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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Zé Leonardo Matraga Villar


Villar vivendo seu maior personagem:
Zé do Burro, de "O Pagador
de Promessas"
Sempre quando falo de grandes atuações do cinema, lembro-me de Leonardo Villar. Assim como Giulieta, Brando, Marília, Toshiro, De Niro, Pacino, Emil ou Lorre, o ator brasileiro é dos que foram além do convencional. Aqueles atores cujas atuações são dignas de entrar para o registro dos exemplos mais altos da arte de atuar. Sabe quando se quer referenciar a alguma atuação histórica? Brando em “O Poderoso Chefão”, Michel Simon  em “Boudu Salvo das Águas”, Giulieta em “A Estrada da Vida”? Pois Leonardo Villar fez isso não uma, mas duas vezes – e numa diferença de 5 anos entre uma realização e outra.

Primeiro, em 1960, ao encarnar Zé do Burro, o tocante personagem de Dias Gomes deO Pagador de Promessas, o filme premiado em Cannes de Anselmo Duarte (na opinião deste que vos escreve, o melhor filme brasileiro de todos os tempos). Na mesma década, em 1965, quando vestiu a pele a perigo de Augusto Matraga, do igualmente célebre A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de certamente o melhor filme do craque Roberto Santos rodado sobre a obra de Guimarães Rosa. Dois filmes que, soberbamente bem realizados (“O Pagador...” é daqueles que considero perfeitos em todos os aspectos), não o seriam tanto não fosse a presença de Villar na concepção e realização dos personagens centrais das duas histórias. Ainda, personagens literários que, embora a riqueza atribuída por seus brilhantes autores, são - até por conta desta riqueza, o que resulta-lhes em complexos de construir em audiovisual - desafios para o ator. Desafios enfrentados com louvor por Villar.

Augusto Matraga: 5 anos depois, o ator realizava outra
atuação história no filme de Roberto Santos
Talvez por não ser ator, mas amar cinema, sou arrebatado pela arte do ator. Por óbvio, mais do que outros elementos como a fotografia, a trilha sonora ou a edição, a atuação é o que geralmente me mais faz associar a ideia de um filme, a que mais me faz lembrá-lo como obra. A concepção de um personagem, algo tão técnico quanto sensível e, por vezes mágico, é-me o grande mistério do cinema o qual perscruto o utópico entendimento sabendo, pois utópico, nunca chegar. Por isso, quanto mais vejo, mais me fascino.

Existem vários atores de grande capacidade e inúmeras atuações bem realizadas. Mas daquelas que simbolizam a arte cênica, são poucos. Poucos capazes de gerar tamanha empatia (seja amor, raiva, dó, asco, tesão, piedade ou o que for cabível despertar nessa relação imagético-real provocada pelo cinema) numa obra artística de pouco menos de duas horas de duração. Quando ator e personagem homogeneízam-se. A pessoa e a ideia, o real e a ficção. Tão raro quando isso ocorre, que não é errado pensarmos que estamos diante de um milagre. Por isso, perdas como essa devem ser, se não lamentadas, registradas. O momento em que perdemos Zé do Burro e Augusto Matraga. Aliás, Leonardo Villar e Leonardo Villar.


Leonardo Villar
(1923-2020)

*************

"O Pagador de Promessas" (1960)


"A Hora e a Vez de Augusto Matraga" - parte 1 e 2 (1966)
 


Daniel Rodrigues


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

"Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (2019)



Sei que praticamente tudo já foi dito sobre "Bacurau", mas queria registrar aqui, como amante do cinema, uma enorme satisfação em ver, de novo, um filme brasileiro figurando com destaque, sendo reconhecido e premiado em festivais internacionais, especialmente em Cannes onde o Brasil já brilhara em outras oportunidades com obras de arte como "O Cangaceiro", que em 1953 levava o  prêmio de melhor filme de aventura, com "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", que rendeu o prêmio de direção a Glauber Rocha, em 1969, e "O Pagador de Promessas" que desbancou, entre outros, "O Anjo Exterminador", de Buñuel, para ficar com a Palma de Ouro em 1962, voltando à evidência agora com um filme tão oportuno e relevante, e que resgata com dignidade diversos elementos da tradição cinematográfica brasileira.
"Bacurau" é uma resposta em forma de arte aos ataques, restrições, limitações, cortes que a cultura brasileira  vem sofrendo desde a vigência do atual governo e, como se não  bastasse o "desaforo", a afronta, para não cair no vazio ou na desimportância, ainda ganha os holofotes do mundo e não passa despercebida. Meio faroeste, meio drama, meio suspense, meio policial, e até meio terror, o filme dos pernambucanos Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho é construído pacientemente inserindo aos poucos elementos que vão nos elucidando a verdadeira trama, contando para isso com uma excelente  fotografia, uma trilha sonora precisa e atuações impecáveis, com destaque para o atemorizante Lunga, vivido por Silvero Pereira e para a brilhante Sônia Braga, como a médica alcoólatra Domingas.
"Bacurau" é um posicionamento diante da postura entreguista e lambe cu do atual governo brasileiro perante os norte-americanos, um grito de resistência, um brado retumbante. Uma declaração: nós não vamos nos entregar facilmente.
Em "Bacurau", a população do minúsculo povoado que dá nome ao filme e que, assim, do nada, some do mapa, se vê ameaçada diante da atuação de estrangeiros que vão à região com a intenção de caçar os cidadãos do lugar, por mero esporte, entretenimento, com a anuência do prefeito local, simplesmente porque quem vive ali, para eles não faz a menor diferença no mundo e sequer é gente. Mas no fundo a coisa não é tão simples assim, pois, como podemos observar no filme, a região que já fora um rico pólo aquífero, inclusive sediando uma barragem,  naqueles dias vive uma deplorável crise de abastecimento de água. Triste "semelhança" com um país que se submete a capacho, entregando suas riquezas de mão  beijada para os gringos por sua eterna síndrome de vira-lata e também, na verdade, por outros tantos interesses escusos.
"Bacurau" é Glauber, é Lima Barreto, é Nelson Pereira, Anselmo Duarte, Guimarães Rosa, é Portinari, é Lampião, é Canudos... "Bacurau" resgata o que o brasileiro realmente tem de melhor em arte e o que tem de mais forte em atitude. Se seu final sombrio, diante da revelação de que aquilo tudo é só o começo, nos faz vislumbrar tempos penosos, por outro lado nos estimula a buscar lá no fundo o espírito de luta e coragem que sempre guiou essa gente e, de certa forma, nos encorajam a afirmar, diante da ameaça do inimigo: "Podem vir. Estaremos prontos".
A comunidade reage. "Aqui, não!"
(muito Glauber essa cena)





por Cly Reis

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

20 filmes para entender o cinema brasileiro dos anos 60



Outro dia, logo após postar no Facebook que havia revisto um dos meus filmes favoritos da cinematografia nacional, “Bye Bye Brasil” (sobre o qual comentarei melhor em um próximo post), surtiram, como geralmente ocorre, alguns comentários. Na ocasião, entretanto, um dos que comentou foi meu primo e colaborador do ClyBlog (especialmente para da seção ClaqueteVagner Rodrigues. Amante de cinema, ele revelou não apenas querer conhecer o filme em questão quanto se aprofundar mais no cinema brasileiro das décadas de 60, 70 e 80.

Dispus-me, então, a elencar para ele títulos que dessem um panorama da produção de cada década no combalido e combativo cinema no Brasil. Até aí, nada incomum, considerando que gosto de compartilhar conhecimento sempre que posso e o considero suficiente para tal. O que eu mesmo não esperava era que, ao comentar brevemente cada filme somente de forma a justificar ao Vágner o porquê de sua presença numa classificação tão seleta, fui me empolgando não apenas com cada anotação, como, principalmente, com a seleção em si. Tanto que, somando-se os três períodos, cheguei a 55 títulos!

Afora a trabalheira prazerosa que sei que dei ao meu primo, acabaram surgindo três listas bem interessantes que dão a dimensão da qualidade, importância, versatilidade e profundidade artística, estilística, sociológica e política do cinema brasileiro em cada uma destas décadas, sem dúvida as melhores em nível qualitativo em toda a história dessa arte no Brasil (e olha que tem como concorrentes os fortes anos 50 e a primeira década do séc. XXI). Ao mesmo tempo, juntos, dão uma mostra bem real do quanto já foi muito mais difícil fazer cinema no Brasil, tanto pela questão técnica (produções quase sem recurso, tecnologia defasada e falta de mão de obra) quanto, principalmente nos 60 e 70, pelo cenário político, tendo em vista que muitos desses filmes – mesmo os corajosamente denunciadores – sofreram com a censura do governo militar antes, durante ou depois de lançados.

Comecemos, então, com a melhor de todas: a década de 60, marcada pelo boom do Cinema Novo – que revelou os gênios Glauber Rocha e Julio Bressane, mestres como Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade e Cacá Diegues e técnicos de primeira linha como Dib Lufti e Eduardo Escorel – mas que presenciou, tanto quanto, obras memoráveis não necessariamente ligadas ao movimento. Enfim, uma seleção de 20 títulos com seus respectivos diretores e em ordem cronológica de ano que me deram muito trabalho para escolher, mas que dão uma ideia legal da produção da época pelo filtro daquilo que gosto e acredito como arte – a sétima, neste caso.



1 - "O Pagador de Promessas", Anselmo Duarte (60) – Com absoluta convicção, o melhor de todos os tempos no Brasil. Perfeito do início a fim: fotografia, atuações, roteiro, trilha, edição, cenografia. E tem um dos papeis mais memoráveis do cinema: Leonardo Villar como Zé do Burro. E ainda é um Palma de Ouro em Cannes que venceu AntonioniPasolini e Buñuel. Tá bom pra ti? Irretocável.






2 – “Barravento”, Glauber Rocha (62) – Primeiro filme do Glauber, coloca-se num ponto entre o Neo-Realismo e o Cinema Novo. Extremamente poético, é o filme que melhor retrata o universo místico do candomblé e da vida dos pescadores do interior, aqueles que raramente temos acesso no mundo urbano. Venceu prêmio na República Checa e tem montagem do Nelson Pereira, quer mais?










3 - “Assalto ao Trem Pagador”, Roberto Faria (62) – Outro daqueles filmes essenciais. O Roberto Faria sempre fez filmes com arte e apelo popular. Esse é bem assim: com uma cara ainda de Atlântida dos anos 40/50, mas com um pé no Neo-Realismo. Atuações fantásticas do irmão Reginaldo Faria, do Grande Otelo e do ator principal, Eliezer Gomes, como o inesquecível Tião Medonho.










4 - “Os Cafajestes”, Ruy Guerra (62) – Clássico do Cinema Novo, tem toda a questão da câmera na mão, do enquadramento intuitivo, do aspecto documental, da inspiração estética e temática na nouvelle vague. Fala sobre a decadência da burguesia, pondo em evidência seu vazio e a falta de sentido. Daniel Filho e Jece Valadão ótimos. E ainda tem o primeiro nu frontal da história do cinema, e quando a Norma Bengell era tri gata!







5 - “Cinco Vezes Favela”, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges, Leon Hirzsman e Marcos Farias (62) – Filme de episódios (5, obviamente), todos retratando algum aspecto das então pouquíssimo retratadas favelas, papel de denúncia que o Cinema Novo foi hiperimportante. O do Cacá, embora ainda cru em termos de estilo, é bem interessante, pois fala sobre uma escola de samba e os problemas da comunidade num dia de carnaval. “Couro de Gato”, do Joaquim Pedro, chegou a ganhar Cannes. O de Leon também é incrível, “Pedreira de São Diogo”, sobre trabalhadores da pedreira que são obrigados a fazer implosões perto de uma comunidade que iria para os ares. O do Miguel Borges, sobre um lixão, é claramente uma das inspirações do “Lixo Extraordinário” e com o recente britânico-brasileiro “Trash”.







6 – “Vidas Secas”, Nelson Pereira dos Santos (63) - Genial. Precursor em muitas coisas: fotografia seca, roteiro, cenografia, atuações. Daquelas adaptações literárias tão boas quanto o livro, ouso dizer. Tem uma das cenas mais tristes que já vi, a o sacrifício da cachorra Baleia. Limite também entre Neo-Realismo e Cinema Novo. Indicado a Palma de Ouro. Aula de cinema.










7 - “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Glauber Rocha (63) - A obra-prima do Cinema Novo, um dos maiores filmes do século XX. De tirar o fôlego. Sobre este, me reservo o direito de indicar um post inteiro que escrevi sobre ele em meu blog de cinema: http://oestadodascoisascine.wordpress.com/2010/11/09/a-terra-do-homem-e-o-mito-da-morte/









8 - “Os Fuzis”, Ruy Guerra (64) – Um soco no estômago. Sobre um cerco militar que se forma numa cidade do sertão nordestino, pondo à mostra toda a miséria social e moral gerada pelo Estado, quase um presságio do derramamento de sangue que ocorreria com os que combateriam a ditadura militar, então recém-iniciada. Dos filmes preferidos de gente como Gustavo Spolidoro e Eduardo Valente, foi Urso de Prata em Berlim em Direção.








9“Noite Vazia”, Walter Hugo Khouri (64) – O Khouri sempre teve o seu jeito de fazer cinema, abordando temas como a depressão das altas classes, o vazio existencial, a anestesia da vida moderna, e bastante inspirado em Antonioni. “Noite Vazia”, no entanto, não é uma cópia brasileira de “A Noite”: é um filme com personalidade e referencial. Trilha do Duprat, tá louco! E concorreu a Palma de Ouro. Depois, o Khouri só se repetiu, mas esse é demais.










10 - “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, Roberto Santos (65) – Uma joia meio esquecida. Leonardo Villar, de novo ele, faz o papel principal, que ele literalmente encarna. Baseado no conto-novela do Guimarães Rosa, é daquelas adaptações ao mesmo tempo fiéis mas que souberam transportar a história pra outro suporte. Obra-prima pouco lembrada.








11 – “São Paulo S/A”, Luis Sérgio Person (65) – Outro clássico. Walmor Chagas tá ótimo. Na linha d’”Os Cafajestes”, mas sob outra ótica, mostra a asfixia da classe média (paulistana, no caso), imersa na impessoaliadade da vida industrial e maquinal da grande cidade. Recebeu prêmios na Itália, México e São Paulo. Muito atual.








12 – “O Desafio”, Paulo César Saraceni (65) – Parece loucura, mas o diretor fez um filme sobre a ditadura em plena ditadura. Haja peito! E mostra em detalhes a vida daqueles que não se enquadram naquilo, a tristeza de ver seu país tomado sem lado para correr. É um filme revoltado, corajoso e triste com todos os elementos de Cinema Novo: câmera na mão, fotografia natural, improvisação, tom documental, trilha sonora da MPB combativa da época.








13 - “O Padre e a Moça”, Joaquim Pedro de Andrade (66) - Lindo. Primeira ficção do Joaquim Pedro, que foi um contista de mão cheia. Sobre um padre (o maravilhoso Paulo José) que se apaixona por uma moça de família no interior. Claro que dá merda, né? Fotografia PB rigorosa e pouco diálogo, que dá um clima sufocante à história. Indicado ao Urso de Ouro em Berlim.







14 – “O Caso dos Irmãos Naves”, Luis Sergio Person (67) – Filme de tribunal sobre uma história real de um julgamento injusto ocorrido no interior de Minas na Era Vargas envolvendo os tais irmãos da família Naves. Super bem narrado e fotografado. Alto nível. Interpretações, idem. Interessante que, por se passar em uma época antiga, o filme passou pela censura, é os militares burros não perceberam ser uma baita crítica ao governo. Até torturas mostra... Venceu Brasília (Roteiro e Atriz Coadjuvante) e foi indicado em Moscou.







15 - "Terra em Transe", Glauber Rocha (67) - Pra muitos, o melhor do Glauber. Também altamente referencial do que foi o Cinema Novo e a visão dos artistas daquela época no Brasil. Algumas das cenas – captadas pela câmera-personagem de Dib Lufti – e ícones do movimento estão diretamente ligadas a essa filme. Premiado em Cannes, Locarno e Havana. Não menos que genial.








16 - “O Dragão da Maldade Conta o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha (68) - Espécie de continuação do “Deus e o Diabo...”, porém num outro conceito e contexto. Altamente Teatro de Arena e Teatro Oficina, considero-o uma “ópera do Sertão” em cores, uma tragédia shakesperiana nordestina. Texto incomparável. Filme amado por Scorsese. Metafórico e forte. Melhor Direção em Cannes.






17 - “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, José Mojica Marins (68) – O genial Mojica traz indiretamente seu célebre personagem, que não aparece mas “representa” os 3 episódios que compõem o longa. Sua melhor produção, que mostra o quanto ele, um dos maiores mestres do terror trash mundial, ao lado de ArgentoCarpenter e Bava, é capaz de fazer miséria com um pouquinho mais de recurso.








18 - “O Bandido da Luz Vermelha”, Rogério Sganzerla (68) – Se existe cinema marginal, é “O Bandido...”. Transgressor, louco, efervescente, non-sense, crítico, revolucionário. Adjetivos são pouco pra definir. Grande vencedor do Festival de Brasília daquele ano. O filme que fez o “terceiro mundo explodir” de criatividade.










19 – “O Anjo Nasceu”, Julio Bressane (69) – Gênio do cinema autoral da atualidade (haja vista que é vivo e segue produzindo), junto com Sganzerla originou o chamado cinema “udigrudi”, o underground brasileiro, que subvertia ainda mais a estética e narrativa do que o Cinema Novo. Segundo filme dele, que, embora tenha um pouco mais de história (o que o diretor praticamente abandonou a partir do final dos 70), é tomado de simbologias e metáforas, que, por sinal, embaralharam a cabeça dos militares, que o proibiram sem saber porquê.






20 – “Brasil Ano 2000”, Walter Lima Jr. (69) – Fala-se muito do “Macunaíma” (referencial certamente, mas um filme confuso), mas esse do Walter Lima é exemplar no que seria um cinema “tropicalista” e “antropofágico”. É um musical com trilha original do Gilberto Gil cujos temas são muito bem integrados à história, pois se trata de uma ficção surrealista inteligente e engraçada. Muita criatividade com pouco.






sábado, 27 de setembro de 2008

"O Anjo Exterminador" de Luis Buñuel (1963)


Depois de assistir ao ótimo "Ensaio sobre a cegueira", lembrei de outro filme que, assim como ele também traz situações limite de convivência humana por conta de uma circunstância, igualmente, extraordinária. É O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel, de 1962. Não estou dizendo que os filmes sejam iguais, que tem tudo a ver e coisa e tal, é só porque em algum ponto um lembra o outro, e neste caso, já, no cinema mesmo, assistindo ao "Blindness", quando os internos começam a ficar irascíveis, quando o respeito pelos outros começa a ir por água abaixo e uma das alas começa a botar as "manguinhas de fora", já me veio à mente o clássico do Buñuel.

Em O Anjo Exterminador o que acontece é que ao final de uma festa da alta-sociedade os convidados, por conta alguma força desconhecida, não conseguem deixar o local para ir embora. Algo os impede de cruzar uma porta que está aberta. Em um primeiro instante parece natural, quem chega à porta pronto para ir, acaba desistindo e voltando, mas logo notam que não estão conseguindo mesmo sair.
Aí com o decorrer da situação, que se extende por dias os dias, o cansaço, a fome e outras necessidades fisiológicas começam a ficar maiores do que o espaço que os confina e toda a pompa e amabilidades de gente de sociedade desaparecem. A tolerância humana vai pro ralo e situações de egoísmo, falsidade, vaidade, se impõe em um ambiente pesadíssimo.

É um clássico! Este, sim, posso dizer que é um filme maravilhoso que certamente vale a conferida pra quem não viu, e vale assistir novamente pra quem já teve o privilégio.

Como curiosidade, o filme concorreu com o incrível 8 1/2 do Fellini e com o Pagador de Promessas no Festival de Cannes de 1963, onde pela primeira e única vez, um filem brasileiro venceu o prêmio principal.
É mole? O Pagador... ganhou de 8 1/2 e O Anjo Exterminador!!!

Mas sobre o Pagador de Promessas eu falo outro dia.


Cly Reis