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segunda-feira, 27 de julho de 2020

"Hair", de Milos Forman (1979)



"Hair" representa o início do movimento jovem através da contracultura e do New Age. Ideias que representam um clamor por mudança de pensamentos: sexo não é algo pecaminoso, existe mais que guerra e dinheiro, a aparência não é sinônimo de status (ou não deveria ser) e a crença de que existe algo a mais por aí através da astrologia (a nova era de Aquário).

Adaptado tardiamente dos palcos (praticamente 10 anos depois do lançamento na Broadway), estreou nos cinemas representando mais do passado do que do presente. Mesmo assim, suas danças desorganizadas e sexualizadas, as letras politizadas, os protagonistas de discurso livre e ingênuo, as melodias marcantes... Tudo ainda fazia sentido.

Destaque para a cena do alistamento militar através da música "White Boys / Black Boys" onde militares analisam os convocados nus com um fetichismo erótico que faz sentido dentro da lógica de escolher o melhor "material". Crítica de primeira.

cena do alistamento militar - "White Boys / Black Boys"
"Hair" merece ser visto até por quem não gosta de musicais. Ainda mais em tempos como o nosso, em que a realidade dura e cruel esmaga nosso dia a dia. Afinal, a dureza da luta não pode ser motivo pra gente parar de contestar, sonhar e lutar por um mundo melhor. Mesmo que nossos valores sejam ingênuos e utópicos eles devem sempre estar lá. A mudança começa com os sonhadores.
As causas, reivindicações e lutas de "Hair"
permanecem atualíssimas e extremamente válidas ainda nos nossos dias atuais. 

por Luan Nascimento

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

cotidianas #614 - poemas para falar deles, nº5




nada dura para sempre! me disseram em sentença, como se fosse uma doença essa coisa de acreditar e seu próprio olhar machucado é quem te contradiz talvez essa sua cicatriz seja a tal eternidade que você insiste em negar. afinal nada dura para sempre o que faz justamente a marca se eternizar. seu olhar não me engana essa pose de menino mal não me insulta essa distância me parece só implicância de menino marrento que por fora planta espinho mas por dentro tá sozinho menino que tem a fé ingênua de quem gosta de berrar - eu não acredito no pra sempre! só pra ouvir "você precisa acreditar".

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"poemas para falar deles, nº5"
Luan Nascimento

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

domingo, 16 de dezembro de 2018

cotidianas #604 - poemas para falar deles, nº3



Um beijo e você explicou que só o amou porque ele lhe achava especial. De repente me vi no passado quando eu andava calado pensando exatamente igual. Mas deixa eu dizer o que eu aprendi: a gente é foda pra caralho pra amar quem só faz o óbvio. O mérito não tá em quem vê, Está em você, que é tanto que é tudo que ele não pode deixar de ver.

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"poemas para falar deles, nº3"
Luan Nascimento

sábado, 1 de dezembro de 2018

cotidianas #601 - poemas para falar deles, nº2



Como um porre de tequila que derruba e desce quente. Lá vem você contente rasgando minha lógica com suas falas óbvias de quem sabe me ganhar. Esses seus dois olhos diferentes, Me encaram eloquentes Sendo céu ou sendo mar. Mas daí eu percebo, que não sou eu que você procura quando me encara sem frescura. Nas minhas pupilas cor de terra você sequer me enxerga. Elas são apenas um espelho pra você se admirar. Cuidado, boy Quem muito olha um reflexo Esquece que o universo É mais do que a imagem Que você quer projetar.

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"poemas para falar deles, nº2"
Luan Nascimento

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

cotidianas #599 - poemas para falar deles, nº1


Quando você dizia que doía,
como raiva que corrói,
eu não entendia como quem amou
podia odiar
e ainda amar.
Como alguém podia ser
o vilão e o herói?

Reconheço meus passos errados,
agora entendo sua distância,
não era apenas raiva,
você queria esperança
como criança
que só aprende a caminhar
quando se levanta, sozinha.


Você precisava florescer,
e mesmo que eu não quisesse
minha presença te matava.
Agora que eu sou você,
eu entendi
que pra machucar
a gente não precisa querer,
bastar ficar lá.

Fiz as pazes com a culpa
e agora se eu não sou terra,
quero ser vento
que sopra
forte e lento
seja feliz
seja feliz 
seja feliz

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"poemas para falar deles - nº1"
Luan Nascimento

terça-feira, 23 de outubro de 2018

cotidianas #596 - Ela



Eu sabia o que doía em Gabriel quando ele saiu daquela festa. O álcool circulando pelo seu corpo, a boca amarga e seca e mole e sussurrante. Eu sentia todas as coisas amassadas em uma bola de vontade de fazer sem conseguir. O buraco negro que eu via na sua alma, se é que vocês acreditam nessas coisas, ainda clamando por preenchimento. Aquela tinha sido sua primeira festa gay. Mas, tinha sido mais do que isso: pela primeira vez ele teve a oportunidade de fundir o seu interno e externo para quem quisesse ver. Tinha sido a chance de respirar fundo, deixar os gestos frouxos, os olhares compatíveis com suas vontades... Aquelas malditas vontades que ele reprimiu por anos tiveram um palco para serem liberadas.
Mas não foram.
Eu via a frustração dessa constatação naquele menino bêbado caminhando pela rua. O rosto estava pálido, os olhos perdidos, o peito pulsando por baixo da camisa molhada de suor. A mente rodopiava numa espiral de culpa e medo. Afinal, ele não tinha conseguido. Não tinha conseguido. Não tinha conseguido... Era um eco sem fim reverberando dentro dele.
 Dias atrás, quando decidiu ir àquela festa sozinho, queria apenas ter um momento para ser ele mesmo. Mas, ao invés disso, fugiu da festa, do barulho e das pessoas como quem foge do escuro. Pensava na ironia de querer a mesma coisa que mais lhe dava medo: ser ele mesmo.  Eu tentei dizer pra ele com a boca que eu não tenho que os humanos fazem muito disso, de fugir exatamente daquilo que mais procuram. Talvez tenham medo de perceber que o no fim das contas o que procuravam estava com eles o tempo inteiro.
Mesmo que Gabriel conseguisse ouvir o que eu queria lhe dizer, não adiantaria nada. A bebida ainda latejava no seu sangue e a única coisa clara que ele sentia era culpa. Foi por isso que não estranhei quando as pernas dele amoleceram e ele sentou no chão. A coluna estava numa curva pra frente fazendo conjunto com a cabeça pendida até o meio das suas pernas.
Ele tinha bebido demais. O primeiro copo foi para se soltar, o segundo para acelerar o processo, o terceiro para não pensar... Quanto mais ele bebia, mais percebia aquele buraco crescer dentro de si. Não tinha encarado ninguém, muito menos tocado. A pele dos outros parecia queimar como castigo divino por permitir-se ser aquilo que não podia. No quarto copo, já sentia que todas aquelas coisas escondidas por anos estavam saindo pelos poros da sua pele. Não era só suor, era vergonha, pecado e nojo pulando do meio dos pêlos da sua epiderme. Uma ânsia de vômito chegou a sua garganta enquanto estava ali sentado no meio do nada. O escuro brincando com sua visão, o silêncio acentuando o barulho da sua mente.
Foi então que aconteceu.
Deixem-me explicar. Vocês podem até achar que eu sou organizada. Mas, na verdade, eu tenho, no máximo, um caderninho de anotações. Eu não controlo tudo. Forneço o que as pessoas precisam, às vezes, o que elas querem (o que nem sempre é a mesma coisa). Mas o que cada um faz com isso não é da minha responsabilidade. Por isso, não me culpem por aqueles três jovens passarem por Gabriel no momento em que ele quase vomitava. Muito menos por perceberam naquele garoto sozinho no meio da rua a oportunidade de extravasar uma raiva sangrenta.
Gabriel levou um soco inesperado naquela noite. A cabeça ficou pesada com o golpe e ele pendeu para o lado. Em meio a um zunido no ouvido, ouvia o chamarem de viado.  Um chute bateu nas suas costelas e ele se encolheu em posição fetal, se protegendo das ofensas, dos golpes e do mundo. Alguém puxou o seu cabelo, outro lhe quebrou o nariz. O gosto quente de ferro líquido escorria pela sua garganta enquanto os gritos de raiva pairavam a sua volta.
Mas, teve aquele segundo. Aquela pequena fração de momento em que Gabriel olhou nos olhos de um dos garotos e viu algo refletido ali. Um buraco cheio de raiva e medo, cheio de nojo e pecado, exatamente como seu olhar também projetava. Então, o ataque parou. E enquanto os três garotos iam embora correndo, Gabriel sorriu.
De alguma forma, algo pulou de dentro dele. Talvez fosse a bebida, a dor, ou o medo. Mas, naquele momento, o jovem havia percebido que ele não tinha culpa de nada. Nem o menino, nem ele, nem ninguém. Humanos são o que são, mesmo quando não querem ser. E, o jovem entendeu que não precisava tirar amarras de si, porque na verdade elas nunca existiram. Ele não tinha se tornado gay, ele era e sempre foi.
Naquela hora, sussurrei baixinho para o menino que os humanos não são vítimas da Vida. Eles são meus sócios.
Dessa vez, acho que Gabriel me ouviu.



Luan Nascimento

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

cotidianas #595 - Olhe as Estrelas



"A Noite Estrelada", Van Gogh, Vincent
- Olhe as estrelas. Sabe uma coisa que eu adoro pensar sobre elas? Que elas já estão mortas. Digo… - Não. Não é assim que eu quero falar. Não é desse jeito. Deixa-me recomeçar. Não é que eu ache bonito o fato delas provavelmente já terem explodido em bolas de luz frias e sem vida. É só que, pela distância, muitas delas provavelmente já morreram. Mas o que elas deixaram para trás ainda continua lindo e belo e ainda brilha. Espera. Preciso analisar a situação. Preciso ter certeza se de algum jeito misterioso ele está entendendo o que eu estou falando. Mesmo que talvez ele não esteja escutando.
- Se lembra de quando nos conhecemos? Era um dia sem estrelas, é verdade. Não vou fantasiar aqui e dizer que era o céu mais estrelado e bonito do mundo. Não era. Era um céu preto pálido e feio. Daqueles dias pálidos e feios que ficam entre as fotografias. Que ficam entre as datas especiais. Aqueles dias de cumprir tabela. Daqueles em que eu chegava em casa cansado e você já estava dormindo e, a não ser pelo calor do seu abraço ao deitar na cama, teria sido um dia sem significado. Era um desses dias para mim quando nos conhecemos. Um dia qualquer da minha vida. E confesso que não achei que fosse você ser o amor da minha existência quando te vi, tomando café sozinho.
Será que estou sendo confuso? Penso no que você diria se você de fato pudesse ouvir tudo o que eu estou falando. Talvez mandasse parar de breguice, me mandasse lavar a louça ou dissesse com aquele tom manhoso “vem me dar um cheiro que eu estou com saudades”. Você sempre foi assim, prático e carinhoso, um beijo e um tapa, fogo e água, calor e frio contrastando e me levando para maior aventura que eu senti: ser teu namorado. Tá certo. Vou recomeçar de maneira mais racional, para você entender bem.
- Estamos com saudades um do outro, agora. Não podemos ouvir o tom de voz, sentir calor da pele, a respiração no cangote, o olho no olho, o sexo gostoso e repentino, o beijo cheio de amor, de saliva, de mordida, de língua, de pegada, de você em mim e de mim em você. Isso tudo é um fato, meu amor. Nunca mais sentiremos isso. Mas tem a saudade e é dela que eu quero falar.  Porque é ela, mesmo depois dessa morte estúpida, que vai nos manter unidos. Porque é através da saudade que vamos reviver nossos melhores momentos. Se conseguirmos ainda sentir alguma coisa, vai ser através dela. Raiva pela falta. Amor pelos bons momentos. Raiva pela morte que nos atravessou feito lâmina enferrujada. Amor pelo o que construímos um no outro, coisas que vão ficar para sempre. Porque comecei a falar de saudades para ele? Eu disse que ia ser racional e fiquei me perdendo em devaneios bobos e românticos, como sempre. Ah, lembrei o porquê.
- Falei da saudade porque saudade é mais ou menos como o espaço sideral, como as estrelas que já morreram, como a luz que ainda recebemos sem saber direito de onde vem. Você não sabe o que vai acontecer comigo. Eu não sei para onde você vai. Só sei que independente de onde você vá, quero que atinja sua missão. Não pense que o que vivemos foi em vão. Porque eu modifiquei você e você me modificou. Porque o que você me modificou, modificou você também e isso é um fluxo que não tem fim. Estamos eternamente ligados, apesar daquele acidente estúpido. Será que devo, nessa despedida, falar do acidente? Não foi culpa de ninguém. Pelo menos não foi culpa de nenhum de nós dois. O motorista bêbado não sabia que terminaria com nossa história. Não. Não. Não. Não vou falar do acidente com você. Vou falar de outras coisas nesta despedida.
- A morte não apagou nossos cafés da manhã, quando você acordava mais cedo só para preparar a mesa para mim. Uma mesa toda organizada, com uma faca para cada bolo, o açúcar destampado, a xícara soltando fumaça quente do melhor café do mundo, que era o seu. A cadela brincando nas nossas pernas, querendo atenção, tentando subir na mesa, enquanto ríamos e falávamos que ela precisava de autoridade e que você não tinha nenhuma. E você, com aqueles olhos pidões, que abraçam o mundo e me esquentavam, concordava que aplicar autoridade seria comigo... A morte não vai apagar os passeios de mãos dadas sob o sol, o calor da sua mão pegando na minha, os olhares que enfrentávamos por sermos duas pessoas do mesmo sexo andando pela rua de mãos juntas. A morte não apaga as caminhadas em que, num momento em específico, você roçava o seu pescoço no meu, e me dava um beijo estalado que me arrepiada todo. A morte não vai apagar os banhos juntos, a pele na pele, a boca no corpo, o corpo no corpo, o quente da água escorrendo junto ao quente dos nossos corpos, eu te empurrando contra a parede fria, querendo entrar em você, na sua boca, na sua alma, querendo me fundir.
Você está triste? Eu sei que você está, mas será que devo parar de falar essas coisas que você não está ouvindo? Ou talvez esteja, sei lá. Mas é que tristeza faz parte do próximo passo. Aceitá-la vai nos ajudar a seguir em frente. - Tava pensando aqui... Eu não quero que essa nossa despedida seja triste. Ao mesmo tempo em que reconheço que a tristeza faz parte da felicidade, né? Triste é sentir falta e só sentimos falta daquilo que nos faz feliz. Não quero vir aqui e dizer que tudo que passamos foi perfeito. Não foi. Seus choros e gritos vão ecoar para sempre na minha mente. Nossas brigas, nossos ataques deixaram marcas no que nós fomos. Porque quem ama sabe exatamente onde machucar. Quando amamos somos um amontoado de cicatrizes sob cicatrizes cobertas de beijinhos e cuidados. Quando eu descobri que você me traiu, aquela mensagem no celular quebrou meu espírito. Te imaginar com outro cara, tocando seu corpo, te dando carinho, te oferecendo abrigo num peitoral que você não deveria conhecer. O que me incomodou na traição não foi a traição. Agora que nada mais disso importa, posso falar. O que me incomodou foi o pacto quebrado. Não foi a falta de amor, porque eu sei que amor sempre existiu. Foi a falta de algo mais que até agora não sei o que é. E, não é daqui desse cemitério, que terei minha resposta.
Droga. Preciso me despedir. Preciso ir embora. Preciso deixar você virar lembrança, saudade, virar passado. Preciso e não quero. Vou falar. Só quero dizer uma última coisa antes de partir. Você me trouxe sentimentos em vida que continuarão ecoando como a luz das estrelas que já morreram. Do mesmo modo espero que minha lembrança se torne para ti algo possível de ser vivenciada, sem dor, sem machucados. Mesmo estando aqui, neste cemitério, enterrado e morto, pronto para partir, quero que você lembre como meu amor vai brilhar mesmo depois dessa minha morte. Te amo. Tenha uma vida linda e encontre a felicidade que você uma vez encontrou comigo.



Luan Nscimento

segunda-feira, 5 de junho de 2017

“Grease - Nos Tempos da Brilhantina”, de Randal Kleiser (1978)



Se você é um humano vivendo neste planeta chamado Terra com toda certeza conhece pelo menos uma das musicas deste filme. Para minha decepção, as músicas que eu conhecia são justamente as melhores (“Summer Nights” e “You Are The One That I Want”). Todo o resto varia de "até que é legal" para "quanto tempo dura essa música, meu Deus do Céu?".

“Grease” é um "High School Musical" com "mais bolas", com o perdão do termo e até da comparação. Os dois filmes brincam com clichês e estereótipos, idealizam e segmentam jovens e têm dois protagonistas chatos. Só que “Grease” tem mais sexo, drogas e diversão, ao contrário do filme da Disney que foi produzido mais de 30 anos depois de "Grease" (!!).

Apesar de reconhecer o esforço dos atores, achei os personagens do John Travolta e da Olivia Newton-John meio água de chuchu. Sem graça. Sem gosto. Já os coadjuvantes salvaram a experiência, com destaque para a personagem de Stockard Channing e da música “Look at Me I’m Sandra Dee”, em que ela mostra que a garota perfeita não precisa ser casta, pura e virginal.

A história é bobinha, mas a direção consegue tornar momentos simples em verdadeiras celebrações ao espírito jovem. Quando dois personagens homens se abraçam e depois se sentem desconfortáveis com o gesto, pude enxergar todos os garotos heteros que convivi durante a escola. Machos demais para demonstrarem sentimentos.

“Grease” mostra que clichês estão aí para serem usados e que não há nada de errado com isso. Todo mundo é um clichê, né? Até mesmo esse “diferentões” que ficam postando foto conceitual de parede descascada no Instagram, sabe? Quem sabe, no futuro, não fazem um musical sobre eles?


por Luan Pires

quinta-feira, 16 de março de 2017

“Cantando na Chuva”, de Gene Kelly e Stanley Donen (1952)



Eu já tinha visto no Youtube as duas cenas mais icônicas de “Cantando na Chuva” (a clássica em que Gene Kelly dança e canta em meio a uma chuva feita de água e leite - sim, eu pesquisei - ou a cena hilária e mais exigente fisicamente de Donald O'Connor em que canta "Make 'em Laugh" em meio a piruetas e tombos). Mas, confesso, nunca tinha parado para assistir ao filme por inteiro.

Brega em alguns momentos, mas com um trabalho artístico impressionante, tem nos números de danças e na metalinguagem o seu forte. Afinal, um filme que fala sobre o início do cinema falado, cheio de referências ao próprio fazer cinematográfico pode render falas interessantes como "Não vou muito no cinema, se já viu um [filme], já viu todos". O que é surpreendente é que todas as canções de “Cantando na Chuva” (com exceção de duas) já tinham sido utilizadas em outras produções. Então, o roteiro foi construído ao redor das músicas, o que não dá pra perceber devido à organicidade da história.

Claro que há os exageros, os furos e uma ou outra canção não tão inspirada ou deslocada, mas o que me chamou atenção foi o empenho dos atores em todos os números. Quando fiquei sabendo que as veias dos pés de Debbie Reynolds estouraram com esforço num número de sapateado ou que Donald O'Connor precisou de um longo período de repousou depois da famosa cena, pensei que todos eles mereceram ser imortalizados por esse clássico.

E vocês achando que cantar e dançar era coisa fácil, hein?


A famosa cena dos tombos e piruetas de O'Connor que 
lhe rendeu uma boa canseira

por Luan Pires