste "Substance" mostra-se inteira até seu ápice num final extasiante que culmina num solo de contrabaixo, de Peter Hook, daqueles como só ele consegue fazer, como se fosse uma guitarra.
Aliás, se há um ponto negativo no álbum, é o fato de a partir dele ter-se associado necessariamente o New Order à música eletrônica, aquela mecânica, sem se dar o devido valor ao trabalho coletivo e instrumental do grupo, como se eles só apertassem os botões e a música começasse a tocar e sem considerar o grande número de músicas onde, na verdade, os teclados são parte menor no contexto. Grande equívoco! Trata-se de uma banda com alto poder criativo e capacidade instrumental individual bastante apreciável, sobretudo de Stephen Morris, um dos bateristas que melhor consegue conjugar os elementos eletrônicos com a execução acústica da bateria, e do baixista Peter Hook, de toque diferenciado, de afinações singulares e de uma maneira tão ímpar de tocar que faz com que seu instrumento seja o coração da banda.
Há muitas coletâneas importantes, muitas marcantes, mas poucas conseguem a eternização que "Substance" alcançou. Talvez por que esta tenha algo mais. Talvez porque tenha algo, assim, substancial... Substância.
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FAIXAS: 
1. "Ceremony" 4:23
2. "Everything's Gone Green" 5:30
3. "Temptation" 6:59
4. "Blue Monday" 7:29
5. "Confusion" 4:42
6. "Thieves Like Us" 6:36
7. "Perfect Kiss" 8:02
8. "Subculture" 4:48
9. "Shellshock" 6:28
10. "State of the Nation" 6:32
11. "Bizarre Love Triangle" 6:44
12. "True Faith"

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Ouça:


Cly Reis



quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Joy Division - "Closer" (1980)

Diálogo Entre Mim e Eu Mesmo Sobre Como Re-Descobri o Joy Division


“Cansados por dentro, agora nossos corações perdidos para sempre/
Não podemos nos recompor do medo ou da ânsia da perseguição/
Estes rituais nos mostraram a porta para nossas caminhadas sem rumo/
Aberta e fechada, e então batida na nossa cara/
Onde estiveram? Onde estiveram?...”
Ian Curtis,
da letra de “Decades”

- Dã, tu que sempre gostou de Joy Division, desde que os descobriu num programa do saudoso Clube do Ouvinte, da Ipanema FM, no início dos anos 90, já percebeu que eles são superinfluentes num monte de coisa?

- Que eles inspiraram o próprio New Order, embora o som seja majoritariamente diferente (um, deprê; o outro, “pra cima”), disso todo mundo sabe. E que tiveram também um papel importante na formação do pós-punk, ao lado do Public Image Ltd.Gang of Four e Pop Group, e do gothic punk, junto com The CureEcho and the BunnymenSiouxsie and the Banshees e outros. Mas tem mais alguma coisa que eu não saiba?

- Tem, tem mais coisa aí, sim. Andei percebendo isso reouvindo-os como sempre fiz desde que os conheci junto contigo, mas, sei lá porque, agora que me dei conta de uma série de outras percepções que nunca tinha atinado. A gente sabe que eles são muito mais do que um grupo do hit clássico “Love Will Tear Us Apart” ou aquela banda pré-história do New Order do vocalista que se matou. Mas afora isso tudo e o que tu citaste, noto hoje mais claramente que o Joy abriu as portas para uma série de influências que seriam sentidas dos anos 80 adiante na música pop em geral.

- Tipo o quê?

- Vejamos o “Closer”, de 1980. Embora minha admiração pelo "Unknown Pleasures" (e a idolatria que o mesmo tem mundo afora), é no segundo e último disco que o Joy Division cristaliza essa confluência de referências. Comecemos pelo exemplo da faixa inicial, “Atrocity Exhibitions”. Numa expressão: rock industrial.

- Quê? Tu... quer dizer, eu... enfim: estás louco? Rock industrial é pesado, sujo, ruidoso, cheio de efeitos eletrônicos. Rock industrial é Ministry, Pigface, Foetus, Alien Sex Fiend, essas coisas!

- E tu já prestou atenção em como é “Atrocity Exhibitions” de fato? Por acaso ela não é, justamente, pesada, suja, ruidosa e cheia de efeitos? Mais do que isso, veja a estrutura dela. Comparando com Ministry, banda exemplo máximo de rock industrial: a linha de bateria é intricada, quase específica dentro da harmonia. Em “Atrocity...”, a combinação caixa-tom tom-bumbo parece separada do chipô que, por sua vez, é separada dos toques no tarol, como se fossem três ilhas de percussão distintas. Fora que, além de não usar pratos, por uma questão de conceito harmônico, a percussão é toda sequencial, podendo tranquilamente se passar por uma programação de ritmo eletrônica combinada com bateria. Não é totalmente as melodias do Martin Atkins pro Ministry, Pigface ou PIL?

- É, neste sentido, tens razão.

- E o riff: muito rock industrial. Linha de baixo pesada em constante levada e guitarra distorcidíssima e corrosiva dando corpo, criando um clima caótico de era pós-industrial. A sacada do Joy, que ainda não tinha todo o aparato eletrônico que o mundo pop iria democratizar poucos anos à frente, foi criar um efeito de sequenciador na própria guitarra. A distorção, de uma clareza sonora incomum para as gravações da época (que não conseguiam dá-la por limitações de estúdio, fora num Hansa ou Abbey Road), parece, propositadamente, sair de uma motosserra ou de uma britadeira. Sobrepõe-se ao restante na medida certa, mas sem abafar os outros sons.

- É verdade!... Muito rock industrial isso, né? Lembra a estrutura melódica do Ministry em, por exemplo, “Breathe” e “Faith Collapsing”, até pelo ritmo meio tribal, pra citar apenas duas. Neste sentido, põe “no chinelo” o Pere Übu, que, embora eu goste, é o que chamam de início desse estilo. Que nada!

- E fora o vocal sempre espetacular do Ian Curtis, naquele timbre grave que transmite seriedade e melancolia, além de ser uma voz que não se consegue precisar a idade. Pode ter 24, como ele tinha, ou 70 anos. É bonita e perturbadora ao mesmo tempo.

- Bá, sempre achei o máximo o vocal do Ian.

- Pois então avancemos em nossa análise. “Isolation” não tem nem o que dizer: é MUITO New Order. E, mais do que isso, o pop dançável que tomaria as pistas anos 80 e adiante. The Cure, que é The Cure, só foi descobrir essa fórmula (riff no baixo, teclados cumprindo a função melódica da guitarra e bateria um misto de acústico e eletrônico) três anos depois, com “The Walk”. O Depeche Mode ainda engatinhava em direção à sua sonoridade própria quando o Joy lançou “Closer”.

- Ah, aí eu concordo contigo. Essa é a música que “inventou” o New Order.

- É, aí tu te enganas, mr. Daniel. Não exatamente.

- Ué? Por quê?

- Mais do que “Isolation”, “Heart and Soul”. Esta, sim, menos lembrada, carrega todos os predicados da linha que o New Order escolheria para seguir depois da morte do Ian. É só prestar atenção: primeiro, bateria/programação que reelabora a ritmação da disco, o que viria a dar depois em toda a cena tecno-house de Erasure, Tecnotronic, OMD da vida. É o mesmíssimo estilo de bateria que o PIL criou, principalmente no "Metal Box", de 1980 (“Swan Lake”, “Bad Baby”) e “This Is What You Want... This Is What You Get”, de 1984 (“This Is Not a Love Song”, “Bad Life”). Depois, o baixo marcado, constante, dub, a la Jah Wobble, remetendo a uma sonoridade eletrônica. David Bowie e Brian Eno já haviam feito isso em “Breaking Glass”, do "Low", de três anos antes – afinal, Bowie é quase sempre pioneiro no que se refere a pop-rock. Mas o Joy reelaborou e deu a forma definitiva daquilo que o próprio New Order assumiria. Basta ver os teclados e sintetizadores, que têm papel essencial na melodia e no arranjo. Mas o principal desta música: a voz do Ian. Mais leve e melodiosa que em qualquer outra que ele cantou em toda sua curta trajetória. É exatamente o estilo vocal que o Bernard Summer se sentiu à vontade em usar quando tomou os microfones – claro, tirando as gravações do defasado “Movement” – que é, parafraseando, um “movement ago”! hahahaha Endenteu, “movement”, “ago”! hahahaha

- Entendi, entendi. Meio sem graça, mas tudo bem.

- Com tu é sem graça, Dã... Tá, só complementando a ideia: o “Movement” é um luto do New Order em que eles ainda não conseguiam se desprender do Joy e da figura do Ian, grande poeta e líder. Por isso, New Order mesmo vale a partir do “Power, Corruption and Lies”, de 1982. Não só o Barney Summer pegou esse estilo de cantar do Ian em “Heart and Soul”, mas de toda a geração da acid house. Os caras do Erasure e Pet Shop Boys cantam exatamente assim até hoje!

- Concordo. Mas “Passover” e “24 Hours”, darks e densas, onde ficam?

- Tem que se entender que o Joy Division tinha o seu estilo já formado desde o “Unknown...”, e a banda, por mais que tenha incutido elementos e texturas eletrônicas, nunca deixou de compor suas canções nos instrumentos-base: baixo-guitarra-bateria . E se tu fores ver, eles próprios no New Order, festeiro e alegre muitas vezes, nunca abandonaram a composição à “moda antiga”, o que talvez seja o grande diferencial por eles estarem anos-luz à frente de outros grupos/artistas do eletro-punk dos anos 80, como o próprio Pet Shop Boys, o Ultravox ou o Durutti Culumn. No New Order, o Joy sempre esteve presente, às vezes até suprimindo ou relegando a segundo plano os teclados da Gilliam Gilbert, como em “Leave me Alone”, “Dream Attack” ou “Love Less”.

- Tá, mas voltando ao “Closer”, então, que mais tu me diz?

- Quanto a essas duas que citei, “Passover” é como uma continuação de “Isolation” com aquela “colagem” entre as faixas: o final de uma tem aquele som que parece estar sendo sugado, enquanto que o início da seguinte traz o mesmo som, só que invertido, dando a impressão de trazê-lo de volta, mas em outra abordagem. É isso que “Passover” é: uma “Isolation” obscura. No lugar do ritmo em tom elevado, tom menor de tristeza. Ambas as letras retratam as dificuldades psicológicas de Ian para com sua criação materna. Enquanto a letra de “Isolation” diz: “Mother I tried please believe me/ I'm doing the best that I can/ I'm ashamed of the things I've been put through/ I'm ashamed of the person I am” (“Mãe, eu tentei, por favor, acredite em mim/ Estou fazendo o melhor que posso/ Me envergonha as coisas que tenho feito/ Me envergonha a pessoa que sou”), “Passover” responde: “Is this the role that you wanted to live/ I was foolish to ask for so much/ Without the protection and infancy's guard/ It all falls apart at the first touch” (“É este o papel que você quis viver?/ Eu fui um tolo por pedir tanto/ Sem a proteção e guarda da infância/ Tudo se despedaça ao primeiro toque”). Até a batida, num compasso mais lento em “Passover”, é igual. Pode perceber. Quanto a “24 Hours”, acho das melhores da banda, com aquela intensidade que explode no refrão num ritmo punk junto da inabalavelmente tristonha voz de Ian, que não se altera da parte mais lenta para esta, mais agitada. E a linha de baixo do Peter Hook?! O que é aquilo? Inteligente, executa arpejos crescentes e decrescentes, que imprime um ar sério e contemplativo pra música. A bateria é outro ponto especial. Como no pós-punk e no industrial, não é óbvia. Aliás, o Stephen Morris dá um show à parte em todo o disco, cumprindo com precisão nas baquetas e na programação rítmica sempre que acionado, e olha que tem cifras difíceis de tocar no “Closer”!

- É verdade. “Colony” é um espetáculo a bateria.

- Pois ia falar justamente desta. Classifico-a como um “blues hermético”. É outra muito rock industrial, estilo que, por sua vez, como fica claro em “Heart and Soul”, é filho do pós-punk. Enquanto no “Unknown...” a veia punk desses ex-Warshaw ainda estava latente (basta ver “Interzone” e “Disorder”, punk-rocks secos), no “Closer” Ian & Cia aperfeiçoam isso. A bateria é sequencial e quebrada, como uma "Tomorrow Never Knows" em tempos fin de siècle, a guitarra solta urros como de “um vento cruel que uiva em nossa demência” e o baixo encaixa-se na batida, formando um ritmo marcial-militar, dando a ideia de prisão de uma opressora colônia para doentes mentais (ou seria a sociedade moderna que ele estava falando?). Nesse mesmo compasso rítmico, “A Means To an End” é outra brilhante do disco.

- E, novamente, uma letra e performance incríveis do Ian Curtis. É fantástico quando ele sai do seu tom contidamente tenso pra esbravejar, desiludido: “I put my trust in you” (“Eu depositei minhas esperanças em você”). Demais.

- Pois é. Agora, pensando pela lógica que expus desde o início, tanto “The Eternal” quanto “Decades” são bem a ponte entre o dark do Joy e o avanço técnico e melódico trazido pelo New Order e sua geração tempo depois. O compasso de “The Eternal” vem de uma bateria eletrônica, que lhe dá um clima de funeral, semelhante a de um coração deprimido que pulsa com sofreguidão. Os sintetizadores, também, mais parecem camadas de neblina cobrindo um cemitério. Elementos “artificiais” para um efeito orgânico. E é muito legal ainda a voz quase desfalecida de Ian, que a canta com profundo sentimento. Aí vem o final do disco com “Decades”!

- Esta é das melhores. “Decades” parece-me ser uma paixão especial por parte dos fãs de Joy Division.

- Concordo. Seguindo a linha de raciocínio, como “The Eternal”, em “Decades” a banda avança na ideia de sofisticar sua sonoridade. Ao invés da secura sem maiores efeitos de mesa de uma “New Down Fades” (também excelente, deixe-se registrado), que também fecha um dos lados de "Unknown..." e tem clima igualmente sombrio e construção melódica que cresce para um final épico e carregado, o riff de “Decades” já sai do próprio teclado. Nela, se adensa a atmosfera litúrgica sentida na faixa anterior, principalmente pelo som de órgão de Igreja. A letra, belíssima, não pode ser mais poética e decadentista.

- Total desesperança desse cara, né? Tava na cara que o suicídio dele se anunciava, e foi acontecer justamente dois meses antes do disco ser lançado, o que o tornou ironicamente póstumo. Mas tu me responde uma coisa: o que um ser em sã consciência faria assistindo “Stroszek”, do Werner Herzog, e ouvindo o "The Idiot" do Iggy Pop, ao mesmo tempo? Ambas as obras excelentes, mas, juntas, é piração total, um coquetel molotov pra um suicida!

- É verdade. Além de toda essa lenda em torno da morte do Ian, aumenta ainda mais a carga mitológica do “Closer” o fato de ter sido gravado sob uma abóbada de estuque especialmente construída esse fim de modo a captar a ressonância de uma capela. Era o Ian já preparando seu jazigo.

- Não sabia disso. Mas é fato que a peculiaridade de não ter indicação dos lados, seja no selo, seja no encarte, gera, conceitualmente, uma relação ao mesmo tempo aleatória e concisa entre as faixas, pois todas “dizem a mesma coisa”.

- Ah, mas mais do que isso, a arte da capa (assinada por Peter Saville), com aquela foto pictórica ritualística, mostra a foto de uma lápide tirada no Cemitério Staglieno, em Gênova, foi concebida antes da morte de Ian Curtis. Sabia disso? Uma infeliz coincidência?

- Sabe-se lá, né? De repente, o cara já tava intuindo, queria deixar seu “testamento musical”, como dizem que Coltrane fez em “A Love Supreme” ou Kurt Cobain teria dado a entender ao tocar a debochada e tristemente autosugestiva “Where Did You Sleep Last Night?” (“Onde Você Dormiu a Noite Passada”), com todas aquelas velas fúnebres no palco, como último número do "MTV Unplugged in New York", canto-do-cisne do Nirvana. Enfim: mitos que se criam em torno de um disco clássico como “Closer”.

- Pois é... pós-punk, gothic-punk, rock industrial, acid house, tecno, dub... puxa, são muitas referências que partiram deles!

- É, Dã: clássicos são reveladores a cada audição até mesmo para fãs de Joy Division como nós, que nunca deixaram seus discos esquecidos na prateleira. É o caso do “Closer”, que escutamos e reescutamos seguidamente. Mas grandes artistas têm disso, né: nos surpreendem mesmo depois de acharmos que os conhecemos bem. Eu pelo menos me surpreendi, e tu, Daniel?

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FAIXAS:
1. "Atrocity Exhibition" - 6:06
2. "Isolation" - 2:53
3. "Passover" - 4:46
4. "Colony" - 3:55
5. "A Means to an End" - 4:07
6. "Heart and Soul" - 5:51
7. "Twenty Four Hours" - 4:26
8. "The Eternal" - 6:07
9. "Decades" - 6:10


vídeo de "Decades" - Joy Divsion


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OUÇA:




segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Iggy Pop - "The Idiot" (1977)




“Nesse exato momento,
eu queria estar morto.
Eu simplesmente
não aguento mais”.
texto do bilhete deixado por Ian Curtis,
encontrado enforcado em sua casa,
com o disco “The Idiot” de Iggy Pop ainda rodando no toca-discos.

Depois de ter produzido o último álbum dos pré-punk, The Stooges, David Bowie já renomaado e prestigiado adotava o vocalista da banda, Iggy Pop, como pupilo e produzia seu álbum solo de estréia. Neste disco, “The Idiot”, de 1977, o Camaleão limpava o som ruidoso e retumbante dos Stooges, conferindo toda uma sofisticação e classe, acrescentava alguns toques tecnológicos e eletrônicos, dosando os elementos, sem contudo violentar a característica agressiva e selvagem do cantor. Provas disso são “China Girl”, que viria a ser gravada por Bowie anos depois em um álbum próprio, exemplo claro de punk moderado, com todos os elementos ali, ritmo, força, distorção, voz rasgada, porém amenizados por um tema romântico e por um teclado agudo tipicamente oriental; ou “Funtime” cuja agressividade sonora fica contida pelos ecos e efeitos dando lhe inclusive um certo ar futurista.
 “Sister Midnight”, a faixa que abre o disco e uma das grandes músicas dele, é notável com sua estrutura totalmente quebrada e pela versatilidade dos vocais de Iggy dentro da mesma canção; “Dum Dum Boys” mesmo na voz de Iggy é aquele tipo de balada tipicamente bowieana; o charmosíssimo pop de cabaré “Nightclubbing”, que mais tarde veio a ter uma versão igualmente admirável de Grace Jones, tem Iggy numa interpretação notável simulando uma certa embriaguez na voz; e o disco fecha com a lenta, minimalista e arrastada “Mass Production”, e seu apito de navio anunciando o fim do disco.
 Um dos mais importantes e primeiros representantes da chamada fase berlinense de David Bowie que ainda traria seus excelentes "Low", “Lodger” e Heroes”, além de outra espetacular parceria com Iggy Pop, produzindo seu ótimo “Lust for Life”, que por certo, mais cedo ou mais tarde vai acabar pintando aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
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FAIXAS:
  1. "Sister Midnight" – 4:19
  2. "Nightclubbing" – 4:14
  3. "Funtime" – 2:54
  4. "Baby" – 3:24
  5. "China Girl" – 5:08
  6. "Dum Dum Boys" – 7:12
  7. "Tiny Girls" – 2:59
  8. "Mass Production" – 8:24
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Ouça:
Iggy Pop The Idiot



Cly Reis

quinta-feira, 29 de março de 2012

The Horrors - "Primary Colours" (2008)


"E quando eu lhe disse
que tinha uma outra garota
havia me chamado a atenção,
Ela chorou.
E eu a beijei,
com um beijo que
só poderia significar um adeus"
trecho de "Who Can Say"




Descobri o The Horrors em Londres.
Eu estava em uma loja de CD's, a HMV, quando ouço aquele som muito interessante tocar nos alto-falantes da loja. Puxa! Que bom isso, hein! Talvez até já fosse conhecido no Brasil, mas pra mim era novidade. Lembrava o som dos góticos dos anos 80 mas tinha identidade própria. A voz era algo entre um Ian Curtis e um Peter Murphy, o som tinha a crueza do punk do Joy Division, as atmosferas do The Cure, o barulho de Jesus and Mary Chain, o experimentalismo de um Sonic Youth. Bom isso, hein!
Perguntei a uma vendedora que som era aquele e ela me disse que era de uma banda chamada The Horrors, e me mostrou o CD que estava em destaque no balcão. Para minha surpresa, não apenas o som remetia aos darks oitentistas, a capa do álbum era uma referência clara (ou escura) ao disco clássico do The Cure, "Pornography" de 1982. Aí fui ver o nome das músicas e as referências àquele pessoal da minha época aumentava na medida que muitos dos nomes das canções remetiam de certa forma a títulos da banda Joy Division, como "The New Ice Age" (quase igual a "Ice Age" do Joy Division); Can You Remember (lembrando "I Remember Nothing", também do Joy); Three Decades, de certa forma remetendo a "Decades" e "I Can't Control Myself" ao controle perdido do clássico "She's Lost Control" da banda de Ian Curtis. Coincidência?
Até acho que não. Mas em defesa deles, deve-se dizer que mesmo os nomes tendo certa semelhança, tais faixas não tem nenhuma relação direta com a sua correspondente do grupo de Manchester.
Mas semelhanças à parte, o fato é que nem todas essas referências, homenagens, inspirações fazem de "Primary Colours" de 2008 um arremedo dos discos do pós-punk do início da década de 80. Com personalidade, com qualidade, com incremento de elementos mais atuais e com uma produção caprichada do Portishead Geoff Barrow, trouxeram de volta o climão pesado e sombrio de outrora, a melancolia barulhenta dos shoegazers e a tradicional psicodelia do rock britânico, em um dos melhores trabalhos de bandas dos últimos tempos.
Rigorosamente todas as faixas são ótimas mas em especial a de abertura, "Mirror's Image", ruidosa, perturbadora e viajante; "Who Can Say", canção de amor triste cheia de guitarras flutuantes ao melhor estilo My Bloody Valentine; a que dá nome ao disco, "Primary Colours", colorida sob os matizes do punk na faixa provavelmente mais pegada e básica do disco; e a excepcional "Sea Within' a Sea", faixa longa, de estrutura um pouco mais complexa, bem trabalhada e encantadoramente sombria que encerra de maneira gloriosa este ótimo álbum.
Soube depois que o grupo não era bem assim em seu primeiro disco, que passou por uma certa transformação e que era algo tipo um Strokes, um Libertines ou algo do tipo, só que ruim. Bom..., ainda bem que o que eu conheci foi a banda do segundo disco. Nunca me interessei em ouvir o trabalho anterior e nem preciso. Tenho certeza que não pode ser melhor que isso e que a transformação, que dizem ter ocorrido, por certo foi para melhor. E mesmo, se um dia 'der na veneta' e venham a desistir dessa linha, dessa sonoridade, mudem de ideia de novo, resolvam ser extremamente pop e fazer música para o grande público, já terão deixado um dos grandes discos deste início de século.
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FAIXAS:
1."Mirror's Image" – 4:51
2."Three Decades" – 2:50
3."Who Can Say" – 3:41
4."Do You Remember" – 3:28
5."New Ice Age" – 4:25
6."Scarlet Fields" – 4:43
7."I Only Think of You" – 7:07
8."I Can't Control Myself" – 3:28
9."Primary Colours" – 3:02
10."Sea Within a Sea" – 7:59
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Ouça:
The Horrors Primary Colours


Cly Reis

segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Unknown Pleasures: A Celebration of Joy Division" - Peter Hook & The Light - Circo Voador - Rio de Janeiro (18/06/2011)



 Não tive a oportunidade de conhecer o Joy Division na época de sua curta existência, até porque tinha apenas 5 aninhos quando lançaram seu primeiro álbum e só fui conhecê-los mesmo no início de minha adolescência, ali pelos 13 anos de idade; mas então Ian Curtis, seu vocalista, já estava 'do outro lado' e a banda, disposta a seguir a vida após a tragédia, já se tornara o New Order e botava o mundo pra dançar com sua eletrônica "Blue Monday". Assim que, tirando alguma eventual 'canja' do New Order não haveria como ouvir as míticas canções do Joy Division executadas por seus integrantes originais. Mas, de todo modo, já perdi de ver o N.O. duas vezes e ao que parece não vou ver mais porque (pela milésima vez) eles dizem ter-se separado.
Mas eis que Peter Hook, baixista original, juntou uma meninada, ensaiou bem as músicas e caiu na estrada para homenagear o primeiro disco da banda, o lendário "Unknown Pleasures" . Aterrisou por aqui e neste último sábado apresentou no Circo Voador, aqui no Rio, o show "Unknown Pleasures: A Celebration of Joy Division", tocando na íntegra as músicas do álbum. Ora!!! Não haveria como perder uma chance destas! Não seria o Joy Division inteiro, é verdade, Ian está morto e nada vai mudar isso, mas presenciar um integrante original tocando um álbum como este não deixaria de ter um grande valor físico, musical e emocional. E a apresentação foi realmente emocionante. Uma alegria enorme para qualquer fã. Um dos poucos shows que passei praticamente todo o tempo com os olhos marejados. Empolgante nos momentos certos, visceral quando tinha que ser, sombrio na medida certa, e especalmente mágico o tempo todo.
Pra começar a loucura, os caras entraram no palco ao som de "Trans-Europe Express" do Kraftwerk, o que já foi de arrepiar; aí abriram a sessão com a instrumental "Incubation", que eu adoro e que minha banda tocava de vez em quando no estúdio; seguiram numa linha bem Warsaw com "No Love Lost" e "Leaders for Men", me surpreendendo porque, ao contrário do que eu imaginava, Peter Hook, que eu achei que fosse ficar só no baixo e fosse trazer um vocalista com um timbre parecido com o de Ian, assume à frente dos vocais e manda bem. Aí vem "Digital" e o lugar quase vai abaixo com a galera cantando o "day in, day out" do refrão num coro alucinado, na última antes da execução das músicas do disco clássico.
O "Unknown Pleasures" começa e "Disorder", um punk-rock embalado e gostoso de poguear, provoca uma catarse coletiva. Segue a belíssima "Day of Lords" com seu andamento lento e pesado, bem executada pelos The Light, mas que, por mais esforçado que Hook estivesse nos vocais, acabou perdendo a dramaticidade conferida pela voz e pela interpretação de Curtis.
Até então Peter Hook cantava, gesticulava, posava com seu instrumento musical, jogava-o pras costas mas a verdade era que, depois da primeira música do show, na qual teve algum desempenho, não tirara mais uma nota sequer de seu reluzente contrabaixo vermelho deixando tudo à cargo dos seus competentes comandados. Só que isto àquelas alturas era um pouco decepcionante haja visto que sua forma de tocar baixo como quem toca guitarra (não só performaticamente mas sonoramente também) era um dos elementos aguardados por mim com expectativa. Mas aí o cara parou de fazer posição e jogar o baixo pra trás e tratou de esmerilhar as cordas. "Insight", se perdeu alguma coisa no que dissesse respeito à ausência dos efeitos da versão do disco, ganhou em peso e intensidade com dois contrabaixos e com a afinação muito peculiar de Peter Hook; em "New Dawn Fades", uma das melhores não só dos álbum em questão como da banda, Hook voltava a destruir tudo, desta vez com aquela levada mais grave, numa canção densa, sombria e espetacular.
Abre-se o lado B com outro clássico, "She's Lost Control", que, igualmente, mesmo sem o trabalho de estúdio para a bateria, manteve a força, a pegada e a magnitude. É quase redundância destacar, mas o baixo de Hook, bem agudo e agressivo nesta música, soava de maneira simplesmente arrasadora.
"Shadowplay" seguiu com aquela espécie de força surpreendente; "Wilderness" trouxe outro show das quatro cordas de Hook; "Interzone" foi selvagem; e "I Remember Nothing", talvez tenha sido a que mais perdeu em relação à sua gravação original, sem os efeitos de vidros quebrados, sem conseguir reproduzir bem aquela sensação de vácuo e sofrendo pela inevitável falta do seu intérprete de origem que nesta canção faz muita diferença. Mas mesmo assim muito boa. Ganhou em energia, força, ruídos, agressividade.
Estava encerrado o álbum. Eu havia visto e ouvido um membro do Joy Division tocar um dos meus álbuns favoritos.
Mas como não nos déssemos por satisfeitos com aquela dádiva, eu e todos os outros fanáticos ali, ficamos ali a exigir mais e mais... E felizmente tivemos mais:
Hook e seus parceiros voltam para uma "Atmosphere" que, na verdade, a mim, não agradou muito; mas por outro lado para uma "Ceremony" que, essa sim, me deixou com lágrimas nos olhos. Saíram do palco de novo e voltaram, agora com Hook vestindo uma camisa número 10 da seleção brasileira com seu nome, para um bis final. Aí veio a boa "These Days", outra pré-Joy, "Novelty"; a vibrante "Transmission" e aquele "dance, dance, dance to the radio" sendo entoado pela plateia inteira com as mãos para o alto; e fechando com, provavelmente o clássico maior da banda, "Love Will Tear Us Apart" para delírio geral.
Estávamos todos repletos, contemplados. Nenhum nome teria sido mais justo para aquele show, para aquela festa do que o que foi dado: "A Celebration of Joy Division". Foi isso. Aquilo ali havia sido uma grande celebração. Uma celebração que revelava agora, prazeres até então desconhecidos.

SET LIST:

1.Incubation
2.No Love Lost
3.Leaders Of Men
4.Digital
5.Disorder
6.Day Of The Lords
7.Candidate
8.Insight
9.New Dawn Fades
10.She's Lost Control
11.Shadowplay
12.Wilderness
13.Interzone
14.I Remember Nothing

Bis:
15.Atmosphere
16.Ceremony

Bis 2:
17.These Days
18.Novelty
19.Transmission
20.Love Will Tear Us Apart




Cly Reis