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quarta-feira, 21 de março de 2012

The Pogues - "Peace & Love (1989)


"Essa porra de mundo tem dez anos para se ajeitar. Dez anos."
Shane McGowan



Num primeiro momento pode parecer apenas um bando de irlandeses bêbados. Talvez porque seja realmente um bando de irlandeses bêbados.
Não, não. É uma maldade afirmar isso além de ser apenas parte da verdade: digo que não é toda a vadede porque alguns membros da banda são ingleses e ademais, de bêbado mesmo, efetivamente, só se pode chamar o vocalista e líder da banda Shane McGowan que já foi internado várias vezes, já sumiu e foi dado como desaparecido, entre outros fatos de menor relevância.
Mas não deixe-se levar pelas fanfarras nas músicas, pelo vocal embriagado de Shane ou pelos eventuais temas de bebedeiras, rum e vidas vazias. Tudo isso esconde na verdade um som interessantíssimo oriundo do punk rock britânico, mas incrementado com sons de música tradicional irlandesa, raízes celtas, com toques do country rock americano, o melhor do folk e do southern rock yankee; doses de jazz; inspiração nas trilhas de filmes-noir e muitas experimentações instrumentais diversas de origens e etnias diferentes. E "Peace and Love", álbum do The Pogues lançado em 1989, pouco conhecido pelo grande público mas um dos mais bacanas daquele período ali do final dos 80, tem um pouquinho de cada um desses elementos, resultando num trabalho bem diversificado e eclético dentro da proposta da banda.
"Gridlock", a instrumental que abre o disco poderia ser tranquilamente tema de um filme antigo policial ou de espioagem; "White City" que a segue é um country-rock de levada descontraída; já "Young Ned of the Hill" nos leva a sons árabes e ciganos; e a bonita "Misty Morning, Albert Hill" é praticamente uma canção tradicional irlandesa considerando seu arranjo e instrumentação.
"Cotton Fields" um punk-rock acelerado acompanhado de um acordeão que parece uma locomotiva é uma das grandes dos disco; "Blue Heaven" é alegre, ensolarada e traz elementos de música latina e salsa; e "Down all the Days" baixa um pouco a rotação numa belíssima canção aparentemente simples mas muito bem arranjada e bem trabalhada pelo produtor Steve Lillywhite.
Em "Lorelei", ma canção nada mais que simpática, McGowan retoma a parceria com Kirsty McColl com que gravou o maior sucesso da banda "If I Should Fall from Grace with God" e com quem gravaria depois ainda uma faixa para o projeto Red Hot +Blue, chamada "Just One of Those Things".
"Gartloney Rats" é divertidíssima com seu estilão cancan de cabaré; assim como a acelerada "Boat Train", exemplo perfeito daquilo que eu havia mencionado no início: um bando de bêbados irlandeses. Na misteriosa "Tombstone' voltam a explorar ritmos orientais; o disco contnua com "Night Train to Lorca", outra muito legal, trazendo todo um climão de filmes western; e homenageiam Londres em "London You're a Lady", um belíssimo valseado conduzido pela voz ébria de McGowan. Mas é "USA" a grande música do disco. Uma canção intensa, bem percussionada destacando bem a bateria, em uma interpretação admirável de McGowan e uma harmônica matando a pau durante toda a música. Show de bola!
A capa tem uma curiosidade interessante: note que o boxeador tem 6 dedos na mão direita, o que permite que se escreva a palavra PEACE do título do álbum com uma letra em cada um deles, exceto o polegar.
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FAIXAS:
1."Gridlock" (Jem Finer, Andrew Ranken) - 3:33
2."White City" (Shane MacGowan) - 2:31
3."Young Ned Of The Hill" (Terry Woods, Ron Kavana) - 2:45
4."Misty Morning, Albert Bridge" (Finer) - 3:01
5."Cotton Fields" (MacGowan) - 2:51
6."Blue Heaven" (Phil Chevron, Darryl Hunt) - 3:36
7."Down All The Days" (MacGowan) - 3:45
8."USA" (MacGowan) - 4:52
9."Lorelei" (Chevron) - 3:33
10."Gartloney Rats" (Woods) - 2:32
11."Boat Train" (MacGowan) - 2:40
12."Tombstone" (Finer) - 2:57
13."Night Train to Lorca" (Finer) - 3:29
14."London You're A Lady" (MacGowan) - 2:56
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Ouça:
Pogues Peace and Love



Cly Reis

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Música da Cabeça - Programa #67


Poucos fizeram cinema com tamanha beleza como quem compõe uma ária de Mozart. Ingmar Bergman é um deles. No centenário de nascimento do mestre sueco, o Música da Cabeça pontua a importância de sua obra, mas não deixando, entretanto, de trazer várias outras coisas. Tem bastante rock, dos brasileiros Fausto Fawcett, Legião Urbana e RPM até estrangeiros como The Pogues, Pink Floyd, Depeche Mode e R.E.M. Ainda, um “Palavra, Lê” e um “Sete-List” muito especiais, acreditem. Vai ser como assistir um filme do Bergman: senta no sofá não arreda mais pé! Começa às 21h, na tela da Rádio Elétrica, antes da Hora do Lobo. Produção, apresentação e projeção: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

30 grandes músicas dos anos 80 (não necessariamente as melhores)

Os irlandeses da U2, no topo da lista, em foto de
Anton Corbjin da época de "Bad"
Sabe aquela música de um artista pop que você escuta e se assombra? E o assombro ainda só aumenta a cada nova audição? “Caramba, que som é esse?!”, você se diz. Pois bem: todas as décadas do rock – principalmente a partir dos anos 60, quando as variações melódico-harmônicas se multiplicaram na reelaboração do rock seminal de Chuck Berry, Little Richard e contemporâneos – são repletas de músicas assim: clássicos imediatos. Mas por uma questão de autorreconhecimento, aquelas produzidas nos anos 80 me chamam bastante a atenção. É desta década que mais facilmente consigo enumerar obras desta característica, as que deixam o ouvinte boquiaberto ou, se não tanto, admirado.

Conseguiu entender de que tipo de música estou falando? Creio que talvez precise de maior elucidação. Bem, vamos pela didática das duas maiores bandas rock de todos os tempos: sabe “You Can´t Always Get What You Want”, dos Rolling Stones, ou “A Day in the Life”, dos Beatles? É esta espécie a que me refiro: podem não ser necessariamente as músicas mais consagradas de seus artistas, nem grandes hits, mas são, inegavelmente, temas grandiosos, emocionantes, que elevam. Você pode dizer: “mas têm outras músicas de Stones ou Beatles que também emocionam, também são grandes, também provocam elevação”. Sim, concordo. Porém, estas, além de terem essa característica, parecem conter em sua gênese a ideia de uma “grande obra”. Dá pra imaginar Jagger e Richards ou Lennon e McCartney – pra ficar no exemplo da tabelinha Beatles/Stones – dizendo-se um para o outro quando compunham igual Aldo, O Apache em "Bastardos Inglórios": “Olha, acho que fizemos nossa obra-prima!”

Quer mais exemplos? “Lola”, da The Kinks; “Heroin”, da Velvet Underground; “Marquee Moon”, da Television; "We Are Not Helpless", do Stephen Stills; "Kashmir", da Led Zeppelin. Sacou? Todas elas têm uma integridade especial, uma alma mágica, algo de circunspectas, quase que um selo de "clássica". 

Pois bem: para ficar claro de vez, selecionamos, mais ou menos em ordem de preferência/relevância, as 30 músicas do pop-rock internacional dos anos 80 as quais reconhecemos esse caráter. Para modo de poder abarcar o maior número de artistas, achamos por bem não os repeti, contemplando uma música de cada - embora alguns, evidentemente, merecessem mais do que apenas uma única indicada, como The Cure, U2 e The Smiths. Haverá as que são mais conhecidas ou mais obscuras; as que, justamente por conterem certo tom épico, se estendem mais que o normal e fogem do padrão de tempo de uma "música de trabalho"; artistas de maior sucesso e outros de menor alcance popular; músicas que inspiraram outros artistas e outras que, simplesmente, são belas. 

E desculpe aos fãs, mas, claro, muita gente ficou de fora, inclusive figurões que emplacaram superbem nos anos 80, como Michael Jackson, Elton John, Bruce Springsteen e Queen. Até coisas que adoraria incluir não couberam, como “Hollow Hills”, da Bauhaus, “Hymn (for America)”, da The Mission, "51st State", da New Model Army, "Time Ater Time", da Cyndi Lauper, "Byko", do Peter Gabriel, "Up the Beach", da Jane's Addiction, "Pandora", da Cocteau Twins, "I Wanna Be Adored", da Stone Roses... Mas não se ofendam: tendo em vista a despretensão dessa listagem, a ideia é mais propositiva do que definidora. Mas uma coisa une todos eles: criaram ao menos uma música diferenciada, daquelas que, quando se ouve, são admiradas de pronto. Aquelas músicas que se diz: “cara, que musicão! Respeitei”. 


1 – “Bad” - U2 ("The Unforgatable Fire", 1984) OUÇA
2 – “Alive and Kicking” - Simple Minds (Single "Alive and Kickin'", 1985) OUÇA
3 –
Capa do compacto de
"How...", dos Smiths
“How Soon is Now?”
- The Smiths 
("Hatful of Hollow", 1984) OUÇA








4 – “Nocturnal Me” - Echo & The Bunnymen ("Ocean Rain", 1984) OUÇA
5 – “A Forest” - The Cure ("Seventeen Seconds", 1980) OUÇA
6 – “World Leader Pretend” - R.E.M. ("Green", 1988) OUÇA
7 – “Ashes to Ashes” - David Bowie ("Scary Monsters (and Super Creeps)", 1980) OUÇA
8 – “Vienna” - Ultravox ("Vienna", 1980)

Videoclipe de "Vienna", da Ultarvox, tão 
clássico quanto a música


9 – “Road to Nowhere” - Talking Heads ("Little Creatures", 1985) OUÇA
10 – “All Day Long” - New Order ("Brotherhood", 1986) OUÇA
11  “Armageddon Days Are Here (Again)” - The The ("Mind Bomb", 1989) OUÇA
12 – “The Cross” - Prince ("Sign' O' the Times", 1986) OUÇA
13 – “Live to Tell” - Madonna ("True Blue", 1986) OUÇA

Madonna estilo diva, no clipe de "Live..."

14 – “Hunting High and Low” - A-Ha ("Hunting High and Low", 1985) OUÇA
15 – “Save a Prayer” - Duran Duran ("Rio", 1982) OUÇA
16 – “Hey!” - Pixies ("Doolitle", 1989) OUÇA
17 – “Libertango (I've Seen That Face Before) - Grace Jones ("Nightclubbing", 1981) OUÇA
18 – “Black Angel” - The Cult ("Love", 1985) OUÇA
19 – “Children of Revolution” - Violent Fammes ("The Blind Leading the Naked", 1986) OUÇA
Os pouco afamados
Alternative Radio
emplacam a fantástica
"Valley..."
20 – “Valley of Evergreen” - Alternative Radio 
("First Night", 1984) OUÇA









21  “USA” - The Pogues ("Peace and Love'", 1989) OUÇA
22  “Decades” - Joy Division ("Closer", 1980) OUÇA
23 – “Easy” - Public Image Ltd. ("Album", 1986) OUÇA
24  “Teen Age Riot” - Sonic Youth ("Daydream Nation", 1988) OUÇA
25 – “One” - Metallica ("...And Justice for All", 1988) OUÇA
26 – “Little 15” - Depeche Mode ("Music for the Masses", 1987) OUÇA
27 – "Never Tear Us Apart" - INXS ("Kick", 1987)

Hits também têm seu lugar: 
"Never Tear Us Apart", da INXS


28 – “Lands End” - Siouxsie & The Banshees ("Tinderbox", 1986) OUÇA
29 – “US 80's–90's” - The Fall ("Bend Sinister", 1986) OUÇA
30 – “Brothers in Arms” Dire Straits ("Brothers in Arms", 1985) OUÇA


Daniel Rodrigues